terça-feira, 27 de setembro de 2011

OS INIMIGOS DO ESPIRITISMO (FRANÇA) - PARTE II




                                       
Por Maria das Graças Cabral

Para continuarmos a tratar do tema “Inimigos do Espiritismo”, faz-se por oportuno rever o que aconteceu com o Espiritismo na França, onde funcionava a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas que produzia a Revista Espírita, fundada em 1858 e dirigida por Allan Kardec até março de 1869 quando desencarnou.
 
 
 
A Revista Espírita era o instrumento através do qual, Kardec orientava de forma segura o Espiritismo para todo o mundo, indicando-a como fonte de consulta (Livro dos Médiuns, capítulo III), alem de dirimir dúvidas, orientar e responder aos ataques dos adversários e opositores da Doutrina.



Allan Kardec nos diz na Revista Espírita, de Junho de 1865, que “jamais uma doutrina filosófica dos tempos modernos causou tanta emoção quanto o Espiritismo e nenhuma foi atacada com tamanha obstinação”. Isto porque segundo o Codificador, os adversários empregavam armas desleais, como a mentira a calúnia e a traição.



No que concerne aos inimigos do Espiritismo na França, nada melhor que transpormos trechos da obra "CONSCIENTIZAÇÃO ESPÍRITA", da autoria de Gélio Lacerda da Silva quando assim se expressa: "Com relação às anti doutrinárias teorias roustainguistas, Kardec refutou-as na Revista Espirita, primeiramente no seu artigo "Do princípio da não retrogradação do Espírito", em junho de 1863 (págs. 163/166); depois, na sua apreciação de ‘Os Quatro Evangelhos’ de Roustaing, em junho/1866 (págs. 188/190, Edicel). E, por fim, em ‘A Gênese’, cap. XV“.
 
 
 
"Colocamos em destaque o papel da Revista Espírita na propaganda do Espiritismo, quando ela estava sob a direção de Kardec, porque com o desencarne deste, a Revista, nas mãos do seu gerente Pierre Gaëtan Leymarie, por seu excessivo espírito de tolerância, desvirtuou a finalidade da Revista, abrindo suas páginas à propaganda de filosofias espiritualistas, inclusive à de Roustaing, que diverge do Espiritismo“.
 
 
 
"Além disso, lamentavelmente, o Sr. Leymarie se deixou enganar por um fotógrafo fraudulento, que lhe custou um ano de prisão, com danosas conseqüências para o Espiritismo, na França, tanto que, com esse triste episódio, espírita, na França, passou a ser sinônimo de "escroque" (trapaceiro, vigarista, velhaco, caloteiro...)" E Gélio cita como fonte de consulta o livro "Allan Kardec" de autoria de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen, 1ª edição da FEB, vol. III, pág. 225.
 
 
 
Prossegue Gélio em sua narrativa: "Sobre o episódio da fraude com as fotos de Buguet, escreveu Gabriel Delanne: ‘Se tivemos que experimentar uma condenação contra nós, foi porque nos desviamos da rota traçada por Allan Kardec (grifo de Gélio). Este inovador era contrário à retribuição dos médiuns e tinha para isso boas razões. Em sua época, os irmãos Davenport muito fizeram falar de si, mas, como ganhavam dinheiro com suas habilidades, Allan Kardec afastou-se deles, prudentemente" (O Espiritismo perante a ciência de Gabriel Delanne, ed. FEB, 1952, pág. 208)
 
 
 
Adiante ressalta o autor: "Sobre o desvirtuamento das finalidades da Revista Espírita por Pierre Gaëtan Leymarie, lê-se que ele ofereceu na Révue terreno livre aos lutadores de todas as correntes com a condição de que defendessem causas espiritualistas ou de ordem essencialmente humanitária e moral, expondo-se assim às críticas acirradas de uns, às acusações ou descontentamento de outros..." (Processo dos Espíritas, ed. FEB, 1977, págs. 22/23 da 2ª edição). Nesses ‘lutadores de todas as correntes’ se incluem os roustainguistas, como disseram Zêus Wantuil e Francisco Thiesen: ‘Pierre Gaëtan Laymarie, distinto divulgador, também, da obra Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing" ("Allan Kardec", vol. III, pág. 376).
 
