quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Análise crítica do texto “Alimentação dos Espíritos” da autoria de Ricardo Di Bernardi, com base nas Obras Básicas da Doutrina Espírita. (1ª Parte)

Por Maria das Graças Cabral

O presente trabalho é a primeira parte da análise crítica do artigo intitulado Alimentação dos Espíritos, de autoria de Ricardo Di Bernardi. O objetivo do mesmo é fazer uma análise da procedência ou não da tese apresentada pelo autor, tendo como paradigma a Doutrina Espírita, através das Obras Básicas, codificadas por Allan Kardec.



O autor inicia seu artigo, apresentando como fundamentos para a veracidade e confiabilidade das informações recebidas pelos Espíritos, segundo suas próprias palavras, o consenso nas informações dos amigos espirituais no que tange a este assunto”, acrescentando que “nos planos espirituais temos notícia por inúmeros médiuns confiáveis, como Chico Xavier, Divaldo Franco etc., da organização de comunidades sociais que os espíritos constituem, às vezes assemelhadas às terrestres.” (grifei)



Em seguida, certifica apoiar-se no critério kardecista de valorizar um conceito apenas quando houver multiplicidade de fontes sérias, confirmando-o, no que concerne ao corpo espiritual e sua alimentação“.



No que pertine à aplicabilidade do “critério kardecista” sugerido pelo autor, faz-se por oportuno considerar que, para que uma mensagem espiritual se adéqüe ao critério avaliativo das comunicações estabelecido por Allan Kardec, deverá obrigatoriamente estar em consonância com os princípios preceituados nas Obras Básicas da Doutrina Espírita, que passaram pelo crivo do Codificador e do Espírito da Verdade, através do Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos (CUEE).



Vale lembrar, que todas as comunicações que vieram a compor as Obras Básicas, passaram pelo CUEE, asseverando Kardec que a garantia única, séria do ensinamento dos Espíritos está na concordância que existe entre as revelações feitas espontaneamente, por intermédio de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares. (...) O princípio da concordância é, ainda, uma garantia contra as alterações que poderiam infligir ao Espiritismo as seitas que gostariam de se apoderar dele em seu proveito, acomodá-lo à sua maneira. (ESE, Introdução, II, Autoridade da Doutrina Espírita, Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos) (grifei) Atentemos para o cuidado do Codificador, em impedir que o Espiritismo viesse a sofrer alterações impingidas pelas conveniências daqueles que objetivassem acomodá-lo às suas crenças (o que vem acontecendo no Brasil).   


Oportuno ressaltar, que Kardec quando codificou a Doutrina Espírita, usou de todo seu conhecimento da língua francesa, (o Mestre era autor de livros de gramática francesa), para que as palavras não fossem empregadas indevidamente, causando entendimentos ambíguos e/ou equivocados. À esse respeito, reportamo-nos ao primeiro parágrafo da Introdução de O Livro dos Espíritos, quando o Codificador preceitua que “para as coisas novas necessitamos de palavras novas, pois assim o exige a clareza de linguagem, para evitarmos a confusão inerente aos múltiplos sentidos dos próprios vocábulos.” Diante do trecho apresentado, comprovamos sua preocupação em evitar interpretações confusas da Doutrina.


Além do cuidado com as palavras, Kardec se esmerou na elaboração dos questionamentos feitos aos Espíritos Superiores, os quais com suas respectivas respostas, viriam a compor o corpo doutrinário. Constata-se em várias oportunidades, o desdobramento de uma pergunta em várias outras, que dependendo do assunto, o próprio codificador faz uma explanação, objetivando clarificar e fixar os ensinamentos dos Espíritos.



É fato, que as Obras Básicas foram escritas e organizadas de tal forma, que qualquer pessoa tivesse condições de entendê-la. Quanto as questões mais complexas, e/ou de difícil compreensão, são os próprios Espíritos Superiores que certificam da nossa incapacidade para julgar certas verdades, pela falta de um vocabulário adequado, sentidos, ou mesmo, evolução para tanto.



À título de exemplo, vejamos quando Kardec sugere definir Deus como sendo o “infinito,” e os Espíritos Superiores respondem: “Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, insuficiência para definir as coisas que estão além da sua inteligência.” Ou quando o codificador indaga se o homem pode compreender a natureza íntima de Deus, e os Mestres Espirituais respondem: “Não. Falta-lhe, para tanto, um sentido”. Ou ainda, quando Kardec questiona se o homem penetrará um dia o mistério das coisas que lhe são ocultas, e a resposta dada, é que “o véu se ergue na medida em que ele se depura; mas, para a compreensão de certas coisas, necessita de faculdades que ainda não possui.” (LE., questões 3, 10 e 18) (grifei)



Isto posto, podemos asseverar que os ensinamentos espíritas prezam pela clareza. Portanto, qualquer mensagem espiritual para que se adéqüe ao “método kardeciano”, deverá se submeter a uma análise crítica, tendo como padrão, os ensinamentos contidos nas Obras Básicas, ministrados pela plêiade
de Espíritos de alta evolução que participaram da codificação, tais como São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, Sócrates, Platão, Fénelon, Erasto, o Espírito da Verdade, dentre outros. Ensinamentos estes, codificados pelo mestre lionês, Allan Kardec, e passados todos, pelo crivo de O Espírito da Verdade!


Infere-se do exposto, que o consenso nas informações dos amigos espirituais no que tange a este assunto”, para que fossem consideradas comunicações verdadeiras, confiáveis, procedentes, deveriam estar em consonância com os “princípios doutrinários” constantes nas Obras Básicas, e não avaliados pelo “consenso” de vários Espíritos comunicantes entre si, como preleciona Ricardo Di Bernardi no texto sob análise. É fato que, se tais mensagens não encontram esteio nas obras da codificação, não poderão ser consideradas ensinamentos “Espíritas“, mas apenas uma linha de pensamento espiritualista.


O outro juízo de validade citado pelo autor do texto, é a sua confiança, nos médiuns famosos como Chico Xavier e Divaldo Franco, através dos quais, os Espíritos trouxeram as novidades do plano espiritual. À esse respeito, somos todos sabedores da moral ilibada de tais médiuns. Entretanto, nos dizem os Mestre Espirituais em O Livro dos Médiuns, que não existem médiuns perfeitos encarnados no planeta Terra. Asseveram que até mesmo os bons médiuns são muito raros! O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, simpatizando somente com os bons Espíritos, tem sido enganado menos vezes. E acrescentam, preceituando que os Espíritos bons permitem que os melhores médiuns sejam às vezes enganados, para que exercitem o seu julgamento e aprendam a discernir o verdadeiro do falso. (LM., Cap. XX, itens, 9 e 10) (grifei)


Atentemos para a importância do que foi dito pelos Espíritos Superiores. O médium tem que estar capacitado para julgar e discernir todas as mensagens recebidas, - ou seja, além de moralizado, deverá ser um profundo estudioso da Doutrina Espírita, para que tenha “conhecimento” suficiente para julgar e discernir a procedência ou improcedência das comunicações. Hodiernamente, isso é muito difícil de acontecer, pois tudo que vem do plano espiritual é publicado como verdadeiro e autêntico! Além disso, prosseguem os Mestres Espirituais asseverando que, por melhor que seja o médium, jamais é tão perfeito que não tenha um lado fraco, pelo qual possa ser atacado. Isso deve servir-lhe de lição. As comunicações falsas que recebe de quando em quando são advertências para evitar que se julgue infalível e se torne orgulhoso. (LM., Cap. XX, itens, 9 e 10) (grifei)


Portanto, não é o nome do médium, nem a sua notoriedade, ou moralidade, que avalizam a veracidade e/ou autenticidade das mensagens advindas do plano espiritual. TODOS os médiuns são passíveis de mistificação. TODOS os médiuns recebem comunicações falsas, pois como preceituam os Espíritos Superiores, ainda são portadores de vícios morais, como orgulho, vaidade, egoísmo, em pequena ou grande escala!



Em seguida, Ricardo Di Bernardi no texto sob análise, assevera que “a energia cósmica que permeia o universo, ("fluido cósmico") é a matéria prima que sob o comando mental dos espíritos é utilizada para a constituição dos objetos por eles manuseados” - indicando como fonte de consulta, "O Livro dos Médiuns", capítulo intitulado, "Laboratório do Mundo Invisível".


