sexta-feira, 6 de julho de 2012

O Sonambulismo face a Doutrina Espírita





Por Maria das Graças Cabral

Muito comumente, ouvem-se relatos de pessoas que durante o sono falam e andam de olhos abertos, contudo inconscientes. O fenômeno é considerado pela medicina como uma doença denominada de “sonambulismo” ou “parassonia.” Caracteriza-se pela alteração de comportamento durante o sono, cuja causa ainda é um mistério para os especialistas. Por enquanto. as respostas eficientes restringem-se aos tratamentos disponíveis para o problema com uso de medicação nos casos mais graves, que põem em risco a segurança do paciente. 


Por outro lado, propaga-se uma ciência denominada de “projeciologia (do latim projectio significa projeção e logos no grego significa tratado) que é o ramo, subcampo, ou especialidade de caráter mais prático da conscienciologia, e da psicobiofísica (versão mais abrangente da parapsicologia) que estuda as projeções energéticas da consciência e as projeções da própria consciência para fora do corpo humano, ou seja, das ações da consciência operando fora do estado de restrição física do cérebro e todo o corpo biológico. Devido à falta de evidência científica e experimentos em condições controladas, à ausência de hipóteses e previsões que possam ser submetidas a teste ou ser falsificadas com o método científico, a projeciologia (assim como os outros ramos da denominada parapsicologia) é considerada uma pseudociência.” (Fonte: http://pt.wikipedia.org/wiki/Projeciologia)

Observa-se portanto, o desenvolvimento de várias frentes de pesquisa por parte da ciência médica, como também por parte da parapsicologia, no intuito de compreender e esclarecer com eficiência o fenômeno sonambúlico. Na realidade, o sonambulismo é vivenciado por pessoas das mais diversas faixas etárias, graus de instrução, crentes ou não crentes, das mais diversas localidades do mundo, chamando atenção e provocando a curiosidade de estudiosos e leigos.
Diante do exposto, o presente artigo tem por objetivo desenvolver algumas breves considerações sobre o assunto, à luz da Doutrina Espírita. Para tanto, faz-se por oportuno inicialmente a apresentação de algumas experiências sonambúlicas divulgadas:


(I) “O artista plástico britânico Lee Hadwin, que só consegue desenhar enquanto está dormindo, lançou uma exposição de suas obras em Londres. Hadwin foi descrito pelos especialistas da Clínica do Sono de Edimburgo, na Escócia, como um caso único. Ele foi diagnosticado com sonambulismo e conta que não se lembra de absolutamente nada do que produz de madrugada. Hadwin nunca fez cursos de artes e afirma que nunca teve muito interesse por estas atividades. No entanto, enquanto dorme, ele desenha retratos, paisagens e figuras abstratas. Ele começou a desenhar durante o sono quando tinha 4 anos de idade, deixando suas marcas em paredes ou qualquer pedaço de papel que estivesse ao alcance. Atualmente, Hadwin se prepara melhor e deixa seus cadernos de desenho e materiais espalhados pelo apartamento onde vive e vem aperfeiçoando seus trabalhos nos últimos anos.” (Fonte: http://noticias.r7.com/internacional/noticias)

 
 
(II) “Numa madrugada há pouco mais de 20 anos, o médico urologista carioca Luiz Otávio Zahar teve a sensação de acordar no meio da academia de ginástica que costumava freqüentar. As luzes estavam apagadas e não havia ninguém usando os aparelhos de musculação nem circulando pelos corredores. O médico percorreu o espaço de um lado para o outro, sentindo-se absolutamente consciente. Mas seu passeio noturno, segundo Zahar, tinha uma peculiaridade: ele via tudo do alto, como se estivesse suspenso, flutuando. (...)”
 
