quarta-feira, 29 de fevereiro de 2012

Ateísmos, teísmos e fanatismos

Por Dora Incontri


Um documentário feito por alunos de Comunicação Social numa Universidade do Rio Grande do Sul, defende o direito dos ateus e fala sobre a discriminação sofrida por eles. Abaixo, uma reflexão que fiz a partir desse vídeo!
 
A mais recente vitimização social é a dos ateus – declaram-se perseguidos, incompreendidos e discriminados. Em primeiro lugar, quero deixar claro, que reconheço a legitimidade do ateísmo e obviamente advogo o direito de cada um crer ou descrer, da maneira que lhe aprouver, pois nada há de mais sagrado do que a liberdade de pensamento.
 
Entretanto, um dos trabalhos a que me dedico é o do diálogo inter-religioso e, poderia então acrescentar, o diálogo entre religiosos e não-religiosos… Afinal, o eixo para uma sociedade mais justa, plural e fraterna, está na convivência pacífica e respeitosa entre diversos pontos de vista. Nesse sentido, portanto, temos que analisar o que nos afasta e o que nos aproxima do diálogo, e isso deve ser feito por todos os interlocutores.
 
Antes de mais nada, um diálogo tem que ser honesto – o que chamo de honesto inclui não fazer generalizações simplistas. Por exemplo: religiosos dizerem que ateus não têm moral. Ou, do outro lado, ateus se referirem a Deus numa generalização pobre de seu conceito.
 
Explico-me: o que esses ateus do vídeo acima estão combatendo (ou dizem descrer) é um deusinho bem vulgar, antropomórfico, que anda pulando na boca de pastores fanáticos. Não é de jeito nenhum o Deus de Platão, Aristóteles – que eram pagãos. Não é o Deus de Avicena – que era islâmico, nem de Maimonides, judeu. Não é nem mesmo o Deus de São Tomás de Aquino, cuja doutrina é oficial da Igreja Católica. É o deus dos inquisidores, mas não é o Deus de Giordano Bruno, que foi queimado pela Inquisição, mas aceitava um Deus cósmico, infinito.
 
O primeiro grande engano é considerar que Deus é apenas um assunto de religião. Desde antes do advento do cristianismo, e mesmo muito tempo depois da laicização da sociedade, Deus sempre foi um tema recorrente na filosofia. Descartes, Spinoza, Leibniz – mais recentemente, Bergson, Buber ou Scheler, têm concepções de Deus diferentes entre si e muito distantes desse deusinho punitivo, vingador, que manda os ateus para o inferno, esse deusinho que pregam os seguidores de um Edir Macedo da vida.
 
O outro grande engano é dizer que a ciência é ateia. A ciência não pode se pronunciar – e nem se pronuncia – nem contra, nem a favor de Deus, pois Deus nunca foi seu objeto de estudo e pesquisa. O que há são concepções de universo e de mundo que se afinam ou não com uma dada concepção de Deus. E o que há são cientistas ateus e cientistas não-ateus. Eis tudo. E a ciência moderna, nascida justamente com os grandes astrônomos, Copérnico, Galileu, Kepler, Giornado Bruno, não nasceu ateia, porque esses pensadores consideravam que conhecer o cosmos, estudar as constelações, enxergar a ordem matemática imanente no universo, era uma forma de decifrar Deus, seu projeto cosmológico inteligente e articulado. Há cientistas contemporâneos célebres que também são teístas – veja-se Albert Einstein e Max Planck.
 
Portanto, não dá para discutir Deus honestamente de forma maniqueísta: De um lado: cientistas, filósofos, pensadores progressistas, defensores da liberdade, personalidades “fortes” que não precisam de apoio “sobrenatural” – ATEUS.
 
Do outro lado: religiosos, fanáticos, conservadores, inquisidores, ingênuos, que precisam de uma muleta, que se assemelha ao Papai Noel e ao coelhinho da Páscoa – TEÍSTAS (considerando-se teísta qualquer um que tenha uma concepção de Deus).
 
Assim como não dá para fazer o inverso, demonizar os ateus e santificar os religiosos!
O caso é que a intolerância, o dogmatismo, o patrulhamento ideológico são males humanos, e vicejam nos teísmos, nos ateísmos, em todos os ismos do mundo. Citemos o exemplo de dois autores mencionados no vídeo em questão: Freud e Marx. Os dois, que deram contribuições históricas importantes e algumas delas ainda atuais, eram campeões da intolerância. Freud costumava excomungar violentamente os que se afastavam algum milímetro da ortodoxia psicanalítica. Veja-se o caso de Jung. Marx não era menos autoritário. Bakunin (ateu como Marx, mas um dos líderes do pensamento anarquista) reclama do patrulhamento ideológico a que os anarquistas foram submetidos durante a 2º Internacional. E não podemos nos esquecer o que aconteceu com eles (os anarquistas) na Revolução Soviética – massacrados todos pela intolerância bolchevique.
 
Com tudo isso, estou apenas querendo demonstrar que se há religiosos fanáticos e intolerantes, há também ateus que agem do mesmo modo. Basta estar no poder. E por falar em poder, devo mencionar a seguir o reduto da intolerância ateia no mundo contemporâneo: o mundo acadêmico. Se na mídia, temos pastores vociferando contra “pessoas sem Deus no coração”, nas universidades, intelectuais que ousam pensar Deus, mesmo de forma filosófica, são estigmatizados e congelados. Eu mesma teria uma série de episódios a narrar, mas não interessa aqui citar nomes e instituições. Poderia falar de concursos, análise de publicações, pareceres sobre livros etc… em que minha posição de espiritualista, teísta, espírita, foram razões explícitas ou implícitas de discriminação e exclusão. Ou seja, se entre a população que ovaciona Padre Marcelo e Edir Macedo, há um discurso demonizando ateus, entre a população acadêmica – sobretudo na área de Filosofia (a despeito de filósofos de todos os tempos terem discutido Deus), há uma atitude de ridicularização em relação aos que propõem um conceito teísta de vida. É tão desrespeitoso e dogmático, alguém se arrogar o direito de dizer que outra pessoa vai para o inferno, porque pensa diferente, quanto considerar uma argumentação filosófica séria e honesta a favor da existência de Deus, como uma patacoada imbecil sobre o coelhinho da Páscoa!
 
Aliás, mencionei a intolerância de Marx e Freud e poderia citar a de Nietzsche e de Heidegger, dentro dessa mesma linha de raciocínio. O problema de todos esses autores foi justamente esse (e seu pensamento é ainda predominante na academia): eles não se limitaram a propor uma visão de mundo sem Deus, matar Deus, arrancar Deus da sociedade e do coração humano. Eles pretenderam desqualificar qualquer pessoa que tenha uma visão teísta do universo: para Marx, os que acreditam seriam alienados; para Freud, seriam neuróticos (a religião é uma espécie de patologia psíquica); para Nietzsche e Heidegger, seriam seres fracos, que não têm a coragem suficiente de assumir que a vida não tem sentido, que o universo não tem causa… Convenhamos que não é nada favorável ao diálogo e à convivência pacífica com o outro, qualificar-se a sua posição filosófica ou religiosa, como alienação, insanidade, fraqueza de caráter – em suma, burrice!
 
Outro aspecto mencionado no vídeo é a Ética: é possível uma Ética sem Deus? Obviamente que sim. Qualquer pessoa que conheça um pouco de Filosofia sabe que há diversas proposições éticas que não se ancoram num conceito de Absoluto – por exemplo, a ética marxista, a ética utilitarista, o humanismo ateu etc…
 
Mas, daí a dizer que os princípios que esses cidadãos estão defendendo – como fraternidade, igualdade, respeito à vida ou coisa que o valha – não estejam vinculados a nenhuma religião… é um desconhecimento completo de História. Tomemos o conceito de igualdade, por exemplo, esse mesmo defendido pelo marxismo e por todo o ideário dos Direitos Humanos e das Constituições: antes de Jesus, que, para mim não é Deus, mas por acaso também não era ateu, não havia em nenhuma sociedade, em nenhuma filosofia, em nenhuma corrente religiosa, a idéia explícita de igualdade entre todos os seres humanos, independente de religião, casta, raça… Essa igualdade proposta pelo cristianismo (apesar de não praticada por muitos cristãos) deriva de um conceito de filiação divina. Embora no decorrer dos séculos, a idéia tenha sido secularizada e até usada na bandeira da Revolução Francesa, não se pode negar sua raiz cristã. Aliás, um ateu honesto como André Comte-Sponville admite que, embora ateu convicto, há uma impossibilidade histórica para ele, de pensar fora da civilização cristã, na qual cresceu e foi educado, e de que carrega os valores intrinsecamente. Então, embora os ateus digam que não, eles podem adotar e praticar valores que estão enraizados sim numa tradição religiosa, de que descendem. É impossível negar a própria origem. Então, melhor é respeitá-la, assim como eles pedem respeito pela sua posição.
 