Reportando-nos à obra e capítulo indicados pelo autor, observa-se que o objeto de estudo centra-se na questão do vestuário dos Espíritos, da formação espontânea de objetos tangíveis e da modificação das propriedades da matéria. À esse respeito o Espírito de São Luis esclarece que “o Espírito dispõe, sobre os elementos materiais dispersos por todo o espaço da vossa atmosfera, de um poder que estais longe de suspeitar. Ele pode concentrar esses elementos pela sua vontade e dar-lhe a forma aparente que convenha ás suas intenções.” (LM., Cap. VIII, item 4.) (grifei)


Não obstante, Kardec se expressa à respeito da teoria apresentada por São Luis expondo que: “A Teoria acima pode ser resumida assim: o Espírito age sobre a matéria; tira da matéria cósmica universal os elementos necessários para formar, como quiser, objetos com a aparência dos diversos corpos da Terra. Pode também operar, pela vontade, sobre a matéria elementar, uma transformação íntima que lhe dê certas propriedades. (...) Os objetos formados pelo Espírito são de existência passageira, que depende da sua vontade ou da necessidade: ele pode fazê-los e desfazê-los a seu bel-prazer. Esses objetos podem, em certos casos, parecer para os vivos perfeitamente reais, tornando-se momentaneamente visíveis e mesmo tangíveis. Trata-se de formação e não de criação, pois o Espírito não pode tirar nada do nada.” (LM., Cap. VIII, item 129) (grifei)


Diante do esclarecimentos de São Luís e Kardec, constata-se que o “Laboratório do mundo invisível”, trata da capacidade de manipulação da matéria cósmica universal por parte dos Espíritos para a formação de objetos e vestuários cuja “aparência“ corresponde aos objetos e/ou roupas, ainda existentes ou não mais, no plano material. No que concerne aos objetos, como anteriormente transcrito, são de existência passageira, podendo parecer reais, momentaneamente visíveis e mesmo tangíveis, não deixando de ser, meras manipulações fluídicas - ou seja, são formas de comunicação do mundo espiritual com o mundo material, como a psicofonia, a psicografia, a escrita direta, etc..


Quanto à vestimenta dos Espíritos, em A Gênese, nos dizem os Mestres Espirituais, que o Espírito se apresenta para o médium com as roupas e sinais exteriores, que tinha à época em que os conheceram, ou da última encarnação, buscando de alguma forma identificar-se. É o aspecto como ele se vê, e/ou como quer ser visto e/ou reconhecido. (GE., Cap. XIV, item 14)



Face ao exposto na primeira parte do artigo sob análise, constata-se não haver fundamentação espírita que corrobore para validação dos argumentos apresentados pelo autor, como critérios de confiabilidade das mensagens espirituais, que tratarão oportunamente da alimentação dos Espíritos.



CONCLUSÃO DA 1ª PARTE:
 
 
 
1 - Só podemos validar uma idéia como Espírita, estando esta em conformidade com os preceitos propostos pela Doutrina dos Espíritos. Não obstante, se formos utilizar obras de outros autores Espirituais, como fonte de consulta para assuntos considerados espíritas, estas deverão estar obrigatoriamente como um todo, em consonância com as Obras Básicas, e não apenas em alguns aspectos.
 
 
 
2 - A clareza de Kardec, objetiva evitar interpretações pessoais equivocadas, que gerem distorções dos princípios doutrinários. O autor do artigo sob análise, através de sua confiança incondicional em determinados médiuns, e de uma junção de informações alienígenas, criou uma teoria pessoal que atribuiu à Doutrina Espírita.




3 - O autor não idealizou que no processo da codificação, os Espíritos serviram-se de muitos meios de comunicação, dentre os quais, o mais costumeiro à época de Kardec, foram as materializações, e manifestações ostensivas. Portanto, o “Laboratório do mundo invisível“, esclarece sobre uma das formas utilizadas pelos Espíritos para se comunicarem com os encarnados, nada tendo a ver com necessidades alimentares dos Espíritos, e/ou colônias no mundo espiritual.





REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Editora LAKE, 62ª edição, SP, 2001.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médius. Editora LAKE, 22ª edição, SP, 2002.
KARDEC, Allan. A Gênese. Editora LAKE, 20ª edição, SP, 2001.





segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

QUEM SERIA O MEU ESPÍRITO PROTETOR?

Por Maria das Graças Cabral
 
Comumente no meio espírita, nos deparamos com pessoas tecendo os mais diversos comentários à respeito de seus Espíritos protetores. Tais companheiros, (principalmente em palestras públicas e livros) se reportam à presença dos Guias em momentos de intimidade, de dificuldades, de alegria. Relatam também as opiniões e/ou interferências dos Espíritos protetores em escolhas e decisões tomadas pelo tutelado. Importante ressaltar, que os referidos companheiros, alegam ver, ouvir, e interagir com seus protetores, chegando até mesmo a saber o nome do mesmo!
 
Entretanto, a grande maioria dos encarnados “fica só na vontade”. Pois é fato que vontade e curiosidade de se ter um contato mais efetivo, saber identidade e nome do Espírito Protetor, é sonho e/ou desejo, que habita a mente e o coração da grande maioria das pessoas!
 
Portanto, objetivando serenar os nossos corações, e para que não “morramos de inveja“ daqueles companheiros que relatam suas experiências com seus Guias Espirituais. Para que saibamos discernir, o que “procede” e o que “não procede” das experiências fantásticas, relatadas. Para que saibamos diferenciar um Espírito “Protetor“, de um Espírito “familiar“, ou de um Espírito “simpático“, é que escrevo o presente artigo. A fonte que saciará nossa sede, e nos confortará será O Livro dos Espíritos, que em seu Capítulo IX, Item VI, desenvolve o assunto sob o título de “Anjos da Guarda, Espíritos Protetores e Familiares ou Simpáticos”.
 
Inicialmente, busquemos saber “quem” são os Espíritos Protetores ou Anjos de Guarda e qual a sua missão. À esse respeito, nos dizem os Espíritos da Codificação, que os Guias Espirituais, são Espíritos de “ordem elevada“, que se ligam a um indivíduo em particular, como um irmão espiritual. Quanto a missão do Espírito protetor, é a missão de um pai para com o filho, ou seja, conduzi-lo pelo bom caminho, ajudá-lo com os seus conselhos, consolá-lo nas suas aflições, sustentar sua coragem nas provas da vida. (LE, 491) (negrito)
 
Importante ressaltar, que o Espírito protetor é ligado ao indivíduo desde o seu nascimento até a morte, pois freqüentemente a ligação prossegue no plano espiritual, e mesmo através de várias experiências reencarnatórias. Isto porque, segundo a Espiritualidade Superior, as vivências no mundo material não são nada mais do que fases bem curtas da vida do Espírito.
 
Diante de tais afirmativas, ficamos cientes, que todo Espírito Protetor, é obrigatoriamente um Espírito de moralidade e intelectualidade elevada, haja vista a complexidade e grandiosidade de sua missão, que é de conduzir um Espírito imperfeito à perfeição. Conquanto, é profundo conhecedor da alma do seu protegido, sendo sabedor de seus conflitos, vícios morais, medos, limitações, qualidades, conquistas, e potencialidades evolutivas, por acompanhá-lo desde existências pretéritas.
 
São Luís e Santo Agostinho, asseveram que os Anjos da Guarda ou Espíritos protetores, acompanham os seus protegidos, “nos cárceres, nos hospitais, nos antros do vício, na solidão, nada vos separa desse amigo que não podeis ver, mas do qual vossa alma recebe os mais doces impulsos e ouve os mais sábios conselhos.” E acrescentam: “Ah, porque não conheceis melhor esta verdade! Quantas vezes ela vos ajudaria nos momentos de crise; quantas vezes ela vos salvaria dos maus Espíritos! (...) Ah, interpelai vossos anjos da guarda, estabelecei entre vós e eles essa terna intimidade que reina entre os melhores amigos! Não penseis em lhe ocultar nada, pois eles são os olhos de Deus e não os podeis enganar!” (LE., Cap. XIX, Livro II, p. 459)
 
Importante ressaltar, que embora algumas pessoas considerem impossível que Espíritos de alta evolução fiquem restritos a uma tarefa tão penosa e contínua, asseguram os Mestres Espirituais, que mesmo estando a anos luz de distância, para os Espíritos Superiores não existe espaço, e mesmo vivendo em mundos evoluídos, permanecem ligados aos seus protegidos, pois gozam de dons por nós não concebidos. À esse respeito, Kardec de forma pedagógica esclarece, que os Espíritos dispõem do “fluido universal” (tema objeto de estudo em O Livro dos Espíritos) que permeia e liga todos os mundos, sendo portanto veículo da transmissão do pensamento, como o ar é para nós o veículo da transmissão do som.
 
