domingo, 21 de agosto de 2011

O Espiritismo no Brasil - uma análise feita com base no “Evangelho Segundo o Espiritismo” de Alan Kardec e da obra “Curso Dinâmico de Espiritismo” de J. Herculano Pires.






  Por Maria das Graças Cabral

O Espiritismo durante o século XIX foi divulgado por quase toda a Europa, chegando ao Brasil em 1.865. Segundo dados oferecidos de acordo com o Censo de 2.000 realizado pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), o Brasil possuía na virada do século XX para o século XXI cerca de 2,3 milhões de espíritas, sendo considerado o país que reúne o maior número de espíritas em todo o mundo!



Diante dos dados propostos, lanço o seguinte questionamento: - Será que esses 2,3 milhões de espíritas conhecem efetivamente os princípios básicos que pautam a Doutrina Espírita? Isto porque, me causa espanto tantos livros, textos, e artigos publicados, palestras e seminários proferidos, filmes e peças teatrais apresentadas dizendo-se ’espíritas’, mas em total desacordo com os princípios básicos da Doutrina dos Espíritos, codificada e sistematizada nas Obras Básicas por Alan Kardec!


Quando na parte introdutória do Evangelho Segundo o Espiritismo, Alan Kardec, trata da ’autoridade da doutrina espírita’, assevera que: “A única garantia segura do ensino dos Espíritos está na concordância das revelações feitas espontaneamente, através de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares”. (2.003: p.18)



Adiante, orienta o codificador que as publicações de instruções dadas pelos Espíritos, deverão passar pelo “controle universal, que é uma garantia para a unidade futura do Espiritismo, e anulará todas as teorias contraditórias. É nele que, no futuro se procurará o criterium da verdade”. (2.003: p.18) (grifei)



Infelizmente o Brasil, na condição de país que reúne o maior número de espíritas do mundo, não adotou o “controle universal” preconizado por Kardec. O que presenciamos é uma profícua produção literária que se qualifica ‘espírita‘, exibida nas numerosas prateleiras das livrarias brasileiras, na sua grande maioria romances “psicografados“ (ditados por Espíritos), sendo estes os mais vendáveis, pois mexem com o imaginário das pessoas.



Mas... e a doutrina espírita, por onde ficou com suas obras básicas que trazem a base e os princípios consoladores e libertadores para o Espírito humano?



À esse respeito, J. Herculano Pires em obra intitulada “Curso Dinâmico de Espiritismo”, dedica um capítulo intitulado “O Grande Desconhecido”, onde assevera que “todos falam de Espiritismo, bem ou mal. Mas poucos o conhecem. Geralmente o consideram como uma seita religiosa comum, carregada de superstições. Muitos o vêem como uma tentativa de sistematização de crendices populares, onde todos os absurdos podem ser encontrados, (...) outros entendem que podem encontrar nele a solução para todos os seus problemas, conseguir filtros de amor e os 13 pontos da Loteria Esportiva. E na verdade os seus próprios adeptos não o conhecem. (...) “O Espiritismo, nascido ontem, nos meados do século passado, é hoje o Grande Desconhecido dos que o aprovam e o louvam e dos que o atacam e criticam“. (grifei) (1.979: p. 11) 



Isto porque, conforme muito bem se expressa o renomado autor, “ninguém conhece o Espiritismo, ninguém acredita que se precisa estudá-lo, pensam quase todos que se aprende a doutrina ouvindo espíritos. Os intelectuais espíritas são confundidos com médiuns. Quem escreve sobre Espiritismo não escreve, faz psicografia. Acham que para estudar a doutrina é preciso desenvolver a mediunidade e receber maravilhosas lições de Espíritos Superiores“.



Quanta pertinência, e lucidez nas colocações de Herculano Pires! Realmente, a Doutrina Espírita tem por objetivo alavancar a humanidade de um estado de apatia e ignorância, para um estado de auto consciência e moralidade, exigindo para tanto por parte do indivíduo, esforço, disciplina, e perseverança no trabalho educativo. Saímos da ‘zona de conforto‘, quando atribuíamos ao destino ou à má sorte nosso insucesso ou infelicidade; como à Deus, Jesus ou aos santos, a responsabilidade pela nossa salvação. A doutrina espírita nos torna responsáveis pelo nosso destino, pelo destino dos nossos irmãos em humanidade, e pela vida como um todo!
 
