sexta-feira, 30 de setembro de 2011

OS INIMIGOS DO ESPIRITISMO (BRASIL) PARTE III

Por Maria das Graças Cabral


Para tratarmos do tema “Os Inimigos do Espiritismo (III Parte)”, transcrevo um excelente texto de Josué de Freitas.

No texto o autor com muita propriedade narra todo o processo de ‘infiltração’ das idéias “roustainguistas” divulgadas pela Federação Espírita Brasileira - que adota as obras de Jean Baptiste Roustaing como objeto de estudo complementar ’avançado’ da Doutrina Espírita.




Com a leitura do texto poderemos constatar claramente a ação dos inimigos do espiritismo atuando ferozmente na destruição dos pilares doutrinários. Vale ressaltar que o objetivo destes é plenamente alcançado quando o Brasil através da FEB, é o maior divulgador de livros intitulados espíritas para todo o mundo!

 
Obviamente, que exporta-se por exemplo, coleção André Luiz (com todas as distorções doutrinárias) como obras complementares da Doutrina Espírita, Os Quatro Evangelhos de Roustaing, (grande opositor de Kardec), como obra complementar da Doutrina Espírita, o filme Nosso Lar, como filme espírita, enfim toda uma miscelânea dos mais estapafúrdios conceitos, em total desacordo com as Obras Básicas, são propagados mundo afora como sendo Doutrina Espírita.

 
Pergunta-se: Existe forma mais eficaz de se destruir um pensamento do que desvirtuando-o? Existe forma mais eficaz de se destruir a personalidade de alguém do que tirando-lhe a identidade? - Pois esta foi a forma encontrada pelos inimigos da Doutrina Espírita para destruí-La - o roubo da sua identidade, de seus preceitos, a distorção de seus princípios!
Portanto, é no Brasil, o grande celeiro de espíritas, que o Espiritismo tornou-se uma seita alienígena “catolicizada” posto que, temos mais ‘espiritólicos’ do que espíritas verdadeiros, estudiosos das Obras Básicas, livres do espírito de seitas, de rituais e de dogmas.
 
Isto posto, vamos conferir o texto de Josué de Freitas, intitulado Jean Baptiste Roustaing, o inimigo de Allan Kardec, retirado de O Blog dos Espíritas.

 
Jean Baptiste Roustaing, o inimigo de Allan Kardec
Por Josué de Freitas

"Jean Baptiste Roustaing foi um advogado francês, nascido em Bordéus. Viveu na França, no tempo em que Allan Kardec estava preparando a Codificação. Chegou a trocar algumas correspondências com o Codificador, mas a amizade entre ambos não foi adiante."


"Com a ajuda da médium Émile Collignon, Roustaing publicou ditados de alguns Espíritos que os assistiam, denominados mais tarde de "Os Quatro Evangelhos" ou "Revelação da Revelação". Essas obras se caracterizavam por apresentarem graves contradições doutrinárias em relação aos princípios do Espiritismo. Allan Kardec fez algumas críticas a esses escritos, que acabaram por desagradar profundamente o advogado. Roustaing e seus discípulos, aborrecidos, fizeram uma resposta ao Codificador, inserida no livro primeiro de sua obra, depois retirada arbitrariamente pela Federação Espírita Brasileira – FEB, adepta das teses roustainguistas."


"Os Espíritos que ditaram "Os Quatro Evangelhos" disseram ser nada menos que os Evangelistas, assistidos pelos Apóstolos e pelo profeta Moisés. Além dessa superioridade suspeita, ainda afirmaram que a obra era a "Revelação da Revelação", algo mais especial e superior à própria Codificação. Tratava-se de um fato estranho."

"Por que o Alto enviaria uma outra revelação no mesmo tempo em que Allan Kardec dava vida ao Espiritismo, a Terceira Revelação? Ninguém explicava o fato."

 

"As entidades desencarnadas que trabalhavam com Roustaing e Collignon , usavam de meios estranhos ao sistema espírita: eram totalmente alheios do Controle Universal dos Espíritos. Uma grande insensatez que os roustainguistas não se davam conta." 


"Se os livros de Jean Baptiste Roustaing tivessem ficado na França, possivelmente logo teriam desaparecido. Mas eles vieram parar no Brasil e, por meio de uma série de acontecimentos ligados ao nascimento do Movimento Espírita, tornaram-se o próprio espírito do sistema."



"Tudo começou na gênese da Federação Espírita Brasileira - FEB. Quando os primeiros grupos espíritas estavam se formando, alguns deles já possuíam as obras de J. B. Roustaing. Numa sessão histórica, ocorrida em fevereiro de 1889 na Sociedade Espírita Fraternidade, no Rio de Janeiro, o médium Frederico Pereira da Silva recebeu uma mensagem que fora assinada pelo Espírito do próprio Codificador. Dentre outras incoerências ditadas pela entidade, o suposto Allan Kardec dizia que um Espírito chamado Ismael iria guiar o Movimento Espírita Brasileiro."



"Iniciavam-se assim, as distorções no sistema espírita nascente. A metodologia kardequiana e as instruções de Allan Kardec para estruturarem o Movimento Espírita começavam a ser deixadas de lado. O comando do movimento seria passado a uma entidade e, no lado material, sua direção estaria entregue a uma só casa espírita, que assumiu o papel de Comitê Central, sem no entanto guiar-se pelas suas regras. Nascia o embrião da FEB, chamada depois de Casa Máter do Espiritismo e eleita por seus seguidores como a representante do Cristo na Terra."

 

"Ninguém percebeu, mas o espírito do sistema espírita assemelhava-se ao Catolicismo que, também a seu modo, dizia representar Deus na Terra. Neste tempo, havia desentendimentos entre os grupos espíritas sobre as práticas e os delineamentos em torno do futuro. Alguns centros, denominados "científicos", preferiam um Espiritismo mais objetivo e prático. O grupo sob a influência de Ismael, no entanto, não pensava assim. Como era místico, preferia uma conduta mais voltada à religiosidade. Logo tratou de convencer uma importante figura da época a passar para suas fileiras. Tratava-se de Bezerra de Menezes. Com a ajuda dele, a FEB conseguiu dominar a maioria das sociedades espíritas."

 

"Bezerra era um homem ponderado e político. Por ter saído recentemente das fileiras católicas, adaptou-se rapidamente ao misticismo de Ismael. Os principais centros espíritas da época estudavam as teorias kardequianas, mas os místicos tinham uma especial atenção com os Evangelhos de Roustaing, porque os consideravam um "curso superior" de Espiritismo. Allan Kardec passou então a ser interpretado à luz do pensamento roustainguista."