Nota: Quem quiser conhecer mais profundamente minha posição a respeito de Deus, recomendo meu livrinho de bolso: Deus e deus, recentemente reeditado pela Editora Comenius.

Fonte: In: http://doraincontri.wordpress.com/
 


sexta-feira, 24 de fevereiro de 2012

2012 e ESPIRITISMO

Jorge Murta



O que há nessa história de 2012 é uma grande salada esotérica, com uma pequena pitada científica. Primeiro, pegue uma boa dose de profecias maias, segundo as quais o último katun se dará em 21 de dezembro de 2012. Depois adicione a essa receita umas pitadas de "canalizações" de um tal Ashtar Sheran, ligado a Grande Fraternidade Branca, que diz que naves espaciais virão buscar os eleitos para salvá-los da catástrofe, na transição planetária.

Também acrescente uma boa dose de livros de Zecharia Sitchin, um escritor e pesquisador da cultura suméria, que interpretando as tábuas cuneiformes, disse em diversos livros que os deuses sumérios eram alienígenas, os anunnakis e que o planetão deles, Nibiru, leva 3.666 anos para dar uma órbita completa e que em 2012, passaria perto da Terra. Diga-se, de passagem, que segundo Sitchin, esse planetão seria maior que Júpiter.

Junte a essa mistura, algo que Chico Xavier teria dito sobre o Planeta Chupão (Hercolobus? Nibiru?), não por acaso após entrevista do Chico, em 1954, defendendo Ramatís, que falara num certo astro higienizador, que “chuparia” da superfície da Terra (por meio de força magnética) os habitantes do planeta, que já não coadunassem com o novo padrão magnético da Terra, mais elevado, higienizando assim a Terra. Tal higienização, ocorreria por ocasião da proximidade desde astro higienizador (o chupão, ou Hercolobus ou Nibiru) da órbita terrestre.

Um livro do movimento espírita, que não considero obra espírita e que por isso não tem autoridade do Controle Universal e que da força a essas sandices é Exilados de Capela, pois o leitor mais atento notará remissões a conceitos esotéricos, tais como o sistema de Capela que muitos acreditavam ser um planeta, mas que hoje a ciência prova ser apenas um aglomerado de estrelas, mas que acreditavam e alguns ainda crêem que há milhares de anos, esse mundo que supunham existir, ao se aproximar da Terra primitiva, teve seus habitantes recalcitrantes “chupados”, isto é, exilados para a Terra.
 

Outro livro do movimento espírita, que considero como desdobramento do anterior, que pela mesma razão, não considero uma obra espírita, é A Caminho da Luz, escrito por Emmanuel e psicografado por Chico Xavier e que contém também conceitos que apenas o leitor mais atilado com os mesmos conceitos podem perceber. Refiro-me a parte em que Emmanuel fala que: “Rezam as tradições do mundo espiritual que na direção de todos os fenômenos , do nosso sistema existe uma Comunidade de Espíritos Puros e Eleitos pelo Senhor Supremo do Universo, em cujas mãos se conservam as rédeas diretoras da vida de todas as coletividades planetárias”.
 

Para quem quiser pesquisar, pois não é esse o escopo deste artigo, mas é correlato ao mesmo, pesquise na net e verá se não tenho razão ao dizer que a Comunidade de Espíritos Puros não vem a ser a chamada Grande Fraternidade Branca, ou seja uma obra esotérica baseada em outra esotérica, mimetizada em espírita aborda conceitos totalmente esotéricos, afinal para o esoterismo, Jesus também faria parte da Grande Fraternidade Branca com nome de Mestre Sananda.
 

Ah, na parte cientifica, para dar sabor de verdade a esta receita de 2012, cite que em 2012 haverá um bruta aumento nas manchas solares que causará falhas nas comunicações na Terra (e é verdade isso). Há também quem diga que o derretimento das calotas polares causará inundações nos continentes.(a parte do derretimento pode ser verdade, se não tomarmos providencias, mas não para inundar os continentes).

Essa receita de Juízo Final, já foi tentada no ano 1000, no ano de 1999, no ano de 2000, com esses ingredientes juntos ou separados, mas o forno das crendices não funcionou e esqueceram de avisar o mundo para acabar. Vejam exemplos dessas crendices ao longo dos séculos, abaixo:
 

992 d.C. Em 960, Bernard de Thurings anunciou, com alarme na Europa, que o mundo só tinha mais 32 anos de existência. Felizmente para ele morreu antes da data anunciada.
31.12.999 - O mundo acabaria 1000 anos após o nascimento de Cristo. Parece não ter havido tanto "barulho" como se pensa. Mas é significativo que o Papa Silvestre II e o imperador Otão III tenham terminado as suas quesílias politicas.
31.12.1033 - Afinal não se devia contar a partir do nascimento mas sim da morte de Cristo...
Setembro de 1186 - O astrólogo João de Toledo, em 1179, anuncia o fim do mundo quando todos os planetas estiverem em conjunção em Libra. Se incluirmos o Sol, isso aconteceu em 23 de Setembro de 1186 às 16:15 TMG, ou a 3 de Outubro do novo calendário. O arcebispo de Cantuária pediu um dia de oração, o alinhamento ocorreu, o Fim do Mundo não.
1260 - Joaquim de Fiore apontou para 1260. O ponteiro não estava bom.
1 Fevereiro 1524 
Uma das datas mais espetaculares. O fim seria pela água. Em Junho de 1523 os astrólogos calcularam que o Fim se iniciaria em Londres com um dilúvio. 20.000 pessoas abandonaram as suas casas. O pároco de S. Bartolomeu construiu uma fortaleza com água e comida para dois meses de espera. Quando nada aconteceu fizeram-se novos cálculos que apontaram para mais cem anos. Mas esse ano foi mesmo especial! Nicolaus Pere previu que a conjunção dos principais planetas em Peixes (um simbolo da água), o que reforçava a ideia do diluvio. Uma das vozes que se levantou contra foi George Tannstetter, astrólogo e matemático. No seu horóscopo previu que viveria para lá de 1524, o que o levou a negar os outros calculos. Era um cético. Uma inundação gigante foi prevista para 20 de Fevereiro (ou 2 de Fevereiro) pelo astrólogo Johannes Stroeffler em 1499. A conjunção envolvia Mercurio, Venus, Marte, Jupiter e Saturno, mais o Sol, todos em Peixes. Mas foi em 23 e não em 20. Em resposta a estas profecias, na Alemanha, as pessoas construiam barcos, e um Conde Von Iggleheim construiu uma arca com 3 andares. O mesmo se passava em Toulouse. Quando choveu ligeiramente na data prevista, as pessoas atacaram a arca do Conde. Pessoas morreram.
1532 - Frederick Nansea, bispo de Viena, achou que um grande desastre estava próximo. Acreditou nas testemunhas que o informavam do que viam: cruzes sangrentas no céu, um cometa, três sóis, um castelo no céu.
13 Outubro 1533, 8h00 - Michael Stifel (tambem conhecido por Stifelius) calcula a data e hora a partir do Livro das Revelações. Quando o mundo não se evaporou, perdeu as suas vestes eclesiásticas.
1537 - Uma lista de profecias surge em Dijon, França, atribuidos ao astrólogo Pierre Turrel, a titulo póstumo. Ele usou 4 métodos diferentes de cálculo, chegando a 4 datas diferentes espalhadas por 277 anos.
1544 - Ver 1537.
1572 - Eclipse solar em Londres e espetaculares novas no céu. Pânico geral.
1584 - O astrólogo Ciprian Leowitz, incluido em 1559 no index de autores proibidos por Paulo IV, prediz o fim para 1584. Pelo sim, pelo não, calcula cartas astrológicas até 1614. Fez bem.
1648 - O rabi Sabbati Zevi, de Smyrna, interpreta a cabala mostrando que o Messias e o seu advento chegam em 1648. Em 1665, apesar de nada ter acontecido, os seus seguidores tinham aumentado, e a nova data é marcada para 1666. Cidadãos de Smyrna abandonam o trabalho e preparam-se para o regresso a Jerusalem. Os problemas aumentam quando Zevi é preso pelo sultão de Constantinopla. Este converte Zevi ao Islamismo e o movimento acaba.
1704 - O Cardeal Nicholas de Cusa, sem autorização do Vaticano, declara o Fim para 1704.
13.10. 1736 - Novo fim do mundo a começar em Londres. Desta vez previsto por William Whiston. Nem sequer choveu.
1757 - Emanuel Swedenberg anuncia o fim do mundo, informado por um anjo, segundo ele. Ninguem lhe ligou, nem os anjos.
1801 - Uma das datas (foram 4) previstas pelo astrólogo Pierre Turrel. Nada... (como nas outras 3)
1814 - Mais uma data de Pierre Turdel. Charles Mackay escreveu que "o mundo acenou tão contente como antes".
1843 - O adventista William Miller anunciou o apocalipse para 3 de abril, depois 7 de julho, depois 21 de março de 1844 e, por fim 22 de outubro.
1874 - Data calculada por Charles Taze Russel das Testemunhas de Jeová para o Fim.
1881 - Data obtida através de medições na Grande Pirâmide de Gizé, no túmulo de Cheops. Novos cálculos, mais "precisos" alteram a data para 1936. Melhorando-se ainda a medição e os calculos, obteve-se 1953. Continuam a ser feitas medições.
1914 - A segunda das datas das Testemunhas de Jeová.
1936 - Novas medições na Grande Pirâmide.
1953 - Novas medições na Grande Pirâmide.
1975 - A terceira data das Testemunhas de Jeová. Errada como as outras.
1999 - Jeane Dixon (1918-1997): "Em 1999, os E.U.A. e os seus aliados estarão em guerra como a Russia e os seus satélites. Misseis russos provocarão um holocausto nuclear nas cidades dos EUA".
Julho de 1999 - Nostradamus, em X-72 afirma: O ano mil novecentos noventa nove, mês sete
Do céu virá grande Rei assustador
Ressuscitar o grande Rei dos Mongois
Antes e depois de Marte reinar por boa hora
18 de Agosto de 1999 - Criswell (1907-1982): Um Arco Iris Negro (uma perturbação magnética na atmosfera causada por atrações gravitacionais no universo) retirará oxigénio da Terra. Esta deixará a sua órbita e encaminhar-se-á para o Sol.
2000 - Os teóricos do apocalipse disseram que o Juízo Final ocorreria 2000 anos após o nascimento de Cristo. Desmentidos pelos fatos (afinal em 2000 o mundo não acabou), se justificaram dizendo que o certo é 2000 anos após a morte do Cristo, em 2033.