 
 
Para que tenhamos a verdadeira compreensão do nosso papel perante a vida é que temos na Doutrina Espírita, um vasto campo do Conhecimento, apresentando-se enquadrada na seqüência epistemológica de: a) Ciência -- como pesquisa dos chamados fenômenos paranormais, dotada de métodos próprios, específicos e adequados ao objeto que investiga; b) Filosofia — como interpretação da natureza dos fenômenos e reformulação da concepção do mundo e de toda a realidade segundo as novas descobertas científicas; c) Religião — como conseqüência das conclusões filosóficas, baseadas nas provas da sobrevivência humana após a morte e nas ligações históricas e genésicas do Cristianismo com o Espiritismo; considerado como a Religião em Espírito e Verdade, anunciada por Jesus, segundo os Evangelhos; religião espiritual, sem aparatos formais, dogmas de fé ou instituição igrejeira, sem sacramentos. (1.979: p.11/12)
 
 
 
Portanto, o que precisamos efetivamente é estudar verdadeiramente a Doutrina Espírita, atentos á nossa responsabilidade diante de Deus, dos Espíritos Superiores, e de nós mesmos, para que não venhamos a vilipendiar com nossa ignorância um obra realizada dentro de um planejamento espiritual que não temos sequer a noção de sua dimensão!
 
 
 
Lembremo-nos de Kardec, e de sua dedicação plena na organização da obra. Lembremo-nos dos cuidados dispensados pelos mentores espirituais que acompanhavam de perto todo o seu desenvolvimento, e não sejamos os divulgadores de conceitos esdrúxulos que venham deturpar os princípios pelos quais o codificador e a espiritualidade maior tanto primaram por manter!
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8 comentários:

  1. Amiga, seja bem vinda a blogesfera! Você começou muito bem. Quem não a conhece, vai se surpreender, mas euzinha, ciente dos seus escrúpulos e conhecimentos, apenas fiquei mais feliz. É certo que a minha orelha ficou ligeiramente puxada, mas, eu estudo. Um grande abraço.

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  2. Graça, adorei o artigo. Principalmente o penúltimo parágrafo.
    Muita luz e paz

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  3. Professora,
    É gratificante ler suas contribuições sobre a doutrina espírita, em especial sobre este assunto tão importante que trata dos princípios ensinados por Kardec. Um beijo estimado. Parabéns e serei um frequentador assíduo de seu blog.

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  4. Excelente texto, Tia Graça!
    Eu só faria uma observação quanto à questão do Controle Universal.

    Quando Kardec fala, na Introdução, sobre o "Controle Universal", no título II, entendo falar em um contexto diferente do preconizado pela senhora. Lá se lê "II - AUTORIDADE DA DOUTRINA ESPÍRITA - Controle Universal do Ensino dos Espíritos".

    Eu entendo que esse "Controle Universal dos espíritos" seja explicado por esse trecho:

    "Deus quis que a nova revelação chegasse aos homens por meio mais rápido e mais autêntico. Eis porque encarregou os Espíritos a levarem de um pólo ao outro, manifestando-se por toda parte, sem dar a ninguém o privilégio exclusivo de ouvir a sua palavra.
    Um homem pode ser enganado e pode enganar-se a si mesmo, mas não aconteceria assim, quando milhões vêem e ouvem a mesma coisa: isto é uma garantia para cada um e para todos. "

    Então, de alguma forma, entendo que Kardec, ao invés de querer centralizar o ensino doutrinário em um órgão que teria o poder de dizer o que é correto ou equivocado na Doutrina, ele preferiu descentralizar, e que através do estudo, do diálogo e das comunicações nos mais diversos centros espiritas, a doutrina fosse se condensando e unificando.

    Eu acho essa uma boa ideia, já que são poucos os que sabem dialogar hoje em dia. Desse modo, tendo de dialogar, estudar e se entender, os espíritas estão praticando a disciplina, o amor ao próximo e a humildade, o que me parece ser a iniciativa do blog.

    Parabéns pela iniciativa, tia!! =)



    A senhora escreveu um parágrafo assim:

    "Adiante, orienta o codificador que as publicações de instruções dadas pelos Espíritos, deverão passar pelo “controle universal, que é uma garantia para a unidade futura do Espiritismo, e anulará todas as teorias contraditórias. É nele que, no futuro se procurará o criterium da verdade”. (2.003: p.18) (grifei)
    Infelizmente o Brasil, na condição de país que reúne o maior número de espíritas do mundo, não adotou o “controle universal” preconizado por Kardec."

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  5. Loirinha,

    muito atual e oportuno o comentário. Seremos leitores assíduos.

    Muita Paz!

    Heinz e Carmen.

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  6. Oi Miguel!Interessante as suas ponderações, mas entendo que efetivamente, sabedor que as comunicações continuariam entre plano espiritual e plano físico, Kardec demonstra, ou sugere o cuidado que se deve ter com essas comunicações. Então não vejo como centralização, mas como o cuidado na divulgação de certas 'novidades', que se houver um estudo mais efetivo das obras básicas, constata-se claramente da improcedência. Mas tudo é uma questão de entendimento e de interpretação. Abraço. Graça Cabral

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  7. Parabéns! Sou espírita e concordo com sua análise!! Abraços!

    Alberto Cardoso albertocard@hotmail.com

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  8. O controle universal nada mais é do que ensinamento concordante.

    Como nos organizaremos, se como federações, confederações, através do CUEE ou se com atitudes individuais ou em grupo, o importante é levarmos em consideração a universalidade e concordância das comunicações. Isso cabe ao homem.

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