 

"A comunicação de Allan Kardec, dada através do médium Frederico, era apócrifa. Porém, por falta de espírito crítico, todos a aceitaram, pensando tratar-se mesmo de uma mensagem do Codificador. Na verdade, manifestava-se o espírito Ismael, ligado ao círculo de idéias de J. B. Roustaing. O Espírito preparava o terreno para estabelecer um campo de atuação imenso, a conhecida "Seara de Ismael". Encontrando nos brasileiros profundas raízes católicas, não teve dificuldades para criar uma espécie de "catolicismo espírita"."

 

"Quando se examina "Os Quatro Evangelhos", de J. B. Roustaing, começa-se a entender mais facilmente as raízes dos problemas existentes no Movimento Espírita, e os motivos pelos quais os centros costumam assemelhar-se a pequenas igrejas. Os Espíritos que ditaram as obras de Roustaing eram uma falange de entidades ligadas à Igreja Católica medieval."

 

"Nos Quatro Evangelhos, Maria é virgem. Para mantê-la como na Igreja, os Espíritos roustainguistas criaram um Jesus de corpo fluídico, que não teria tido encarnação. Assim, a sexualidade de Maria não macularia o Senhor. O Jesus divinizado da Igreja transformou-se no Jesus sem pecados de Roustaing que, segundo seus livros, jamais encarnou e teve evolução em linha reta, diferente dos outros irmãos seus. Como a carne na Igreja é símbolo do pecado, os Quatro Evangelhos também a abominaram, como sendo algo sujo e colocaram a encarnação como fruto do castigo."
 
"Através da Federação Espírita Brasileira - FEB, Ismael aproximou-se de Francisco Cândido Xavier, o famoso médium de Uberaba, MG, e ditou-lhe uma obra que seria o corolário do "Trono de Deus" na Terra: "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho". Embora com o nome do respeitável Humberto de Campos (Irmão X) para impor-se com mais facilidade, as idéias exaradas são as mesmas. Qualquer observador que lê "Lázaro Redivivo" e "Brasil, Coração do Mundo, Pátria do Evangelho" nota que eles foram escritos por dois Espíritos de características diferentes, principalmente quanto ao caráter. O suposto "Irmão X", do "Coração do Mundo, Pátria do Evangelho", faz pura apologia à FEB, e cria a lenda de Ismael, para deleite de seus seguidores. Foi assim que nasceu o livro que faria os espíritas acreditarem que o Brasil estava destinado a governar o mundo. Por trás dessa obra estava a FEB; atrás dela, o Grupo Ismael e, no invisível, o "anjo" com sua falange."


"Em alguns períodos distintos, o "anjo" Ismael exerceu uma influência estranha no trabalho mediúnico de Chico Xavier. As pessoas que o assessoravam não perceberam a presença dessa entidade e deixaram passar nos livros psicografados pelo médium alguns conceitos eminentemente roustainguistas e mesmo certas contradições doutrinárias patentes. O Espírito não se importou de assinar algumas comunicações com os nomes do eminente Emmanuel e mesmo do pródigo André Luiz."
 
"No livro "O Consolador", o Espírito comete um erro primário: diz que não recomenda a ninguém que se faça evocações (como na Igreja) e que seria mais seguro esperar que as manifestações ocorressem espontaneamente. Mal sabia que o Codificador havia dito justamente o contrário, que as comunicações espontâneas é que são as mais perigosas. E não pára aí. Assume uma posição favorável à existência das almas gêmeas, contrariando a teoria básica de "O Livro dos Espíritos". O erro é grosseiro e a FEB trata de corrigi-lo rapidamente. A entidade confunde a localização da sede da memória, dizendo que ela se encontra no perispírito, parafraseando o erro histórico de Gabriel Dellane, contrariando ambos os ensinamentos dos Espíritos superiores."

 

"A força dos livros psicografados, corroborada pela exemplar idoneidade de Francisco Cândido Xavier, tornou-se poderosa alavanca para a expansão das idéias ismaelinas. Formou-se o sistema espírita que conhecemos, com características eminentemente católicas. Hoje, o espírito de Roustaing continua mais presente do que nunca. Pode-se encontrá-lo na mentalidade de algumas federações, nas atitudes passivas dos espíritas, na falta de gosto pelo estudo, no pouco conhecimento doutrinário, nas palavras vazias de oradores pomposos, na política unificacionista (uma versão moderna do "Fora da Igreja não há salvação") e na imprensa espírita com suas gloríolas e ídolos. Os que afirmam não compreender a causa de tantas preocupações com a teoria roustainguista, não percebem que estão mergulhados nela, dirigidos por um sistema espírita entranhado por inércia, comodismo, fantasias e estagnação, emperrando o crescimento espiritual das criaturas."
 
"O sistema de pensamento e investigação desenvolvido por Allan Kardec é o grande ausente no Movimento Espírita. No final de sua vida, o Codificador estava só. Alguns detratores seus, que se diziam espíritas, afirmavam que ele queria apoderar-se da verdade e se fazer dono do Espiritismo. Jean Baptiste Roustaing e seus seguidores estavam entre eles."

"Pouco antes de desencarnar, o Codificador começou a preparar instruções para salvaguardar o movimento nascente de falsas interpretações. Não chegou a terminar seu trabalho. Quando se lê seus últimos apontamentos, nota-se, com tristeza, que suas preciosas instruções sobre a condução do Movimento Espírita jamais foram seguidas por seus adeptos. Bom número deles sequer conhece suas obras, instrui-se em livros subsidiários nem sempre idôneos e, frequentemente, é vítima de Espíritos enganadores."

 

"Mudar essa mentalidade vigente, conduzindo parte desses seguidores de Allan Kardec ao encontro das instruções do Codificador do Espiritismo, é tarefa urgente. Espera-se que os espíritas sérios reunam forças em torno desse ideal. Hoje, diversos grupos no país que buscam restabelecer essa base doutrinária."
"Na cidade de São José do Rio Preto, SP, existe o Movimento de Reformas. Sua proposta é a de estimular os centros espíritas a se ajustarem conforme as orientações da Codificação, fazendo com que se instale neles o gosto pelo estudo, pelo raciocínio, pela investigação mediúnica e pelo trabalho metódico."
"Nota: Os que não concordam com estes escritos certamente nos julgarão entregues às trevas e a serviço do mal. De nossa parte, continuaremos exercendo nosso direito de livre exame, analisando fatos, tirando conclusões, como discípulos da escola kardequiana que somos."

























terça-feira, 27 de setembro de 2011

OS INIMIGOS DO ESPIRITISMO (FRANÇA) - PARTE II




                                       
Por Maria das Graças Cabral

Para continuarmos a tratar do tema “Inimigos do Espiritismo”, faz-se por oportuno rever o que aconteceu com o Espiritismo na França, onde funcionava a Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas que produzia a Revista Espírita, fundada em 1858 e dirigida por Allan Kardec até março de 1869 quando desencarnou.
 