Acrescentam ainda São Luís e Santo Agostinho, que em razão da comunicação do Espírito Protetor com o seu tutelado, somos todos médiuns, mesmo que hoje sejamos médiuns ignorados. Inferindo-se que “todos” nos comunicamos com nosso Guias Espirituais, mesmo que não tenhamos uma mediunidade ostensiva que nos permita, ver e/ou ouvir de forma objetiva.
 
Portanto, no que concerne à comunicação com nosso Espírito protetor, esta comunicação se faz através dos “pressentimentos” que comumente sentimos. São os pressentimentos, o conselho íntimo e oculto de um Espírito que nos deseja o bem. O Espírito protetor procura advertir seu tutelado no intuito de fazê-lo viver da melhor forma possível, entretanto, muito freqüentemente, fechamos os ouvidos e as portas do coração para as boas advertências, e nos tornamos infelizes por nossa culpa.
 
No que tange à presença constante do Espírito Protetor com o seu protegido, dizem os Espíritos da Codificação que há circunstâncias em que a presença não se faz necessária. Entretanto, enquanto estivermos necessitando reencarnar no planeta Terra, (planeta de provas e expiações) não temos condições de guiar-nos por nós mesmos, precisando portanto da orientação e proteção efetiva do Guia Espiritual.
Quanto ao contato entre tutelado e Espírito protetor, como falamos no início do artigo, a “grande maioria das pessoas” não têm experiências ostensivas, que possam lembrar e relatar. Pelo que foi dito anteriormente pelos Mestres Espirituais, já entendemos, que em razão do elevado grau evolutivo do Anjo Guardião, ele não tem como ser visto e/ou ouvido objetivamente pelos encarnados no planeta Terra.
 
Em seguida, Kardec lança o seguinte questionamento aos Espíritos da Codificação: - Por que a ação dos Espíritos em nossa vida é oculta, e por que, quando eles nos protegem, não o fazem de maneira ostensiva? A resposta dada foi a seguinte: “- Se contásseis com o seu apoio não agiríeis por vós mesmos e o vosso Espírito não progrediria. Para que ele possa adiantar-se necessita de experiência, e em geral é preciso que adquira à sua custa; é necessário que exercite as suas forças, sem o que não seria como uma criança a quem não deixam andar sozinha. A ação dos Espíritos que vos querem bem é sempre de maneira a vos deixar o livre-arbítrio, porque se não tivésseis responsabilidade não vos adiantaríeis na senda que vos deve conduzir a Deus. Não vendo quem o ampara, o homem se entrega às suas próprias forças; não obstante, o seu guia vela por ele e de quando em quando o adverte do perigo.” (grifei) (LE., Cap. XIX, Livro II, p. 501)
 
Diante das palavras acima expostas, fica evidente que os Guias Espirituais não interferem objetivamente na vida de seus tutelados. É fato, que temos como condição “sine qua non” para a evolução espiritual, a liberdade de fazer escolhas, e responder por estas, advindo daí, o aprendizado e conseqüente evolução do Espírito. O livre-arbítrio do tutelado jamais será desrespeitado pelos Protetores Espirituais! O que efetivamente nos dará força e coragem para avançarmos nos caminhos evolutivos, é a certeza de que se tem um amigo, um irmão, a velar por nós, solidário na dor e na alegria.
 
Vale ressaltar, que o nosso sucesso, será um mérito a ser levado em conta para o próprio adiantamento do Espírito protetor, como também para sua própria felicidade. Em contrapartida, sofrerá com os erros do seu tutelado, e os lamentará. Não obstante, sua aflição não se assemelhe às angustias de um pai e/ou uma mãe terrenos, pois é sabedor de que há remédio e solução para o mal, pois o que não foi feito hoje, se fará amanhã - estando ele por perto, sempre que se fizer necessário, para nos impulsionar nas boas realizações.
 
Vamos agora tratar de outro aspecto provocador de grande curiosidade, que é a questão de se saber o “nome” do Guia Espiritual. À esse respeito, é Kardec quem indaga aos Mestres Espirituais na questão 504 de O Livro dos Espíritos, se podemos sempre saber o nome do nosso Espírito protetor ou Anjo da Guarda. Observemos a resposta dada pelos Espíritos: “- Como quereis saber nomes que não existem para vós? Acreditais, então, que só existem os Espíritos que conheceis?” (grifei) Logo em seguida, na questão complementar 504-a, o Codificador questiona, que se não o conhecemos, como vamos invocá-lo? E mais uma vez, com toda a presteza respondem os Espíritos Superiores, que podemos dar o nome que quisermos, sugerindo inclusive, que escolhamos o de um Espírito superior que tenhamos simpatia e respeito. Asseveram os Mestres que o nosso protetor atenderá prontamente ao nosso apelo, pois todos os Espíritos elevados são irmãos e se assistem mutuamente.
 
Não se dando por satisfeito no que tange à questão do nome dos Espíritos protetores, persiste Kardec na questão 505 indagando, se os Espíritos protetores que tomam nomes comuns seriam sempre os de pessoas que tiveram esses nomes. Os Mentores respondem categoricamente que não, acrescentando, que muito comumente, Espíritos simpáticos aos nossos Guias Espirituais, ou, por determinação destes, podem vir a nos atender.
 
Para que melhor compreendamos como se dá a substituição, usam os Espíritos da seguinte analogia: quando nós encarnados, não podemos por alguma razão realizar pessoalmente alguma atividade, ou missão, enviamos alguém de nossa confiança para que nos represente agindo em nosso nome. Portanto, a questão do nome é o de menos, pois o que importa é a certeza da existência desse Guia Espiritual que segundo os Espíritos da Codificação, conheceremos a sua identidade e o reconheceremos quando estivermos na vida espírita, pois freqüentemente, já o conhecemos de outras encarnações.
 
Quanto à possibilidade de um pai, ou uma mãe, virem a se tornar o Espírito protetor do filho ou filha sobrevivente, nos dizem os Mestres Espirituais, que para que um Espírito se torne “protetor” de alguém, deverá ter um certo grau de elevação, além de um poder e uma virtude a mais, concedidos por Deus. Portanto, quando o Espírito de pais ou mães, protegem filhos ou filhas, estarão certamente sendo assistidos por um Espírito mais elevado, pois seu poder é mais ou menos restrito à posição evolutiva em que se encontram, não lhes sendo permitido sempre, inteira liberdade de ação. (LE., Cap. XIX, Livro II, p. 507/508)
 
Outra questão a ser aventada, trata da possibilidade de termos vários Espíritos protetores. À esse respeito, nos dizem os Mestres espirituais que “cada homem tem sempre Espíritos “simpáticos”, mais ou menos elevados, que lhe dedicam afeição e se interessam por ele, como há também, os que lhe assistem no mal.” Acrescentam, que esses Espíritos “simpáticos”, às vezes podem ter uma missão temporária, mas em geral são apenas solicitados pela similitude de pensamentos e de sentimentos, no bem como no mal”, posto que, “o homem encontra sempre Espíritos que simpatizam com ele, qualquer que seja o seu caráter.” (grifei) (LE., Cap. XIX, Livro II, p. 512/513 e 513-a)
 
Objetivando uma melhor compreensão do que foi exposto, vou me apropriar do fechamento feito por Kardec, quando assim resumiu as explicações dadas pelos Mestres Espirituais sobre a natureza dos Espíritos que se ligam ao homem:
- O Espírito protetor, anjo da guarda ou bom gênio, é aquele que tem por missão seguir o homem na vida e o ajudar a progredir. É sempre de uma natureza superior à do protegido.
- Os Espíritos familiares se ligam a certas pessoas por meio de laços mais ou menos duráveis, com o fim de ajudá-las na medida de seu poder, freqüentemente bastante limitado. São bons, mas às vezes pouco adiantados e mesmo levianos; ocupam-se voluntariamente de pormenores da vida íntima e só agem por ordem ou com permissão dos Espíritos protetores.
- Os Espíritos simpáticos são os que atraímos a nós por afeições particulares e uma certa semelhança de gostos e de sentimentos, tanto no bem como no mal. A duração de sua relações é quase sempre subordinada às circunstâncias.
 
