domingo, 6 de maio de 2012

Não há Médiuns Infalíveis



Por Sérgio Aleixo


De extremo fanatismo são as premissas que desnorteiam o pensamento dos sectários mediunistas, aqueles que não suportam qualquer crítica à produção de seus médiuns favoritos, produção que, na verdade, é dos espíritos. O pressuposto errôneo em que se apoiam é o da “folha de serviço”, isto é, os médiuns que muito se dedicam à caridade não seriam passíveis de ser enganados, pois os espíritos protetores não o permitiriam. Eis o erro. É função dos benfeitores estimular nos médiuns a responsabilidade do exercício de sua razão. O discernimento, portanto, este sim, é que constitui o melhor contraveneno às inoculações dos espíritos pseudossábios nos comunicados de além-túmulo. Sou eu quem o diz? Não, em absoluto. É Allan Kardec: Pelo próprio fato de o médium não ser perfeito, Espíritos levianos, embusteiros e mentirosos podem interferir em suas comunicações, alterar-lhes a pureza e induzir em erro o médium e os que a ele se dirigem. Eis aí o maior escolho do Espiritismo e nós não lhe dissimulamos a gravidade. Podemos evitá-lo? Dizemos altivamente: sim, podemos. O meio não é difícil, exigindo apenas discernimento. [...]


 
As boas intenções, a própria moralidade do médium nem sempre são suficientes para o preservarem da ingerência dos Espíritos levianos, mentirosos ou pseudossábios, nas comunicações. Além dos defeitos de seu próprio Espírito, pode dar-lhes guarida por outras causas, das quais a principal é a fraqueza de caráter e uma confiança excessiva na invariável superioridade dos Espíritos que com ele se comunicam. [1]

 
Ora, prova a experiência que os maus se comunicam tão bem quanto os bons. Os que são francamente maus são facilmente reconhecíveis; mas há também, entre eles, semissábios, pseudossábios, presunçosos, sistemáticos e até hipócritas. Estes são os mais perigosos, porque afetam uma aparência de gravidade, de sabedoria e de ciência, em favor da qual enunciam, em meio a algumas verdades e boas máximas, as coisas mais absurdas. [...]


 
Separar o verdadeiro do falso, descobrir o embuste escondido numa exibição de palavras bonitas, desmascarar os impostores, eis, sem contradita, uma das maiores dificuldades da ciência espírita. Para superá-la, faz-se necessária uma longa experiência, conhecer todas as astúcias de que são capazes os Espíritos de baixa classe, ter muita prudência, ver as coisas com o mais imperturbável sangue-frio e, sobretudo, guardar-se contra o entusiasmo que cega. [2]

 
Entretanto, afora os defeitos do próprio Espírito dos médiuns, o que mais se vê é justamente a fraqueza de caráter; nada referente, aqui, a desonestidade, ou má-fé, e sim a um problema de atitude pessoal. Não raro, esquivam-se da responsabilidade de julgar, ou de submeter ao juízo de outrem, aquilo que recebem. Em geral, há neles confiança excessiva na invariável superioridade dos Espíritos que supostamente os orientam, ou que por si mais se comunicam e, portanto, não se guardam contra o entusiasmo que cega.


 
Tal postura contamina os eventuais seguidores e eis então o sectarismo mediunista, esse estado deplorável de dormência da razão, que vem incapacitando os espíritas de enxergar, em meio a algumas verdades e boas máximas, as coisas mais absurdas; que os têm feito esquecer que os maus se comunicam tão bem quanto os bons, razão pela qual nem sempre hão estado prontos a descobrir o embuste escondido numa exibição de palavras bonitas, a fim de desmascarar os impostores.


 
Não, não há médium infalível, ou perfeito, num mundo de provas e expiações. O que pode haver, no máximo, é um “bom médium, e já é muito, pois são raros”, diz a Doutrina Espírita. E mais: O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, simpatizando somente com os bons Espíritos, tem sido enganado menos vezes. [...] Os Espíritos bons permitem que os melhores médiuns sejam às vezes enganados, para que exercitem o seu julgamento e aprendam a discernir o verdadeiro do falso. Além disso, por melhor que seja um médium, jamais é tão perfeito que não tenha um lado fraco, pelo qual possa ser atacado. [3]