 
 
A Revista Espírita era o instrumento através do qual, Kardec orientava de forma segura o Espiritismo para todo o mundo, indicando-a como fonte de consulta (Livro dos Médiuns, capítulo III), alem de dirimir dúvidas, orientar e responder aos ataques dos adversários e opositores da Doutrina.



Allan Kardec nos diz na Revista Espírita, de Junho de 1865, que “jamais uma doutrina filosófica dos tempos modernos causou tanta emoção quanto o Espiritismo e nenhuma foi atacada com tamanha obstinação”. Isto porque segundo o Codificador, os adversários empregavam armas desleais, como a mentira a calúnia e a traição.



No que concerne aos inimigos do Espiritismo na França, nada melhor que transpormos trechos da obra "CONSCIENTIZAÇÃO ESPÍRITA", da autoria de Gélio Lacerda da Silva quando assim se expressa: "Com relação às anti doutrinárias teorias roustainguistas, Kardec refutou-as na Revista Espirita, primeiramente no seu artigo "Do princípio da não retrogradação do Espírito", em junho de 1863 (págs. 163/166); depois, na sua apreciação de ‘Os Quatro Evangelhos’ de Roustaing, em junho/1866 (págs. 188/190, Edicel). E, por fim, em ‘A Gênese’, cap. XV“.
 
 
 
"Colocamos em destaque o papel da Revista Espírita na propaganda do Espiritismo, quando ela estava sob a direção de Kardec, porque com o desencarne deste, a Revista, nas mãos do seu gerente Pierre Gaëtan Leymarie, por seu excessivo espírito de tolerância, desvirtuou a finalidade da Revista, abrindo suas páginas à propaganda de filosofias espiritualistas, inclusive à de Roustaing, que diverge do Espiritismo“.
 
 
 
"Além disso, lamentavelmente, o Sr. Leymarie se deixou enganar por um fotógrafo fraudulento, que lhe custou um ano de prisão, com danosas conseqüências para o Espiritismo, na França, tanto que, com esse triste episódio, espírita, na França, passou a ser sinônimo de "escroque" (trapaceiro, vigarista, velhaco, caloteiro...)" E Gélio cita como fonte de consulta o livro "Allan Kardec" de autoria de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen, 1ª edição da FEB, vol. III, pág. 225.
 
 
 
Prossegue Gélio em sua narrativa: "Sobre o episódio da fraude com as fotos de Buguet, escreveu Gabriel Delanne: ‘Se tivemos que experimentar uma condenação contra nós, foi porque nos desviamos da rota traçada por Allan Kardec (grifo de Gélio). Este inovador era contrário à retribuição dos médiuns e tinha para isso boas razões. Em sua época, os irmãos Davenport muito fizeram falar de si, mas, como ganhavam dinheiro com suas habilidades, Allan Kardec afastou-se deles, prudentemente" (O Espiritismo perante a ciência de Gabriel Delanne, ed. FEB, 1952, pág. 208)
 
 
 
Adiante ressalta o autor: "Sobre o desvirtuamento das finalidades da Revista Espírita por Pierre Gaëtan Leymarie, lê-se que ele ofereceu na Révue terreno livre aos lutadores de todas as correntes com a condição de que defendessem causas espiritualistas ou de ordem essencialmente humanitária e moral, expondo-se assim às críticas acirradas de uns, às acusações ou descontentamento de outros..." (Processo dos Espíritas, ed. FEB, 1977, págs. 22/23 da 2ª edição). Nesses ‘lutadores de todas as correntes’ se incluem os roustainguistas, como disseram Zêus Wantuil e Francisco Thiesen: ‘Pierre Gaëtan Laymarie, distinto divulgador, também, da obra Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing" ("Allan Kardec", vol. III, pág. 376).
 
 
 
E prossegue o autor de forma esclarecedora: "Pierre Gaëtan Laymarie envolveu o Espiritismo num amálgama de ideologias espiritualistas, que acabou por descaracterizá-lo nos seus princípios básicos. Eis mais uma prova disso: Em 1878, ao lado da Sociedade para Continuação das Obras Espíritas de Alan Kardec, Leymarie organiza a Sociedade Científica de Estudos Psicológicos. Congrega, em torno desta obra, os homens mais eminentes (vários nomes são citados),em seus trabalhos. Esta Sociedade se dedicava igualmente ao estudo das teorias e das experiências do magnetismo animal e da mediunidade, estudando-se ainda as obras originais de Cahagnet e de Roustaing (grifo do Gélio), a doutrina de Swedenborg, o grande precursor do Espiritismo (?), bem como o Atomismo, a teosofia, o budismo, o transformismo, e, por fim, o ocultismo" (Zeus Wantuil/Francisco Thiesen em "Allan Kardec", vol. III. Pág. 219)
 
 
 
E conclui Gélio: "Aí está a verdadeira causa por que o Espiritismo desapareceu na França.(...) O que Leymarie fez com o Espiritismo na França, a Federação Espírita Brasileira vem tentando fazê-lo no Brasil: um sincretismo religioso de ideologias conflitantes, um misto, ou melhor, uma miscelânea de espiritismo, roustainguismo, ubaldismo, umbandismo. Sim, até umbandismo, porque, para a Diretoria da FEB, onde há mediunismo, há também espiritismo (Reformador, 16/10/26), enfim, um saco de gatos..." (Gélio Lacerda da Silva, "Conscientização Espírita", págs. 108 a 114).



No que concerne à Federação Espírita Brasileira, sou testemunha quando da minha primeira e única visita à intitulada ‘Casa Mater’ do Espiritismo, ao adentrar um de seus salões de palestras e conferências, encontrei organizados sobre a mesa onde se acomodam palestrantes e dirigentes, "O Evangelho Segundo o Espiritismo", e "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing, lado a lado, como se o livro de Roustaing também fosse uma obra Espírita objeto de estudo juntamente com o quarto livro da Codificação Kardeciana!
 
 
 
Diante do exposto voltemos a Kardec que nos adverte afirmando: - A luta está longe de terminar; ao contrário, é de esperar que tome maiores proporções e um outro caráter”. (...) Nossos adversários, não renunciaram; enquanto esperam, recorrem a outra tática: a das manobras surdas”. (...) “Já tentaram muitas vezes, e o farão ainda, comprometer a doutrina, impelindo-a por uma via perigosa ou ridícula, para desacreditar”. (...) Mas não são adversários confessos que assim agiriam. O Espiritismo, cujos princípios têm tantos pontos de semelhança com os do Cristianismo, também deve ter os seus Judas” (...). (Revista Espírita, de Junho de 1865)
 
 
O Codificador, já vislumbrava claramente que a estratégia utilizada pelos inimigos da Doutrina Espírita seria levá-la ao descrédito, desvirtuando seus preceitos.
 
