segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Reuniões Mediúnicas Espíritas, Fanatismo, rituais e a comunhão de pensamentos



Por Iso Jorge Teixeira
 
 
Disse JESUS: "Em verdade ainda vos digo: se dois de vós estiverem de acordo na terra sobre quaisquer coisas que quiserem pedir, isso lhes será concedido por meu Pai que está nos céus. Pois onde dois ou três estiverem reunidos em meu nome, ali estou no meio deles." (Mt 18,19-20).
 
Como realizar uma reunião mediúnica? Há diferença entre uma reunião mediúnica de uma seita religiosa qualquer e uma reunião mediúnica espírita? Uma reunião mediúnica deve obedecer a regras, humanas, para que não se torne uma reunião frívola; entretanto, devemos ter o cuidado para não transformarmos tais regras em dogmas para o Espiritismo, pois este não é UMA religião...
 
Reuniões mediúnicas espíritas e religião.


Apesar dos resultados da pesquisa neste site, acreditamos que muitos responderam sem conhecimento de causa e alguns com o conceito genérico de religião. A pergunta "O Espiritismo é uma religião?" foi tema de um discurso de ALLAN KARDEC numa Sessão comemorativa do dia dos mortos em 1.º/11/1868 na Sociedade de Paris, tal discurso foi publicado na Revista espírita - Jornal de estudos psicológicos de dezembro de 1868. Nele, vemos claramente que o Espiritismo tem conseqüências religiosas mas, repetimos, não é UMA religião.
 
Enfim, as regras para uma reunião mediúnica espírita como dia(s) da semana, horário, número de participantes, objetivos, etc. são humanas e flexíveis, servem basicamente para disciplinar, mas não para dogmatizar...
 
Não temos nada contra as seitas religiosas que realizam suas reuniões mediúnicas de tal ou qual maneira; entretanto, tais seitas religiosas muitas vezes intitulam-se espíritas. Ora, o Espiritismo não é uma religião e, muito menos ainda, uma seita religiosa... A questão não é simplesmente de palavras, mas de método. As palavras Espiritismo, espírita ou espiritista surgiram em 1857 com a publicação de O Livro dos Espíritos de ALLAN KARDEC, aliás já escrevemos um artigo mostrando as diferenças do Espiritismo em relação a outras crenças espiritualistas (no site millenium news)... A confusão feita com estes termos gera, muitas vezes, discussões que poderiam ser evitadas se houvesse um mínimo de estudo pelas pessoas...
 
Condições para a realização de reuniões mediúnicas espíritas.


Nosso propósito neste artigo é tentar esclarecer os pontos fundamentais que devem ser levados em conta quando realizamos uma reunião mediúnica espírita com objetivos sérios.
 
Em primeiro lugar para que tal reunião se realize é preciso que haja médiuns ; todos o somos, mas é necessário que haja mediunato na maioria das pessoas participantes; a propósito, leia-se o nosso artigo Mediunidade, Mediunato e evolução espiritual [Jornal O SEMEADOR (Órgão da FEESP) - abril / 02, p. 8 e 9]; assim, somos de opinião de que obsidiados e doentes mentais não devem participar de reuniões mediúnicas, pois não há neles o mediunato.
 
Outro aspecto importante é que haja evocação dos Espíritos Superiores para presidirem espiritualmente os trabalhos, contudo, devemos fazer a nossa parte, não devemos achar que eles tudo fazem, por isso é necessário que os médiuns tenham conhecimento doutrinário, principalmente aquele(s) designado(s) para ser(em) o(s) doutrinador(es). Ressaltamos este ponto, embora óbvio, porque temos conhecimento de reuniões mediúnicas, ditas espíritas, em que o doutrinador tem um conhecimento muito superficial de O Livro dos Espíritos (OLE) de KARDEC e que nunca leram a Revista Espírita - Jornal de estudos psicológicos; consideramos isso um absurdo, pois é querer brincar com fogo e esperar que os Espíritos Superiores ajudem e tudo façam, levando-se tudo na base da "intuição".
 
E, enfim, o mais importante, é que haja uma comunhão de pensamentos bons durante a reunião mediúnica; bem, disso falaremos mais adiante.
 