 
E Chico Xavier? Seria exceção aos princípios kardecianos? Seria um médium cujo espírito não teria defeitos que ensejassem a eventual ingerência de pseudossábios nas obras que psicografou? Em rede nacional, dia 21/12/1971, disse: “[...] nos informamos com ele [Emmanuel] de que, em outras vidas, abusamos muito da inteligência [...]”. E reproduziu também as palavras do jesuíta: “Você não escreverá livros, em pessoa, porque você mesmo renunciou a isso [...] seu espírito, fatigado de muitos abusos dentro da intelectualidade, quis agora ceder as suas possibilidades físicas a nós outros, os amigos espirituais”. [4]

 
Então que a razão responda. Em setembro de 1937, Chico assinou o prefácio do livro de seu guia, cujo título, sintomaticamente, traz o nome do próprio Espírito: “Emmanuel”. O que mais o impressionou, em 1931, foi que “a generosa entidade se fazia visível dentro de reflexos luminosos que tinham a forma de uma cruz”. Termina isentando-se por completo: “Entrar na apreciação do livro, em si mesmo, é coisa que não está na minha competência”.


 
Naturalmente, a “competência” coube aos editores rustenistas da F.E.B., desde todo o sempre, os formadores da personalidade mediúnica de Chico Xavier. Resultado: a generosa entidade de luzes em forma de cruz apresentou o perispírito na condição de “sede das faculdades, dos sentimentos, da inteligência e, sobretudo, o santuário da memória”, bem como afirmou, astronáutica, que “Marte ou Saturno já atingiram um estado mais avançado em conhecimentos, melhorando as condições de suas coletividades”. [5]

 
Esta sempre foi a postura equívoca de Chico Xavier ante os comunicados que recebia: simples máquina de escrever. Não se aplicava em discernir os conteúdos. Detinha-se nos aspectos morais. Isso por certo encorajou os autores a dizer tudo o que queriam, sem resistência. E tudo era publicado, afinal vinha de um médium “perfeito”. E agora? Agora, os leitores que se virem com as impropriedades de todas as ordens, as almas gêmeas, a alimentação “física”, as salas de banho, os eventos com entrada paga, os animais no além, entre tantas outras inverdades que suas obras veiculam tão candidamente, nessa falsa complementação febiana a Kardec; sim, falsa, porque o contradiz ao mesmo tempo em que o exalta; um perigo mortal, uma armadilha perfeita aos espíritas desavisados. [6]

 
Os médiuns de mais mérito não estão ao abrigo das mistificações dos Espíritos embusteiros; primeiro, porque não há ainda, entre nós, pessoa assaz perfeita, para não ter algum lado fraco, pelo qual dê acesso aos maus Espíritos; segundo, porque os bons Espíritos permitem mesmo, às vezes, que os maus venham, a fim de exercitarmos a nossa razão, aprendermos a distinguir a verdade do erro e ficarmos de prevenção, não aceitando cegamente e sem exame tudo quanto nos venha dos Espíritos; nunca, porém, um Espírito bom nos virá enganar; o erro, qualquer que seja o nome que o apadrinhe, vem de uma fonte má. Essas mistificações ainda podem ser uma prova para a paciência e perseverança do espírita, médium ou não; e aqueles que desanimam, com algumas decepções, dão prova aos bons Espíritos de que não são instrumentos com que eles possam contar. [7]

 
Bem entendido que nada disso tem o poder de anular a consolação prodigalizada mediante suas faculdades; sobretudo, a tantos aflitos com a perda de seus queridos, e a quem Deus, antes de mais ninguém, é que permitiu se comunicassem de modo tão patente. O Espiritismo, todavia, não se detém nesse ângulo da questão. O fenômeno é uma coisa; o conteúdo, o saber que pode ser integrado ao corpo da Doutrina, é outra, e está num andar mais alto, diz respeito a algo maior que um médium, ou um espírito: se prende à transmissão das verdades às gerações futuras, impossível sem discernimento, porquanto estas verdades sempre têm seu cortejo inevitável de erros, e o Espiritismo mostra onde estão as verdades, sim, mas também onde estão os erros. [8]



[1]  Revista Espírita. Fev/1859. Escolhos dos Médiuns. [2] Revista Espírita. Abr/1860. Formação da Terra.
[3] O Livro dos Médiuns, 226, 9.ª e 10.ª
[4] DVD Pinga-Fogo 2. Clube de Arte. Menu: 39 e 41.
[5] Emmanuel. 15.ª ed., FEB, pp. 133 e 21. Cf. Kardec Versus Emmanuel em 12 Passos, http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2011_06_12_archive.html.
[6] Cf. Sobre André Luiz. http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2010_09_02_archive.html.
[7] KARDEC, O Que é o Espiritismo. Cap. II, n. 82.
[8] Instruções de Santo Agostinho. Cf. Revista Espírita. Jul/1863. Sobre as Comunicações dos Espíritos. Grupo Espírita de Sétif, Argélia. O Livro dos Espíritos. Conclusão, IX.