 
 
Então nós que nos dizemos e nos sentimos 'espiritualmente' Espíritas, temos o dever moral de com todo o afinco estudarmos as obras da Codificação, para que possamos defendê-la através do conhecimento que nos permitirá identificar e acusar as fraudes e mistificações, que são as armas utlizadas pelos inimigos da Doutrina para desvirtuá-la.



E para finalizar ninguém melhor do que Kardec quando assim se expressa: - “O Espiritismo, repetimos, ainda tem de passar por rudes provas e é aí que Deus reconhecerá seus verdadeiros servidores, por sua coragem, firmeza e perseverança. Os que se deixarem abalar pelo medo ou por uma decepção são como esses soldados, que só têm coragem nos tempos de paz e recuam ao primeiro tiro. Entretanto, a maior prova não será a perseguição, mas o conflito de idéias que será suscitado, com cujo auxílio esperam romper a falange dos adeptos e a imponente unidade que se faz na doutrina”. (Allan Kardec. Revista Espírita, junho de 1865, p. 257) (grifei)

sábado, 24 de setembro de 2011

OS INIMIGOS DO ESPIRITISMO (PARTE I)

 
Maria das Graças Cabral

Para a abordagem do tema que tratará dos inimigos do Espiritismo (Parte I) nos reportaremos ao tempo em que Allan Kardec codificou a Doutrina dos Espíritos e enfrentou a intolerância de ferozes e obstinados opositores.


Buscando uma melhor compreensão dos embates travados contra o Espiritismo, vamos nos situar no tempo e no espaço, visualizando o cenário religioso e político da Europa no século XIX, onde eclodiram os fenômenos das mesas girantes, e posteriormente foram lançadas as Obras Básicas.


Narram historiadores e filósofos que no século XIX as descobertas científicas destacavam-se no continente europeu, trazendo novas terminologias utilizadas por uma nova classe de intelectuais científicos que surgia.
 
 
“As palavras- chave da filosofia e ciência em meados do século XIX eram “natureza”, “meio ambiente”, “história”, “evolução” e “crescimento”. Marx havia dito que a consciência humana era um produto da base material de uma sociedade. Darwin mostrou que o homem era produto de uma longa duração biológica e o estudo de Freud sobre o inconsciente deixou claro que as ações dos homens freqüentemente são devidas a certos impulsos ou instintos “animais”, próprios de sua natureza.” (Hatzenberge, Dionísio. Cristianismo nos séculos XIX e XX. In: www.espirito.org.br. História do Cristianismo)
 
 
No que concerne ao âmbito religioso, a Igreja Católica perdia o monopólio do seu rebanho para o protestantismo, que arrastava um grande número de Católicos Ortodoxos. Em contrapartida havia o protesto veemente da cúpula católica contra a ciência, principalmente quando Darwin contestava a Teoria da Criação do Mundo por ato divino, como também o tempo desta criação, já que era contado pela Igreja à partir de Adão e Eva, conforme preceito bíblico.
 
 
“Com Kant (1724-1804), inicia-se um novo modo de pensar o homem. Kant o via como cidadão dos dois mundos: o mundo material e o mundo espiritual. Segundo ele o Homem só pode adquirir um conhecimento prático ou moral do mundo, de si mesmo e de Deus; jamais um conhecimento absoluto. A partir dessa forma de pensar, na qual o pensamento metafísico e o da razão pura são questionados, o Homem começa a ser visto sob diversas formas e por diferentes pensadores, tais como: Darwin ( 1809-1882), o Homem biológico-evolucionista; Kierkegaard (1813-1855), o Homem existencial; Marx (1818-1883), o Homem econômico; Freud ( 1856-1939), O Homem instintivo e outros.” (Hatzenberge, Dionísio. Cristianismo nos séculos XIX e XX. In: w.w.w.espirito.org.br. História do Cristianismo) 


Concomitantemente, o Estado libertava-se da religião, posto que “o anticlericalismo era militantemente laico, na medida que pretendia tomar da religião qualquer status oficial na sociedade (“desestabelecimento da igreja”, separação da igreja do Estado”), deixando-a como uma questão puramente privada“. (Hatzenberge, Dionísio. Cristianismo nos séculos XIX e XX. In: w.w.w.espirito.org.br. História do Cristianismo)
 
 
“A Igreja, obviamente reagiu, atacando de todas as formas a raiz deste mal: o pensamento científico e a produção de conhecimento. O resultado foi uma Igreja Católica mais fechada ainda“. (...) “O catolicismo, agora totalmente intransigente, recusando qualquer acomodação com as forças do progresso, industrialização e liberalismo, tornou-se uma força muito mais poderosa depois do Concílio Vaticano de 1870 do que antes.” (Hatzenberge, Dionísio. Cristianismo nos séculos XIX e XX. In: w.w.w.espirito.org.br. História do Cristianismo) 
 
 
Diante deste cenário de efervescência política, intelectual e científica; de rupturas entre o poder religioso e o poder estatal; do desprestígio das autoridades eclesiásticas perante os fiéis e o Estado; eis que surge a Doutrina Espírita, claramente evolucionista, racionalista, anti-dogmática, anti-ritualística, anti-clerical, e reencarnacionista. 
 
 
Há de se identificar que o ódio alimentado contra o Espiritismo por parte do clero católico e pastores protestantes, advinha principalmente do receio de que o conhecimento e aceitação dos Princípios Espíritas por parte dos fiéis, atingiria mortalmente as bases estruturais dogmáticas que sustentavam toda a coerência filosófica da Igreja Católica e Protestante que se pauta nos preceitos bíblicos - considerado o livro sagrado das religiões cristãs ortodoxas ou não.
 
 
Vale ressaltar, que no caso específico do catolicismo, os postulados Espíritas traziam maior gravidade, pois derrogavam definitivamente os chamados “dogmas de fé“.
 