 
“Naquela madrugada na academia, porém, Zahar resolveu pôr à prova a tese de que realmente conseguia como tantas outras pessoas dizem conseguir sair do corpo, manter o estado de vigília e usar os sentidos para observar coisas concretas. Eu não deixo de ser, fora do corpo, aquele médico cartesiano que sou que quer comprovar as coisas. Pensei: tenho de fazer alguma coisa para provar a mim mesmo essa experiência. Então vi um parafuso esquecido no alto de uma máquina de exercício. Acordei e anotei, conta. No dia seguinte, foi até a máquina. Para ver o que havia em cima dela, precisou subir em um banco. Do chão, era impossível enxergar. Subi e vi o parafuso lá.” (Fonte: http://super.abril.com.br/cotidiano/projecao-astral-viagens-fora-corpo)



(III) “O contador paulista Fernando Augusto Golfar, de 37 anos, afirma que vive projeções desde os 6 anos. Contava a seus pais episódios vivenciados por parentes já mortos com os quais falava durante as experiências e visões de lugares que lembrava ter visto dias antes de visitá-los com a família. Por via das dúvidas, a mãe o levou algumas vezes a uma benzedeira. As experiências prosseguiram. Geralmente me vejo em locais de assistência, hospitais, áreas carentes, enterros ou ajudando usuários de drogas, conta. Assim como Borges, Golfar afirma ter desenvolvido sua mediunidade. Para ele, isso ajuda em suas projeções astrais, mas não é um requisito fundamental.” (Fonte: http://super.abril.com.br/cotidiano/projecao-astral-viagens-fora-corpo)
 
 
Diante dos casos acima expostos, e para que se tenha uma melhor compreensão do fenômeno à luz do Espiritismo, vale ressaltar um dos pontos principais da doutrina, quando estabelece que o ser humano seja composto de três elementos: “(1º) O corpo ou ser material, semelhante ao dos animais e animado pelo mesmo princípio vital; 2º) A alma ou ser imaterial, espírito encarnado no corpo; 3º) O liame que une a alma ao corpo, princípio intermediário entre a matéria e o Espírito. (...) O liame ou perispírito que une o corpo e Espírito é uma espécie de invólucro semi material.” (Livro dos Espíritos - Introdução, VI)

Na realidade, o tema proposto é tratado inicialmente em O Livro dos Espíritos, primeira obra da codificação kardeciana e posteriormente em O Livro dos Médiuns, segundo livro codificado. Em O Livro dos Espíritos, dizem os Mestres espirituais que durante o sono, em razão do repouso orgânico os liames que unem o corpo ao Espírito se relaxam. Como o Espírito não acompanha a inatividade orgânica passa a dispor de mais faculdades que no estado de vigília. (LE, 401)

O fenômeno sonambúlico sob o efeito do sono é conceituado como “um estado de independência da alma, mais completo que no sonho, e então as faculdades adquirem maior desenvolvimento. A alma tem percepções que não atinge no sonho, que é um estado de sonambulismo imperfeito.” (LE, 425)

De acordo com as explanações iniciais, foi visto que a medicina cataloga o sonambulismo como uma doença na qual o sonâmbulo é alguém que por predisposição orgânica executa atividades durante o sono. A esse respeito, esclarecem os Mestres espirituais que o Espírito “preocupado com uma coisa ou outra, se entrega a alguma ação que exige o uso do seu corpo, do qual se serve como se empregasse uma mesa ou qualquer outro objeto material, nos fenômenos de manifestação física, ou mesmo de vossa mão, nas comunicações escritas.” (LE, 427) Ou seja, o Espírito utiliza-se do corpo físico como um instrumento para a realização de alguma atividade que deseje praticar.
 