5 comentários:

  1. Bom artigo! Sempre fui e sou muito crítico com várias literaturas que se dizem espíritas, mas que não passam de espiritualistas no mínimo como por exemplo as obras de Ramatis. Porém nunca osei duvidar de Chico Xavier, até mesmo por considerar a FEB um porto seguro.Só que não consiguia terminar de ler livros de Chico Xavier pois via algumas contradições com Kardec e não entendia,mas achava que não era maduro suficiente para entender Chico Xavier. Só começei a questionar quando li um livro sobre a profecia de 2019. Aquilo me chocou de tal maneira, que fiquei umas semanas muito confuso,atordoado mesmo, até mesmo por lembrar de Kardec, que diz que a transição não se daria através de hecatombes , ainda mais daquela maneira absurda. Resumindo, preciso realmente voltar a estudar kardec , incluindo sua revista espírita, e passar tudo pelo crivo da razão mesmo, pois a doutrina espírita é libertadora de consciências, misticismo e mitologia não é coisa de kardec...
    Que Jesus nos abençõe.
    Arlindo

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    1. Arlindo, como você, a grande maioria dos Espíritas vão também pelo caminho inverso. Somos convidados e estimulados a conhecer a Doutrina Espírita, através dos livros de Chico Xavier, Zibia Gaspareto, Divaldo Franco, Ramatis, etc., etc., e só muito superficialmente se fala nas obras fundamentais da Codificação. Aliás, existe alguém mais preterido no movimento espírita do que Kardec? Mas o importante é a tomada de consciência e a mudança de comportamento. Precisamos desenvolver um trabalho árduo de resgate dos princípios doutrinários espíritas. Venho trabalhando neste sentido escrevendo e publicando neste Blog artigos de autores que estudam e respeitam a Doutrina dos Espíritos. Que cada um faça a sua parte. O importante é não desistir da luta. Abraço fraterno.

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  2. OS ANIMAIS NO MUNDO ESPIRITUAL.
    Quem ta certo Andre Luiz ou Kardec ?????
    O Livro dos Médiuns cap Capítulo XXV

    283. Evocação de animais.

    36. Pode-se evocar o Espírito de um animal?

    — O princípio inteligente que animava o animal fica em estado latente após a morte. Os Espíritos encarregados desse trabalho imediatamente o utilizam para animar outros seres, através dos quais continuará o processo da sua elaboração. ASSIM, NO MUNDO DOS ESPÍRITOS NÃO HÁ ESPÍRITOS ERRANTES DE ANIMAIS, MAS SOMENTE ESPÍRITOS HUMANOS. ISTO RESPONDE A VOSSA PERGUNTA.
    37. Como se explica então que certas pessoas tenham evocado animais e recebido respostas?

    — Evoque um rochedo e ele responderá. Há sempre uma multidão de Espíritos prontos a falar sobre tudo.

    Andre Luiz mistificou falando que existe animais vagando no mundo espiritual, Kardec explica isso não existe. ASSIM, NO MUNDO DOS ESPÍRITOS NÃO HÁ ESPÍRITOS ERRANTES DE ANIMAIS, MAS SOMENTE ESPÍRITOS HUMANOS. ISTO RESPONDE A VOSSA PERGUNTA.
    Nota de Herculano Pires

    Espíritos errantes são os que aguardam nova encarnação terrena (humana) mesmo que já estejam bastante elevados. São errantes porque estão na erraticidade, não se tendo ainda fixado em plano superior.

    OS ESPÍRITOS DE ANIMAIS, MESMO DOS ANIMAIS SUPERIORES, NÃO TÊM ESSA CONDIÇÃO.

    Ler na Revista Espírita, nº 7 de julho de 1860, as comunicações do Espírito de Charlet e a crítica de Kardec a respeito. Na edição Edicel, página 218 do volume terceiro, título \"Dos Animais\". (N. do T.)

    Como disse Herculano Pires OS ESPÍRITOS DE ANIMAIS, MESMO DOS ANIMAIS SUPERIORES, NÃO TÊM ESSA CONDIÇÃO.
    Não tem espiritos de animais na erraticidade, Andre Luiz mistificou nessa questão.


    O Livro dos Espirtos

    600. A alma do animal, sobrevivendo ao corpo fica num estado errante como a do homem após a morte?

    — Fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo. Mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espírito.

