sábado, 31 de março de 2012

O Corpo Fluídico de Jesus


Maria das Graças Cabral

 
Interessante a palestra de Sérgio Aleixo, que fala sobre o corpo físico de Jesus e o seu desaparecimento do túmulo, segundo relatam os evangelhos cristãos - e como Kardec trata racionalmente do tema. Importante a abordagem do assunto, pois Roustaing na condição de grande opositor do Codificador da Doutrina Espírita, defende a tese de que Jesus teria um corpo fluídico diferenciado dos humanos encarnados no planeta Terra. Tese esta, defendida e acatada por inúmeros espíritas.

No que concerne ao confronto de Roustaing aos preceitos espíritas codificados pelo Mestre Lionês, faz-se por oportuno ressaltar, que todo o trabalho de sistematização dos Ensinamentos Espíritas, feito por Kardec, foi de forma efetiva supervisionado  e aprovado pelo Espírito da Verdade, que não deixava passar nada que não estivesse de pleno acordo com os propósitos e objetivos da Espiritualidade Superior.

Entretanto, o que mais nos espanta e preocupa, é que a Federação Espírita Brasileira, que se auto intitula "A Casa Mater" do Espiritismo, acolhe e defende as obras de Roustaing, reconhecidamente um dos grandes opositores de Kardec, desde de que este ainda estava encarnado!

Daí vem a indagação: - Como esta Federação pode ser considerada "Casa Mater" do Espiritismo? De que Espiritismo ela se considera representante?!

Na realidade, precisamos na condição de Espíritas, estar cada vez mais atentos às obras "validadas" pela FEB., pois são inúmeras as que deturpam e corrompem os preceitos doutrinários positivados nas Obras Fundamentais da  Doutrina dos Espíritos, além de ser a maior "exportadora" de tais obras para o mundo afora! 

Observemos que, como assevera Sérgio Aleixo  até mesmo as traduções das obras fundamentais, apresentam deturpações preocupantes, valendo conferir o texto publicado neste Blog, intitulado "Tradutor, Traidor", de autoria do referido palestrante, e que assim mesmo vêm sendo publicadas sem nenhum critério de avaliação e/ou esclarecimento por parte da FEB.


Portanto, precisamos urgentemente mais e mais estudar Kardec, preocupados com a "fonte", e com o "tradutor", para que possamos identificar e denunciar as deturpações que destroem os princípios Espíritas, para que assim, as próximas gerações possam conhecer com fidelidade os ensinamentos libertadores e consoladores trazidos pelos Espíritos Superiores da Codificação Espírita!   


Tradutor, Traidor

Por Sérgio Aleixo


 

Fiel à sua condição estatutária de integrante da “escola” rustenista e demonstrando concordar com o opúsculo Os Quatro Evangelhos de J.-B. Roustaing — Resposta a seus Críticos e a seus Adversários (1883), a Federação Espírita Brasileira ousou contrariar o Codificador neste ponto de A Gênese: cap. XV, n. 66. Fez registrar em nota de rodapé à tradução de G. Ribeiro os seguintes dizeres, ainda dados a público em novas edições: (1) Nota da Editora: Diante das comunicações e dos fenômenos surgidos após a partida de Kardec, concluiu-se que não houve realmente vão simulacro, como igualmente não houve simulacro de Jesus, após a sua morte, ao pronunciar as palavras que foram registradas por Lucas (24:39): — “Sou eu mesmo, apalpai-me e vede, porque um Espírito não tem carne nem osso, como vedes que eu tenho.”


Os inimigos de Kardec sempre insistem em que logo após a sua morte algo de revolucionário apareceu em termos de fenômenos e de comunicações mediúnicas. Todavia, para qualquer estudioso da codificação kardeciana e, sobretudo, do vasto acervo enfeixado nos tomos da Revista Espírita, isto não é uma verdade absoluta.


A F.E.B. não hesitou em usar o seu parque editorial para contestar o pensamento de Kardec, e sucessivas diretorias hão dado aval a este acinte, pois, como já disse, a contestação há sido reeditada. O texto consignado em Lucas 24:39 não há de ser fiel. Em nada se assemelha aos demais relatos da ressurreição de Jesus. Mesmo assim, a F.E.B. o ressalta para repreender Kardec. Trata-se da antilógica rustenista de que as Escrituras seriam infalíveis. Sob este império, os adeptos de Roustaing rejeitaram também, ainda no século 19, a tese dos espíritas para explicar o desaparecimento do corpo físico de Jesus no sepulcro: O corpo de Jesus era um corpo terrestre qual os nossos e, como tal, produzido pelo concurso dos dois sexos; os anjos ou espíritos superiores, tornando-o invisível, podiam subtraí-lo e o subtraíram do sepulcro no momento preciso em que, despedaçados os selos que lhe tinham sido apostos, a pedra que o fechava fora atirada para o lado.
(1) 