 
Daí as perseguições acerbas, que culminaram com o evento intitulado o “Auto de Fé de Barcelona”, comentado por Allan Kardec, na Revista Espírita de novembro de 1861, num artigo intitulado - OS RESTOS DA IDADE MÉDIA - AUTO DE FÉ DAS OBRAS ESPÍRITAS EM BARCELONA, quando assim se expressa o Codificador: “Nada informamos aos leitores sobre esse fato, que já não o saibam através da imprensa. O que é de admirar é que jornais na aparência bem informados, o tenham posto em dúvida. A dúvida não nos surpreende, pois o fato em si parece tão estranho nos dias que vivemos; está de tal modo longe de nossos costumes que, por maior cegueira que reconheçamos no fanatismo, a gente pensa sonhar ao ouvir dizer que as fogueiras da Inquisição ainda se acendem em 1861, às portas da França. (...) O golpe com que julgaram feri-lo não é um indício de sua importância? Ninguém se atira assim contra uma infantilidade sem consequências, e D. Quixote não voltou à Espanha para se bater contra moinhos de vento. O que não é menos exorbitante, e nos admiramos de não se ver nenhum protesto enérgico contra isso, é a estranha pretensão que se arroga o Bispo de Barcelona, de policiar a França. O pedido de devolução das obras foi respondido com a recusa assim justificada: “A Igreja católica é universal, e sendo estes livros contra a fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países”. Assim, eis um bispo estrangeiro que se institui juiz do que convém ou não convém à França! Então a sentença foi mantida e executada, sem pelo menos isentar o destinatário das taxas alfandegárias, de que lhe exigiram o pagamento“. (Revista Espírita, novembro de 1.861)
 
 
Diante de tais eventos que mexeram tão intensamente com crenças e interesses, podemos avaliar a dimensão do ódio implantado nos corações de todos aqueles Espíritos (encarnados ou não) que de uma forma ou de outra acharam-se ameaçados ou feridos em suas susceptibilidades, convicções ou interesses, por essa Doutrina revolucionária.
 
 
É fato que a intolerância manifesta nas formas mais agressivas ou mais sutis sempre tiveram o propósito inexorável de fazer os Princípios Espíritas desaparecerem através do descrédito e/ou do desvirtuamento dos mesmos.
 
 
Os inimigos da Doutrina Espírita formam uma imensa falange, que se reveza parte no plano físico atuando diretamente por palavras e ações, e parte mantendo-se em retaguarda de apoio no plano espiritual, atuando através das obsessões, mistificações e fascinações.
 
 
Kardec em várias oportunidades nas Obras Básicas e na Revista Espírita, se coloca de forma firme e racional defendendo e esclarecendo os preceitos Espíritas, e alertando aos espiritistas de todos os tempos, para que estejam atentos às ciladas armadas pelos que odeiam os princípios libertadores da Doutrina dos Espíritos.
 
 
À esse respeito se posicionou na Revista Espírita de junho de 1865 afirmando que - “Jamais uma doutrina filosófica dos tempos modernos causou tanta emoção quanto o Espiritismo e nenhuma foi tão atacada com tamanha obstinação”.
 
 
Portanto, cabe a nós os verdadeiros espíritas, prosseguirmos na luta incansável e obstinada em defesa da Doutrina Espírita, como nos exortou Kardec e os Espíritos Superiores. Para isso, precisamos nos fortalecer pelo conhecimento que se dará através do estudo constante das Obras Básicas. Nossa luta será pautada na moral evangélica e no conhecimento doutrinário, pois como muito bem nos disse Jesus: “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”!

domingo, 18 de setembro de 2011

LEI DE AÇÃO E REAÇÃO NÃO É O AXIOMA DE CAUSA E EFEITO

Maria das Graças Cabral


É muito comum ouvirmos de espíritas, ou lermos em obras intituladas espíritas, quando tratam das razões que levam ao sofrimento humano, e muitas vezes ‘inexplicáveis’, a aplicação da chamada “Lei de Ação e Reação“, preconizada pelo Espírito André Luiz através da psicografia do médium Chico Xavier.


Primeiramente faz-se por oportuno termos a lucidez de observar que o Espírito André Luiz, quando na sua última encarnação, segundo sua própria narrativa no livro Nosso Lar, foi médico sanitarista no início do século XX, exercendo sua profissão no Rio de Janeiro, Brasil, e tendo passado "mais de oito anos" nas regiões umbralinas de sua consciência. 




Enquanto encarnado, não foi um homem religioso, vivendo voltado exclusivamente para o seu trabalho de médico. Era temperamental, bebia e fumava, vindo a morrer de um câncer intestinal. Daí, a sua total incompreensão diante do fenômeno ‘morte‘, e de sua resistência em pedir a Deus socorro para livrá-lo dos pesadelos vivenciados dentro do seu longo e exacerbado estado de perturbação.





Portanto ao lermos suas obras, devemos considerar que suas percepções sobre o mundo espiritual retratadas nos seus romances psicografados por Chico Xavier, trazem o viés de um cientista leigo nas questões espirituais, em processo inicial de aprendizado, usando de um vocabulário técnico bem próprio da sua profissão.

Ou seja, o Espírito André Luiz não era um estudioso da Doutrina Espírita, não teve tempo suficiente enquanto ditava suas obras do plano espiritual, para conhecê-la através de um estudo aprofundado, posto que, se tomarmos por analogia a nós mesmos enquanto encarnados, não chegamos durante uma encarnação relativamente longa e profícua no estudo doutrinário, a um profundo conhecimento nem sequer de O Livro dos Espíritos, que é a primeira obra da Codificação.

Daí, porquê quando no seu romance intitulado “Ação e Reação” - vai buscar nos seus conhecimentos da física a "Lei de Ação e Reação“ - Terceira Lei de Newton - que é uma restrita lei física, para adequá-la analogicamente às causas dos sofrimento humano.

Define Newton, em sua obra “Principia“, o princípio da ação e reação asseverando que: A qualquer ação se opõe uma ação igual, ou ainda, as ações mútuas de dois corpos são sempre iguais e se exercem em sentidos opostos.

Se um corpo A, exerce uma força em um corpo B, o corpo B simultaneamente exerce uma força da mesma magnitude no corpo A - ambas as forças possuindo mesma direção, contudo sentidos contrários.

Aplicado ao pé da letra a lei de Newton, em todas as situações ocorreriam da mesma forma; p. ex., se uma pessoa te feriu, ela deverá ser, por você, ferida da mesma forma e com a mesma intensidade. Outra questão é que a lei de ação e reação atua em corpos diferentes e nunca se anulam. A reação sendo “positiva ou negativa” nunca poderia anular a ação.

No referido romance intitulado ‘Ação e Reação’, o Espírito André Luiz também se reporta a questão do ‘carma’ quando o Ministro Sânzio atendendo às suas interrogações ansiosas diante do que observa nas instituições visitadas, lhe explica o que seja a questão do ‘carma’, ou ‘choque do retorno’. Nota-se perfeitamente a confusão de informações que o Espírito André Luiz recebe e repassa, constatando-se claramente, que seus instrutores não seriam também espíritas estudiosos e conhecedores da Codificação Espírita, daí recorrerem a outras terminologias para suas instruções.

À esse respeito, vale pontuar que “carma” é uma palavra oriental que significa ação. No dicionário encontra-se a seguinte definição: do sânscrito karman; nas filosofias da Índia, o conjunto das ações dos homens e suas conseqüências - (bem semelhante à Lei de Ação e Reação).