Desta vez acrescentaram outro ingrediente à receita do Fim do Mundo: a Internet, que dá um ar de intelectualidade às maiores tolices. Falam tanto, na internet, de Juízo Final, mas se esquecem de ter juízo, afinal.

E o espiritismo? O que ele diz sobre isso de 21/12/2012? Bem, diretamente sobre a data em questão, nada, mas diz muito mais além:

REVOLUÇÕES DO GLOBO

Cataclismos futuros
14. Fisicamente, a Terra teve as convulsões da sua infância; entrou agora num período de relativa estabilidade: na do progresso pacífico, que se efetua pelo regular retorno dos mesmos fenômenos físicos e pelo concurso inteligente do homem. Está, porém, ainda, em pleno trabalho de gestação do progresso moral. Aí residirá a causa das suas maiores comoções. Até que a Humanidade se haja avantajado suficientemente em perfeição, pela inteligência e pela observância das leis divinas, as maiores perturbações ainda serão causadas pelos homens, mais do que pela Natureza, isto é, serão antes morais e sociais do que físicas.

Allan Kardec - A Gênese - Capítulo IX

SINAIS PRECURSORES


57. Quando sucederão tais coisas? «Ninguém o sabe, diz Jesus, nem mesmo o Filho». Mas, quando chegar o momento, os homens serão advertidos por meio de sinais precursores. Esses indícios, porém, não estarão nem no Sol, nem nas estrelas; mostrar-se-ão no estado social e nos fenômenos mais de ordem moral do que físicos e que, em parte, se podem deduzir das suas alusões.
(...)
 

58. Será que, predizendo a sua segunda vinda, era o fim do mundo o que Jesus anunciava, dizendo: «Quando o Evangelho for pregado por toda a Terra, então é que virá o fim»?

Não é racional se suponha que Deus destrua o mundo precisamente quando ele entre no caminho do progresso moral, pela prática dos ensinos evangélicos. Nada, aliás, nas palavras do Cristo, indica uma destruição universal que, em tais condições, não se justificaria.
 

Devendo a prática geral do Evangelho determinar grande melhora no estado moral dos homens, ela, por isso mesmo, trará o reinado do bem e acarretará a queda do mal. É, pois, o fim do mundo velho, do mundo governado pelos preconceitos, pelo orgulho, pelo egoísmo, pelo fanatismo, pela incredulidade, pela cupidez, por todas as paixões pecaminosas, que o Cristo aludia, ao dizer: «Quando o Evangelho for pregado por toda a Terra, então é que virá o fim.» Esse fim, porém, para chegar, ocasionaria uma luta e é dessa luta que advirão os males por ele previstos.
(...)
 

60. Se considerarmos o estado atual do mundo físico e do mundo moral, as tendências, aspirações e pressentimentos das massas, a decadência das idéias antigas que em vão se debatem há um século contra as idéias novas, não poderemos duvidar de que uma nova ordem de coisas se prepara e que o mundo velho chega a seu termo.
 

Se, agora, levando em conta a forma alegórica de alguns quadros e perscrutando o sentido profundo das palavras de Jesus, compararmos a situação atual com os tempos por ele descritos, como assinaladores da era da renovação, não poderemos deixar de convir em que muitas das suas predições se estão presentemente realizando; donde a conclusão de que atingimos os tempos anunciados, o que confirmam, em todos os pontos do globo, os Espíritos que se manifestam.
(...)

63. Tendo que reinar na Terra o bem, necessário é sejam dela excluídos os Espíritos endurecidos no mal e que possam acarretar-lhe perturbações. Deus permitiu que eles aí permanecessem o tempo de que precisavam para se melhorarem; mas, chegado o momento em que, pelo progresso moral de seus habitantes, o globo terráqueo tem de ascender na hierarquia dos mundos, interdito será ele, como morada, a encarnados e desencarnados que não hajam aproveitado os ensinamentos que uns e outros se achavam em condições de aí receber. Serão exilados para mundos inferiores, como o foram outrora para a Terra os da raça adâmica, vindo substituí-los Espíritos melhores. Essa separação, a que Jesus presidirá, é que se acha figurada por estas palavras sobre o juízo final: «Os bons passarão à minha direita e os maus à minha esquerda.» (Cap. XI, n 31 e os seguintes.)
(...)
 

JUÍZO FINAL


67. O juízo, pelo processo da emigração, conforme ficou explicado acima (nº 63), é racional; funda-se na mais rigorosa justiça, visto que conserva para o Espírito, eternamente, o seu livre-arbítrio; não constitui privilégio para ninguém; a todas as suas criaturas, sem exceção alguma, concede Deus igual liberdade de ação para progredirem; o próprio aniquilamento de um mundo, acarretando a destruição do corpo, nenhuma interrupção ocasionará à marcha progressiva do Espírito. Tais as conseqüências da pluralidade dos mundos e da pluralidade das existências.

Segundo essa interpretação, não é exata a qualificação de juízo final, pois que os Espíritos passam por análogas fieiras a cada renovação dos mundos por eles habitados, até que atinjam certo grau de perfeição. Não há, portanto, juízo final propriamente dito, mas juízos gerais em todas as épocas de renovação parcial ou total da população dos mundos, por efeito das quais se operam as grandes emigrações e imigrações de Espíritos.
(...)

Allan Kardec - A Gênese - Capítulo XVII

A NOVA GERAÇÃO

27. (...) A Terra, no dizer dos Espíritos, não terá de transformar-se por meio de um cataclismo que aniquile de súbito uma geração. A atual desaparecerá gradualmente e a nova lhe sucederá do mesmo modo, sem que haja mudança alguma na ordem natural das coisas. Tudo, pois, se processará exteriormente, como sói acontecer, com a única, mas capital diferença de que uma parte dos Espíritos que encarnavam na Terra aí não mais tornarão a encarnar. Em cada criança que nascer, em vez de um Espírito atrasado e inclinado ao mal, que antes nela encarnaria, virá um Espírito mais adiantado e propenso ao bem.