O fato, entretanto, é que esta hipótese decorre do verdadeiro n. 67 do cap. XV de A Gênese. Kardec, ali, falou de fenômenos de transporte e de invisibilidade. E quando recomenda, já em 1869, a leitura deste seu livro para contra-argumentar a tese do corpo fluídico de Jesus, diz claramente no seu Catálogo Racional das Obras para se Fundar uma Biblioteca Espírita: “Sobre essa teoria, vide A Gênese segundo o Espiritismo, capítulo XV, ns. 64 a 68”.  (2)


Kardec menciona, portanto, para o capítulo XV de sua obra, a existência dos números 64 a 68. Por que a quase totalidade das traduções registra apenas os ns. 64 a 67? Curiosamente, a nova edição febiana de A Gênese,(3) assinada pelo mesmo tradutor do Catálogo supracitado, também só inclui os ns. 64 a 67.


Em 1884, na Revista Espiritismo, de Gabriel Delanne, o biógrafo Henri Sausse já lançara questionamentos acerca da não coincidência de duas edições que cotejara de A Gênese. Leymarie disse apenas que o fato se verificou por Sausse haver-se baseado numa edição anterior à definitiva.
(4) O incontestável, no exemplo aqui tomado, é que o verdadeiro n. 67 foi retirado e o n. 68, renumerado. Por isso, não creio também na explicação do antigo secretário de Kardec, A. Desliens, (5) que atribui ao próprio mestre lionês, já quinze anos após a morte deste, essas alterações cirúrgicas em A Gênese.


Como quer que haja sido, isto demonstra que, se não foi G. Ribeiro o mentor de tais modificações, outro decerto as fez bem antes dele. Consta que a 4.ª edição de A Gênese teve sua distribuição impedida pela morte repentina de Kardec em 31 de março, acabando a cargo da Livraria Espírita e das Ciências Psicológicas. Esta edição, revisada, corrigida e aumentada pelo autor, é que contém o texto definitivo. Impressa nas oficinas gráficas de Rouge Fréres e Cie., foi entregue em abril de 1869. Segundo F. Barrera, “uns meses mais tarde sai à venda, sob a responsabilidade de M. A. Desliens, diretor da Revista Espírita”, de comum acordo com “M. Bittard, gerente da livraria, e M. Tailleur”. (6) 

Desliens, em 1885, estava pressionado, decerto, não só por H. Sausse (1884), mas também pela ambiência de francos dissabores causados pelo cisma rustenista, declarado abertamente em 1883, na obra Os Quatro Evangelhos de J.-B. Roustaing — Resposta a seus Críticos e a seus Adversários, e que abrigava as mais ferinas ofensas e desleais críticas ao fundador da filosofia espírita, a quem nunca Roustaing se dirigiu senão por escrito.


O próprio Desliens confessa ao final de seu texto que, ali, quer “eliminar da família espírita uma causa de desunião”. (7) 


Só não nos explica por que as alterações identificadas em A Gênese têm tanto em comum com o rustenismo. No que concerne ao exemplo aqui tomado, Kardec não poderia eliminar justamente a explicação a que se propôs sobre o desaparecimento do corpo de Jesus no túmulo, até porque o mestre a menciona como integrante de sua obra, ao indicar a leitura contra-argumentativa dos números 64 a 68 do cap. XV de A Gênese. F. Barrera, no sumário referente a este livro kardeciano, registra sem equívoco: “Desaparição do corpo de Jesus, 64-68”.(8)


Quanto à nova edição febiana desta obra (10 mil exemplares, 02/2009), por Evandro Noleto Bezerra, cujo nome estampa mesmo a primeira capa, simplesmente não se sabe que edição francesa lhe serviu de base. Nada se diz ali a este respeito. Também não registra, insisto, o verdadeiro n. 67 do cap. XV de A Gênese, no que só seguiu a cartilha de G. Ribeiro. Isto, porém, não é de admirar, pois E. Bezerra considera os trabalhos deste último “irrepreensíveis”, como diz na introdução da sua Revista Espírita. Por que então os corrigiu nisto que naquilo? Qual dos dois é mais irrepreensível?


A edição comemorativa dos 150 anos de O Livro dos Espíritos, aliás, no seu índice geral, consegue até relacionar a palavra “colônia”, inexistente na obra; remete, porém, o leitor aos ns. 234 a 236, que disto em absoluto não falam, e sim de mundos, sem vida física, servindo de habitação transitória a espíritos errantes. Intenta-se forçar a confirmação da existência, incerta para muitos, das “colônias espirituais”, como “Nosso Lar”, por exemplo.