Na concepção hindu, carma quer dizer “destino” (canga) determinado ou fixo, ou seja, aqueles cujos atos foram corretos, depois de mortos renascerão através de uma mulher brâmane (virtuosa), ao passo que aqueles cujos os atos foram maus, renascerão de uma mulher pária (castas inferiores) e sofrerão muitas desgraças, acabando como simples escravos. (J. Herculano Pires)

No que concerne à Codificação Espírita, se formos pesquisar em todas as Obras Básicas incluindo a Revista Espírita, não encontraremos em nenhuma delas, em momento algum, os Espíritos Superiores, ou mesmo Kardec tratando ou estabelecendo uma Lei de Ação e Reação, ou Lei de Causa e Efeito. Nem muito menos usando do termo ‘carma’.

Isto porque Kardec logo na Introdução da gigantesca obra sobre o qual se ergue a Doutrina Espírita - que é O Livro dos Espíritos - assevera que: “Para as coisas novas necessitamos de palavras novas, pois assim o exige a clareza de linguagem, para evitarmos a confusão inerente aos múltiplos sentidos dos próprios vocábulos”. (Introdução de O Livro dos Espíritos) (grifei)

Portanto, não existe formalmente na Codificação ou na Revista Espírita a definição de Lei de Causa e Efeito - mas a menção de um axioma* utilizado pelos Espíritos Superiores, quando esclarecem a origem das dores dizendo que para todo o efeito existe uma causa e não há causa sem efeito.

Mais precisamente em “O Evangelho Segundo o Espiritismo“, este axioma é aplicado quando trata da “Justiça das Aflições” e os Espíritos Superiores discorrem sobre as Causas Atuais e Anteriores das Aflições.

No que concerne às causas atuais das aflições nos é dito que: “Remontando à fonte dos males terrenos, reconhece-se que muitos são a conseqüência natural do caráter e da conduta daqueles que os sofrem. Quantos homens caem por sua própria culpa! Quantos são vítimas de sua imprevidência, de seu orgulho e de sua ambição! Quantas pessoas arruinadas por falta de ordem, de perseverança, por mau comportamento ou por não terem limitado os seus desejos”. (ESE, Cap. V, 4)

No item seguinte quando são tratadas as causas anteriores das aflições, assim se expressam: “Mas se há males, nesta vida, de que o homem é a própria causa, há também outros que, pelo menos em aparência, são estranhos à sua vontade e parecem golpeá-lo por fatalidade. Assim, por exemplo, a perda de entes queridos e dos que sustentam a família. Assim também os acidentes que nenhuma previdência pode evitar; os revezes da fortuna; os flagelos naturais; doenças de nascença; deformidades, a idiotia, a imbecilidade, etc. (ESE. Cap. V, 6)

Adiante, esclarecem a problemática utilizando-se do axioma anteriormente mencionado asseverando: “Entretanto, em virtude do axioma de que todo efeito tem uma causa, essas misérias são efeitos que devem ter a sua causa, e desde que se admita a existência de um Deus justo, essa causa deve ser justa. Ora, a causa sendo sempre anterior ao efeito, e desde que não se encontra na vida atual, é que pertence a uma existência precedente”. (ESE. Cap. V, 6)

Diante do exposto infere-se que em razão de uma justiça divina rigorosa precisamos ‘aprender’ para evoluir. Mas não aplicando-se uma Lei de Ação e Reação que seria uma versão modernosa da Lei de Talião, ou seja, do ‘olho por olho e dente por dente’. Na realidade a Lei que transmudará as dores num estado interior de felicidade e paz, é a preconizada por Jesus quando nos asseverou que “o Amor cobre a multidão de pecados”.

Oportuno ressaltar, como esclarecem os Espíritos Superiores que nem todo o sofrimento que se passa nesse mundo é advindo necessariamente de uma determinada falta, pois pode tratar-se muito “freqüentemente” de simples provas escolhidas pelo próprio Espírito, para acelerar seu processo evolutivo. (ESE. Cap. V, 9)

Portanto, na condição de espíritas, estejamos atentos para não cairmos nas malhas da anfibologia** que tanto Kardec combateu em relação à Doutrina Espírita, evitando a utilização de palavras que já têm um sentido próprio, e usadas analogicamente geram interpretações equivocadas no que concerne ao corpo doutrinário.




* Na lógica tradicional, um axioma ou postulado é uma sentença ou proposição que não é provada ou demonstrada e é considerada como óbvia ou como um consenso inicial necessário para a construção ou aceitação de uma teoria. Por essa razão, é aceito como verdade e serve como ponto inicial para dedução e inferências de outras verdades (dependentes de teoria).
** A anfibologia (do grego amphibolia) vem a ser, na lógica e na lingüística moderna, o mesmo que ambigüidade (do latim ambiguitas, atis), isto é, a duplicidade de sentido em uma construção sintática. Um enunciado é ambíguo e, portanto, anfibológico quando permite mais de uma interpretação. Na lógica aristotélica, designa uma falácia baseada no dúbio sentido - proposital ou não - da estrutura gramatical da sentença de modo a distorcer o raciocínio lógico ou a torná-lo obscuro, incerto ou equivocado.

domingo, 11 de setembro de 2011

ESPIRITISMO E MEDIUNIDADE

Por Maria das Graças Cabral



Um dos grandes equívocos em torno do Espiritismo, é confundi-lo com mediunidade. Muito comumente, diz-se que alguém é espírita por ter essa pessoa a condição de ver e/ou ouvir espíritos. Este é um dos ‘equívocos’ que distorcem a Doutrina Espírita, e será objeto de análise e esclarecimento no presente artigo.

Primeiramente precisamos saber o que é ‘mediunidade‘. De acordo com O Livro dos Médiuns a mediunidade é o nome atribuído a uma capacidade humana que permite uma comunicação entre
homens e Espíritos. Ela se manifesta independente de religiões, de forma mais ou menos intensa em todos os indivíduos. Porém, usualmente apenas aqueles que apresentam num grau mais perceptível são chamados médiuns, segundo explicações de Allan Kardec em O Livro dos Médiuns.

Em seguida, oportuno considerar que quando se fala de mediunidade, obrigatoriamente tem-se que admitir de acordo com as especificidades de cada crença, a existência dos Espíritos, os quais se comunicam através dos chamados médiuns. Digo de acordo com as especificidades de cada crença, porque para alguns só os anjos e os santos se comunicam, para outros só os demônios se manifestam, para outros é Deus que se apresenta, e assim sucessivamente.

