sábado, 15 de outubro de 2011

As Obras Fundamentais da Doutrina Espírita estão ultrapassadas?

Por Maria das Graças Cabral


É muito comum ouvirmos nestes novos tempos por parte de uma legião de espíritas, que as Obras Fundamentais estão ultrapassadas, por não haverem acompanhado aos avanços da humanidade.


Em contrapartida, as denominadas ‘”obras complementares”, tornaram-se dignas de toda a credibilidade, merecedoras de todo o respeito, formando uma verdadeira legião de seguidores, em detrimento das ‘ultrapassadas‘ Obras Básicas.



Vale lembrar que as referidas obras ’complementares’, são comunicações de origem mediúnica, advindas de um único Espírito, sob a supervisão de um outro Espírito (mentor do médium), através de um único médium. Tal análise se estende a todas as outras milhares de obras literárias que abarrotam as prateleiras das livrarias do Brasil e do mundo, e que se auto intitulam espíritas.



Já a Obra considerada pelos companheiros como “ultrapassada“, ao contrário das “complementares“, foi ditada por uma plêiade de Espíritos de alta evolução moral e intelectual, do porte de São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, Sócrates, Platão, Fénelon, Franklin, Swedenborg, dentre outros, sob o comando nada mais nada menos de O Espírito da Verdade.



Oportuno ressaltar, que as comunicações dos Espíritos Superiores que deram origem à Codificação Espírita, aconteceram através de milhares de médiuns, nos mais diversos grupos espíritas espalhados pelo mundo, submetidas todas ao Controle Universal das Comunicações Espíritas, conforme palavras de Allan Kardec, o Codificador, na Introdução de O Evangelho Segundo o Espiritismo.



Deve-se também levar em conta, no que concerne às ’ultrapassadas’ Obras Fundamentais, que o referido Codificador (Allan Kardec), tratava-se de um homem de elevada intelectualidade e moralidade, que não tendo o dom mediúnico, utilizava-se de todo o seu intelecto, conhecimento, racionalidade e bom senso, para analisar, avaliar e organizar as comunicações recebidas através dos médiuns, sob a fiscalização dos Espíritos Superiores, as quais vieram compor o “corpo doutrinário“ da Codificação Espírita.



Mas voltemos à questão das emblemáticas ‘obras complementares’. Percebe-se a confusão que se faz entre, avanço tecnológico do mundo contemporâneo, e evolução moral do espírito humano.



No que concerne às já “ultrapassadas” Obras Fundamentais, podemos indagar aos que assim a consideram, em quais dos seus aspectos as mesmas já foram ultrapassadas ou estão incompletas? Seria em seu aspecto Filosófico, devidamente organizado em “O Livro dos Espíritos“?



Segundo Allan Kardec “O Livro dos Espíritos é o compêndio dos ensinamentos dos Espíritos Superiores. Foi escrito por ordem e sob ditado dos Espíritos superiores para estabelecer os fundamentos de uma filosofia racional, livre dos prejuízos do espírito de sistema. Nada contém que não seja a expressão do seu pensamento, e não tenha sofrido o controle dos mesmos. A ordem e a distribuição metódica das matérias assim como as notas e a forma de algumas partes da redação constituem a única obra daquele que recebeu a missão de o publicar” , ou seja, de Allan Kardec. (L.E, p. 52) (grifei)



Pergunta-se: - Quais as áreas do conhecimento tratadas em O Livro dos Espíritos, que já está ultrapassada, precisando de complementação? - Quais dos mais variados e vastos assuntos tratados na referida obra, que vai da “Teologia Espírita” às “Esperanças e Consolações“, já não atendem aos “avanços” do Espírito humano?