O Espírito São Luís referiu-se a algo que encontra um análogo nas “colônias espirituais”. Reportou-se a “mundos intermediários”, que não se confundem com os “transitórios” aqui acima comentados, porque são, segundo o presidente espiritual da S.P.E.E., “viveiros da vida eterna”, de onde os espíritos vêm à Terra para progredirem. Por sinal, o tradutor febiano E. N. Bezerra preferiu registrar “centros de formação”, ainda que “pépinières” signifique literalmente “viveiros”. (9)


O mesmo esforço inglório se verifica no atinente à expressão “centros de força”, listada como referente ao n. 140 de O Livro dos Espíritos, onde Kardec só se reporta ao fluido vital repartido entre os órgãos físicos, havendo mais nos que são “centros ou focos de movimento” [centres ou foyers du mouvement]. Onde a locução “de força”? Ora! André Luiz, por duvidosa analogia aos chacras hindus, fala de “centros de força” no perispírito, mas isto absolutamente não corresponde ao assunto em tela.


Na Revista Espírita de março de 1868, Instruções dos Espíritos, a consoladora exortação que um Espírito pôs nos lábios espirituais de Jesus foi alterada de “Bem-aventurados os que conhecerem meu novo nome!” para “Bem-aventurados os que conhecerem meu nome de novo!” Sempre advoguei a tese de que esse “novo nome” de Jesus é “O Espírito de Verdade”. Terá ocorrido na tradução febiana algum erro material? O fato é que “mon nouveau nom” nunca será “meu nome de novo”.


Tradutor, traidor. Já era a antiga dita latina. Eis aqui abaixo, então, o verdadeiro n. 67 do cap. XV de A Gênese, desde sempre ausente das edições da F.E.B. e das demais que, em vez de traduções dos originais franceses, mais parecem ter oferecido ao rentável mercado meras versões das publicações febianas, exceção feita a esta honrosa citação: 67. A que se reduziu o corpo carnal? Este é um problema cuja solução não se pode deduzir, até nova ordem, exceto por hipóteses, pela falta de elementos suficientes para firmar uma convicção. Essa solução, aliás, é de uma importância secundária e não acrescentaria nada aos méritos do Cristo, nem aos fatos que atestam, de uma maneira bem peremptória, sua superioridade e sua missão divina. Não pode, pois, haver mais que opiniões pessoais sobre a forma como esse desaparecimento se realizou, opiniões que só teriam valor se fossem sancionadas por uma lógica rigorosa, e pelo ensino geral dos espíritos; ora, até o presente, nenhuma das que foram formuladas recebeu a sanção desse duplo controle. Se os espíritos ainda não resolveram a questão pela unanimidade dos seus ensinamentos, é porque certamente ainda não chegou o momento de fazê-lo, ou porque ainda faltam conhecimentos com a ajuda dos quais se poderá resolvê-la pessoalmente. Entretanto, se a hipótese de um roubo clandestino for afastada, poder-se-ia encontrar, por analogia, uma explicação provável na teoria do duplo fenômeno dos transportes e da invisibilidade. (O Livro dos Médiuns, caps. IV e V). (10)


Este número de A Gênese consta igualmente de sua primeira edição, como pode ser verificado em fotocópia do original, disponível na internet. (11)


Nada disto, porém, inocenta Guillon Ribeiro, porquanto ousou, sim, em função do rustenismo, suas próprias alterações à obra de Kardec.


1 - Registrou, em A Gênese, I, 56, que os ensinos espíritas “completam as noções vagas que SE tinham da alma”, pois, como rustenista, era bibliólatra, e lhe pareceu errada e injusta a expressão original de Kardec, que não tinha os mesmos pruridos, afinal, as noções dadas por Jesus sobre a alma foram vagas mesmo, em função de não poderem ser de outra forma. O fato é que “complètent les notions vagues qu'IL avait données de l'âme” jamais poderá ser traduzido de forma indeterminada. [“ELE”, e não “SE”.]


2 - Chamou Jesus de “Senhor” e “Salvador” pelo mesmo motivo acima aduzido, distorcendo a postura kardeciana nos textos de A Gênese XV, 61; em XVII, 37, e no n. 671 de O Livro dos Espíritos. Eu não confiaria tanto num tradutor que registra “voyaient JÉSUS et le touchaient” como “viam o SENHOR e o tocavam”... “le sens de SES paroles” como “o sentido das palavras DO SENHOR”... ou “SA doctrine” como “doutrina DO SALVADOR”...  [“Jesus”, e não “Senhor”; “suas palavras”, e não “as palavras do Senhor”; “sua doutrina”, e não “a doutrina do Salvador”.]