 
No que tange à clarividência sonambúlica, esta ocorre em razão da aptidão que tem o Espírito de atravessar livremente a matéria e não precisar dos órgãos físicos para ver e/ou ouvir além do plano físico. Dizem os Mestres que no estado de crise, o Espírito se lembra de conhecimentos adquiridos em existências anteriores, embora de forma incompleta, acrescentando que “passada a crise, toda a lembrança se apaga e ele volta à obscuridade.” (LE, p. 431)

Asseveram ainda que “o sonâmbulo possui mais conhecimentos do que lhe reconheceis,” só que adormecidos pelo corpo. Reiteradamente dizem que revivemos inúmeras vezes, e perdemos “materialmente o que conseguimos aprender na existência precedente. Entretanto no estado de crise, ele se lembra embora de maneira incompleta, pois não saberia dizer de onde vem o conhecimento, nem como o possui. Passada a crise, toda a lembrança se apaga e ele volta à obscuridade.” (LE, p. 431) Tais explicações ‘casam’ com o caso do artista plástico britânico Lee Hadwin, (I) que só consegue desenhar enquanto está dormindo.

Adiante prosseguem esclarecendo, que o desenvolvimento da clarividência sonambúlica depende das condições físicas (de acordo com a medicina) que permitem ao Espírito libertar-se de forma mais natural da matéria. A esse respeito, Kardec indaga se o sonâmbulo que vê à distância, vê do lugar em que está seu corpo ou daquele que está a sua alma, isto porque muito comumente o sonâmbulo experimenta no corpo sensações de calor ou de frio do lugar em que se encontra a sua alma, às vezes bem longe do corpo. (LE, p. 436)

Reiteram os Mestres espirituais que é a alma que se transporta e vê, mas como não deixou por completo o corpo, “permanece ligada a ele pelo laço que os une, e é esse laço que os une, o condutor das sensações” (perispírito). (O Livro dos Espíritos - pergunta 437)

Daí a experiência do médico Luiz Otávio Zahar (II) quando relatava que “as luzes da academia estavam apagadas e não havia ninguém usando os aparelhos de musculação nem circulando pelos corredores. O médico percorreu o espaço de um lado para o outro, sentindo-se absolutamente consciente. Mas seu passeio noturno, segundo Zahar, tinha uma peculiaridade: ele via tudo do alto, como se estivesse suspenso, flutuando”. Ou seja, o Espírito do médico libertou-se até a academia de ginástica, conferindo todo o ambiente do jeito em que estava fechada, com as luzes apagadas e totalmente deserta, em razão do horário (madrugada).

Em O Livro dos Médiuns o sonambulismo é tratado como uma variedade da faculdade mediúnica na qual, ocorrem duas ordens de fenômenos que freqüentemente se agregam. A ação do sonâmbulo quando está sob o domínio do próprio Espírito nos momentos de emancipação. Nesse caso, o que vê, ouve e percebe além dos limites dos sentidos, é oriundo dele mesmo (caso do desenhista e do médico).

Não obstante em outras circunstâncias, o sonâmbulo “serve de instrumento a outra inteligência. É passivo e o que diz não é dele. Em resumo; o sonâmbulo exprime o seu próprio pensamento e o médium exprime o pensamento do outro. Mas o Espírito que se comunica através de um médium comum pode fazê-lo por um sonâmbulo. Freqüentemente mesmo o estado de emancipação da alma, no estado sonambúlico, torna fácil essa comunicação.” (O Livro dos Médiuns - Cap. XIV, 172)

“Aqui aplicar-se-ia perfeitamente o relato do contador Fernando Augusto Golfar (III), quando afirma vivenciar o fenômeno sonambúlico (que denomina projeções) desde os 6 anos, quando contava aos pais episódios vivenciados por ‘parentes já mortos” com os quais falava durante as experiências e “visões de lugares que lembrava ter visto dias antes de visitá-los com a família“.