No que concerne à importância da obra, oportuno transcrevermos Herculano Pires, quando assim se expressa: - “O Livro dos Espíritos não é, apenas, a pedra fundamental ou o marco inicial da nova codificação. Porque é o próprio delineamento, o seu núcleo central e ao mesmo tempo o arcabouço geral da doutrina. Examinando-o, em relação às demais obras de Kardec, que completam a codificação, verificamos que todas essas obras partem do seu conteúdo”. (L.E, p. 12) (grifei)



Em nota de rodapé de O Livro dos Espíritos, assevera o referido autor: “Os Espíritos aludem à eternidade espiritual da doutrina, de sua permanente projeção na Terra. Mas devemos distinguir entre as suas manifestações falseadas, no passado, e a manifestação pura que se encontra neste livro. Os traços da doutrina espírita marcam o roteiro da evolução humana na Terra, mas só com este livro ela se apresentou definida e completa. Por isso, o Espiritismo é, na Terra, uma doutrina moderna”. (L.E, p. 116) (grifei)



Na realidade, pode-se constatar que a cada momento, quando retomamos o estudo de O Livro dos Espíritos, nos deparamos com novos ensinamentos e questionamentos que nos passaram despercebidos em leituras anteriores.



Entende-se portanto improvável e inadmissível, que em uma única encarnação, consigamos alcançar e apreender em profundidade, toda a grandiosidade dos ensinamentos dos Espíritos Superiores, aplicando-os por conseguinte em nossas vidas. Aliás, tal constatação é feita por vários e respeitados estudiosos da Doutrina Espírita, tais como J. Herculano Pires, Divaldo Pereira Franco, Raul Teixeira, dentre outros.



Bem, então seria a Ciência que demonstrou a superação da Doutrina Espírita? Ou seja, conseguiu provar a inexistência dos Espíritos ou dos fenômenos Espíritas? - À esse respeito ninguém melhor que Kardec quando assim se expressa: As ciências comuns se apóiam nas propriedades da matéria, que podem ser experimentadas e manipuladas à vontade; os fenômenos espíritas se apóiam na ação de inteligências que têm vontade própria e nos provam a todo instante não estarem submetidas ao nosso capricho. As observações, portanto, não podem ser feitas da mesma maneira, num e noutro caso. (L.E, p. 36) (grifei)



Adiante assevera o codificador: “A ciência propriamente dita, como ciência é incompetente, para se pronunciar sobre a questão do Espiritismo: não lhe cabe ocupar-se do assunto e seu pronunciamento a respeito, qualquer que seja, favorável ou não, nenhum peso teria”. (L.E, p. 36) (grifei)



Se a ciência tradicional não tem “competência” para considerar “ultrapassada” a Doutrina Espírita - seria então o seu aspecto religioso que estaria ultrapassado, precisando de “obras complementares“? Mas o aspecto religioso da Doutrina Espírita está amparada na moral do Cristo! Então esta moral está ultrapassada?


A esse respeito, vale ressaltar, que embora transcorridos dois milênios da passagem de Jesus pelo planeta Terra, seus ensinamentos embasados na Lei de Amor, ainda estão por acontecer.



Então, qual o grande problema que vem causando a cizânia no Movimento Espírita? De um lado, aqueles que defendem o “resgate” do estudo das Obras Fundamentais da Codificação, sendo considerados por parte dos defensores das “obras complementares” de “ortodoxos” ou “puristas”.



De outro lado, os que se consideram “avançados”, ou “evolucionistas” os quais entendem que realmente a Doutrina Espírita está “ultrapassada” e precisa de “obras complementares” com informações mais “avançadas“ que acompanham a evolução científica, e a evolução do pensamento humano.



Estes companheiros que se consideram “livres” e “avançados‘, não sujeitos ao “dogmatismo” dos “ortodoxos” entendem que a humanidade agora já está preparada para receber as novas “revelações“ trazidas nas “obras complementares“!



Entretanto é sabido que uma obra filosófica e/ou científica e/ou religiosa, só poderia ser considerada “ultrapassada“, quando seus conceitos e princípios estivessem em total desacordo com as provas científicas, ou que ultrapassassem os limites da razão e do bom senso. Foi o que ocorreu por exemplo, com certas crenças do catolicismo que foram contestados e comprovados pela ciência tradicional, e tornaram-se para os seus seguidores dogmas de fé, (portanto inquestionáveis). No que concerne à Doutrina Espírita isto não acontece, por ser uma doutrina evolucionista, racional e não dogmática.



Por outro lado, devemos por em pauta que as novas revelações trazidas por companheiros do plano espiritual, objetivando “complementar” as “ já ultrapassadas” Obras Básicas, não poderiam em hipótese alguma estar em desacordo com qualquer dos princípios doutrinários das obras às quais se propõem “complementar“!