Para finalizar, estejamos cientes e confiantes de que “todos nós” seres humanos encarnados e desencarnados, enquanto estivermos em uma condição de elevação espiritual sofrível, vinculados aos mais diversos vícios morais, reencarnando em planetas de provas, expiação, regeneração, teremos por necessidade de amparo e orientação, um Espírito protetor de alta elevação - por isso não visível. A esse amoroso Guia Espiritual, poderemos atribuir o nome que quisermos, pois ele nos atenderá sempre, independentemente de “nomes“ - pois ele não tem nome de Espíritos conhecidos na Terra. Estejamos atentos aos nossos “pressentimentos“, pois nosso Anjo Guardião, se comunica conosco através de intuições e pressentimentos. Nosso Guia Espiritual é o amigo que mais nos conhece, por nos acompanhar em numerosas jornadas reencarnatórias, estando sempre presente nos momentos mais solitários, infelizes, dolorosos, como nos momentos mais felizes de nossa vida! E por fim, tenhamos a certeza, que será ele a nos recepcionar quando do nosso retorno ao mundo espiritual, quando para nossa alegria, o reconheceremos e o identificaremos! Haverá algo mais consolador?


terça-feira, 13 de dezembro de 2011

A DOUTRINA ESPÍRITA TRATA DA HOMOSSEXUALIDADE?

Por Maria das Graças Cabral

A Doutrina Espírita trata da Homossexualidade? Esta foi a indagação feita por um amigo e a razão do desenvolvimento do presente artigo. Para alcançarmos a resposta do questionamento que foi lançado como tema, iniciarei fazendo uma breve digressão histórica da homossexualidade no tempo e no espaço. Isto porque, observa-se pelos relatos históricos, que desde os tempos mais remotos se dá notícia da prática homossexual, utilizada como ritual de transição em um determinado momento da vida do ente tribal.[1]

Na Grécia antiga por exemplo, considerando que as mulheres não ocupavam nenhum papel relevante nesta sociedade, a não ser as cortesãs que se relacionavam de igual para igual com os homens, não tinham elas nenhuma base para educar os filhos do sexo masculino. Daí, quando a criança entrava na adolescência, ditava o costume, que a família do adolescente elegesse um homem mais velho, ao qual era delegada a missão de educá-lo. Em razão desta relação de um educador (Erastes) e um educando (Erômenos), é que se deu surgimento à pederastia, que acabou por se difundir pelas demais ilhas gregas. [2]


Importante ressaltar, que a referida relação entre um jovem e um homem mais velho era abertamente aceita, o que não acontecia com as relações entre homens da mesma idade. Para os gregos, a postura passiva era própria das mulheres, jovens e escravos, pela sua condição inferior na escala social.

Já no Império Romano, a relação entre um romano e um jovem livre não era bem aceita, ainda que popular, sendo punida com multa. Contudo, o amor de um romano e um escravo não sofria nenhum tipo de restrição.

Também existia em Roma, a repulsa com relação ao homem romano que adotava a condição de passivo numa relação homossexual, mantendo-se a mesma concepção dos gregos à respeito da passividade, por ser condição própria das mulheres, jovens e escravos. Entretanto tal desaprovação não era absoluta, pois no primeiro século, os historiadores dão notícias de matrimônios entre homens, já que o casamento na sociedade romana, era um contrato de caráter privado.

Foi Teodósio I quem proclamou uma lei proibindo permanentemente todas as relações sexuais com pessoas do mesmo sexo, tendo como punição a morte. Essa condenação permaneceria na legislação de Justiniano I que, passou a punir a homossexualidade com a fogueira e a castração, alegando ele que a prática homossexual não era um ato aceito por Deus. [4]
 
 Na Índia, que em razão dos deuses serem afetiva e sexualmente bissexuais, para os indianos, o sexo não era visto somente para procriação, mas para a obtenção de prazer e poder. De tal forma, a relação homossexual era aceita, já que a busca do prazer estava ligada ao misticismo. Entendiam os indianos, que através do orgasmo seria possível compreender os enigmas de seus deuses.[5]
 
 Na China, a homossexualidade era influenciada por seus imperadores, que tinham os seus “favoritos”, gerando uma grande disputa na corte, pois o favorito do imperador tinha riqueza e prestígio. O mesmo ocorria no Japão, que por seu turno, não tinha uma visão pecaminosa das relações homossexuais.
 
 Foi com o surgimento do “cristianismo”, que passou a haver a condenação de toda e qualquer forma de atividade sexual estéril, ou seja, que não fosse com a finalidade de procriar, estando a homossexualidade por conseguinte, inserida neste contexto.
 
 No Brasil Colonial e escravagista, semelhante ao período clássico, encontra-se esse tipo de comportamento, principalmente com relação a senhores/escravos. É fato, que sempre em que há submissão de uma categoria por outra através da força, esse tipo de abuso acontece.
 
 Observa-se portanto, que as diferenças nos direitos relativos à homossexualidade, sempre estiveram presentes ao longo da história das civilizações humanas, persistindo até os tempos atuais. Isto porque, hodiernamente ainda existem países que criminalizam a homossexualidade com a pena de morte, tais como, a Arábia Saudita, a Mauritânia ou o Iêmen, e outros que já legalizaram o casamento civil entre pessoas do mesmo sexo, como Países Baixos, Espanha ou Canadá.
 
 Já as principais organizações mundiais de saúde, incluindo muitas de psicologia, não mais consideram a homossexualidade uma doença, disturbio ou perversão. Desde 1973, a homossexualidade deixou de ser classificada como tal pela Associação Americana de Psiquiatria. Em 1975 a Associação Americana de Psicologia adotou o mesmo procedimento, deixando de considerar a homossexualidade como doença.

 No dia 17 de maio de 1990 a Assembléia-geral da Organização Mundial de Saúde (OMS) retirou a homossexualidade da sua lista de doenças mentais, a Classificação Internacional de Doenças (CID). Por fim, em 1991, a Anistia Internacional passou a considerar a discriminação contra homossexuais uma violação aos  direitos humanos.

 E assim, ao longo da história da humanidade, os aspectos individuais da homossexualidade foram tolerados ou condenados, de acordo com as normas sexuais vigentes nas diversas culturas e épocas em que ocorreram. Ou seja, observa-se que a aceitação do comportamento homossexual nunca foi unanimidade em nenhuma sociedade, e em tempo algum.

Hodiernamente, observamos os homossexuais lutando mundo afora, na busca da aplicabilidade dos direitos humanos, pelo direito ao casamento civil e religioso, pelo direito à adoção de filhos. Isto porque, os conflitos e divergências continuam existindo no âmbito religioso, jurídico, e social.

  E a Doutrina Espírita? Trata objetivamente da homossexualidade, aprovando ou condenando tal prática? À esse respeito é importante ressaltar, que o Espiritismo não julga comportamentos nem escolhas. A Doutrina Espírita veio “revelar” ao Espírito humano, imortal e perfectível, através das Obras Básicas, os ensinamentos libertadores, que estudados e vivenciados, conduzirão a humanidade a melhores caminhos na senda da evolução.

 No tocante à questão de opção sexual, importante se faz nos reportarmos aos ensinamentos contidos em O Livro dos Espíritos, quando Allan Kardec indaga aos Espíritos da Codificação na questão 200, se os Espíritos têm sexo. Os Mestres Espirituais respondem: - “Não como o entendeis, porque os sexos dependem da constituição orgânica. Há entre eles amor e simpatia, mas baseados na afinidade de sentimentos.” Pode-se inferir pela resposta dada, que os Espíritos quando no plano espiritual, são atraídos apenas por afinidades e sentimentos, posto que, a atração sexual que leva à conjunção carnal é própria do corpo material com seu aparelho genésico.