3 - Acrescentou a inexistente palavra “moral” à expressão “absoluta perfeição”, no item VI da Introdução de O Livro dos Espíritos, porquanto o rustenismo assegura que só a absoluta perfeição moral pode ser atingida, não ocorrendo o mesmo, segundo ele, com a perfeição intelectual. G. Ribeiro quis, portanto, corrigir Kardec. A nova tradução de Evandro Bezerra acertou isso, apesar de este dizer, na Introdução da Revista Espírita, que o trabalho de Guillon é irrepreensível.  [la perfection absolue: “a perfeição absoluta”, e não “a absoluta perfeição MORAL”.]


4 - Registrou que o arcanjo começou “por ser átomo”, e não “pelo átomo”, no n. 540 de O Livro dos Espíritos, para acomodar o texto à noção monista substancial da queda angélica, de P. Ubaldi, do qual G. Ribeiro foi tradutor e adepto entusiasta. Ora! Se digo que o arcanjo começou PELO átomo, sou dualista. O arcanjo, princípio inteligente, é espírito, e o átomo é matéria. Se digo que o arcanjo começou por SER átomo, sou monista substancialista, e creio que o arcanjo, o princípio inteligente, congelou-se no evento da queda, e passou a ser o próprio átomo, a própria matéria mais não seria, assim, que o espírito condensado pela queda. Alguns ubaldistas modernos já citam essa tradução tendenciosa de Guillon para fundamentar o ubaldismo e suas teses como compatíveis com o Espiritismo. De mais a mais, por que traduzir “par l´atome” como “por ser átomo”? [“começou PELO átomo”, e não “começou por SER átomo”.]


5 - Em O Evang. Seg. o Espiritismo, XX, 5, a informação precisa de que “CHEGASTES ao tempo” se tornou em “APROXIMA-SE o tempo” porque o rustenismo defende o “final de ciclo” por catástrofes anunciadoras da volta de Cristo. Como “nada” assim tinha ocorrido, Ribeiro quis corrigir agora o Espírito de Verdade. “Vous touchez au temps” jamais poderá ser traduzido por “Aproxima-se o tempo”. [“atingistes, ou chegastes ao tempo”, e não “Aproxima-se o tempo”.]


Mas não falemos apenas dos livros com chancela da “Casa-Máter”. Também houve modificações na tradução adotada pelo I.D.E. para um texto da Revista Espírita de abril de 1869, no qual Kardec, na verdade, diz que “a alma humana, emanação divina, traz em si o germe ou princípio do bem [...]”.
(12) Contudo, o Sr. Salvador Gentile se arrogou a condição de mais douto em matéria de Espiritismo do que o Codificador da doutrina e acresceu ao original três palavras, transformando a sábia instrução do mestre nesta aberração filosófica: “A alma humana, emanação divina, leva nela o germe ou princípio do bem e do mal [...]”. (Grifo meu.)


Eis o francês: “L'âme humaine, émanation divine, porte en elle le germe ou principe du bien qui est son but final”. Ante o pensamento completo de Kardec, não há dúvidas: “A alma humana, emanação divina, traz em si o germe ou princípio do bem, que é o seu objetivo final”. Como poderia o mal ser objetivo final da alma, sendo esta proveniente de Deus?


De tudo isto, resta o aparente bem de os originais franceses se encontrarem disponíveis em meios de acesso digital pela internet a fora e, pasmem, a F.E.B. e o I.D.E. contribuíram para tanto. Mas estejamos atentos, pois esses “originais” não constituem imagens das edições francesas, e sim digitalizações, o que pode ensejar erro material ou até manipulação. (13)
(1) Os Quatro Evangelhos. Prefácio. F.E.B., 1920, p. 66.

(2) O Espiritismo na sua expressão mais simples e outros opúsculos de Kardec. F.E.B., Evandro Noleto Bezerra.

(3) 10 mil exemplares, 02/2009.

(4) Cf. BARRERA, F. Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec. São Paulo: U.S.E./Madras, 2003, p. 81.

(5) Revista Espírita, 1885, 15 de março, n.º 6, ano 28.º, pp. 169-171.

(6) Cf. Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec. São Paulo: U.S.E./Madras, 2003, p. 80.

(7) Revista Espírita, 1885, 15 de março, n.º 6, ano 28.º, p. 171.

(8) Resumo Analítico das Obras de Allan Kardec. São Paulo: U.S.E./Madras, 2003, p. 92.