A Doutrina Espírita estabelece que a faculdade sonambúlica seja uma faculdade que depende do organismo e nada tem que ver com a elevação, o adiantamento e a condição moral do sujeito. Um sonâmbulo pode, pois, ser muito lúcido e incapaz de resolver certas questões, se o seu Espírito for pouco adiantado. (O Livro dos Médiuns - Cap. XIV, 174)
 
 
Portanto, para o Espiritismo o fenômeno de “emancipação da alma”, pode ser ocasionado pelo sono, ou provocado magneticamente pelo "fluido vital, eletricidade animalizada que são modificações do fluido universal". (LE. 427) Tal fenômeno depende de uma condição orgânica do indivíduo que possibilita a liberação do Espírito, que se mantém ligado ao corpo físico pelo perispírito.

No que concerne às percepções do mesmo, poderão advir como lembranças confusas e incompletas, ou mesmo nenhuma lembrança. Segundo os Espíritos Superiores, “nos sonhos de que se tem consciência, os órgãos inclusive da memória, começam a despertar e recebem imperfeitamente as impressões produzidas pelos objetos ou as causas exteriores” (...). (LE, p. 425)

Para finalizar, pode-se concluir que o sonambulismo permite a clarividência quando o Espírito do sonâmbulo atravessa livremente os corpos opacos, podendo alcançar longas distâncias. Pode ser considerada como uma modalidade de mediunidade, quando o sonâmbulo em crise entra em contato com Espíritos, podendo vê-los e/ou ouvi-los. Para aqueles que pretendam uma melhor compreensão do assunto, exige-se obviamente um estudo aprofundado das Obras Fundamentais da Doutrina Espírita juntamente com a Revista Espírita.


domingo, 1 de julho de 2012

Evocar ou Não Evocar Determinados Espíritos?


Por Maria das Graças Cabral


O presente texto tem por objetivo tratar do seguinte questionamento: - Se deve ou não evocar determinados Espíritos nas reuniões mediúnicas? A esse respeito, hodiernamente o procedimento usual e padronizado nos centros espíritas ou grupos de estudo, é o de “não evocação” ou “comunicação espontânea”, em consonância com o entendimento do Espírito Emmanuel, mentor do médium Chico Xavier.

A esse respeito o referido Espírito, no livro O Consolador, psicografado pelo médium acima mencionado, quando indagado se é aconselhável a evocação direta de determinados Espíritos, assim se posiciona: - “Não somos dos que aconselham a evocação direta e pessoal, em caso algum. Se essa evocação é passível de êxito, sua exeqüibilidade somente pode ser examinada no plano espiritual.” (O Consolador - pergunta 369, p. 207) (grifo e negrito meus) Como se não ocorresse o mesmo com a comunicação espontânea!

Acrescenta Emmanuel: “Daí a necessidade de sermos espontâneos, porquanto, no complexo dos fenômenos espiríticos, a solução de muitas incógnitas espera o avanço moral dos aprendizes sinceros da Doutrina. O estudioso bem intencionado, portanto, deve pedir sem exigir, orar sem reclamar, observar sem pressa, considerando que a esfera espiritual lhe conhece os méritos e retribuirá os seus esforços de acordo com a necessidade de sua posição evolutiva e segundo o merecimento do seu coração. Podeis objetar que Allan Kardec se interessou pela evocação direta, procedendo a realizações dessa natureza, mas precisamos ponderar, no seu esforço, a tarefa excepcional do Codificador, aliada a necessidades e méritos ainda distantes da esfera de atividade dos aprendizes comuns.” (O Consolador - pergunta 369, p. 207) (grifo e negrito meus)

Diante das elucidações feitas por Emmanuel, observa-se que sua argumentação se opõe sumariamente à evocação direta, sustentando-se primeiramente no entendimento de que o êxito de tais evocações só poderia ser averiguado no plano espiritual. Indaga-se: - Por acaso o êxito da comunicação espontânea tem como ser apurada com toda a segurança no plano material?! Quais seriam os critérios de segurança? Isso objetivamente ele não aponta.