Allan Kardec - A Gênese - Capítulo XVIII

Eis o que a codificação diz, o que o bom senso diz, o que Kardec fala. Resumindo, não haverá um fim geral e estanque do mundo, o que haverá e está havendo é um fim gradativo no modelo de mundo em que se vive, do velho para o novo, sem destruições nem modelos de mundos tipo “Mad Max”, mas o chamado mundo de regeneração. Mas, antes desse mundo de regeneração chegar teremos que conviver com muitas outras profecias com data marcada, e pior, algumas atribuídas a alguém tida como espírita, mas que parece não ter lido nada do que Kardec disse acima, mas que mesmo assim, alguns espiritas o tem em alta conta, chegando mesmo a incensa-lo. Falo de Chico Xavier e sua profecia feita a Geraldo Lemos sobre o fm do mundo que se daria em 2019. Mas como o texto já se faz grande, deixarei a analise para o próximo artigo.
 
 
 
Fonte: In: http://espiritismocomprofundidade.blogspot.com/


Atividade Noturna do Espírito (Desdobramento)

Aluney Elferr Albuquerque Silva


Durante o sono o Espírito desprende-se do corpo; devido aos laços fluídicos estarem mais tênues. A noite é um longo período em que está livre para agir noutro plano de existência. Porém, variam os graus de desprendimento e lucidez. Nem todos se afastam do seu corpo, mas permanecem no ambiente doméstico; temem fazê-lo, sentir-se-iam constrangidos num meio estranho (aparentemente).

Outros movimentam-se no plano espiritual, mas suas atividades e compressões dependem do nível de elevação. O princípio que rege a permanência fora do corpo é o da afinidade moral, expressa, conforme a explanação anterior, por meio da afinidade vibratória ou sintonia.

O espírito será atraído para regiões e companhias que estejam harmonizadas e sintonizadas com ele através das ações, pensamentos, instruções, desejos e intenções, ou seja, impulsos predominantes. Podendo assim, subir mais ou se degradar mais.

O lúbrico terá entrevistas eróticas de todos os tipos, o avarento tratará de negócios grandiosos (materiais) e rendosos usando a astúcia. A esposa queixosa encontrará conselhos contra o seu marido, e assim por diante. Amigos se encontram para conversas edificantes, inimigos entram em luta, aprendizes farão cursos, cooperadores trabalharão nos campos prediletos, e, assim, caminhamos.

Para esta maravilhosa doutrina, conforme tais considerações, o sonho é a recordação de uma parte da atividade que o espírito desempenhou durante a libertação permitida pelo sono. Segundo Carlos Toledo Rizzini, interpretação freudiana encara o sonho como apontando para o passado, revelando um aspecto da personalidade.

Para o Espiritismo, o sonho também satisfaz impulsos e é uma expressão do estilo de vida, com uma grande diferença: a de não se processar só no plano mental, mas ser uma experiência genuína do espírito que se passa num mundo real e com situações concretas. Como vimos, o espírito, livre temporariamente dos laços orgânicos, empreende atividades noturnas que poderão se caracterizar apenas por satisfação de baixos impulsos, como também, trabalhar e aprender muito. Nesta experiência fora do corpo, na oportunidade do desprendimento através do sono, o ser, poderá ver com clareza a finalidade de sua existência atual, lembrar-se do passado, entrevê o futuro, todavia a amplitude ou não dessas possibilidades é relativa ao grau de evolução do espírito.

Verifiquemos três questões do Livro dos Espíritos, no capítulo VIII, perguntas: 400, 401 e 403. P-400 “O Espírito encarnado permanece de bom prazer no seu corpo material? - É como se perguntasse a um presidiário, se gostaria de sair do presídio. O espírito aspira sempre à sua libertação e tanto mais deseja ver-se livre do seu invólucro, quanto mais grosseiro é este.

P-401 “Durante o sono a alma repousa como o corpo? - Não, o espírito jamais está inativo. Durante o sono, afrouxam-se os laços entre corpo e espírito e, ele se lança pelo espaço e entra em relação com os outros espíritos sintonizados por ele.

P-403 “Como podemos julgar a liberdade do espírito, durante o sono? - Pelos sonhos.

O sono liberta parcialmente a alma do corpo, quando adormecido o espírito se acha no estado em que fica logo a morte do seu corpo.

O sonho é a lembrança do que o espírito viu durante o sono. Podemos notar, que nem sempre sonhamos. Mas, o que isso quer dizer? Que nem sempre nos lembramos do que vimos, ou de tudo o que havemos visto, enquanto dormimos. É que não temos ainda a alma no pleno desenvolvimento de suas faculdades. Muitas vezes somente nos fica a lembrança da perturbação que o nosso Espírito experimentou.

Graças ao sono os Espíritos encarnados estão sempre em relação com o mundo dos Espíritos. As manifestações, que se traduzem muitas vezes por visões e até mesmo, “assombrações” mais comuns se dão durante o sono, por meio dos sonhos. Elas podem ser: uma visão atual das coisas, futuras, presentes ou ausentes; uma visão do passado e, em alguns casos excepcionais, um pressentimento do futuro. Também muitas vezes são quadros alegóricos que os Espíritos nos põem sob as vistas, para dar-nos úteis avisos e salutares conselhos, se se trata de Espíritos bons, e para induzir-nos ao erro, à maledicência, às paixões, se são Espíritos imperfeitos.

O sonho é uma expressão da vida real da personalidade. O espírito procura atender a desejos e intenções inconscientes e conscientes durante esse tempo de liberdade temporária. Conforme o grau, tipo de sintonia e harmonia gerada pela afinidade moral com outros Espíritos, direciona-se automaticamente para a parte do mundo espiritual que melhor satisfaça essa sintonia e suas metas e objetivos, ainda que não lícitos; e aí conta com amigos, sócios, inimigos, desafetos, parentes, “mestres” etc.

Contamos ainda com mais dois tipos de sonhos. O primeiro é o premonitório, quando se toma algumas informações ou conselhos sobre algum acontecimento futuro. O segundo é o pesadelo, ou seja, o sonho ansioso, em que entra o terror. É também uma experiência real, porém, penosa; o sonhador vê-se pressionado por inimigos ou por animais monstruosos, tem de atravessar zonas tenebrosas, sofrer castigos, que de fato são vivências provocadas por agentes do mal ou por desafetos desta ou de outras vidas.

Preparação para o Sono
Verificando o lado físico da questão, vamos ver a importância do sono, pelo fato de passarmos 1/3 de nosso dia dormindo, nesta atividade o corpo físico repousa e liberta toxinas. Para o lado espiritual, o espírito liga-se com os seus amigos e intercambia informações, e experiências.

Façamos um preparo para o nosso repouso diário:


Orgânico – refeições leves, higiene, respiração moderada, trabalho moderado, condução de nosso corpo quanto a postura sem extravagâncias.

Mental Espiritual - leituras edificantes, conversas salutares, meditação, oração, serenidade, perdão, bons pensamentos. Todavia não nos esqueçamos que toda prece se fortifica com atos voltados ao bem, pois então, atividades altruístas possibilitam uma melhor afinidade com os bons espíritos.

Perispírito e Desdo bramento - Embora, durante a vida, o Espírito seja fixado ao corpo pelo perispírito, não é tão escravo, que não possa alongar sua corrente e se transportar ao longe, seja sobre a terra, seja sobre qualquer outro ponto do espaço. (Allan Kardec , A Gênese, Cap. XIV, It 23).

Gabriel Delanne, em “O Espiritismo perante a Ciência”, conclui: A melhor prova de existência do perispírito é mostrar que o homem pode desdobrar-se em certas circunstâncias.

Desdobramento - É o nome que se dá o fenômeno de exteriorização do corpo espiritual ou perispírito.

O perispírito ainda ligado ao corpo, distancia-se do mesmo, fazendo agora parte do mundo espiritual, ainda que esteja ligado ao corpo por fios fluídicos. Fenômenos estes, naturais que repousam sobre as propriedades do perispírito, sua capacidade de exteriorizar-se, irradiar-se, sobre suas propriedades depois da morte que se aplicam ao perispírito dos vivos (encarnados).

Os laços que unem o perispírito ao corpo temporal, afrouxam-se por assim dizer, facultando ao espírito manter-se em relativa distancia, porém, não desligado de seu corpo. E esta ligação, permite ao espírito tomar conhecimento do que se passa com o seu corpo e retornar instantaneamente se algo acontecer. O corpo por sua vez, fica com suas funções reduzidas, pois dele foram distanciados os fluidos perispirituais, permanecendo somente o necessário para sua manutenção. Este estado em que fica o corpo no momento do desdobramento, também depende do grau de desdobramento que aconteça.