Em seguida, na questão 201, é perguntado se o Espírito que animou o corpo de um homem pode animar o de uma mulher numa nova existência, e vice-versa. E a resposta é que “sim, pois são os mesmos Espíritos que animam os homens e as mulheres.” Constata-se diante das palavras dos Espíritos Superiores, que o Espírito não tem sexo.
 

Por fim, indaga Kardec na questão 202, se quando somos Espíritos, preferimos encarnar num corpo de homem ou de mulher. Respondem os Espírito Superiores que “isso pouco importa ao Espírito; depende das provas que ele tiver de sofrer.” Ou seja, a escolha do sexo condiz às possibilidades de aprendizado e evolução do Espírito reencarnante.
 

Face às indagações e respostas dadas pela Espiritualidade maior, Kardec arremata dizendo que “os Espíritos encarnam-se homens ou mulheres, porque não têm sexo. Como devem progredir em tudo, cada sexo, como cada posição social, oferece-lhes provas e deveres especiais, e novas ocasiões de adquirir experiências. Aquele que fosse sempre homem, só saberia o que sabem os homens.”
 

Pode-se concluir, diante dos esclarecimentos dados pelos Mestres Espirituais, que a questão do Espírito optar por reencarnar como homem ou mulher, tem um propósito definido no processo evolutivo do indivíduo.

 
No que tange à evolução humana, a Doutrina Espírita nos apresenta Jesus como modelo de moralidade e perfeição a ser seguido por todos. Daí, vale observar como se comportou o grande Mestre, diante de pessoas que viviam à margem da sociedade, por andarem em descompasso com os costumes e/ou convicções religiosas, ou por serem consideradas inimigas do povo judeu. Exemplificou, protegendo a prostituta da morte por apedrejamento; dedicando amizade ao publicano, que era odiado por trabalhar recolhendo os impostos cobrados pelo império romano - sendo tais tributos considerados indevidos por parte dos judeus; dialogando com a mulher samaritana, apesar do ódio separatista que reinava entre Samaria e Judéia. Sem falar nas amigas mulheres que o seguiam, quando estas não tinham nenhuma representatividade na sociedade judaica patriarcal.

Não obstante seu respeito pela fragilidade humana, o Mestre não se furtou em nos advertir assim se expressando: “Entrai pela porta estreita, porque a porta da perdição é larga, e o caminho que a ela conduz é espaçoso, e há muitos que por ela entram. Como a porta da vida é pequena! Como o caminho que a ela conduz é estreito! E como há poucos que a encontram!” (Mateus, cap. VII, 13 e 14)

 
À esse respeito, os Espíritos Superiores em O Evangelho Segundo o Espiritismo esclarecem que, “a porta da perdição é larga, porque as más paixões são numerosas, e o caminho do mal é freqüentado pela maioria. A da salvação é estreita, porque o homem que quer transpô-la deve fazer grandes esforços sobre si mesmo para vencer as suas más tendências, e poucos a isso se resignam.” (E.S.E., cap. XVIII, 5) Isto posto, fica claro que o trabalho de todo ser humano, deverá estar voltado para a superação dos vícios morais, que o arrastam a milhares de encarnações sofridas e difíceis. A passagem pela porta estreita o conduzirá ao “reino de Deus”, que é o estado de felicidade plena, tantas vezes preconizado por Jesus.

 
Vale ressaltar, que no momento solitário do retorno à verdadeira vida, quando estaremos às voltas com o nosso “Eu“, brotarão de forma impetuosa, milhares de questionamentos, dentre os quais: - O que fiz da minha vida? O que fiz pela minha vida? Cumpri a “missão” à qual me propus ao reencarnar? Quanto de bem ou de mal, semeei?

Quando iniciei o presente texto fazendo uma breve narrativa histórica da homossexualidade através do tempo e do espaço, objetivava demonstrar que são os homens e mulheres, através dos tempos, que vão dando os “tons” da sociedade na qual escolheram viver. São os preconceitos, crenças, interesses; como também, os desequilíbrios comportamentais e emocionais, que geram os grandes conflitos e dores, que acabam por adoecer o organismo social.
 
É fato que a Doutrina Espírita não faz apologia, nem condena as opções sexuais dos indivíduos. Entretanto, estabelece parâmetros comportamentais equilibrados, tendo como paradigma a moral evangélica. Somos livres para escolher as “portas“ que iremos atravessar. Em contrapartida, somos também individualmente responsáveis, diante de Deus e de nós mesmos por estas escolhas.

Finalizando, vale reiterar que a Doutrina dos Espíritos através de sua mensagem libertadora e consoladora, vem nos colocar na condição de Espíritos emancipados e responsáveis pela construção de nosso estado de felicidade ou infelicidade, nesta vida e na outra. A responsabilidade do Espírito é pessoal. Portanto, cada um responderá pelos seus pensamentos, sentimentos e atos - e pelo que causou a si mesmo, e às outras criaturas, de bem ou de mal. O alicerce sobre o qual se ergue a Doutrina Espírita, são princípios esclarecedores e libertadores, que levam o Espírito humano à busca do auto conhecimento, para que daí, trabalhe árdua e conscientemente por sua evolução moral e intelectual.

Entendamos portanto, que a homossexualidade é uma questão de foro íntimo de cada Espírito. Por conseguinte, com base na moral Espírita, ninguém tem a autoridade nem o direito de violentar a privacidade e/ou a integridade emocional e/ou moral de seu semelhante. Somos desrespeitosos e não caridosos, quando, agredimos, julgamos, criticamos, ridicularizamos, condenamos, ou discriminamos alguém em razão de sua opção sexual. Vale lembrar, que ainda estamos muito longe de alcançar a maturidade espiritual, que nos permitirá compreender com propriedade e profundidade a complexidade da alma humana.
  
 



REFERÊNCIA BIBLIGRÁFICA

[1] MADRID, Daniela Martins e MOREIRA FILHO, Francisco Carlos. A Homossexualidade e a sua História. In: intertemas.unitoledo.br/revista/index.php/ETIC/article/.../1569
[2] Idem
[3] Idem.
[4] Idem.
[5] Idem

domingo, 11 de dezembro de 2011

RELIGIÃO E INTOLERÂNCIA


Dalmo Duque dos Santos*



Por definição, toda religião – toda fé – é intolerante, pois proclama uma verdade que não pode conviver pacificamente com outras que a negam.” – Mario Vargas Llosa
 
Por definição, está coberto de razão o grande escritor peruano, quando coloca o problema da intolerância religiosa como reflexo da enorme diversidade cultural que caracterizam os povos e espelho das mentalidades que também se diferenciam dentro dos próprios grupos sociais.
 
Em artigo publicado no jornal O Estado de São Paulo (11/07/2004), sobre o caráter laico do Estado e da União Européia, ele fala com conhecimento de causa e faz a afirmação acima citada baseando-se na experiência histórica de religiões e filosofias e que foram desviadas de suas bases originais para satisfazer interesses bem distanciados daqueles delineados por seus criadores.
 
Não importa a relatividade desses conceitos – se religião ou religiosidade, fé ou crença devoção ou adoração – a repercussão desse elemento cultural na mente humana dificilmente poderá ser dissociado do fanatismo, dos impulsos passionais e do radicalismo emocional.
 
Não é à toa que a sabedoria popular ensina que não se deve discutir religião e futebol, se quisermos preservar relações amistosas. Durante séculos fomos educados para a intolerância e para o radicalismo. Preconceitos religiosos foram pacientemente enraizados em nosso psiquismo e no comportamento, como peças estratégicas para preservação de grupos e sistemas ideológicos. Mesmo as grandes lições de fraternidade e tolerância caíram no esquecimento e no universo lendário. O próprio Mahatma Gandhi, figura contemporânea da Era Atômica, parecia em sua época e ainda hoje ser algo inacreditável, saído das páginas de algum livro de mitologia.
 
Mas somos, como categoria social humana, um complexo multicolorido de ideologias e crenças, seja em forma de partidos políticos, de cultos religiosos, agremiações filosóficas ou estilos de vida que consideramos atraentes e afins com a nossa maneira de ver o mundo, de agir, de pensar e de sentir as coisas.
 
Nesses agrupamentos procuramos respostas, conforto espiritual, aceitação, respeito, reconhecimento, todas as soluções possíveis para resolver os nossos conflitos interiores, nossas carências internas e externas, reparos de danos e traumas, enfim, a busca da felicidade, de um Norte, de uma plenitude, da auto-realização.
 