Diante de tal assertiva indagamos: - Existem Espíritos? - E Kardec (o maior estudioso do fenômeno mediúnico) nos responde afirmando que “a causa principal da dúvida sobre a existência dos Espíritos é a ignorância da sua verdadeira natureza. Imaginam-se os Espíritos como seres à parte da Criação, sem nenhuma prova da sua necessidade. Muitas pessoas só conhecem os Espíritos através das estórias fantasiosas que ouviram em crianças, mais ou menos como as que conhecem história pelos romances”. (...) “Seja qual for a idéia que se faça dos Espíritos, a crença na sua existência decorre necessariamente do fato de haver um princípio inteligente no Universo, além da matéria“. (LM. Cap. I, itens 1 e 2)

Em O Livro dos Espíritos, na questão 76, tem-se a definição de Espírito quando Kardec indaga: - Como podemos definir os Espíritos? Resposta: - Podemos dizer que os Espíritos são os seres inteligentes da criação. Eles povoam o Universo, além do mundo material. Oportuno acrescentar que os Espíritos podem estar na condição de ‘encarnados’ (sob a veste do corpo físico) e ‘desencarnados’, depois da morte física.

Espíritos portanto, na visão Espírita, somos todos nós ao partirmos do plano físico; são os nossos familiares, os amigos ou os inimigos, que retornaram ao plano espiritual. Enfim, Espíritos são os seres humanos despojados da veste física, que levam como ‘bagagem’ para o plano espiritual suas qualidades e defeitos, felicidades ou dores, sabedoria ou ignorância, amor ou ódio, credos e convicções próprias.

É fato que a comunicação entre os dois planos da vida acontece independentemente de época, lugar, raça, cor, credo, cultura, por ser uma lei natural inerente à condição humana. À esse respeito Kardec elucida que “se a crença nos Espíritos e nas suas manifestações fosse uma concepção isolada, o produto de um sistema, poderia com certa razão ser suspeita de ilusória. Mas quem nos diria então porque ela se encontra tão viva entre todos os povos antigos e modernos, nos livros santos de todas as religiões conhecidas?” (LM. Cap. I, 1)

Observa-se que o fenômeno mediúnico atravessa o limiar dos tempos, desde que por exemplo, o Antigo Testamento relata a saga do povo hebreu narrando as aparições e diálogos com anjos, com profetas e reis já mortos - como também as manifestações violentas de Jeová,  quando castiga os inimigos do seu povo.

Já no Novo Testamento, os evangelistas narram situações em que Jesus expulsa demônios, conversa no monte Tabot com Moisés e Elias, já mortos - e depois da crucificação, aparece à Madalena, aos apóstolos, e deixa-se ser tocado por Tomé.

Da mesma forma as mais diversas religiões em seus livros sagrados relatam as experiências espirituais de seus líderes, quando recebem suas missões através de contatos mediúnicos com seres não mais pertencentes ao plano físico.

A realidade é óbvia quando nos mostra fartamente que católicos, protestantes, budistas, umbandistas, islâmicos, judeus, etc., têm a mesma condição de ver, ouvir, sonhar - com anjos, santos, profetas, demônios, orixás, etc., - interpretando, e adequando suas experiências mediúnicas aos seus preceitos religiosos e usando um linguajar próprio, como por exemplo: falar a língua dos anjos, ter visões, exorcizar demônios, descarrego, profetizar, curar pela imposição das mãos, baixar o santo, encorporar, entrar em estado de êxtase, etc, etc, etc.

Pode-se portanto constatar pela história dos povos com suas crenças e costumes, que a mediunidade não é privilégio de nenhuma religião em especial e nem de nenhum povo. O mediunismo portanto, não é sinônimo nem propriedade do Espiritismo, nem muito menos quem se diz médium é obrigatoriamente espírita.

Na realidade, a Doutrina Espírita, por ter um corpo doutrinário dedicado ao ‘Espírito imortal’ - a mediunidade é estudada e trabalhada, com o escopo de esclarecer e auxiliar o espírito humano diante de suas perplexidades ao se deparar com os dois planos da vida. Além de ser instrumento de amor e auxílio ao próximo, tendo por base o preceito de Jesus que diz: ”Curai os enfermos, ressuscitai os mortos, limpai os leprosos, expeli os demônios; daí de graça o que de graça recebestes”. (Mateus, X, 8)

A esse respeito faz-se oportuno ressaltar que para os médiuns espíritas é sempre lembrado que “receberam de Deus um dom gratuito, que é o de serem intérpretes dos espíritos, para instruírem os homens, para lhes ensinarem o caminho do bem e levá-los à fé, e não para lhes venderem palavras que não lhes pertencem, pois que não se originam nas suas idéias, nem nas suas pesquisas, nem em qualquer outra espécie de seu trabalho pessoal.” (Evangelho Segundo o Espiritismo, Capítulo XXVI, item 7)

Ser espírita não é obrigatoriamente ser médium, entretanto ser médium espírita é ter uma missão de dedicação e amor aos irmãos em humanidade, encarnados e desencarnados. Ser médium espírita é trazer para sua vida como aprendizado as experiências felizes ou infelizes dos Espíritos que se comunicam por seu intermédio. O médium espírita, estudioso, educado e evangelizado é sabedor da responsabilidade e da grandiosidade do trabalho que advém da sua condição de intermediário dos dois planos da vida.

Portanto, não é pela mediunidade que se reconhece um espírita, mas como esclarece o Espírito de Erasto em O Evangelho Segundo o Espiritismo: “reconhece-se o espírita pelo ensino e a prática dos verdadeiros princípios da caridade; pela consolação que distribuírem aos aflitos; pelo amor que dedicarem ao próximo; pela sua abnegação e o seu altruísmo.” (Cap. XX, 4)






domingo, 4 de setembro de 2011

REFLEXÕES SOBRE AS OBRAS INTITULADAS ESPÍRITAS, FACE ÀS OBRAS BÁSICAS.





Maria das Graças Cabral

O presente texto tem por objetivo fazer uma reflexão sobre a exorbitante produção literária que se auto intitula ‘espírita’, e do crescente número de espíritas neófitos (ou não), que pensam tratar-se de espiritismo o que lêem nos livros de romances, mensagens, auto ajuda, ou artigos, em sua grande maioria psicografados (ditados por espíritos) e qualificados como literatura ‘espírita‘.


Também causa espanto e preocupação, cabendo profunda reflexão no que tange à precariedade e descuido das casas espíritas, e da própria Federação Espírita Brasileira, na dedicação ao estudo efetivo e sério da Codificação Espírita, em detrimento de obras ditas ’complementares‘.

No que concerne às tais obras ‘complementares’, faz-se por oportuno ressaltar que se a “Boa Nova” trazida por Jesus há mais de dois mil anos, ainda não foi compreendida pelos que se consideram cristãos, o que dizer da Doutrina Espírita, com um corpo doutrinário que abrange as mais diversas áreas do conhecimento humano, e tendo sido codificada a menos de dois séculos.

O fato é que diante da incomensurável fonte de ensinamentos e revelações que compõem a Codificação, tem-se a contrapor a incompreensão e precariedade dos estudos realizados até hoje. Daí, a constatação óbvia da desnecessidade de ’complementação’ para as Obras Básicas.