 
 
E prossegue o autor de forma esclarecedora: "Pierre Gaëtan Laymarie envolveu o Espiritismo num amálgama de ideologias espiritualistas, que acabou por descaracterizá-lo nos seus princípios básicos. Eis mais uma prova disso: Em 1878, ao lado da Sociedade para Continuação das Obras Espíritas de Alan Kardec, Leymarie organiza a Sociedade Científica de Estudos Psicológicos. Congrega, em torno desta obra, os homens mais eminentes (vários nomes são citados),em seus trabalhos. Esta Sociedade se dedicava igualmente ao estudo das teorias e das experiências do magnetismo animal e da mediunidade, estudando-se ainda as obras originais de Cahagnet e de Roustaing (grifo do Gélio), a doutrina de Swedenborg, o grande precursor do Espiritismo (?), bem como o Atomismo, a teosofia, o budismo, o transformismo, e, por fim, o ocultismo" (Zeus Wantuil/Francisco Thiesen em "Allan Kardec", vol. III. Pág. 219)
 
 
 
E conclui Gélio: "Aí está a verdadeira causa por que o Espiritismo desapareceu na França.(...) O que Leymarie fez com o Espiritismo na França, a Federação Espírita Brasileira vem tentando fazê-lo no Brasil: um sincretismo religioso de ideologias conflitantes, um misto, ou melhor, uma miscelânea de espiritismo, roustainguismo, ubaldismo, umbandismo. Sim, até umbandismo, porque, para a Diretoria da FEB, onde há mediunismo, há também espiritismo (Reformador, 16/10/26), enfim, um saco de gatos..." (Gélio Lacerda da Silva, "Conscientização Espírita", págs. 108 a 114).



No que concerne à Federação Espírita Brasileira, sou testemunha quando da minha primeira e única visita à intitulada ‘Casa Mater’ do Espiritismo, ao adentrar um de seus salões de palestras e conferências, encontrei organizados sobre a mesa onde se acomodam palestrantes e dirigentes, "O Evangelho Segundo o Espiritismo", e "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing, lado a lado, como se o livro de Roustaing também fosse uma obra Espírita objeto de estudo juntamente com o quarto livro da Codificação Kardeciana!
 
 
 
Diante do exposto voltemos a Kardec que nos adverte afirmando: - A luta está longe de terminar; ao contrário, é de esperar que tome maiores proporções e um outro caráter”. (...) Nossos adversários, não renunciaram; enquanto esperam, recorrem a outra tática: a das manobras surdas”. (...) “Já tentaram muitas vezes, e o farão ainda, comprometer a doutrina, impelindo-a por uma via perigosa ou ridícula, para desacreditar”. (...) Mas não são adversários confessos que assim agiriam. O Espiritismo, cujos princípios têm tantos pontos de semelhança com os do Cristianismo, também deve ter os seus Judas” (...). (Revista Espírita, de Junho de 1865)
 
 
O Codificador, já vislumbrava claramente que a estratégia utilizada pelos inimigos da Doutrina Espírita seria levá-la ao descrédito, desvirtuando seus preceitos.
 
 
 
Então nós que nos dizemos e nos sentimos 'espiritualmente' Espíritas, temos o dever moral de com todo o afinco estudarmos as obras da Codificação, para que possamos defendê-la através do conhecimento que nos permitirá identificar e acusar as fraudes e mistificações, que são as armas utlizadas pelos inimigos da Doutrina para desvirtuá-la.



E para finalizar ninguém melhor do que Kardec quando assim se expressa: - “O Espiritismo, repetimos, ainda tem de passar por rudes provas e é aí que Deus reconhecerá seus verdadeiros servidores, por sua coragem, firmeza e perseverança. Os que se deixarem abalar pelo medo ou por uma decepção são como esses soldados, que só têm coragem nos tempos de paz e recuam ao primeiro tiro. Entretanto, a maior prova não será a perseguição, mas o conflito de idéias que será suscitado, com cujo auxílio esperam romper a falange dos adeptos e a imponente unidade que se faz na doutrina”. (Allan Kardec. Revista Espírita, junho de 1865, p. 257) (grifei)

Um comentário:

  1. Nada me dá mais prazer do que no intervalo dos noticiosos da rádio FM Assembleia, tomar um café (venho cedinho pra emissora) lendo um texto informativo e lúcido. Isso, porque a Doutrina Espírita é um espelho, no qual muitos colocam a toalha para impedir o reflexo.

    No entanto, há seguidores estudiosos que a levam muito a sério e nos liberta das "novidades" e sedes de intelectuais, que ao ouvirem o primeiro sinal de um barulho, relatam a confusão que imprimem na mente.

    Um grande abraço e muita luz!

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