(9) Cf. Revista Espírita. Julho/1862. Hereditariedade Moral. ALEIXO. Ensaios da Hora Extrema. Sobre André Luiz. 2.1 Aspectos Terrenais do Além-Túmulo. http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/2010_09_02_archive.html.)

(10) Rio de Janeiro, Léon Denis - Gráfica e Editora, 2.ª ed., março de 2008, 1.ª tiragem, do 1.º ao 3.º milheiro. Do original francês: LA GENÈSE. Les Miracles et Les Prédictions Selon Le Spiritisme. Quatrième Édition, 1868.

(11) http://books.google.com/books?id=ehc-AAAAcAAJ&dq=kardec+miracles+et+les+Productions&lr=&hl=pt-BR&source=gbs_navlinks_s

(12) EDICEL. Vol. XII. p. 102-103. Trad.: Júlio Abreu Filho.

(13) Meus cumprimentos, aqui formalmente consignados, aos bons amigos Caio Cardinot, Lair Amaro Faria, Rodrigo Luz, Tiago de Lima Castro, Luciano Ferreira e Sílvia R. O. por valiosas contribuições ao corpo de informes deste capítulo

domingo, 25 de março de 2012

Erraticidade e fantasias espirituais


Por Iso Jorge Teixeira


Natureza da vida depois da morte
O Espiritismo é uma Doutrina consoladora por excelência, ele demonstra por fatos patentes a imortalidade da alma, a sua individualidade após a morte e a necessidade de reencarnação para o aperfeiçoamento, pois somos perfectíveis. Todos esses princípios estão resumidos nas questões 149, 150, 152, 166, 166-a, 166-b, 166-c e 223 de O Livro dos Espíritos de ALLAN KARDEC.


DESTINO DAS ALMAS DEPOIS DA MORTE.
Que acontece com a alma após a morte? A dos bons irão para o céu e a dos maus para o inferno? Haveria um purgatório, um lugar determinado para a ascensão ao céu ou como preparativo para a reencarnação daquelas almas necessitadas de purificação?...


Essas perguntas, exceto a primeira, seriam respondidas com um sim pela maioria dos religiosos brasileiros... Inclusive DANTE ALIGHIERI em sua A Divina Comédia, descreve minuciosamente INFERNO, PURGATÓRIO e CÉU, de maneira genial, embora com os ensinamentos e os conhecimentos "científicos" e míticos medievais e o não menos genial GUSTAVO DORÉ ilustrou magistralmente tal obra, a bico-de-pena.


Curiosamente, alguns confrades sincretizam tais conceitos de céu, inferno e purgatório e admitem coisas semelhantes àquelas descritas n' A Divina Comédia – do obscurantismo medieval –dizendo que após a morte seremos encaminhados para um "Pronto - Socorro Espiritual" e daí, para "colônias espirituais". No entanto, não é isso que está explícito e implícito na Doutrina dos Espíritos; por isso, julgamos importante tratar aqui da questão básica relativa à erraticidade e dos Espíritos errantes...


Que seremos ao desencarnarmos?
Estamos encarnados na Terra para provas e expiações, por isso somos, na esmagadora maioria, Espíritos inferiores. Ao desencarnarmos seremos, na quase totalidade, Espíritos errantes e isso está bem claro na resposta à questão 224 de O Livro dos Espíritos de ALLAN KARDEC, ou seja, nos intervalos da encarnações a alma é um "Espírito errante, que aspira a um novo destino e o espera".


A erraticidade não é um sinal de inferioridade entre os Espíritos, pois estes ali existem em todos os graus (cf. resposta à questão 225, op.cit.), mas somente os Espíritos Puros não são errantes, pois seu estado é definitivo (cf. resposta à questão 226, op. cit.).


Enfim, Espíritos errantes são aqueles em trânsito, que esperam uma oportunidade de reencarnação em nosso planeta ou em outro... Embora possamos evoluir no estado errante – através do estudo do nosso passado e observando os lugares que percorrermos, ouvindo os homens esclarecidos e captando os conselhos dos espíritos mais elevados (cf. resposta à questão 227, op. cit.) –, é através da existência corpórea que pomos em prática as idéias adquiridas na erraticidade (resposta à questão 230 'in fine').


Ora, há uma série de livros mediúnicos em que aparecem Espíritos, com falsa modéstia indisfarçável, que se dizem "imperfeitos" e que estariam "ajudando os irmãozinhos encarnados", durante séculos na erraticidade. Como um deles, num Centro em que freqüentamos, que dizia ser o "pai Joaquim", que – após uma troca de idéias, preparatória, para uma sessão mediúnica –, dirigiu-se diretamente a nós, dizendo: –– Dr., o Sr. tem preconceito contra os pretos - velhos? Ao que respondemos, então: –– É por não ter preconceito que não entendo porque o Sr. se intitula "pai Joaquim"!