É por esse motivo, inclusive, que constituímos famílias - não importando qual o modelo - e mantemos viva a imagem do “ninho” ou da “tribo” como símbolos da nossa identidade pessoal e social. Nossos ninhos e tribos continuam sendo o nosso principal endereço existencial, a referência na qual mantemos o pé de apoio para dar todos os passos importantes e decisivos nas experiências vivenciais.
 
Até mesmo as organizações criminosas ou os agrupamentos de hábitos considerados fúteis, quando ameaçados em seus interesses, reagem com suas ideologias, doutrinas, dogmas, tradições, raízes, ídolos, eventos históricos, como armas para justificar e legitimar suas necessidades e suas próprias existências. Vejamos, por exemplo, os recentes acontecimentos de 11 de setembro, onde o terror teve a religião como principal fonte de motivação ideológica. “Mas é uma religião primitiva e atrasada!”, diriam os ateus ou então aqueles outros que julgam que sua religião é superior às demais. Como se o problema fosse a religião em si, quando na verdade é o comportamento sectário embutido historicamente nas religiões e confrarias que alimentam esses flagelos de mentalidade.
 
A intenção dos atentados terrorista foi de ordem política, mas os agentes executores o fizeram por uma causa religiosa, ou seja , a crença de que seriam recompensados num outro mundo por terem agido com renúncia e coragem. Isso é histórico: é só lembrar as monarquias teocráticas de todos os tempos, os tribunais da Inquisição, as cruzadas, o calvinismo europeu, os regimes totalitários nos anos 30 e durante a Guerra Fria.
 
O grau de intolerância demonstrado por aqueles que hoje se suicidam pela sua crença certamente não é o mesmo daqueles que discriminam, perseguem e expulsam seus companheiros de ideologia, quando estes começam a destoar dos seus pontos de vista, mas as causas são idênticas: a incapacidade de compreender e conviver com a diversidade e de aceitar o princípio igualdade humana como lei universal.
 
Nas situações de conflito, quando o egoísmo e o orgulho predominam como fonte de poder, a igualdade e a humildade passam a ser vistos como valores banais, de pessoas fracas e poucos inteligentes. Quando se trata de conflitos de crença e ideologia, esse fator humano de arrogância e prepotência assume proporções mais violentas, mesmo quando disfarçadas pela polidez institucional, pelas aparências jurídicas, pela hipocrisia das relações artificiais.
 
Temos visto isso acontecer em todas o setores sociais, mas nas agremiações religiosas elas acontecem com mais freqüência e são mais camufladas com um forte teor de hipocrisia. Nesses ambientes de orações, meditações, vibrações, peregrinações, curas, oferendas, cantorias e celebrações, a camuflagem torna-se mais sutil e mais eficiente no jogo de aparências. Aí a mente é capaz de realizar verdadeiros prodígios de dissimulação: sorrir e odiar; orar com a voz mansa e emotiva e, ao mesmo tempo, conspirar criminosamente para eliminar o adversário. Pode parecer chocante, mas é a mesma ginástica ideológica que faz o matador de aluguel rezar de joelhos para pedir perdão antes de cometer o ato insano.
 
Essa perversão da fé e da religiosidade só tem uma explicação: orgulho e egoísmo. Ninguém consegue abrir mão de posições e posturas, de pontos de vista ou de opiniões quando estão sob o efeito das aparências, da imagem artificial que possuem das coisas e de si mesmos. É uma doença existencial com fortes elementos de ordem emocional, como uma ferida infectada, cuja característica marcante é o hábito sistemático de fugir da realidade e de mentir para si próprio. Quando fingimos ou dissimulamos idéias e sentimentos, com a intenção de ocupar espaço ideológico ingressamos imediatamente num jogo perigoso, de difícil sustentação. Daí ser muito comum e constante o uso de expedientes ardilosos, geralmente incompatíveis com a ética religiosa ou filosófica dos grupos que freqüentamos.
 
Não é coincidência também que a desilusão pessoal e a decepção com as contradições humanas são a maior causa da deserção dos adeptos desses grupos. Desertamos na medida que caem os mitos, as aparências, as imagens distorcidas: mitos que nós mesmos criamos, aparências que deixamos nos iludir, imagens que construímos com distorções, segundo os nossos próprios interesses inconscientes e limites psicológicos.
 
Quando isso acontece, quase sempre colocamos a culpa nos outros, nos líderes, nas doutrinas, nos acontecimentos, sem jamais avaliar que o nosso ponto de vista é que sempre foi o verdadeiro responsável pela condução dos nossos sentimentos e atitudes.
 
Recentemente tivemos a oportunidade de ouvir as queixas de um militante bem desiludido com os espíritas, com os centros espíritas e com o Espiritismo. Bastante abatido com a derrota em uma disputa na qual, segundo ele, entrou de corpo e alma, em nenhum momento reconheceu o fato de ter se deixado iludir, mas atacou com muita propriedade todas as imperfeições das pessoas e das instituições envolvidas na sua triste história.
 
Nos lembramos dos textos de “Obras Póstumas” e da “Revista Espírita”, mas não tivemos coragem de recomendá-los naquele momento de mágoas e decepções. Um pouco desolados com essa história de poder e glória em uma instituição espírita, fomos nós mesmos nos consolar nas memórias de Kardec, repletas de experiências sobre os problemas da convivência humana. Ali podemos observar como é possível empreender esforços para superar tendências históricas, hábitos culturais e inclinações pessoais que perpetuam o fanatismo e a intolerância.
 
A experiência de Kardec prova que é possível ir além das definições, romper preconceitos seculares e avançar cada vez mais no terreno da liberdade de consciência. Definições não são apenas artifícios de linguagem, mas ferramentas precisas para identificar coisas, circunstâncias e paradigmas predominantes.
 
Mas é preciso ir além, quebrar paradigmas, ousar, como fizeram os demolidores de preconceitos em todas as épocas. Eram, é claro, pessoas de moral acima do normal e de comportamento diferenciado da média, mas todos tinham algo em comum: eram seres humanos e jamais se deixaram escravizar por idéias e crenças. Muito pelo contrário, atacaram suas próprias culturas nos pontos que consideravam frágeis e ilusórios.
 
Budha atacou o desejo e a sensualidade que contaminava a espiritualidade em seu tempo; Jesus posicionou-se estratégica e heroicamente contra a intolerância, o fanatismo e o comércio das coisas sagradas; Lao-tsé e Confúcio empreenderam suas inteligências contra a corrupção e o comodismo; Comênius e Pestalozzi viram na infância um terreno fértil para plantar as sementes da transformação do tempo futuro e não somente no cultivo das tradições do passado. Allan Kardec demoliu o materialismo e o sobrenatural, reconstruiu a fé e resgatou a religiosidade sem se deixar contaminar pela ingenuidade mística ou se impressionar com os “mistérios” ditos “ocultos”. Martim Luther King, seguindo os passos de Gandhi, desmontou a farsa que encobria em seu país o mito da liberdade e os direitos civis.
 
Seria de uma grande utilidade se nós, os espíritas, pudéssemos refletir sobre esse assunto e transpormos suas conclusões para os ambientes que freqüentamos e a ideologia que cultivamos como fonte de realização. Podemos avançar as definições e romper paradigmas. Como o Espiritismo não é religião - nesse sentido histórico sectário –, muito menos futebol, podemos discutir tranqüilamente essas delicadas questões ideológicas:
Como temos cultivado o conceito de verdade no Espiritismo?
Como temos lidado com o pensamento divergente?
Temos agido dentro da ética espírita quando atuamos politicamente em suas instituições?
Afinal, nossa fé tem conseguido encarar a razão face a face?
 
*Dalmo Duque dos Santos é mestre em Comunicação, bacharel em História e Pedagogia.
 
Fonte: Portal do Espírito - http://www.espirito.org.br/portal/artigos/dalmo/a-degeneracao.html

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

A degeneração do Espiritismo

Por Dalmo Duque dos Santos
Comparando a história   do Espiritismo com a do Cristianismo Primitivo, podemos tirar algumas conclusões importantes para a o futuro da nossa doutrina e o do seu movimento social.


