sexta-feira, 2 de dezembro de 2011

INTELIGÊNCIA CÓSMICA

Por Ricardo Malta



Deus é a inteligência suprema, causa primária de todas as coisas. (L.E, Q.1)

Não podemos conceber, em pleno século XXI, a imagem de um Deus antropomórfico, personificado na imagem de um velhinho sisudo, de barbas longas e com um cajado nas mãos. As religiões ancestrais limitaram a Divindade a ponto de transformá-la neste ser humanóide. Ainda existem aqueles que afirmam, ingenuamente, que Deus habita nas igrejas. Esquecem que o “Deus que fez o mundo e tudo que nele há, sendo Senhor do céu e da terra, não habita em templos feitos por mãos de homens.” (Atos 17:24)



O ateísmo se faz justo com essa imagem primitiva do Criador. Não podemos negar que essa teologia medieval colaborou muito para a proliferação da descrença. Voltaire, o filósofo iluminista, afirmou que não acreditava no Deus que os homens criaram, mas no Deus que criou os homens. Com razão ele fez tal afirmativa, da qual o Espiritismo apóia, pois a causa primária de todas as coisas não poderia ser essa figura limitada e pintada pelos teólogos.



A visão espírita, descrita na primeira questão de O Livro dos Espíritos, é, talvez, a melhor concepção que podemos ter do Criador. Falta-nos a percepção necessária para defini-Lo com maior exatidão, sendo toda tentativa neste sentido infrutífera. Ora, como poderá o limitado definir aquilo que é ilimitado? Inconcebível. “Crede-me, não vades além. Não vos percais num labirinto donde não lograríeis sair.” (L.E, Q.14)



“Deus não é uma forma humana, não é uma figura mitológica, não é um símbolo. Deus é a realidade fundamental, a Inteligência suprema, a fonte de que surgem todas as coisas, assim como da inteligência finita do homem surgem as coisas que constituem o seu mundo finito. Não é possível dar forma a Deus, limitá-lo, restringi-lo, dominá-lo pela nossa razão, como não é possível dar forma à nossa própria inteligência.” (J. Herculano Pires. O Espírito e o Tempo.)



Entretanto, observando suas obras, que se encontram escritas no universo cósmico, conseguimos ter uma idéia de seus atributos. Por isso, a doutrina espírita nos ensina que só podemos conceber Deus: eterno, infinito, imutável, imaterial, único, onipotente, soberanamente justo e bom. (L.E, Q.13)



Com razão afirmou J. Herculano Pires que o espiritualismo simplório e o materialismo atrevido são os dois pólos da estupidez humana. Claro, negar o Deus criado pelos teólogos é aceitável, mas negar a existência de uma inteligência cósmica que preside todo o universo é, no mínimo, faltar com o bom senso.



Extraímos a certeza da existência de Deus num axioma lógico: Não há efeito inteligente sem uma causa inteligente, e a grandeza do efeito corresponde à grandeza da causa.



Não conseguimos, por questão de lógica e bom senso, imaginar que o universo seja obra do acaso. “Viu-se alguma vez o arremesso ao acaso das letras do alfabeto produzir um poema? E que poema o da vida universal! [...] Inconscientes e cegos, os átomos não poderiam tender a um fim. Só se explica a harmonia do mundo pela intervenção de uma vontade.” (Leon Denis. Depois da morte.)



Com sabedoria, utilizando-se de uma analogia brilhante, nos diz Allan Kardec: “A existência do relógio atesta a existência do relojoeiro; a engenhosidade do mecanismo lhe atesta a inteligência e o saber. Quando um relógio vos dá, no momento preciso, a indicação de que necessitais, já vos terá vindo à mente dizer: aí está um relógio bem inteligente? Outro tanto ocorre com o mecanismo do Universo: Deus não se mostra, mas se revela pelas suas obras.” (GE, Cap.2, Item 6)



Ora, ao lançar o olhar para o universo, torna-se impossível aceitar que a dança cega dos átomos seja capaz de compor esse poema cósmico de que nos fala o ilustre filósofo Leon Denis. Alias, nas palavras de Herculano Pires, "as coisas evidentes se impõem pela própria evidência. Não podemos negar a existência de Deus, porque como dizia Descartes, isso equivale a negar a existência do sol em nosso sistema planetário." (J. Herculano Pires. O Espírito e o Tempo.)