Em seguida alega que devemos pedir sem exigir, orar sem reclamar, etc.. Será que para Emmanuel evocar, chamar, significa exigir, ou impor aos Espíritos seu comparecimento? Rebate que em razão de nossa precária condição moral não devemos evocar Espírito nenhum. Pondera que com Kardec foi diferente, pois o mesmo executava a extraordinária tarefa da codificação associada às suas virtudes pessoais que estamos longe de auferir.

A argumentação de Emmanuel torna-se inaceitável pois a Doutrina dos Espíritos veio para todos independentemente de grau evolutivo, visando alavancar o progresso do espírito humano. Allan Kardec não teria tido todo o cuidado de explanar de forma clara e pedagógica, desenvolvendo um verdadeiro tratado sobre mediunidade em O Livro dos Médiuns, se não objetivasse que a mediunidade fosse bem compreendida e o trabalho mediúnico seguro e acessível a todos.

No que tange às evocações, nas Considerações Gerais do Capítulo XXV de O Livro dos Médiuns quando trata do tema em tela, o Mestre começa pontuando que “algumas pessoas acham que não devemos evocar nenhum Espírito, sendo preferível esperar o que quiser comunicar-se. Entendem que chamando determinado Espírito não temos a certeza de que é ele que se apresenta, enquanto o que vem espontaneamente, por sua própria iniciativa, prova melhor a sua identidade, pois revela assim o desejo de conversar conosco.” (O Livro dos Médiuns - item 269)

Não obstante, estabelece o Codificador que optar pela comunicação espontânea “é um erro”! Observe-se que taxativamente considera um ERRO a não evocação, justificando seu entendimento com as seguintes palavras: “Primeiramente porque estamos sempre rodeados de Espíritos, na maioria das vezes inferiores, que anseiam por se comunicar. Em segundo lugar, e ainda por essa mesma razão, não chamar nenhum em particular é abrir a porta a todos os que querem entrar. Não dar a palavra a ninguém numa assembléia é deixá-la livre a todos, e bem sabemos o que disso resulta. O apelo direto a determinado Espírito estabelece um laço entre ele e nós; o chamamos por nossa vontade e assim opomos uma espécie de barreira aos intrusos. Sem o apelo direto um Espírito muitas vezes não teria nenhum motivo para vir até nós, se não for um nosso Espírito familiar.” (O Livro dos Médiuns - item 269) (grifei)

Acrescenta ainda que (...) “as comunicações espontâneas não têm nenhum inconveniente quando controlamos os Espíritos e temos a certeza de não deixar que os maus venham a dominar.” (O Livro dos Médiuns - item 269) (grifei) Constata-se que Kardec demonstra a temeridade de lidar com tais comunicações espontâneas, em face da dificuldade de se controlar os Espíritos comunicantes, e obstar de forma efetiva o domínio dos maus. Ou seja, o Codificador não apenas “se interessou” pelas evocações como “sutilmente” afirma Emmanuel. Ele as utilizou de forma sistemática e rechaçou as comunicações espontâneas considerando tal prática um “erro”. Até porque Kardec nunca usou de subterfúgios nem meias palavras. Sempre primou pela correição de vocabulário e clareza de idéias!

Entende-se, portanto que o interesse de certos Espíritos nas comunicações espontâneas está justamente na liberdade que os permite facilmente mistificar. Não obstante, Kardec com muita propriedade argüiu que numa reunião onde a palavra não é dada a ninguém, fala quem quer o que quer, tendo como corolário reuniões desorganizadas, improdutivas e mistificadas.

A esse respeito, faz-se por oportuno também mencionar as sessões mediúnicas onde vários Espíritos se comunicam espontânea e concomitantemente, ocorrendo paralelas doutrinações. Indaga-se: - Uma reunião nesses moldes obedece aos preceitos de organização e respeito que Kardec impinge às sessões experimentais? É óbvio que uma reunião onde várias pessoas falam ao mesmo tempo, denota total falta de urbanidade e descaso pela exposição de cada um. Imagine-se tal ocorrência num ambiente com Espíritos nos mais variados estágios de desequilíbrio!