O Cristianismo, cuja pureza doutrinária do Evangelho e simplicidade de organização funcional dos primeiros núcleos cristãos foi conquistando lenta e seguramente a sociedade de sua época, sofreu com o tempo um desgaste ideológico. Corrompeu-se por força dos interesses políticos, financeiros e institucionais.

Os novos adeptos e seus líderes, não conseguindo penetrar na essência do Evangelho, que é regeneração, ou seja, o mergulho doloroso no mundo interior e a reversão das atitudes exteriores, adaptaram o mesmo às suas conveniências psico-sociais, atacando suas idéias mais contundentes à moral animalizada, alimentando os mecanismos de defesa da mente, fazendo concessões às fraquezas dos adeptos e desviando-os para o comodismo dos disfarces rituais exteriores. Repressão de forças espirituais espontâneas e idéias consideradas ameaçadoras ao clero, como a mediunidade e a reencarnação; a falsificação de tradições e a adoção do sincretismo do costumes bárbaros, foram as principais estratégias dessa clericalização do cristianismo.

O resultado de tudo isso é bem conhecido: dois milênios de intolerâncias, violências, atraso espiritual, perpetuação das injustiças sociais, agravamento de compromissos com a lei de ação e reação e forte comprometimento da regeneração do nosso planeta.

Com o Espiritismo não está sendo muito diferente. Apesar das advertências dos Espíritos e do próprio Allan Kardec quanto aos períodos históricos e tendências do movimento, os espíritas insistem em cometer os mesmos erros do passado. Os mesmos erros porque provavelmente somos as mesmas almas que rejeitaram e desviaram o Cristianismo da sua vocação e agora posamos de puristas ortodoxos, inimigos ocultos do Espírito da Verdade.

Negligentes com a oração e a vigilância, cedemos constantemente aos tentáculos do poder e da vaidade. Desprezamos a toda hora a idéia do “amai-vos e instruí-vos”, entendendo-a egoisticamente, ora como fortalecimento intelectual competitivo, ora como o afrouxamento dos valores doutrinários.

Não conseguindo nos adaptar ao Espiritismo, compreendendo e vivenciando suas verdades, vamos aos poucos adaptando a doutrina aos nosso limites, corrompendo os textos da codificação, ignorando a experiência histórica de Allan Kardec e dos seus colaboradores, trazendo para os centros espíritas práticas dogmáticas das nossas preferências religiosas, hábitos políticos das agremiações que freqüentamos e mais comumente a interferência negativas dos nossos caprichos e vaidades pessoais.

Como os primeiros cristãos, também lutamos pelo crescimento de nossas instituições, deixando-nos seduzir pelo mundo exterior e imitando os grupos já pervertidos, construindo palácios arquitetônicos, cuja finalidade sempre foi causar impressão aos olhos e a falsa idéia de prestígio político; e dentro deles praticamos as mesmas façanhas da deslealdade, das rivalidades, das perseguições aos desafetos, da auto-afirmação e liderança autoritária, de crítica e boicote às idéias que não concordamos.

E, finalmente, cultivamos uma equívoca concepção de unificação, esperando ingenuamente que a nossas idéias e grupos sejam majoritários num Grande Órgão Dirigente do Espiritismo Mundial, do nosso imaginário, e muitas outras tolices e fantasias que nem vale a pena enumerar aqui.

E assim caminhamos, unidos em nossas displicências e divididos nas responsabilidades. Preferimos esquecer figuras exemplares que atuaram na Sociedade Espírita de Paris quando ignoramos nossa história sabiamente registrada na Revista Espírita. Deixamos de lado líderes agregadores – ainda que divergências normais e toleráveis existissem entre eles – para ouvir e nos deixar dominar por um disfarçado clero institucional, comando por vozes medíocres e ciumentas, figueiras estéreis, sofistas encantadores e improdutivos, enfim, velhas almas e velhas tendências, vinho azedo e frutas podres em nossos mais caros celeiros doutrinários.

Mas como evitar esse processo de corrupção e, em alguns casos notórios, de contaminação e má conduta? Como reverter a situação para reconduzir essas experiências para os rumos verdadeiramente espíritas? O que fazer com as más instituições, com os maus dirigentes, os maus médiuns, maus comunicadores, enfim os maus espíritas? Devemos identificá-los e expulsá-los dos nossos quadros? Devemos denunciá-los e discriminá-los como fazia a Inquisição com os acusados de heresia?

O que fazer com os livros que consideramos impuros ou inconvenientes ao movimento? devemos queimá-los em praça pública, censurá-los em nossas bibliotecas ou então deixar que a própria comunidade espírita pratique o livre arbítrio e aprenda a fazer escolhas corretas e adequadas às suas necessidades?

O Espiritismo foi certamente uma doutrina elaborada por Espíritos Superiores e isto nos deixa tranqüilos quanto ao seu futuro doutrinário. Mas o seu movimento vem sendo feito por seres humanos, espíritos ainda imaturos e inexperientes. Isso realmente tem nos deixado muito preocupados, pois sabemos que, hoje, os inimigos do Espiritismo estão entre os próprios espíritas.

Fonte: Portal do Espírito - http://www.espirito.org.br/portal/artigos/dalmo/a-degeneracao.html

domingo, 4 de dezembro de 2011

O TEMPO SEGUE EM FRENTE



Por Octávio Caúmo Serrano

Seria o tempo que passa ou nós que passamos pelo tempo? Lá se vai o primeiro ano da segunda década do terceiro milênio. E tudo continua como antes. Em meio ao Apocalipse, nós, os atores desta triste novela do final dos tempos, insistimos em continuar vivendo.


Há alternativa? Não, não há. Temos de viver porque a nossa vida não pertence a nós, mas ao Pai que nos criou. Se tentarmos abandonar o barco no meio da tormenta, teremos problemas futuros piores do que os atuais. Se quisermos nos matar, não conseguiremos porque somos imortais. Que fazer, então?


Só nos resta uma opção: seguir em frente, aproveitando a oportunidade e compreender que os males do mundo são produzidos pelos homens. Deus nos criou para a felicidade e se não a encontramos é porque a buscamos de maneira e em lugar errados. Já diz o poeta santista Vicente de Carvalho, em um de seus sonetos, “Velho Tema”, que “essa felicidade que supomos, árvore milagrosa que sonhamos, toda arreada de dourados pomos, existe, sim: mas nós não a alcançamos, porque está sempre apenas onde a pomos e nunca a pomos onde nós estamos”.


Falta ao homem descobrir que a felicidade só pode ser obtida quando produzida no interior do coração é nos labirintos da consciência. Inútil buscá-la do lado de fora, nas coisas do mundo porque elas podem nos trazer alegria efêmera, mas nunca a felicidade. O prazer que nos dão o carro novo, o diploma de doutor, a casa na praia ou a viagem ao exterior, são pequenos quando comparados à felicidade que o Plano Divino tem para nós. Já disse Jesus “vós sois deuses”, mas nós não entendemos o que Ele afirmou ou não acreditamos por sermos ainda crianças espirituais!


Queremos a paz no mundo e enquanto ela não vem também não conseguimos ter a nossa própria. Condicionamos nossa paz interior à paz coletiva e na ausência dela esquecemos que podemos ter a nossa, independente da paz do mundo.


Vivemos presos à aflição, medrosos e assustados. Sentimo-nos vítimas da corrupção, da poluição, do tráfico, da insegurança e do abandono diante das enfermidades. Isto impede que tenhamos serenidade, paciência e esperança, o que demonstra nossa pouca fé. Temos a impressão que o barco está à deriva em meio à procela e que o timoneiro perdeu o controle. Todavia quem dirige o barco é Deus e Ele nunca deixa o leme.
A Doutrina dos Espíritos diz-nos que somos espíritos imortais em provação e expiação num planeta inferior que está, como nós, progredindo também. Será brevemente um mundo de regeneração, habitado por espíritos um pouco melhores do que os atuais. E a seleção já está se processando.


Todos nós podemos nos qualificar a viver no novo mundo desde que construamos nossa própria história de vida. Ela se faz pelas obras que executamos e também pela aceitação da vida que temos atualmente. Sabedores de que nossa história não começou na Terra, nesta encarnação, entenderemos que muitos mistérios envolvem nossa caminhada espiritual. Se estamos vivendo mais uma experiência concedida pela misericórdia divina, tratemos de aproveitar a oportunidade para ser melhor do que já somos. Por isso devemos agradecer a Deus pelos testes porque é superando barreiras que crescemos como espíritos.


