sábado, 19 de novembro de 2011

DOS INCRÉDULOS AOS ESPÍRITAS EXALTADOS

Por Maria das Graças Cabral

Esse texto é baseado no Capítulo III, de O Livro dos Médiuns, que trata do Método para se instruir alguém à respeito do Espiritismo. Kardec constata que muito comumente, os novos Espíritas envidam grandes esforços tentando trazer novos adeptos à Doutrina Espírita. Daí, o Codificador orienta quais seriam as pessoas que estariam mais aptas a apreender os preceitos Espíritas.

No entendimento de Kardec, o Espiritismo é toda uma Ciência e toda uma Filosofia, que exige daqueles que desejem conhecê-lo seriamente, como primeira condição, segundo suas próprias palavras: (...) “submeter-se a um estudo sério e persuadir-se de que, mais do que qualquer outra ciência, não se pode aprendê-lo brincado.” Acrescenta ainda que: como “o Espiritismo, (...) se relaciona com todos os problemas da Humanidade, por conseguinte, “seu campo é imenso e devemos encará-lo sobretudo quanto às suas conseqüências. A crença nos Espíritos constitui sem dúvida a sua base, mas não basta para fazer um espírita esclarecido, como a crença em Deus não basta para fazer um teólogo.” (LM., Cap. III, 18) (grifei)

Nesse caso, para o Mestre, não serão os “fatos” que levarão alguém a aceitar e compreender os preceitos Espíritas, posto que, muito comumente, pessoas vêem, e/ou ouvem Espíritos, e colocam na conta das ilusões, perturbações ou impressões equivocadas. Outros, chegam a presenciar materializações ou qualquer outro fenômeno de efeitos físicos, (pancadas, deslocamento de objetos, portas que se trancam e destrancam, colchões que incendeiam, pedradas, instrumentos que tocam sozinhos, etc., etc.) e mais uma vez, alegam terem sido vítimas de falsas impressões ou mera ilusão.

Assevera o Codificador que “no Espiritismo, a questão dos Espíritos está em segundo lugar, não constituindo o seu ponto de partida. (LM., Cap. III, 19) (grifei) Para Kardec, só valeria a pena ensinar os preceitos Espíritas, às pessoas que pelo menos, acreditassem na existência da alma e na sua sobrevivência após a morte, estando dispostos e abertos ao aprendizado, posto que, no seu entendimento, seria perda de tempo tentar convencer um materialista sistemático a conceber a existência de algo que vai além da matéria, ou que sobrevive a ela. (LM., Cap. III, 19)

Oportuno ressaltar a objetividade do Codificador quando descartava categoricamente, os incrédulos orgulhosos que o procuravam para “serem convencidos“ caso assistissem às reuniões mediúnicas realizadas na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas (exemplo do “crítico” retratado na obra “O que é o Espiritismo“).

À esse respeito em O Evangelho Segundo o Espiritismo, nos dizem os Mestres Espirituais que “certos incrédulos se admiram de que os Espíritos se esforcem tão pouco para os convencer. É que eles se ocupam dos que buscam a luz com boa-fé e humildade, de preferência aos que julgam possuir toda luz e parecem pensar que Deus deveria ficar muito feliz de os conduzir a Ele, provando-lhes sua existência.” (ESE, Cap. VII, 9)

No que tange aos materialistas, Kardec classifica-os como materialistas “por indiferença”, ou por “falta de coisa melhor”. Outros seriam considerados “incrédulos de má vontade”, por entenderem que crer na imortalidade da alma, de alguma forma perturbaria o gozo dos prazeres materiais. Já os “incrédulos interesseiros ou de má-fé” identificam claramente o que há de válido no Espiritismo, mas o condenam por motivos de interesse pessoal.

Acrescenta ainda, os considerados incrédulos por covardia; escrúpulo religioso; orgulho; espírito de contradição; negligência; leviandade, por decepção, e a numerosa classe dos vacilantes.

Isto posto, passa à análise das diversas categorias de crentes, avaliando em primeiro lugar “os espíritas sem saber”, que seriam aqueles que sem jamais terem ouvido falar em Doutrina Espírita já trazem de forma inata seus princípios que se refletem em escritos, filmes, discursos, etc...

Dentre os que se convenceram dos preceitos Espíritas através do estudo, Kardec com muita propriedade e atualidade os classifica como:

1º) Os que acreditam unicamente nas manifestações dos Espíritos. Para esses o Espiritismo se restringe ao fenômeno mediúnico, detendo-se apenas no aspecto de observação - chamados de ’espíritas experimentadores’ , ou seja, só se interessam pelas reuniões mediúnicas.

2º) Os que se dedicam exclusivamente ao estudo do aspecto filosófico do Espiritismo, admitindo a moralidade que dele decorre, mas sem a aplicabilidade da moralidade cristã em sua vida, posto que não mudam seus hábitos nem seus prazeres, pois a caridade cristã” não passa de uma bela máxima - são os espíritas imperfeitos, ou seja, meros estudiosos da Doutrina.

3º) Já os verdadeiros espíritas praticam a moral espírita e aceitam suas conseqüências. Cientes da transitoriedade da existência corpórea, tratam de aproveitar os seus “breves instantes” esforçando-se para fazer o bem e reprimir as más tendências objetivando o seu progresso espiritual e elevação no Mundo dos Espíritos.

4º) Por fim, Kardec apresenta em sua classificação os “espíritas exaltados”, que são aqueles de confiança cega e pueril nas manifestações do mundo invisível - aceitam muito facilmente e sem controle aquilo que a reflexão e o exame demonstrariam ser absurdo ou impossível, pois o entusiasmo não esclarece, ofusca. (LM., Cap. III, 28) (grifei)

No que concerne a tais espíritas, Kardec assevera que “se apenas eles tivessem de sofrer as conseqüências o mal seria menor, mas o pior é que oferecem, sem querer, motivos aos incrédulos que mais procuram zombar do que se convencer e não deixam de imputar a todos o ridículo de alguns. Isso não é justo nem racional, sem dúvida, mas os adversários do Espiritismo, como se sabe, só reconhecem como boa a sua razão e pouco se importam de conhecer o fundo do que falam.” (LM., Cap. III, 28) (grifei)


Oportuno observar, que hodiernamente nos deparamos mais do que nunca com os espíritas classificados por Kardec como “exaltados”. A prova contundente está na credibilidade e divulgação das mais estapafúrdias “revelações”, dadas por Espíritos mistificadores, e que os crédulos divulgam e defendem como verdades, levando a Doutrina Espírita ao descrédito e ao ridículo como bem asseverava o Codificador.

Daí, graças aos espíritas exaltados, que se deixam levar por nomes pomposos de Espíritos, ou de respeitáveis médiuns, que preceitos alienígenas são divulgados como preceitos Espíritas, criando conflitos doutrinários, e por conseguinte desvirtuando a Doutrina Espírita.

Para finalizar o trabalho, me reporto a Kardec quando afirmava com toda a convicção que: “Esta espécie de adeptos é mais nociva do que útil à causa do Espiritismo”. (LM., Cap. III, 28)















Um comentário:

  1. Bem, dedicada amiga Graça, considero a exaltação escorregadia, digna de espetáculos que quase ou nada guardamos. A Doutrina só é assimilada com estudo e vivência. Com cautela iremos experienciando com a certeza de um resultado promissor. Um grande abraço.

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