Fanatismo nos Centros espíritas.


No dia 21/12/01 recebemos mail de um leitor do jornal espírita, que nos fez várias perguntas, todas respondidas, que merecerão um artigo no JE, no final disse o confrade: "(...) Futuramente pode nos brindar com um artigo sobre o fanatismo na Casa Espírita?" ANDRÉ LUIZ P.S. São Paulo - SP.
 
Vamos tentar satisfazer aqui o pedido do leitor...
 
Há pessoas que superestimam uma idéia ou grupos de idéias com tal passionalidade que nem ouvem ou não entendem o que outros indivíduos dizem ou escrevem, contrariamente às suas idéias; negam-se a admitir idéias por mais racionais que sejam; são pessoas fanáticas.
 
O adágio popular brasileiro diz que religião e futebol não se discute, exatamente porque as pessoas polarizam sua afetividade para uma seita religiosa ou para o clube de seu coração e, consequentemente, as discussões religiosas são improfícuas e, algumas vezes, perigosas, tal a irracionalidade com que as pessoas defendem seus pontos de vistas sem enxergar ou ouvir o ponto de vista do outro e podem chegar à agressão física...
 
Infelizmente, algumas pessoas que se dizem espíritas estão seguindo o mesmo caminho das seitas religiosas e tornam-se fanáticas. Basta que se questione idéias de um Espírito, seu preferido, tornam-se extremamente agressivas, embora sem perder a pose e a linguagem melíflua, pseudo-evangélica e, curiosamente, rotulam as pessoas que delas discordam de obsidiadas, num claro mecanismo que os psicanalistas chamam de projeção, isto é, projetam no outro aquilo que é dele próprio...
 
Em um Centro, que se diz espírita, do Rio de Janeiro, tivemos conhecimento de uma pessoa que orava por seus parentes doentes, ajoelhada diante de uma foto de BEZERRA DE MENEZES !!... De uma certa feita levou o seu neto (deficiente mental) para uma sessão de psicometria (??) no tal Centro - realizada por uma Sra. que se dizia psicóloga - e, em dado momento da sessão, o rapaz entrou em intensa agitação psicomotora. A atitude da tal que se dizia psicóloga foi chamar a Polícia, que imediatamente levou o paciente para internação psiquiátrica... Quando questionamos a falta de cientificidade da psicometria, a tal que se dizia psicóloga, ficou extremamente irritada, irada mesmo, dizendo que aquele "trabalho" era uma "caridade", uma "mediunidade com JESUS" !!... Em resumo, não admitiu discussão sobre o seu método, como sempre fazem os fanáticos, agredindo verbalmente as pessoas "em nome de JESUS", exatamente como faziam os fanáticos da Idade Média que, inclusive, levaram pessoas para a fogueira, rotulando-as de feiticeiras, tudo "em nome de JESUS".
 
Enfim, os exemplos multiplicar-se-iam no mesmo estilo, ficaria cansativo citá-los.
 
O Espiritismo é uma Doutrina, com bases científicas e conseqüências religiosas, mas não é uma religião como opinamos. A excelência da Doutrina Espírita é que ela é racional e, por isso mesmo, não aceita dogmas, só admite como doutrinário aquilo que passe pelo crivo da razão e pelo criterium da concordância. Portanto, é inconcebível o fanatismo em um adepto do Espiritismo, mas desgraçadamente ele existe em alguns que se intitulam espíritas !...
 
Há vários tipos de fanáticos nos Centros Espíritas: aquele que procura o Centro unicamente para receber passes e acredita que eles lhes são benéficos, no entanto, não se observa nele nenhuma transformação íntima; muitas vezes, continuam sendo pessoas egoístas, rancorosas, agressivas, apesar dos passes. Julgam que indo ao Centro regularmente, sem faltar um só dia, e recebendo seus passes, estariam quites com DEUS e ponto final !...
 
Outro tipo de fanático é aquele que procura o Centro unicamente para levar "água fluidificada" para casa e alguns mesmo, pasme-se, levam seus familiares para um "banho de ervas" aconselhado por um dirigente "espírita". Ora, nada temos contra quem é adepto da Umbanda, Candomblé, etc., mas confundir-se Espiritismo com tais denominações é, no mínimo, ignorância das obras básicas do Espiritismo...
 