Até porque, tal ’complementação’ vem sendo feita através de literatura de conteúdo questionável, ditada por Espíritos que segundo a “escala espírita” apresentada didaticamente por Kardec na questão 100 de O Livro dos Espíritos, podem ser considerados da oitava classe, ou seja, a categoria de Espíritos Pseudo-Sábios cujos “conhecimentos são bastante amplos, mas julgam saber mais do que realmente sabem”.

E assim, a formação doutrinária vem se pautando em fontes suspeitas e conturbadas, causando o crescente desvirtuamento dos ensinamentos propostos pela Doutrina dos Espíritos, provocando entendimentos equivocados que vêem gerando polêmicas e discussões em torno do corpo doutrinário, como também levando ao descrédito o próprio espiritismo.

Importante ressaltar que os preceitos divulgados por essa grande leva de ‘espíritos escritores‘, em grande parte não se coaduna com o que estabelece a Codificação, por retratarem experiências e percepções individuais do Espírito, narradas através de um único médium, suscetível de obsessão, mistificação e fascinação.

É fato que estamos diante de uma verdadeira inversão de valores, posto que, para que possamos discernir se o que lemos, ouvimos ou assistimos é pautado, ou não, nos princípios espíritas, precisamos de um estudo profundo das Obras Básicas.

Allan Kardec, na Introdução do Evangelho Segundo o Espiritismo, quando trata da ‘Autoridade da Doutrina Espírita’ discorre sobre o ‘Controle Universal das Comunicações’ e pontua que “os Espíritos, em conseqüência das suas diferenças de capacidade, estão longe de possuir individualmente toda a verdade; que não é dado a todos penetrar certos mistérios; que o seu saber é proporcional à sua depuração; que os Espíritos vulgares não sabem mais do que os homens; que há, entre eles, como entre estes, presunçosos e falsos sábios, que crêem saber aquilo que não sabem; sistemáticos que tomam suas próprias idéias pela verdade; enfim, que os Espíritos da ordem mais elevada, que são completamente desmaterializados, são os únicos libertos das idéias e das preocupações terrenas”. (2003: p.17)

Preceitua ainda o Codificador que o primeiro controle a ser feito é o da razão, e do bom senso, acrescentando que “a única garantia segura do ensino dos Espíritos está na concordância das revelações feitas espontaneamente, através de um grande número de médiuns, estranhos uns dos outros, e em diversos lugares”. (2003: p. 17/18) - E foi este o procedimento utilizado por Allan Kardec para a Codificação Espírita.

Oportuno observar o item 246 de O Livros dos Médiuns quando os Espíritos tratam da obsessão, e nos dizem que - “há Espíritos obsessores sem maldade, que são até mesmo bons, mas dominados pelo orgulho do falso saber: têm suas idéias, seus sistemas sobre as Ciências, a Economia Social, a Moral, a Religião, a Filosofia. Querem impor a sua opinião e para isso procuram médiuns suficientemente crédulos para aceitá-las de olhos fechados, fascinando-os para impedir qualquer discernimento do verdadeiro e do falso. São os mais perigosos porque não vacilam em sofismar e podem impor as mais ridículas utopias. (...) Procuram fascinar por uma linguagem empolada, mais pretenciosa do que profunda, cheia de termos técnicos e enfeitada de palavras grandiosas como Caridade e Moral. Evitam os maus conselhos, porque sabem que seriam repelidos, de maneira que os enganados os defendem sempre, afirmando: bem vês que nada dizem de mau. (...) O que desejam antes de mais nada é dominar e impor as suas idéias, por mais absurdas que sejam”. (2002: p. 221/222) (grifei)

À esse respeito J. Herculano Pires em nota de roda pé acrescenta que no Brasil vem ocorrendo com espantosa intensidade obras psicográficas com essas características. No entendimento do tradutor da obra, isso se dá “em virtude da propagação da prática espírita sem o desenvolvimento paralelo do conhecimento doutrinário. Por toda parte aparecem publicações inoportunas, desviando a atenção do público dos problemas fundamentais do Espiritismo, excitando a imaginação e o orgulho de médiuns incultos que, ainda em desenvolvimento, se deixam empolgar pela vaidade pessoal, dando atenção aos elogios de companheiros menos avisados e sendo envolvidos por Espíritos pseudo-sábios, sistemáticos, imaginosos. Todo cuidado é pouco nesse terreno”. (2002: p. 221/222) (grifei)

Adiante, no capítulo XXVII, intitulado ‘Contradições e Mistificações‘, Kardec assevera, que se “deve considerar desde logo suspeita as predições com épocas marcadas e todas as indicações precisas referentes a interesses materiais‘. (...) “Jamais se deixar ofuscar pelos nomes usados pelos Espíritos para darem validade às suas palavras, (...) e desconfiar das teorias e sistemas científicos ousados”. (2002: p. 294)

Mais uma vez J. Herculano Pires, em nota de rodapé da obra em comento, afirma que “a falta de observação dessas instruções tem permitido a divulgação e aceitação de numerosas teorias pseudo científicas em nosso país e em todo o mundo, que contribuem para o descrédito do Espiritismo. A vaidade pessoal dos médiuns, de estudiosos da doutrina e até mesmo de intelectuais de valor inegável, estes sempre dispostos a criticar e a superar Kardec, tem levado essas pessoas ao ridículo, inutilizando-as para o verdadeiro trabalho de divulgação e orientação‘. (2002: p. 294) (grifei)

Diante do exposto, podemos concluir que estudando a Doutrina dos Espíritos, entenderemos as leis naturais da vida, saindo da condição infantil que considera sobrenatural, fantástico, ilusão, ou loucura tudo aquilo que não compreende.

Estudando as Obras Básicas, não nos tornaremos vítimas da ’credulidade’ que aceita como verdades, idéias esdrúxulas de Espíritos pseudo-sábios e sistemáticos, que embora em desacordo com a Codificação, são acatadas pelo fato de serem ditadas por Espíritos de nomes conhecidos, através de médiuns famosos e respeitados, mas que estão sujeitos aos processos obsessivos, de mistificação e fascinação como qualquer um de nós.

É através do estudo e conhecimento das Obras Básicas, que teremos condições para defender com segurança e serenidade a integridade da Doutrina que nos consola e liberta, pois a mesma já veio com seu preceitos formados pela Espiritualidade Superior, cabendo à Kardec na condição de Codificador organizá-la, e denominá-la de ‘Doutrina Espírita’.

Assim sendo, tudo o que estiver em desacordo com o que foi codificado, não é obra espírita, pois a Doutrina Espírita é a “Obra dos Espíritos Superiores“, que foi submetida por Kardec ao Controle Universal das Comunicações e está compilada em O Livro dos Espíritos, O que é o Espiritismo, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, A Gênese , O Céu e o Inferno e nos doze volumes da Revista Espírita.