Os desdobramentos podem ser:

a) conscientes - Este, caracteriza-se pela lembrança exata do ocorrido, quando ao retornar ao corpo o ser recorda-se dos fatos e atividades por ele desempenhadas no ato do desdobramento. O sujeito é capaz de ver o seu “Duplo”, bem próximo, ou seja, de ver a ele mesmo no momento exato em que se inicia o desdobramento. Facilmente nestes casos, sente-se levantando geralmente a cabeça primeiramente e o restante do corpo, depois. Alguns flutuam e vêem o corpo carnal abaixo deitado, outros vêem-se ao lado dos corpos, todavia esta recordação é bastante profunda e a consciência e altamente límpida neste instante. Existe uma ligação ainda profunda dos fluidos perispirituais entre o corpo e o perispírito, facilitando assim, as recordações pós-desdobramento.

b) inconscientes -  Ao retornar o ser de nada recorda-se. Temos que nos lembrar que na maioria das vezes a atividade que desempenha o ser no momento desdobrado, fica como experiências para o próprio ser como espírito, sendo lembrado em alguns momentos para o despertar de algumas dificuldades e vêem como intuições, idéias.

Os fluidos perispirituais são neste caso bem mais tênues e a dificuldade de recordação imediata fica um pouco mais árdua, todavia as informações e as experiências ficam armazenadas na memória perispiritual, vindo a tona futuramente.

Em realidade a palavra inconsciente, é colocada por deficiência de linguagem, pois, inconsciência não existe, tendo em vista o despertar do espírito, levando consigo todas as experiências efetivadas pelo mesmo, então colocamos a palavra inconsciente aqui, é somente para atestarmos a temporária inconsciência do ser enquanto encarnado.

c) voluntários: Se a própria pessoa promove este distanciamento. Analisemos algo bastante singular, nem todos os desdobramentos voluntários há consciência, pois como dissemos acima poderão haver algumas lembranças do ocorrido, existem ainda muitas dificuldades, no momento em que o espírito através de seu perispírito aproxima-se novamente de seu corpo, pela densidade ainda dos órgãos cerebrais é possível haver bloqueio dessas experiências. É necessário salientar que o ser encarnado na terra, ainda se encontra distante de controlar todos os seus potenciais, e por isso também há este esquecimento. Haja vista, algumas pessoas até provocarem o desdobramento e no momento de consciência terem medo e retornarem ao corpo apressadamente, dificultando ainda mais a recordação.

Os desdobramentos podem também ocorrer nos momentos de reflexões, onde nos encontramos analisando profundamente nossos atos e cuja atividade nos propicia encontrar com seres que nos querem orientar para o bem, parte de nosso perispírito expande-se e vai captar as experiências e orientações devidas.

d) provocados -  Através de processos hipnóticos e magnéticos, agentes desencarnados ou até mesmo encarnados podem propiciar o desdobramento do ser encarnado. Os bons Espíritos podem provocar o desdobramento ou auxiliá-los sempre com finalidades superiores. Mas espíritos obsessores também podem provocá-los para produzir efeitos malefícios. Afinizando-se com as deficiências morais dos desencarnados, propiciamos assim, uma maior facilidade para que os espíritos mal-feitores possam provocar o desligamento do corpo físico atraindo o ser encarnado para suas experiências fora do corpo. A lei que exerce esta dependência é a de afinidade.

e) emancipação Letárgica - Decorre da emancipação parcial do espírito, podendo ser causada por fatores físicos ou espirituais. Neste caso o corpo perde temporariamente a sensibilidade e o movimento, a pessoa nada sente, pois os fluidos perispiríticos estão muito tênues em relação a ligação com o corpo. O ser não vê o mundo exterior com os olhos físicos, torna-se por alguns instantes incapaz da vida consciente. Apesar da vitalidade do corpo continuar executando-se. Há flacidez geral dos membros. Se suspendermos um braço, ele ao ser solto cairá.

e) emancipação Cataléptica - Como acima, também resulta da emancipação parcial do espírito. Nela, existe a perda momentânea da sensibilidade, como na letargia, todavia existe uma rigidez dos membros. A inteligência pode se manifestar nestes casos. Difere da letárgica, por não envolver o corpo todo, podendo ser localizado numa parte do corpo, onde for menor o envolvimento dos fluidos perispirituais.
Fonte: In: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/elferr/atividade-noturna.html
 


terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

KARDEC analisa SWEDENBORG

Por Maria das Graças Cabral


Na Revista Espírita do mês de novembro de 1859, Allan Kardec publica um artigo altamente esclarecedor sobre a veracidade ou não de certas doutrinas e revelações feitas por Espíritos. Na realidade, o Mestre nos dá uma aula sobre tal problemática, analisando as experiências mediúnicas de Swedenborg, e suas constatações pós mortem.


Inicialmente, o Codificador faz um breve resumo biográfico de Swedenborg, e comenta que o mesmo “é um desses personagens mais conhecidos de nome que de fato, ao menos para o vulgo.” Segundo Kardec, “suas obras muito volumosas e, em geral, muito abstratas, quase que só são lidas pelos eruditos.” Daí, para uns, “ele é considerado um grande homem, para outros, não passa de um charlatão, de um visionário, de um taumaturgo.”


Assevera o Codificador, que na realidade a doutrina defendida por Swedenborg deixa muito a desejar. E que o próprio Swedenborg, na condição de Espírito, está longe de aprová-La em todos os pontos! No entanto, segundo as palavras de Kardec, “por mais refutável que seja, nem por isso deixará de ser um dos homens mais eminentes do seu século.”


Afinal, quem foi Swedenborg? - Emmanuel Swedenborg, nasceu em 1688, em Estocolmo, e faleceu em Londres, em 1722, aos 84 anos de idade. Destacou-se em todas as ciências, especialmente na Teologia, na Mecânica, na Física e na Metalurgia. Em 1716, Carlos XII o nomeou seu assessor na Escola de Metalurgia de Estocolmo. A rainha Ulrica o fez nobre, e ele ocupou os pontos de maior relevo, com distinção, até 1743, época em que teve a sua primeira revelação espírita. Tinha então, 55 anos. Pediu demissão e não quis mais se ocupar senão de seu apostolado e do estabelecimento da doutrina Nova Jerusalém.


Allan Kardec observa que “mesmo rendendo justiça ao mérito pessoal de Swedenborg, como cientista e como homem de bem, não nos podemos constituir defensores de doutrinas que o mais elementar bom-senso condena. À esse respeito, vale pontuar que hodiernamente, tal determinação kardeciana, é totalmente desconsiderada! Qualquer mensagem mediúnica, ou entendimentos pessoais de médiuns e/ou palestrantes famosos ou não, por mais esdrúxulos e contraditórios que sejam, são acatados, publicados e divulgados como preceitos espíritas válidos e procedentes.


Acrescenta o Codificador: - “Ele (Swedenborg) cometeu um equívoco dificilmente perdoável, não obstante sua experiência das coisas do mundo oculto: o de aceitar cegamente tudo quanto lhe era ditado, sem o submeter ao controle severo da razão. Se tivesse pesado maduramente os prós e os contras, teria reconhecido princípios irreconciliáveis com a lógica, por menos rigorosa que fosse. (...) A qualidade que a si mesmo se atribui o Espírito que a ele se manifestou bastaria para o por em guarda, sobretudo se considerarmos a trivialidade de sua apresentação. (...) Seus próprios erros devem ser um ensinamento para os médiuns demasiado crédulos, que certos Espíritos procuram fascinar, lisonjeando-lhes a vaidade ou os preconceitos por uma linguagem pomposa ou de aparências enganosas.” (grifei) Observemos o alerta de Kardec para o controle severo da razão!


Prosseguindo em seus esclarecimentos, o Mestre transcreve uma comunicação dada pelo Espírito de Swedenborg, na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, em 23 de setembro de 1859, na qual, o Espírito faz a abertura da sessão, pontuando dentre outras coisas, que sua moral espírita e a sua doutrina, não estariam isentas de grandes erros, os quais atualmente (na condição de Espírito) reconhece. Nega por exemplo, a “eternidade das penas“, como também a existência “do mundo dos anjos”. Assim se expressa o Espírito: “O que eu também dizia do mundo dos anjos, que é o que pregam os templos, não passava de ilusão dos meus sentidos; acreditei vê-lo, agia de boa-fé, mas enganei-me.” (grifei) Vale ressaltar aqui, o cuidado para as tais “cidades espirituais” tão em voga na literatura espiritualista!


Vejamos agora, algumas indagações feitas por Allan Kardec, e as respectivas respostas dadas pelo Espírito de Swedenborg:


- Qual foi o Espírito que vos apareceu, dizendo ser o próprio Deus? Era realmente Deus? Resposta - Não. Acreditei no que me falava porque nele via um ser sobre-humano e fiquei lisonjeado. (grifei)


- Por que ele tomou o nome de Deus?
Resposta - Para ser mais bem obedecido. (grifei) O Espírito utiliza-se do nome de personalidades famosas e respeitadas para que seja facilmente obedecido pelo médium lisonjeado e temeroso.