Outros, ainda, que se dizem espíritas, colocam defumadores em suas casas, querendo com isso afastar os maus espíritos; seria a "fumacinha" quem afastaria os maus espíritos. Ora, um espírito inferior, mas inteligente, desencarnado, acreditará que uma "fumacinha" lhe fará mal?! Certamente que não, inclusive tais espíritos estimularão a crendice das pessoas que se utilizam de tais rituais para se divertirem. Neste aspecto é trágico vermos homens inteligentes admitirem que a "fumacinha" funciona, porque os Espíritos inferiores assim o acreditariam!!...
 
 
 

Outra crença cega é a de que nos Centros Espíritas haveria uma "barreira fluídica", "eletromagnética", dizem os sabichões, para impedir a penetração de maus espíritos; isto é dito como verdade transitada em julgado, somente porque alguns Espíritos, idolatrados entre nós, o afirmaram para demonstrar que o Centro Espírita é um "templo", um "santuário". Ora, o que traz bons ou maus fluidos para o interior de um Centro Espírita são os pensamentos daqueles envolvidos no trabalho. Se, por exemplo, o Presidente de um Centro Espírita é hipócrita, corrupto e só vive com o nome de JESUS nos lábios, no interior do Centro; mas seu comportamento diário, fora dele, é dissoluto, que tipo de espíritos ele atrairá para o interior do Centro? Se não há "barreira fluídica" para impedir a entrada de um Espírito encarnado deste tipo, por que os desencarnados seriam impedidos de entrar? Seria uma injustiça de DEUS: o desencarnado inferior leva choque elétrico se tentar entrar no Centro e o encarnado inferior entraria em conluio com os Espíritos Superiores para enganar a boa fé alheia? Seria absurdo, pois quando os Espíritos Superiores percebem a sintonia de espíritos inferiores em determinados Centros, eles se afastam e, neste caso, a conseqüência é uma verdadeira obsessão coletiva...
 
 
Dispersão e a "falta danada de um ritualzinho" - A comunhão de pensamentos.


Em longo mail de 13/04/02, disse uma internauta, estudante de Psicologia, dentre outras coisas: "(...) Quanto ao ritual que a Doutrina alerta-nos para que dele prescindamos, eu, para lhe dizer a verdade, sinto uma falta danada de um ritualzinho. Hoje, como estudante de Psicologia, vejo o quanto ele tem sido importante para ajudar e manter a mente mais aglutinada, promovendo força mental. Vejo nos Centros como as pessoas ficam dispersas e o quanto tem sido difícil para nós, estressados de ultimamente, 'sacarmos' a importância do nosso templo e mantermo-nos condignamente no ambiente, dele aproveitando o melhor possível. (...) Não que eu pense que devamos incluir rituais em nossas casa, mas o que fazermos para que nós espíritas consigamos nos concentrar mais para orarmos, meditarmos etc., sem uma velinha, um mantrasinho, etc ?." R.P.S. Cuiabá - MT.
 
A leitora, estudante de Psicologia, portanto, com bom nível intelectual, sente a necessidade de "uma velinha, um mantrasinho" e a "falta danada de um ritualzinho" para se concentrar e reclama da dispersão de pensamentos nos Centros Espíritas; imagine-se o que acontece com as pessoas não intelectualizadas!...
 
Ainda somos inferiores, pois sentimos uma "falta danada de um ritualzinho", e neste sentido pronunciaram-se os Espíritos Superiores num trecho da resposta da questão 554 de OLE: " (...) Ora, é difícil que aquele que é tão simplório para crer na virtude de um talismã não tenha um objetivo mais material que moral. Qualquer que seja o caso, isso indica estreiteza e fraqueza de idéias, que dão azo aos espíritos imperfeitos e zombadores". No entanto, cabe-nos combater essa inferioridade através do estudo da Doutrina dos Espíritos e através da prática da caridade bem compreendida.
 