Ante o exposto, conclui-se, por racionalidade e não por crendice, que “Deus existe; disso não podeis duvidar e é o essencial” (L.E, Q.14). Assim, da mesma forma que Voltaire, declaramos: Morro adorando a Deus!

 

Fonte: O Blog dos Espíritas - http://oblogdosespiritas.blogspot.com/

5 comentários:

  1. Prezada Graça,
    Por que os espíritas citam apenas algumas passagens da bíblia, enquanto refutam outras? Por exemplo, no segundo parágrafo dessa postagem.
    No entanto quando é citada a proibição de Moises, que diz que não se deve consultar os mortos,os espiritas que conheço, dizem que se deve considerar a conjuntura do momento que Moises fez essa proibição.
    Fica uma confusão na minha cabeça. Qual o critério usado na escolha dessas passagens da bíblia para endossar o que o Espiritismo prega?

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  2. Na realidade, a Doutrina Espírita vê na Bíblia um livro histórico que retrata no Antigo Testamento, a saga do povo hebreu, e no Novo Testamento a mensagem renovadora de Jesus. Ou seja, para que se faça uma análise do que está posto no livro, tem-se que levar em conta a época e os costumes. É tanto que não se aplica mais a Lei de Talião, dentre muitos outros preceitos previstos no Antigo Testamento por Moisés. No que concerne à comunicação com os Espíritos, fica claro que Moisés, como o líder de um povo ainda arraigado ao politeísmo, e a costumes bárbaros, precisou impor limites, inclusive no que concerne à mediunidade. É fato que esta estava sendo utilizada para "adivinhações" e "previsões", o que não é seu objetivo. Portanto, não existe efetivamente um "critério de escolha" para validar ou não passagens bíblicas. Existe o critério do estudo histórico e do bom senso. Abraço.

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  3. Importante observar que a Bíblia é o livro sagrado das religiões dogmáticas tradicionais como o catolicismo e o protestantismo. O Espiritismo tem como "pedra" fundamental "O Livro dos Espíritos", ou marco inicial da codificação espírita. Além das outras quatro obras que formam o pentateuco, quais sejam: O Livro dos Médiuns; O Evangelho segundo o Espiritismo; O Céu e o Inferno; A Gênese; o pequeno livro introdutório "O que é o Espiritismo" e "Obras Póstumas". Além das obras complementares a Revista Espírita.

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    1. Conheço pessoas tão dogmáticas dentro da Doutrina,que proíbe o termo pentateuco,por se referir ao judaísmo e,não ao Kardecismo.Detalhes bobos.

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  4. Olá colegas,

    Paulo de Tarso certa vez afirmou: "Examinai tudo e retendes o que for bom".

    Isso é fé racional.

    O grande problema é que as pessoas enxergam a bíblia como um todo unitário. Devemos nos lembrar que a bíblia é um conjunto de livros, escritos por diversos autores, muitos deles desconhecidos. Ressaltamos, por exemplo, que a bíblia protestante e católica não tem a mesma quantidade de livros.

    Será que todos os autores dos textos bíblicos estavam inspirados pelo plano espiritual superior? Pelo que venho estudando há alguns anos, não. Há muita aberração e bobagem bíblica.

    Eu não utilizo os textos bíblicos como se fossem a base da doutrina espírita. O Espiritismo se fundamenta na codificação espírita.

    Contudo, a moral divina é universal. O bem é o bem onde quer que esteja. Encontramos ensinamentos sublimes nos textos bíblicos, mas também verificamos coisas bárbaras e até ridículas, sem falar das adulterações.

    Ademais, além da moral universal, a Reencarnação e o Fenômeno mediúnico é um fato natural. Portanto, encontra-se presente em todos os tempos da humanidade. Por isso, iremos encontrar diversos textos bíblicos que apontam esse eventos (reencarnação e fenômeno mediúnico).

    A Bíblia não é a "palavra de Deus". Mas nela, assim como em inúmeros outros livros "sagrados", iremos encontrar uma serie de fatos espíritas. Trata-se de eventos naturais e ,portanto, existentes desde os primórdios da humanidade.

    Neste sentido, é natural que existam registros desses eventos (fenômeno mediúnico e reencarnação) em diversos livros "sagrados", entre os filósofos da antiguidade, etc.

    Concluindo, nós, espíritas, não utilizamos a bíblia ou qualquer outro livro "sagrado" como a palavra de Deus, mas apenas demonstramos que os fatos espíritas e a moral divina é universal.

    Aquilo que é contrario a lógica e o bom senso, desprezamos.

    Abraços.

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