- Aquele Espírito que vos fez escrever coisas que hoje reconheceis como errôneas. Ele o fez com boa ou com má intenção?
- Não o fez com má intenção; ele próprio se enganou, porque não era suficientemente esclarecido. Agora percebo que as ilusões do meu próprio Espírito e de minha inteligência o influenciavam, mau grado seu. Entretanto, no meio de alguns erros de sistema, fácil é reconhecer grandes verdades. (grifei)


Oportuno observar na fala de Swedenborg, que o Espírito comunicante era de grau evolutivo inferior, e se deixava também influenciar pelas “ilusões” criadas por Swedenborg, “mau grado seu”!


- O princípio de vossa doutrina repousa sobre as correspondências. Continuais acreditando nessas relações que encontráveis entre cada coisa do mundo material, e cada coisa do mundo moral?
Resposta - Não; é uma ficção. (grifei)


- Poderíeis dizer-nos de que maneira recebíeis as comunicações dos Espíritos? Escrevíeis aquilo que vos era revelado à maneira de nossos médiuns, ou por inspiração?
Resposta - Quando me achava em silêncio e em recolhimento, meu Espírito ficava como que maravilhado, extasiado, e eu via claramente uma imagem diante de mim, que me falava e ditava o que deveria escrever; algumas vezes minha imaginação se misturava nisso. (grifei)


Diante de ensinamentos tão importantes, ministrados e exemplificados com tanta propriedade pelo Mestre Allan Kardec, constatamos da necessidade do estudo efetivo e aprofundado das Obras Fundamentais da Codificação, e da Revista Espírita. Só assim poderemos identificar e rechaçar a avalanche de mensagens de Espíritos desencarnados e/ou encarnados, produto de ilusões e mistificações, e que acabam por confundir e desvirtuar os preceitos doutrinários Espíritas, levando multidões de desavisados ao engano e a futuras decepções.




 
 
REFERÊNCIA:
KARDEC, Allan. REVISTA ESPÍRITA, Jornal de Estudos Psicológicos. Ano II, novembro de 1859. Ed. FEB., RJ/RJ, 2ª edição, 2004, p. 437/446.
 
 

segunda-feira, 20 de fevereiro de 2012

Os Efeitos do Ecletismo e da Heterodoxia no Movimento Espírita Francês


Como bem sabemos, o Espiritismo surgiu na França em 1857, com a publicação de “O Livro dos Espíritos” pelo professor Hippolyte Léon Denizard Rivail, que utilizou-se do pseudônimo “Allan Kardec” para que ficasse bem marcada a distinção daquele seu trabalho com outros oriundos de sua profissão como respeitado pedagogo, discípulo de Pestalozzi.  

 

Com o sucesso alcançado pela primeira obra da Codificação Espírita, base de todo o edifício doutrinário, Allan Kardec decidiu fundar, em Paris, a 1 de abril de 1858, a “Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas“, cuja existência justificou da seguinte maneira: “A extensão por assim dizer universal que tomam diariamente as crenças espíritas faziam desejar vivamente a criação de um centro regular de observações. Esta lacuna acaba de ser preenchida. A Sociedade cuja formação temos o prazer de anunciar, composta exclusivamente de pessoas sérias, isentas de prevenções e animadas do sincero desejo de esclarecimento, contou, desde o início, entre os seus associados, com homens eminentes por seu saber e por sua posição social. Estamos convictos de que ela está chamada a prestar incontestáveis serviços à constatação da verdade. Sua lei orgânica lhe assegura uma homogeneidade sem a qual não haverá vitalidade possível; está baseada na experiência dos homens e das coisas e no conhecimento das condições necessárias às observações que são o objeto de suas pesquisas. Vindo a Paris, os estranhos que se interessam pela doutrina espírita terão um centro ao qual poderão dirigir-se e comunicar suas próprias observações”.
 

De acordo com o relatório de abril de 1862, publicado na Revista Espírita, a Sociedade experimentou considerável crescimento em seus primeiros anos de funcionamento, com 87 sócios efetivos pagantes, contando entre os membros: cientistas, literatos, artistas, médicos, engenheiros, advogados, magistrados, membros da nobreza, oficiais do exército e da marinha, funcionários civis, empresários, professores e artesãos. O número de visitantes chegava a quase 1500 pessoas por ano, considerável para a época.

 
Kardec, que desempenhava o cargo de presidente desde a criação da entidade, fatigado com o excesso de trabalho e aborrecido com as querelas administrativas, por várias vezes, externou o desejo de renunciar. Instado, porém, pelos Espíritos coordenadores do trabalho, continuou no exercício da presidência até a data de sua desencarnação.
 
Conforme se pode claramente notar em escritos, documentos e depoimentos da época, o Codificador era rigoroso no cumprimento das disposições estatutárias e na disciplina na condução das atividades aí realizadas. Exigia de todos os participantes extrema seriedade e isso contribuiu para dar muita credibilidade à instituição e aos seus pronunciamentos acerca dos assuntos tratados. Era extremamente prudente e austero nos pareceres exarados e nunca permitiu que a Sociedade se tornasse arena de controvérsias e debates estéreis, geralmente fomentados por indivíduos interessados em desviarem o Espiritismo dos rumos estabelecidos nas obras da Codificação.
 
Com o desencarne de Allan Kardec em 1869, vitimado por um aneurisma, um de seus colaboradores mais diretos, Pierre Gaëtan Leymarie, passou a exercer as funções de redator-chefe e diretor da “Revue Spirite” (1870 a 1901) e gerente da “Librairie Spirite” (1870 a 1897).
 
No entanto, sem as mesmas credenciais do Codificador e por seu excessivo espírito de tolerância, não foi capaz de obstruir a ação de (pseudo)adeptos que desvirtuaram a finalidade da Revista, abrindo suas páginas à propaganda de filosofias espiritualistas, inclusive à de Roustaing, que diverge do Espiritismo. Houve, ao mesmo tempo, o desvirtuamento das finalidades da Revista Espírita, em que foi oferecido “terreno livre a lutadores de todas as correntes com a condição de que defendessem causas espiritualistas ou de ordem essencialmente humanitária e moral, expondo-se assim às críticas acirradas de uns, às acusações ou descontentamento de outros… “, conforme conta na obra “Processo dos Espíritas” (ed. FEB, 1977, págs. 22/23 da 2ª edição). Nesses “lutadores de todas as correntes” incluíam-se adeptos do Orientalismo, como teosofistas, budistas, ocultistas, esotéricos, etc., como consta da obra “Allan Kardec” (FEB, vol. III) de Zêus Wantuil e Francisco Thiesen.
 
Esta é, portanto, a causa do desaparecimento do Espiritismo na França. O sincretismo, a miscelânea do Espiritismo com outras correntes espiritualistas, desfigurando por completo a prática espírita, que até hoje é confundida, na França e em praticamente toda a Europa, com toda a sorte de superstições, como a astrologia, quiromancia, feitiçaria, bruxaria, etc.
 
No Brasil, na atualidade, o que podemos claramente verificar é que a história se repete, sendo que a tática dos inimigos velados do Espiritismo continua a mesma: a de propor e forçar a sorrateira entrada de questionáveis práticas e ideias no seio do movimento espírita brasileiro.
 

Por um lado, tivemos a adoção das obras de Roustaing pela Federação Espírita Brasileira, tendo seus membros apelidado-as de “Curso Superior de Espiritismo”, “Quarta Revelação” e “Revelação da Revelação“. Graças a isso, até hoje sentimos o reflexo dessa política febeana, na medida em que no movimento instaurou-se uma mentalidade piegas, subserviente e igrejeira, erroneamente confundida com postura caritativa e tolerante, devido a toda uma série de obras, mediúnicas ou não, que, embora não mencionassem Roustaing ou suas obras, conseguiram incutir, subrepticiamente, o ideário neo-docetista no seio do Movimento.

 
Por outro lado, e adotando idéias diferentes das do rustenismo, os simpatizantes do orientalismo insistem, com base principalmente nos ditados do espírito Ramatis ao médium espiritualista Hercílio Maes, em dar ao Espiritismo uma faceta mística calcada nas religiões orientalistas do passado e na Teosofia, julgadas capazes de enriquecer o Espiritismo. Para tanto, não se furtam em chamar Kardec (e, consequentemente, as obras da Codificação Espírita) de ultrapassado, e a Doutrina de carente de remendos, considerando como principal artífice dessa “missão” o próprio espírito Ramatis e seus confusos ditados, sob a fachada de “universalismo”, termo geralmente utilizado para encobrir ideias sincretistas e práticas fetichistas. A lista de “inovações” propugnada por esses redutos seitistas é extensa: adoção da astrologia, da apometria, de rituais, de terminologias estranhas ao Espiritismo, crença em profecias de destruição do planeta, crença em extra e intraterrenos com missão de salvar o planeta, e toda sorte de divagações místicas sem o menor embasamento lógico ou factual, geralmente induzindo a uma alienação místico-religiosa que em nada fica a dever às religiões dogmáticas tradicionais, só que com um faceta diferente, de cunho essencialmente esotérico.
 