Diante do exposto, reporto-me a uma publicação de Kardec na Revista Espírita de janeiro de 1865, intitulada “Nova Cura de uma Jovem Obsedada de Marmande”. Tratava-se de uma jovem de treze anos que experimentava crises convulsivas de tal violência, que cinco homens tinham dificuldade de mantê-la em seu leito. Depois das mais diversas tentativas de tratamento médicos e do padre que rezou missa na intenção da jovem, constatou-se o insucesso dos recursos utilizados.

Daí, um grupo espírita de Marmande consultou os guias espirituais sobre a natureza da moléstia da jovem. A resposta dada pelos guias foi à seguinte: “É uma obsessão das mais graves, cujo caráter mudará muitas vezes de fisionomia. Agi friamente, com calma; observai, estudai e chamai Germaine”, acrescentando que na primeira evocação, o Espírito de Germaine não poupou injúrias e “mostrou grande repugnância em responder às nossas interpelações.” (Revista Espírita - Janeiro de 1865, p. 20/21) (grifei)

Adiante, assevera o narrador que os guias deram a seguinte instrução: “Procedei com muito cuidado, muita observação e muito zelo. Tratareis com um Espírito mistificador, que alia a astúcia e a habilidade hipócrita a um caráter muito mal. Não cesseis de estudar, de trabalhar pela moralização desse Espírito e de orar com essa finalidade.” (...) (Revista Espírita - Janeiro de 1865, p. 21)

No caso em tela observa-se a prática da evocação numa sessão mediúnica de desobsessão, onde em um primeiro momento são evocados os guias espirituais objetivando esclarecimento e orientação de como agir face à complexidade do caso. Num segundo momento obedecendo às disposições dadas pelos guias, é feita a evocação do obsessor.

Na leitura do longo processo relatado na Revista, observa-se a alternância das evocações. Em certos momentos são os guias evocados, e sob a orientação destes evocava-se o Espírito obsessor, até o deslinde total da problemática. Ou seja, de acordo com o presente exemplo publicado na Revista Espírita, Kardec demonstra a prática das evocações nas sessões de desobsessão.

Diante do exposto, constata-se que pela falta de estudo, valorização e respeito aos ensinos ministrados pela Espiritualidade Superior e positivados por Allan Kardec, somos levados a acatar orientações alienígenas, anti-doutrinárias, que não trazem em absoluto a tão almejada segurança das comunicações mediúnicas.

Não obstante vale ressaltar, que todos os ensinamentos ministrados pelo Codificador não provinham de uma teoria própria nem de um único Espírito. Mas de uma plêiade de Espíritos evoluídos e preparados para tão grande empreitada!

Finalizando, fica claro que o médium que se diz espírita deveria obrigatoriamente ter como literatura objeto de estudo e orientação nas práticas mediúnicas O Livro dos Médiuns conjuntamente com a Revista Espírita, repositório de experiências e lições que o Codificador disponibilizou para o esclarecimento dos Espiritistas. Obviamente não desconsiderando as demais Obras Fundamentais que estabelecem o alicerce doutrinário.

No que concerne às evocações, se fizermos uma análise racional e profunda da proposta de Kardec, e o tivermos na conta do maior estudioso e conhecedor da Doutrina Espírita na condição de Codificador, assessorado por toda uma equipe espiritual de elevada evolução, não temos como duvidar do melhor procedimento a ser adotado.



REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Médiuns. Ed. LAKE. SP/SP, 22ª edição. 2002.
KARDEC, Allan. Revista Espírita. Ano VIII. Janeiro de 1865. Ed. FEB. Brasília/DF. 3ª edição. 2004.
XAVIER, Cândido Francisco. O Consolador. Ditado pelo Espírito Emmanuel. Ed. FEB. RJ/RJ. 17ª edição. 1995.