Obviamente, sentimos nosso pensamento disperso algumas vezes, mas se houvesse verdadeira educação mediúnica nos Centros Espíritas, com certeza tais fatos lamentáveis de fanatismo e necessidade de fetiches desapareceriam, pois seríamos médiuns prontos e saberíamos concentrar-nos efetivamente, sem necessidade de velinhas, mantrasinhos e outros objetos de qualquer tipo, pois o importante é o pensamento e não o objeto.
 
Certa vez disseram-me que 'médiuns videntes" tinham observado num Centro Espírita a entrada de Benfeitores Espirituais, que teriam derramado seus fluidos espirituais nas garrafinhas d'água colocadas pelos adeptos e que, inclusive "viram fluidos de várias colorações, etéreas, belíssimas". Apesar disso ser uma crença generalizada, vejamos a opinião do astrônomo CAMILLE FLAMMARION - aquele mesmo que ao pé do túmulo de KARDEC disse que este era "o bom senso encarnado" :

                                                                                                                                                                  CAMILLE FLAMMARION
(1842-1925)

 
 
 
"(...) Tendo o sensitivo bebido, em estado de vigília, um copo de água, com sugestão mental de ser um copo de kirsch, manifestou todos os sintomas de embriaguez durante vários dias. Foram os fenômenos deste gênero que fizeram crer aos magnetizadores poderem eles, magnetizando um copo de água ou um outro objeto, impregnar seus fluidos de diferentes qualidades físicas ou químicas (...)
" - os grifos são do autor - (CAMILLE FLAMMARION). O Desconhecido e os problemas psíquicos. Vol. II. 3 ed. FEB, Rio, 1980, p. 24). E conclui o grande cientista espírita: "(...) A magnetização é neste caso inútil, pois que é o pensamento que age sobre o cérebro do paciente e não sobre o objeto" - o grifo é do autor - (op. cit., p. 24). As palavras de FLAMMARION não são meras palavras, são fruto de pesquisas rigorosas...
 
 
 
Vejamos o que nos diz ALLAN KARDEC sobre a comunhão de pensamentos: "Todas as reuniões religiosas, seja qual for o culto a que pertençam, são fundadas na comunhão de pensamentos; é aí, com efeito, que podem e devem exercer toda a sua força, porque o objetivo deve ser o desligamento do pensamento do domínio da matéria. Infelizmente a maioria se afasta deste princípio, à medida que tornam a religião uma questão de forma. Disto resulta que, cada um, fazendo seu dever consistir na realização da forma, se julga quites com Deus e com os homens, desde que praticou uma fórmula. Resulta ainda que cada um vai aos lugares de reuniões religiosas com um pensamento pessoal, por conta própria e, na maioria das vezes, sem nenhum sentimento de confraternidade, em relação aos outros assistentes: isola-se em meio à multidão e só pensa no céu para si próprio." (o grifo é nosso).
 
 
 
E prossegue O Codificador: "Certamente não era assim que o entendia Jesus, quando disse: Quando estiverdes diversos, reunidos em meu nome, eu estarei em vosso meio. Mas não se pode estar reunido em nome de Jesus sem assimilar os seus princípios, a sua doutrina. Ora, qual é o princípio fundamental da doutrina de Jesus? A caridade em pensamentos, palavras e ação. Os egoístas e os orgulhosos mentem quando se dizem reunidos em nome de Jesus, porque Jesus não os conhece por seus discípulos" (ALLAN KARDEC. Revista Espírita- Jornal de estudos psicológicos. Ano VII,1864, EDICEL,São Paulo, p. 354-355).
 
 
 
Portanto, o pensamento é tudo a forma quase nada ou nada. As reuniões mediúnicas espíritas tem de ser realizadas com médiuns verdadeiros e estes não são reconhecidos por nenhum sinal exterior, como foi o caso, absurdo, de uma pessoa que dizia reconhecer o médium através das manchas das unhas das mãos. Uma tal pessoa numa reunião mediúnica conseguiria que JESUS estivesse entre eles reunidos?...