Entretanto, no que concerne ao acima exposto, basta que nos proponhamos com a mente e o coração abertos a um estudo sério e efetivo das Obras Fundamentais, para que facilmente identifiquemos nas ditas “obras complementares“, vários aspectos contraditórios aos princípios doutrinários espíritas. Portanto, tais novidades não poderiam ser considerados “ensinos complementares“.



Para uma melhor compreensão, façamos uma analogia com a Constituição Federal que é a Lei Maior de um país. Esta Lei Maior estabelece os princípios fundamentais sobre os quais se erguerá todo o ordenamento jurídico de uma nação. As leis “complementares“ advindas, deverão obrigatoriamente para efeitos de validade estarem plenamente acordes com os princípios constitucionais.



Da mesma forma, as Obras Fundamentais como o próprio nome sugere, trazem os princípios fundamentais, ou seja, a base da Doutrina dos Espíritos, devendo portanto serem respeitados por qualquer obra posterior que se queira considerar espírita!



Isto posto, gostaria de deixar claro que não defendemos uma ortodoxia reacionária, objetivando a criação de um INDEX de obras a serem queimadas por não serem as Obras Fundamentais, ou por estarem em desacordo com estas.



Defendemos sim, o estudo sério das Obras da Codificação, objetivando o conhecimento e discernimento, para uma segura avaliação e identificação do que não pode e nem deve ser considerado obra espírita. E o mais temerário - que é a atribuição e titulação de “obra complementar” da Doutrina Espírita!



É fato que o Espiritismo vem vivenciando uma ortodoxia e um grande dogmatismo. Mas não por parte de uma minoria que busca resgatar o estudo dos princípios doutrinários postulados nas Obras Fundamentais, posto que, estas estão relegadas ao total descaso pela grande maioria dos espíritas, sob alegativa de estarem as mesmas ultrapassadas; ou por serem consideradas de leitura difícil, cansativa e chata.



Entendo que a grande ortodoxia e dogmatismo que desperta as mais exacerbadas reações, vem sendo praticada por parte de uma verdadeira legião de espíritas de comportamento intolerante e agressivo, que de forma enceguecida defendem ferozmente não só as chamadas “obras complementares“, mas principalmente as figuras que as representam, em detrimento dos Espíritos Superiores que nos trouxeram os Princípios Espíritas, e do próprio Codificador, Allan Kardec.



Aliás, no que diz respeito a Kardec, já ouvi por parte de espíritas defensores das “obras complementares“, referências de profundo desprezo, como - Quem é Kardec? Por acaso é o “dono” do Espiritismo? Não é “apenas” o Codificador?



Bem, para finalizar, é fato que realmente ocorreu um “racha” no Movimento Espírita, onde os seguidores das “obras complementares”, infelizmente formaram uma verdadeira “seita” saída das hostes espíritas, adotando como verdades inquestionáveis e absolutas tudo o que preconiza as referidas obras. É uma pena!



Mas, como todos acreditamos que o Espírito é imortal, sabemos que tudo é uma questão de tempo... Desencarnaremos e estaremos diante de nós mesmos, sob as Lei imutáveis de Deus. Vamos então confirmar por nós mesmos tudo o que nos dizem as Obras Fundamentais da Doutrina Espírita! 



Afinal, nos dizem os Espíritos que uma encarnação é menos que um minuto diante da eternidade. Paz!


2 comentários:

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  2. Só posso parabenizar a Maria pelo conteúdo e ótima argumentação do texto. O grande problema que observo no Movimento Espírita Brasileiro é o endeuzamento e santificação de médiuns famosos. Kardec e Espíritos Superiores já alertavam isso nas Obras Básicas:

    Nunca é demais repetir as palavras do espírito de Erasto (Revista Espírita [7]): é preferível “rejeitar 10 verdades do que aceitar uma só mentira”. Notem que é muito mais difícil corrigir uma mentira depois de aceita do que vir a aceitar uma verdade previamente negada.

    Lembrando que qualquer "Médium" tem o direito de lançar livros "tidos como mediúnicos", mas poderiam por uam questão de respeito as Obras Básicas, registrar na capa, que trata-se de opiniões individuais. Silvio.

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