Portanto, enquanto encararmos tudo isso de braços cruzados, vitimados pela falsa ideia de que estaremos sendo intolerantes e antifraternos ao (nos) esclarecermos e não compactuarmos com essa tentativa de desvirtuamento do entendimento e da prática espírita dentro e fora dos centros espíritas e federações, tudo ficará como está, com tendência a piorar, tal qual aconteceu com o próprio Cristianismo, hoje uma autêntica colcha de retalhos devido aos mesmos fatores que hoje ameaçam o Espiritismo.
 
A articulista Vanda Simões, atenta à essa realidade, escreveu certa feita um interessante artigo intitulado “Nossos Espíritas Imperfeitos” que nós aqui transcrevemos e utilizamos para concluir nossas considerações: “Allan Kardec afirmou certa vez, que os piores inimigos do Espiritismo estariam entre seus pares. Pode parecer declaração demasiadamente dura e radical, mas veio dele mesmo e ele sabia do que estava falando. Hoje, nesse mundo de tanta confusão, o Movimento Espírita se vê envolto em um emaranhado de parvoíces que deixam os espíritas sérios preocupados com o destino da doutrina no mundo. Custa-se a acreditar que uma filosofia tão racional e desbravadora possa ter gerado pessoas com visão tão estreita e engessada da vida. De duas uma: ou a Doutrina Espírita é defeituosa ou os espíritas não compreenderam seu alcance moral. Sabendo-se da inverdade da primeira hipótese, resta-nos curvar à realidade da segunda. A prova disso está na forma como a Doutrina é praticada nos centros espíritas do país inteiro, com réplicas perfeitas no exterior (principalmente em Portugal e nos Estados Unidos), “formando” adeptos que de espíritas só têm o nome. São os espíritas imperfeitos, de que está cheio o movimento, como por exemplo, os que vêm a público afirmar que Kardec está ultrapassado e que precisa ser reinterpretado, quando ainda nem se conhece a fundo dez por cento do seu pensamento. Consideram-se doutos em Espiritismo por terem lido as obras básicas, e toda a literatura acessória, psicografada ou não. E ler é uma coisa. Estudar, entender e compreender é outra bem diferente.” (…)
 
(…) Os espíritas “modernos” parecem desconhecer tal coisa. E, se conhecem, não dão a menor importância, pois defendem idéias esdrúxulas e contrárias aos fundamentos kardequianos, baseados em escritos ditados por Espíritos enganadores e pseudo-sábios. Essas idéias infiltram-se com facilidade em nosso meio, porque encontram o terreno fértil da ingenuidade e da falta do estudo que faz com que tudo se aceite sem exame, sem critério. É tempo de mudanças. O milênio termina e se inicia uma nova fase para o planeta. Os centros espíritas precisam se preparar para amparar o homem dentro de uma filosofia de vida melhor, mais justa e mais plena de compreensão das coisas divinas.
 
Para isso, necessita de espíritas sérios, que compreendam o verdadeiro sentido do Espiritismo, que possam trazer para dentro das casas espíritas uma nova ordem de práticas e metas, formando verdadeiramente homens de bem. Que possam retirar dos centros tudo o que não serve para a edificação do ser. Enfim, mostrar aos fariseus modernos a verdadeira face da Doutrina Espírita como agente modificador da humanidade e não como instrumento de gloríolas, de mera promoção pessoal e fábrica de fantasias”.
 
Análise crítica dos livros assinados pelo espírito Ramatis.
 
 
Fonte: In: http://purezadoutrinaria.wordpress.com/about/#postComment
 

sábado, 18 de fevereiro de 2012

“Meu Reino não é desse Mundo” - Que Reino?

Dalmo Duque dos Santos
 

– Em que sentido se devem entender as palavras do Cristo “Meu Reino não é desse mundo?
- O Cristo respondeu em sentido figurado. Queria dizer que não reina senão sobre os corações puros e desinteressados. Ele está em todos os lugares em que domine o amor do bem, mas os homens ávidos das coisas deste mundo e ligados aos bens da Terra, não estão com ele. O Livro dos Espíritos - Questão 1018

 
A realidade espiritual é muito clara, mas para nós, os eternos insatisfeitos, sempre que esse assunto vem à tona surge a pergunta fatídica: afinal, o que é o Reino de Deus? Na cultura judaica, no seu idioma e nos seus dialetos o “reino” está relacionado à palavra “Malkuth”, que significa literalmente “estado de coisas”. Mesmo assim, logo se vê que a expressão é dúbia e a sua conceituação ou definição é filosófica e vai depender sempre do ponto de vista de quem a coloca em condição reflexiva.

 
Curioso é que esses pontos de vista, embora infinitamente diversificados pela ótica humana se dividem em duas posições de observação das coisas: a visão interior e introspectiva, portanto espiritualista; e a visão exterior, retrospectiva, portanto materialista. Essa dicotomia só existe porque ainda não conseguimos chegar a um ponto de equilíbrio entre aquilo que é interior ou exterior, espiritual ou material, em nossa experiência existencial. Ainda confundimos a Vida (que é única e eterna) com a existência (que são múltiplas e efêmeras), não entendemos plenamente o que seja a relatividade do tempo e tantas outras coisas que só aprendemos a teorizar, mas que ainda não faz parte da nossa experiência.

 
Sabemos que esses obstáculos de compreensão são impostos pelas limitações dos nossos sentidos e da nossa atual inteligência, ainda muito precária e restrita ao plano intelectual. Sabemos também que esses bloqueios serão gradualmente removidos com o despertar da mediunidade, que nada mais é do uma tecnologia, uma extensão ou exteriorização da mente através do cérebro físico. Essa tecnologia, talvez a mais antiga descoberta humana, vem se aperfeiçoando no desenrolar das nossas existências e, assim como a mecânica e a eletrônica, vem adquirindo configurações de acordo com o uso, a capacidade e a necessidade do seu portador. Diríamos que a mediunidade é o equipamento da descoberta do Reino de Deus - a Natureza em si e a nossa relação com ela, o nosso grau de consciência - que veio sendo sofisticado desde as mais rústicas aplicações da magia primitiva até a mais sutis atividades do ambiente cibernético. Mas tal descoberta continua dividida entre a percepção exterior e interior. Para uns, ela é o fenômeno físico, palpável, lógico, objetivo; para outros, ela é metafísica, imponderável, psicológica e subjetiva.

 
O papel das doutrinas espiritualistas nessa questão seria influir positivamente no amadurecimento do ser humano. A idéia da imortalidade como um fato científico já foi colocado de forma brilhante, solucionada do ponto de vista lógico, mas no aspecto interior e psicológico continua sendo um enigma, um segredo que só vai ser equacionado quando “acordarmos” do sonho existencial para a Vida real. Não basta vermos e tocarmos Espíritos materializados se não tivermos a sensibilidade da leitura espiritual do fenômeno. Nesse aspecto os novos cientistas psíquicos foram o triunfo de Tomé: substitui-se a curiosidade pela a dúvida e esta foi sendo superada pela fé tranqüila, harmônica, equilibrada.

 
É preciso saber diferenciar a realeza comum e transitória da realeza espiritual. Na primeira encontramos o universo político de César, o domínio da matéria sobre o Espírito, cujos interesses materiais estão em primeiro lugar e tudo se volta para a solução de problemas dessa modalidade. Na segunda ela é apenas uma simbologia do poder do Espírito sobre a matéria. O extremo dessa consciência é a conversa de Jesus com Pilatos, no qual se mostra perfeitamente convicto do que está fazendo e ciente do que está acontecendo ao seu redor. Essa consciência atinge o ápice quando Jesus prefere a humilhação completa, inclusive da sua dignidade física, para exaltar o seu poder espiritual, isto é, mandar nos corações humanos; a coroa de espinhos, a tortura física e a pena de morte são detalhes que não o incomodam, senão fisicamente, pois são distorções da realidade espiritual, reflexos do poder político efêmero, que certamente serão corrigidos pelas leis da reencarnação e de causa e efeito.