    O ESPÍRITO DO ANIMAL É CLASSIFICADO, APÓS A MORTE, PELOS ESPÍRITOS INCUMBIDOS DISSO E UTILIZADO QUASE IMEDIATAMENTE: NÃO DISPÕE DE TEMPO PARA SE PÔR EM RELAÇÃO COM OUTRAS CRIATURAS.

    Vemos claramente que não existem animais desencarnados vagando no mundo espiritual, como disse Kardec O ESPÍRITO DO ANIMAL É CLASSIFICADO, APÓS A MORTE, PELOS ESPÍRITOS INCUMBIDOS DISSO E UTILIZADO QUASE IMEDIATAMENTE: NÃO DISPÕE DE TEMPO PARA SE PÔR EM RELAÇÃO COM OUTRAS CRIATURAS.

    Wilson Moreno


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  3. Os espiritos desencarnados tem necessidade de Alimentação????
    Andre Luiz fala que sim Kardec fala que não.

    Vejamos esse texto

    Revista Espirita ANO 2 - ABRIL 1859 - Nº. 4 de Allan Kardec


    Há sensações que têm sua fonte no próprio estado de nossos órgãos; ora, as necessidades inerentes ao nosso corpo não podem ocorrer do momento que nosso corpo não existe mais.

    O ESPÍRITO NÃO SENTE, POIS, NEM A FADIGA, NEM A NECESSIDADE DE REPOUSO, NEM A DE ALIMENTAÇÃO, PORQUE NÃO TEM NENHUMA PERDA A REPARAR; NÃO É AFLIGIDO POR NENHUMA DE NOSSAS ENFERMIDADES.

    As necessidades do corpo ocasionam as necessidades sociais, que não existem mais para os Espíritos: assim, para eles, os cuidados dos negócios, os tormentos, as mil tribulações do mundo, as aflições que se dão para se proporcionar as necessidades ou as superfluidades da vida não existem mais; têm piedade do trabalho que nos damos por vãs futilidades; e, todavia, tanto os Espíritos elevados são felizes, quanto OS ESPÍRITOS INFERIORES SOFREM, MAS ESSES SOFRIMENTOS SÃO DE PREFERÊNCIA ANGÚSTIAS, QUE POR NADA TEREM DE FÍSICAS NÃO SÃO MENOS PUNGENTES; ELES TÊM TODAS AS PAIXÕES, TODOS OS DESEJOS QUE TINHAM EM SUA VIDA (falamos dos Espíritos inferiores), e seu castigo é não poder satisfazê-los; para eles, é uma verdadeira tortura, que crêem perpétua, porque sua própria inferioridade não lhes permite ver o fim, e lhes é, ainda, um castigo.

    O ESTADO DO ESPÍRITO, COMO ESPÍRITO, VARIA EXTRAORDINARIAMENTE EM RAZÃO DO GRAU DE SUA ELEVAÇÃO E DE SUA PUREZA.

    À MEDIDA QUE SE ELEVA E SE DEPURA, SUAS PERCEPÇÕES E SUAS SENSAÇÕES SÃO MENOS GROSSEIRAS; ADQUIREM MAIS FINURA, SUTILEZA, DELICADEZA; ELE VÊ, SENTE E COMPREENDE COISAS QUE NÃO PODIA NEM VER, NEM SENTIR E NEM COMPREENDER EM UMA CONDIÇÃO INFERIOR.

    Ora, sendo cada existência corpórea, para ele, uma oportunidade de progresso, o conduz para um meio novo, porque se encontra, se progrediu, entre Espíritos de uma outra ordem cujos pensamentos e todos os hábitos são diferentes.

    Acrescentemos a isso que essa depuração permite-lhe penetrar, sempre como Espírito, em mundos inacessíveis aos Espíritos inferiores, como, entre nós, os salões da sociedade são interditados às pessoas mal educadas.

    Quanto menos está esclarecido, mais o horizonte lhe é limitado; à medida que se eleva e se depura, esse horizonte cresce e, com ele, o círculo de suas idéias e de suas percepções.

    Vou realçar essa observação de Kardec

    O ESPÍRITO NÃO SENTE, POIS, NEM A FADIGA, NEM A NECESSIDADE DE REPOUSO, NEM A DE ALIMENTAÇÃO, PORQUE NÃO TEM NENHUMA PERDA A REPARAR; NÃO É AFLIGIDO POR NENHUMA DE NOSSAS ENFERMIDADES.

    NEM DA ALIMENTAÇÃO POR QUE NÃO TEM NENHUMA PERDA A REPARAR

    Allan Kardec

    Revista Espirita ANO 2 - ABRIL 1859 - Nº. 4 de Allan Kardec

    Wilson Moreno na busca da Verdade

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