Em seguida, ele fez uma longa explanação, aliás repetida em muitos Centros, de que a encarnação preferida dele foi a de um escravo, por isso se intitulava assim. E finalmente disse: –– Estou aqui neste plano há mais de 300 anos, tenho muitas imperfeições, mas procuro ajudar os irmãozinhos encarnados. Retrucamos, então: –– Se está há tanto tempo aí, e com imperfeições, por que não reencarna?...


A seguir, ele (não sei se o Espírito ou o médium) mostrou-se desconcertado, hesitante, sem graça; tropeçou nas palavras e não trouxe nenhum ensinamento novo, somente frases – feitas... Ou seja, determinados livros mediúnicos estão afastando cada vez mais as pessoas da Doutrina dos Espíritos, pois algumas excrescências doutrinárias são tidas como verdadeira Doutrina...


As chamadas "colônias espirituais" são de existência questionável
Há uma grande falha em nosso movimento espírita ao admitir que fiquemos, quase enclausurados em "colônias espirituais", a receber conselhos de Espíritos, como se aí estivéssemos encarnados, como naquelas imagens de DORÉ sobre a Divina Comédia de DANTE... Até um tal "vale dos suicidas" é creditado como verdadeira Doutrina dos Espíritos!... Contudo, nas obras de KARDEC não há a menor referência nem às colônias espirituais nem ao vale dos suicidas. Seria uma omissão imperdoável da Espiritualidade Superior!


Acreditamos em que, ao desencarnarmos, a nova vida é eminentemente espiritual, nada de mundos especiais, "cópias aperfeiçoadas dos objetos da Terra", como dizem alguns confrades. O mundo da erraticidade é um mundo de reflexão em que nos preparamos para uma nova encarnação, mas essa preparação não tem nada de material.


Alguns argumentam que aqueles Espíritos mais terra-a-terra não conseguiriam viver sem a matéria !!! Ora, se não conseguirem viver sem a matéria, ao desencarnarem não sairão daqui do orbe terrestre, é o que se infere do início da resposta à questão 232 de O Livro dos Espíritos, isto é: "(...) Quando o Espírito deixou o corpo ainda não está completamente desligado da matéria e PERTENCE ao mundo em que viveu ou um mundo do mesmo grau(...)"– o destaque é nosso.


Espíritos superiores não podem reencarnar-se?
Nunca devemos esquecer-nos de que estamos rodeados de espíritos desencarnados, errantes, e são eles que nos dão boas ou más inspirações. Embora aqui na Terra predominem os maus espíritos, temos também Espíritos Superiores, em menor número, é o caso dos Espíritos – Guias de cada um de nós...


A propósito, é um sofisma afirmar-se que um Espírito Superior teria dificuldade de vir à Terra e seria impossível, em determinado caso, a sua reencarnação terrena; pois, argumentam, o seu fluido é muito diáfano para suportar os fluidos terrenos. Ora, o perispírito é extraído do planeta em que o indivíduo está encarnado (cf. questão 94, op. cit.) ou situado; obviamente, há variações individuais, mas a sua constituição é sempre a mesma para cada orbe.


A Doutrina dos Espíritos é bem clara neste aspecto, ela nos diz em relação aos Espíritos Superiores, os de segunda ordem: "Quando, por exceção, se encarnam na Terra, é para cumprir uma missão de progresso e, então, nos oferece o tipo de perfeição a que a humanidade pode aspirar neste mundo."(cf. item 111, 'in fine', de O Livro dos Espíritos). Um exemplo maravilhoso deste caso foi a encarnação de JESUS (cf. questão 625 , op. cit.) e a este respeito disse KARDEC: "Jesus é para o homem o tipo de perfeição moral a que pode aspirar a humanidade na Terra(...)" (cf. Comentário ab initio à questão 625, op. cit.).


Sabemos que o assunto é polêmico em relação a JESUS, pois alguns julgam-no um Espírito Puro, de primeira ordem e, por isso, não mais sujeito à encarnação. Mesmo admitindo que JESUS seja um Espírito Puro, qual a impossibilidade de sua encarnação?... Em nosso modo de entender não há nenhuma impossibilidade, tanto assim que ele reencarnou de fato e há provas disso. Mas não entraremos nesta discussão, pois não é o escopo deste estudo.