 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

Kardec e o perigo dos espíritos pseudo-sábios

Por Artur Felipe Azevedo
 


"Ora, a experiência mostra que os maus se comunicam tanto quanto os bons. Os que são francamente maus, são facilmente reconhecíveis; MAS HÁ TAMBÉM OS MEIO SÁBIOS, FALSOS SÁBIOS, PRESUNÇOSOS, SISTEMÁTICOS e até hipócritas. ESTES SÃO OS MAIS PERIGOSOS, PORQUE AFETAM UMA APARÊNCIA SÉRIA, DE CIÊNCIA E DE SABEDORIA, em favor da qual proclamam, em meio a algumas verdades e boas máximas, AS MAIS ABSURDAS COISAS.


SEPARAR O VERDADEIRO DO FALSO, DESCOBRIR A TRAPAÇA OCULTA NUMA CASCATA DE PALAVRAS BONITAS, DESMASCARAR OS IMPOSTORES, EIS, SEM CONTRADITA, UMA DAS MAIORES DIFICULDADES DA CIÊNCIA ESPÍRITA." NÃO BASTA SER ESPÍRITO


"Mas, dirão certos críticos, não tende, pois, confiança nos Espíritos, uma vez que duvidais de suas afirmações? Como inteligências libertas da matéria não podem levantar todas as dúvidas da ciência, lançar luz onde reina a obscuridade?


Esta uma questão muito grave, que se prende à própria base do Espiritismo, e que não poderíamos resolver neste momento, sem repetir o já dissemos a esse respeito; não diremos, senão algumas palavras para justificar as nossas reservas. Responder-lhes-emos, de início, que se tornaria sábio a bom preço se não se tratasse senão de interrogar os Espíritos para conhecer-se tudo o que se ignora. Deus quer que adquiramos a ciência pelo trabalho, e não encarregou os Espíritos de nos trazer tudo pronto para favorecer a nossa preguiça.

Em segundo lugar, a Humanidade, como os indivíduos, tem sua infância, sua adolescência, sua juventude e sua virilidade. Os Espíritos, encarregados por Deus de instruírem os homens, devem, pois, proporcionar seu ensinamento para o desenvolvimento da inteligência; nunca dirão tudo a todo mundo, e esperam, antes de semear, que a Terra esteja pronta para receber a semente, para fazê-la frutificar.


Eis porque certas verdades, que nos são ensinadas hoje não o foram aos nossos pais que, eles também, interrogavam os Espíritos; eis porque, verdades pelas quais não estamos maduros, não serão ensinadas senão àqueles que virão depois de nós. Nosso erro é crer-nos chegados ao topo da escala, ao passo que não estamos ainda senão na metade do caminho.


Dizemos de passagem que os Espíritos têm duas maneiras para instruírem os homens; podem fazê-lo, seja comunicando-se diretamente com eles, o que fizeram em todos os tempos assim como o provam todas às histórias sagradas e profanas, seja encarnando-se entre eles para aí cumprir missões de progresso. Tais são esses homens de bem e de gênio que aparecem, de tempos em tempos, como luz para a Humanidade e lhe fazem dar alguns passos à frente. Vede o que ocorre quando esses mesmos homens vêm antes do tempo propício para as idéias que devem propagar: são desconhecidos quando vivos, mas o seu ensinamento não se perde; depositado nos arquivos do mundo, como um grão precioso colocado em reserva, um belo dia sai do pó, no momento em que pode dar seus frutos.


Desde então, compreende-se que se o tempo requerido para difundir certas idéias não chegou, interrogar-se-ia os Espíritos em vão, eles não podem dizer senão o que lhes é permitido. Mas é uma outra razão que compreendem perfeitamente todos aqueles que têm alguma experiência do mundo Espírita.


Não basta ser Espírito para possuir a ciência universal, de outro modo a morte nos tornaria quase os iguais a Deus. O simples bom senso, de resto, recusa-se a admitir que o Espírito de um selvagem, de um ignorante ou de um mau, desde o momento que esteja livre da matéria, esteja no nível de sábio ou do homem de bem; isso não seria racional. Há, pois, Espíritos avançados, e outros mais ou menos atrasados que devem percorrer mais de uma etapa, passar por numerosos e severos exames, antes de estarem despojados de todas as suas imperfeições. Isso resulta que se encontram, no mundo dos Espíritos, todas as variedades morais e intelectuais que se encontram entre os homens, e muitas outras ainda; ora, a experiência prova que os maus se comunicam tão bem quanto os bons.