Para nós essa é uma experiência ainda absurda, cujo sofrimento físico do Mestre ofusca o sofrimento moral e nos dá uma falsa idéia de masoquismo, ascetismo e anulação. Não entendemos que a salvação caminha por uma outra vertente. Tanto é deformada essa visão que sentimos uma atração sádica pelas cenas da crucificação e chegamos a ponto de querermos reencenar repetitivamente essa tragédia, para atuarmos viciosamente como falsos personagens. Isso é a perversão da religiosidade pelos sentidos físicos, o fundo do poço da religião. Daí surgiram os dogmas, que são os narcóticos do Espírito, talvez o ‘ópio das massas” a que se referiu Karl Marx.

 
É preciso também comparar a perspectiva materialista e a espiritualista. O Espiritualismo moderno rompe o absolutismo temporal da existência biológica e expõe a relatividade do tempo da vida espiritual.

 
Essa dicotomia “mundo interior” e “mundo exterior”, na mente humana, depende da nossa reestruturação mental e comportamental. O que vale é o conceito socrático do conhece-te a ti mesmo, mas não no sentido de discurso intelectual, da sabedoria vazia dos sofistas. Trata-se de uma auto-percepção trabalhosa, metódica, complexa quando racionalizada, porém simples quando aplicada na prática cotidiana. Como não temos a capacidade de nos percebermos senão por imagens falsas de nós mesmos (narcísicas), Jesus resolveu facilitar esse processo invocando a lei de sociedade e afinidade entre o seres.

 
A percepção de si mesmo sempre começa pela percepção do outro. O Reino está em nós, mas só o enxergamos refletido no semelhante; só ele, como um espelho, tem a chave e esta só abre a fechadura que está no outro, e assim sucessivamente. É por isso que o outro conhece bem melhor do que nós os nossos defeitos e as nossas virtudes. É também por isso que o próximo, quase sempre, está bem distante, mesmo estando tão perto. Então, amar o próximo é mais conveniente do que se imagina... Quando tivermos a capacidade de amar de verdade, a obrigação e a conveniência serão transformadas no indescritível prazer da caridade.

 
Para concluir esse estudo, lembramos que, historicamente, constata-se que a descoberta de si mesmo ou da consciência, como na existência humana, partiu do ponto de vista objetivo e exterior - da descoberta do próprio corpo (infância) - passou da mesma forma para os fenômenos da Natureza (adolescência) e vem voltando gradualmente para o universo subjetivo e interior (maturidade). Se fôssemos mensurar matematicamente essa trajetória poderíamos dizer que cada etapa da transformação pode ser comparada a um processo de verticalização da consciência, que supomos ser no Reino Hominal realizado em três etapas: do Primeiro ao Sexto Ser, de zero a noventa e de noventa graus; e de noventa a cento e oitenta graus, até atingirmos, no Sétimo Ser, a plenitude de trezentos e sessenta graus, que é a Consciência Universal.



 
 
 
Fonte: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/dalmo/meu-reino-nao-eh.html

domingo, 12 de fevereiro de 2012

Dor e Evolução

Por Amilcar Del Chiaro Filho


As religiões classificam a Terra como um lugar de degredo, de expiação. Marcados pelo pecado original, arrastamo-nos pela vida, e sacerdotes e ministros das diversas igrejas, afirmam ter os meios de se alcançar a salvação para o outro mundo, mas as vezes, com a promessa de uma boa cota de felicidade, ainda para esse mundo.

Por outro lado, são muitas as pessoas que ensinam que se pode ser feliz, desde que se queira, bastando pensar positivamente. O pensamento positivo ajuda bastante, contudo, não é o suficiente.
 

Carregando a culpa de um pecado original, e da fragilidade humana, acrescida por um “deicídio”, ou seja, o assassinato de Deus, pois segundo a teologia cristã, Jesus de Nazaré foi a encarnação de Deus na Terra, ficamos sujeitos a mil sofrimentos, desnecessários, por incapacidade de vencer os condicionamentos com os quais reencarnamos, e que introjetaram em nossa mente desde os primeiros dias da nossa vida aqui na Terra.

Que bom seria se pudéssemos esvaziar a nossa mente de tudo que ali colocaram, desde que éramos pequeninos, e selecionarmos aquilo que seja realmente útil para a nossa evolução. Numa linguagem de hoje, precisaríamos deletar os arquivos inúteis, selecionar e criar novos arquivos, usando um bom antivírus, como o conhecimento espírita, para evitarmos a perda ou distorção do aprendizado.
 

Os espíritos disseram a Allan Kardec, que a felicidade completa, ou permanente, aqui na Terra, é impossível, mas pode-se ter momentos felizes. No entanto os momentos felizes, quando se tem sensibilidade, fraternidade, é empanado pela dor de ver o sofrimento do próximo. Nossas vitórias quase sempre equivalem a derrota de outrem. Um exemplo simples é uma partida de futebol, basquete ou qualquer jogo esportivo. Enquanto uma torcida delira com a vitória, a outra amarga a derrota.
 

Para cada cidadão que consegue um título universitário, existem milhares de analfabetos ou cidadãos de segunda classe, que mal aprenderam a escrever o próprio nome. Quantas vezes, alguém está saudável, forte, pleno de alegria, mas tem em sua própria família, um ente querido doente, paralisado, canceroso, mentalmente obnubilado.

Talvez poucos, ao degustarem um prato sofisticado, caríssimo, com nome estrangeiro complicado, feitos por cozinheiros famosos em elegantes restaurantes, se lembram de que existem milhões de pessoas no mundo, e muitas ali por perto, que não comem o suficiente para manter as energias, ou simplesmente não comem.
 

Não prezado leitor, esse artigo não é a exaltação do pessimismo. É apenas uma chamada à consciência, um exame do gozar e sofrer, da felicidade e da infelicidade. O que queremos dizer é que precisamos ser fraternos, e aplicar aquilo que os espíritos codificadores disseram a Kardec: Do supérfluo dos ricos, muitos pobres se sustentariam. Mas as riquezas não são apenas valores amoedados, mas também, fé, compreensão, amizade, amor, inteligência.
 

Nascemos para sofrer? Para pagar nossos débitos perante as leis divinas? Somos réprobos neste mundo que foi classificado como penitenciária e hospital? Estamos sujeitos ao pecado original? Afinal, é possível ser feliz aqui na Terra?
 

Cada uma dessas perguntas suscitariam páginas e mais páginas para análises e respostas. Em síntese, responderíamos que não nascemos para sofrer, mas sofremos! Sofremos porque o nosso mundo é imperfeito. Nós somos imperfeitos. Sofremos porque erramos, mas erramos porque somos ainda ignorantes e temos pouca evolução. As desigualdades são aumentadas pela falta de solidariedade, fraternidade, e pelo império do egoísmo.
 

A Doutrina Espírita ensina que Deus nos criou simples e ignorantes, e determinou, por meio das suas leis, que o nosso desenvolvimento se faça através de vidas sucessivas em mundos materiais. Logicamente esses mundos obedecem a uma escala evolutiva: mundos primitivos para espíritos primitivos. Mundos angelicais para espíritos angélicos. Mas todos começaram pelo primitivo. Entretanto, porque Deus quis que fosse assim, ninguém poderá responder.
 

Porém, prezado leitor, o que queremos dizer realmente nesse artigo, é que a dor, em qualquer uma das suas formas, tem uma mensagem para nós. Decodificar essa mensagem é tarefa de cada um. Talvez possamos decodificar aquilo que é comum em todas elas: Evolua! Cresça! Ame incondicionalmente! Confie na providência divina! Partilhe a sua felicidade, os seus momentos felizes com o seu próximo. Examine o seu patrimônio moral e intelectual, os seus direitos adquiridos, e ensine todos a conquistá-los.
 

Podemos dizer que Deus não castiga, se entendermos as dores do mundo como lições preciosas, aprendizado. Precisamos compreender que a vida num corpo físico é muito importante e devemos valorizá-la, devemos amar e respeitar esse corpo e não culpá-lo pelos nossos deslizes, pois quem pensa, ama e sente é o espírito imortal, e não a matéria.
 

Se você está passando por grandes sofrimentos, não se revolte, nem desanime. Não se julgue, também, um grande pecador, mas alguém que batalha para evoluir. O peixe, ao lutar para fugir da rede, perde muitas escamas. Portanto, a rede do sofrimento que te aprisiona, não exigirá menores perdas, mas valerá a pena. E como valerá a pena, quando compreendermos o que disse o Rabi Nazareno: conhecereis a verdade e ela vos libertará.
 
Fonte: http://oblogdosespiritas.blogspot.com/2012/02/dor-e-evolucao.html