Enfim, na erraticidade não existe céu, inferno nem purgatório, em lugares determinados; eles existem sim, na consciência individual. Muitas vezes esses Espíritos atraem-se por sintonia, mas, como Espíritos não são capazes de formar quadrilhas, como do Comando Vermelho, Terceiro Comando, aqui da Terra. São espíritos cujo "inferno" consiste – quando renitentes no mal –, em não poderem por em prática os seus maus pendores e isto está bem claro na resposta à questão 970, 'in fine', de O Livro dos Espíritos: "Desejam todos os gozos e não podem satisfazê-los. É isso que os tortura".


Muitos confrades temem os obsessores numa reunião mediúnica, alegando até que alguns são chefes de falanges infernais!... Mais importante que doutrinar o obsessor (o que é mais fácil) é levar o obsidiado a desprender-se da sintonia que o liga ao seu algoz, pois afinal de contas ambos são algozes - vítimas.


EPÍLOGO
O Céu, o Inferno, o Purgatório, as Colônias espirituais, são fantasias espirituais sem nenhuma sustentação científico – doutrinária, são elucubrações místicas de Espíritos ainda apegados à matéria e de algumas pessoas simplórias que não conseguem conceber o mundo espiritual sem materialidade.


Ao desencarnarmos na Terra, um planeta inferior, por melhores que sejamos não atingiremos , imediatamente, a condição de Espíritos Puros e por mais obstinados que sejamos no mal, não ficaremos eternamente nessa condição de "legionários infernais", pois a Providência Divina nos dá o livre-arbítrio, propiciando-nos o arrependimento. A Lei Divina é Misericordiosa...


 

Fonte: http://www.espirito.org.br/portal/artigos/iso-jorge/erraticidade.html

A habilidade e a competência espiritual


Por Dalmo Duque dos Santos
 

Estamos em guerra, não há dúvida (...) Refiro-me à guerra cotidiana, essa que pelejamos mal começa o dia. Guerra não declarada, não percebida pela maioria – mas guerra de fato (...) É a guerra do leite, da carne, do pão, da manteiga, do emprego, do amigo, do inimigo, do lotação, do trem , do elevador. Batalhas tachistas, indeterminadas e sinuosas. Não obstante, duras.”- Ferreira Gullar – in “O Menino e o arco-íris”.


O exercício moral está para o espírito assim como o exercício físico está para o corpo. O exercício fortalece o corpo e dá a ele maior resistência ao cansaço e esgotamento gerados pelos esforços desgastantes. Já o exercício moral fortalece o espírito, dando ao mesmo maior resistência ao desânimo,à desesperança e desencantos causados tanto pelas decepções e fracassos corriqueiros do dia-a-dia, quanto nas grandes provações da existência. O exercício físico transforma o corpo numa ferramenta precisa, que obedece com sincronia elétrica ao comando do cérebro. O exercício moral também transforma faculdades mentais do espírito em instrumentos de alta precisão psíquica, sob controle da força de vontade e da espontaneidade das atitudes nobres. O primeiro integra o ser nos ambientes externos, onde sofre e resiste aos obstáculos e limites biológicos dos planos objetivos da matéria. O segundo integra o ser no seu ambiente interno, onde ele também sofre e resiste aos obstáculos e adversidades psicológicas, no plano subjetivo.


É verdade antiga e notória que o aperfeiçoamento do corpo físico fortalece o espírito, assim como o aperfeiçoamento mental reflete no corpo físico, em forma de força e resistência. Mas, apesar dessa admirável reciprocidade, a questão que nos parece essencial é que o corpo físico é sempre efêmero, transitório, um meio instrumental, enquanto o espírito é imortal, eterno e de finalidade evolutiva permanente. Um morre, em espiral regressiva, e se transforma nos elementos da sua origem material. O outro sobrevive e também se transforma, em espiral progressiva, retornando ao convívio das suas origens espirituais.


Então, na experiência existencial, o produto dessa integração corpo-espírito é que o espírito sempre colhe os melhores resultados dos esforços despendidos durante as provas. O produto do esforço físico termina no túmulo, se dele o espírito não souber subtrair dividendos psicológicos positivos. Já o produto do esforço espiritual supera a escuridão do túmulo e da consciência e penetra nos ambientes cada vez mais iluminados e perfeitos do universo metafísico, onde o corpo físico e suas sensações grosseiras e exteriores não possuem nenhuma utilidade. Nesses planos sutis o ser realiza experiências através dos sentidos interiores – a emoção equilibrada, a intuição, a clarividência – e muitas outras percepções ainda desconhecidas nos mundos físicos.