 
Aqueles que são francamente maus são facilmente reconhecíveis; mas há também, entre eles, os meio sábios, os falsos sábios, os presunçosos, os sistemáticos e mesmo os hipócritas; aqueles são os mais perigosos porque afetam uma aparência de seriedade, de sabedoria e de ciência, a favor da qual debitam, freqüentemente, no meio de algumas verdades, de algumas boas máximas, as coisas mais absurdas; e para melhor enganarem, não temem em se ornarem com os nomes mais respeitáveis.


 
Distinguir o verdadeiro do falso, descobrir a fraude escondida sob uma parada de grandes palavras, desmascarar os impostores, eis aí, sem contradita, uma das maiores dificuldades da ciência Espírita. Para superá-la é preciso uma longa experiência, conhecer todas as astúcias das quais são capazes os Espíritos de baixo estágio, ter muita prudência, ver as coisas com o mais imperturbável sangue frio, e se guardar, sobretudo, contra o entusiasmo que cega. Com habilidade e um pouco de tato chega-se facilmente a ver a ponta da orelha, mesmo sob a ênfase da mais pretensiosa linguagem. Mas infeliz o médium que se crê infalível, que se ilude sobre as comunicações que recebe: o Espírito que o domina pode fasciná-lo ao ponto de fazê-lo achar sublime o que, freqüentemente, é simples absurdo e salta aos olhos de todos quanto dele mesmo."


Em "O Livro dos Médiuns" lemos sobre as técnicas de fascinação utilizadas por boa parte dos espíritos pseudo-sábios: "Há, Espíritos obsessores sem maldade, que alguma coisa mesmo denotam de bom, mas dominados pelo orgulho do falso saber. Têm suas idéias, seus sistemas sobre as ciências, a economia social, a moral, a religião, a filosofia, e querem fazer que suas opiniões prevaleçam. Para esse efeito, procuram médiuns bastante crédulos para os aceitar de olhos fechados e que eles fascinam, a fim de os impedir de discernirem o verdadeiro do falso. São os mais perigosos, porque os sofismas nada lhes custam e podem tornar cridas as mais ridículas utopias. Como conhecem o prestígio dos grandes nomes, não escrupulizam em se adornarem com um daqueles diante dos quais todos se inclinam, e não recuam sequer ante o sacrilégio de se dizerem Jesus, a Virgem Maria, ou um santo venerado. Procuram deslumbrar por meio de uma linguagem empolada, mais pretensiosa do que profunda, eriçada de termos técnicos e recheada das retumbantes palavras caridade e moral. Cuidadosamente evitarão dar um mau conselho, porque bem sabem que seriam repelidos. Daí vem que os que são por eles enganados os defendem, dizendo: Bem vedes que nada dizem de mau. A moral, porém, para esses Espíritos é simples passaporte, é o que menos os preocupa. O que querem, acima de tudo, é impor suas idéias por mais disparatadas que sejam. (Cap. XXIII - Item 246 - Da Obsessão)


E abordando a necessidade imperiosa da análise crítica das comunicações dos espíritos, Kardec alerta: "Reconhece-se a qualidade dos Espíritos pela sua linguagem; a dos Espíritos verdadeiramente bons e superiores é sempre digna, nobre, lógica, isenta de contradições; respira a sabedoria, a benevolência, a modéstia e a moral mais pura; é concisa e sem palavras inúteis. Nos Espíritos inferiores, ignorantes, ou orgulhosos, o vazio das idéias é quase sempre compensado pela abundância de palavras. Todo pensamento evidentemente falso, toda máxima contrária à sã moral, todo conselho ridículo, toda expressão grosseira, trivial ou simplesmente frívola, enfim, toda marca de malevolência, de presunção ou de arrogância, são sinais incontestáveis de inferioridade num Espírito."




 
 
Fonte: http://espiritismoxramatisismo.blogspot.com.br/2008/10/kardec-e-o-perigo-dos-espritos-pseudo.html