Muitas outras coisas tiram a nossa paz: a enfermidade, o parente difícil, a dificuldade financeira, o amigo ingrato. Observem que tudo isto são defeitos do mundo que é habitado por espíritos em aprendizado. Uns mais outros menos, somos todos alunos de uma escola primária em se tratando de graduação espiritual. Por isso não conseguimos administrar nossa mente que geralmente se liga às coisas inferiores. Um mínimo de contrariedade provoca total desequilíbrio, fazendo-nos errar contra os outros e contra nós mesmos. Habitualmente dizemos que alguém nos fez perder a paciência. Mas como podemos perder o que não temos? O verdadeiro paciente jamais perde a paciência. Somos, no máximo, controlados que nos esforçamos para ser polidos, educados, camuflados sob um verniz de superioridade que na verdade não mostra o que somos.


Para ter paz é preciso que a construamos individualmente. Para tanto é preciso vencer nossas inferioridades, numa luta titânica de nós contra nós próprios. O maior inimigo do homem mora dentro dele. Ninguém pode lhe fazer mal a não ser ele mesmo. Os desastres do mundo são experiências necessárias e somente encarando-os com fé e serenidade poderemos vencê-los.


O Espiritismo nos ensina que é preferível ser vítima a ser réu. Quando somos vítimas o erro é do outro e é ele que terá de responder pelo que fez. Quando somos nós o carrasco, o erro é nosso e nós é que teremos que prestar contas. Não é preferível ser vítima agora sem ter de carregar para a espiritualidade uma consciência manchada que poderá custar-nos séculos de escuridão e provações?


O tempo na Terra é um átimo quando comparado ao tempo da espiritualidade. Se lá séculos são segundos, imaginemos o que representam noventa ou cem anos de encarnação no corpo físico.

Vamos construir a nossa própria paz, esperando que possamos ser exemplos de fé para os que nos rodeiam. Entre as definições de paz no dicionário Aurélio, há uma que diz: “paz é a ausência de conflitos íntimos; tranquilidade de alma; sossego”. Só quando as partes forem boas é que o todo será bom. Não se pode esperar um planeta feliz se seus habitantes são pessoas desventuradas. Já diz o cancioneiro Nando Cordel que “a paz do mundo começa em mim; se eu tenho amor com certeza eu sou feliz!”


Fonte: O Blog dos Espíritas - http://oblogdosespiritas.blogspot.com/ - RIE - Revista Internacional de Espiritismo - Dezembro de 2011


 

A Bíblia e a fundamentação espírita

Por Ricardo Malta
O leigo geralmente questiona por qual motivo nós, espíritas, utilizamos determinados textos Bíblicos e, algumas vezes, rejeitamos outros. A primeira vista parece incoerência, mas isso não passa da aplicação do princípio da fé raciocinada.


Paulo de Tarso, o apóstolo dos Gentios, certa vez afirmou: "Examinai tudo e retendes o que for bom". Parece-nos que, mesmo naquele tempo, a fé raciocinada já encontrava suporte. Para o espírita não basta crer, é necessário saber. “A fé raciocinada, por se apoiar nos fatos e na lógica, nenhuma obscuridade deixa. A criatura então crê, porque tem certeza, e ninguém tem certeza senão porque compreendeu. Eis por que não se dobra. Fé inabalável só o é a que pode encarar de frente a razão, em todas as épocas da Humanidade.” (ESE, Cap.19, Item 7)


“Aprendei a discernir,” – exorta Leon Denis – “a separar as coisas imaginárias das reais. Abstende-vos de combater a Ciência e renegar a razão, porque a razão é Deus dentro de nós, e o seu santuário é a nossa consciência.” (Cristianismo e Espiritismo)


O grande problema é que as pessoas enxergam a Bíblia como um todo unitário. Não conseguem diferenciar o que é de origem humana e, portanto, mutável, daquilo que é origem divina e imutável. “A palavra Bíblia vem do grego (biblia=plural de biblion ou biblios= livro), portanto é um conjunto de livros”, escritos por diversos autores, muitos deles desconhecidos. Ressaltamos, por exemplo, que a Bíblia Protestante contém 66 livros, a Católica possui 73 e a Hebraica apenas 24. Onde estaria, neste caso, a tão proclamada “palavra de Deus” (expressão de origem judaica)?


Nem iremos adentrar na questão das adulterações, mas destacamos e indicamos o estudo da obra “Analisando as traduções Bíblicas” de autoria do Dr. Severino Celestino. As revelações são surpreendentes. “È um trabalho original, de fôlego, com muita força analítica”, diz o prefaciador.


Reconhecemos nos textos Bíblicos a existência de ensinamentos sublimes que, provavelmente, têm suas origens inspiradoras nas esferas mais elevadas da espiritualidade, por outro lado, há também aberrações e barbaridades que nos fazem pensar na inferioridade moral e espiritual dos seus autores e co-autores (Espíritos malévolos).


Vejamos, por exemplo, o quadro de atrocidades e bobagens Bíblicas que nos traz Richard Simmoneti: “Os filhos devem pagar pelos pecados dos pais (Êxodo, 20:5); Quem trabalhar no sábado será morto (Êxodo, 35:2); Animais e aves serão sacrificados, sangue espargido sobre altares, atendendo a variados objetivos (Levítico, caps. 1 a7); Quando morrer um homem sem deixar descendentes, seu irmão deve casar-se com a viúva (Deuteronômio, 25:5); Os filhos desobedientes e rebeldes, que não ouçam os pais e se comprometam em vícios, serão apedrejados até a morte (Deuteronômio 21: 18-21); È proibido comer carne de porco, lebre ou coelho (Levítico, 11: 5-7); O homossexualismo será punido com morte (Levítico, 20:13); A zoofilia sexual será punida com morte (Levítico, 20:15-16); Deficientes físicos estão proibidos de aproximar-se do altar do culto, para não profaná-lo com seu defeito (Levítico, 21: 17-23); O hanseniano deve ser segregado da vida social, vivendo no isolamento (Levítico, Cap. 13); Os adúlteros serão apedrejados até a morte (Deuteronômio, 22:22); A blasfêmia contra Deus será punida com o apedrejamento, até a morte (Levítico, 24: 16-16).”


Afirmar que tudo isso é a “palavra de Deus” seria, no mínimo, uma ofensa para com a divindade. Portanto, não consideramos a Bíblia por esse foco dogmático, mas encontraremos nela, assim como em inúmeros outros livros ditos "sagrados", uma série de fatos e postulados espíritas. Ora, sendo a moral divina universal e os fatos espíritas (reencarnação e fenomenologia mediúnica) fenômenos naturais, nada mais lógico do que encontrarmos o registro desses ensinamentos e eventos em todos as épocas da humanidade, em diversos livros “sagrados”, entre os filósofos da antiguidade, nas mais diversas culturas e tradições.


A fundamentação espírita encontra suas raízes no que há de mais lógico, racional, pautada no bom senso e, principalmente, na universalidade do ensino dos Espíritos. Não precisaríamos buscar o apoio Bíblico para confirmar aquilo que é um fato, mas como dizer que Saul não se comunicou com o Espírito Samuel (I Samuel 28:7 a 17) e que Jesus não conversou com os Espíritos Elias e Moises (Mateus 17:3)? Como defender que João Batista não era a reencarnação de Elias (Mateus 11:14; 17: 10-13)? Enfim, como negar tantos fatos espíritas que saltam aos olhos em diversas passagens Bíblicas (indicamos a leitura do artigo “A Bíblia: um Livro de origem mediúnica” de autoria de Francisco Amado)? Não foram os espíritas que inventaram tudo isso. Está tudo lá na Bíblia, basta ter olhos para vê. O fanático religioso não consegue entender isso, “
porque eles, vendo, não vêem; e, ouvindo, não ouvem nem compreendem.” (Mateus 13:13)


Assim, fazemos coro às palavras de José Reis Chaves: “respeitamos a Bíblia, mas com moderação, com uma visão racional dela, pois ela é tal como uma rosa que tem pétalas e perfume, mas tem também espinhos, obviamente humanos, e não divinos.” (Revista Espiritismo e Ciência, nº 64)