As faculdades psíquicas de alta precisão e percepção, típicas das inteligências superiores, somente são desenvolvidas através das experiências morais probatórias, pelo despertamento consciencial. Nelas o espírito, por vontade própria ou por imposição expiatória, se envolve em situações críticas, de alto risco existencial, porém de alta potencialidade ressurreicional. Nessas circunstâncias, não bastam, portanto, o uso das inteligências lógicas, mas sim das capacidades psicológicas, de habilidades emocionais, geralmente adquiridas nos momentos de graves decisões e escolhas delicadas. Essa inteligência superior, além dos limites da razão e maturada pelo sofrimento em mundos inferiores, está sintetizada na lei do livre arbítrio e no aforismo “a semeadura é livre, mas a colheita é obrigatória”. Quem desconhece esse aspecto da educação metafísica não consegue compreender nem aceitar as provas, o sofrimento, a resignação e a humildade como poderosos fatores de inteligência e evolução espiritual. São esses os famosos tesouros que não enferrujam e que a traça não destrói. Este é o significado central da lição das bem-aventuranças ensinadas por todos os grandes educadores do espírito, iniciados na pedagogia cósmica e intuídos pela Consciência Universal.


Nas aparências exteriores, esses discursos crísticos e redentores – sempre vivenciais, exemplificados com atitudes – se mostram num primeiro momento, aos olhos comuns, como absurdos e contraditórios, pois que estão sendo observados somente pela ótica racional biológica. Mas, na perspectiva psicológica espiritual, essa aparência exterior se transmuta numa verdade na absurda e contraditória, revelando as nuances do percurso entre a imperfeição e a perfeição relativa da experiência existencial; e depois desse primeiro estágio, o novo percurso entre a perfeição relativa e a perfeição absoluta, busca constante e infindável do nosso destino espiritual, sempre de acordo com o nosso esforço e merecimento.

 

Fonte:http://www.espirito.org.br/portal/artigos/dalmo/a-habilidade-e-a-competencia.html


 

segunda-feira, 19 de março de 2012

VISÃO CORRETA DO ESPIRITISMO

Por Nazareno Tourinho
 
É inegável que o Espiritismo, essencialmente, como fato natural, como lei da vida, é de todos os tempos, encontra-se ainda que de modo difuso ou velado no alicerce de todas as crenças imortalistas, razão por que deve ser concebido não como uma seita particular e sim como elemento capaz de fortalecer as diversas religiões e abrir caminho para que elas se encontrem com as várias ciências, levando o homem a cumprir de maneira integral seu destino neste mundo, através do desenvolvimento tanto das potencialidades sentimentais quanto intelectivas. Assim sendo, nada impede que um católico, um teosofista, um amante da umbanda ou do esoterismo seja também espírita, em face do caráter universalista, cósmico, do Espiritismo, e quem quiser defender esta posição certamente descobrirá algumas frases de Allan Kardec para se apoiar. Contudo, somente será espírita em parte, e não de modo completo, pois é igualmente indiscutível que a verdadeira Doutrina Espírita está no ensino que os Espíritos deram (“O Livro dos Espíritos”, introdução, item XVII), e tal ensino é suficientemente claro quando estabelece os fundamentos de uma filosofia racional (idem, Prolegômenos) que incompatibiliza a teoria e prática do Espiritismo com tudo aquilo que tem sabor místico e é destituído de conteúdo lógico. Daí porque ninguém pode ser fiel à causa espírita se deixar de agir com bom senso.

Não basta tirarmos carteirinha no Clube da Pureza Doutrinária para servirmos com proficiência ao Espiritismo. Importa termos a sua visão correta e o bom senso indica que, para isso, o primeiro cuidado é não sermos radicais. Na história de todos os movimentos que hão surgido para alargar os horizontes mentais do ser humano sempre foram as concepções extremistas que estragaram tudo... São elas as fontes geradoras da ortodoxia e toda ortodoxia é fechadura dogmática trancando as janelas da livre análise, sem a qual torna-se impossível o progresso. Acontece que tanto há uma ortodoxia excessivamente conservadora, vocacionada para sustentar o tradicionalismo, quanto há uma ortodoxia exageradamente renovadora, que nada respeita, nem mesmo os valores fundamentais e imprescindíveis à identidade de um pensamento filosófico. A primeira produz por imobilismo a fé cega e a segunda vai tão longe que destrói qualquer fé, ainda que nascida do conhecimento bem construído. É lamentável, mas ainda não aprendemos uma grande lição da Antiguidade clássica: virtude está no meio...


Com o devido apreço aos que lutam por fixar o Espiritismo unicamente no plano científico ou exclusivamente na esfera religiosa, e ainda com a justa consideração àqueles que de sejam conservá-lo em sua feição primitiva ou modernizá-lo por completo, ousamos afirmar que a providência básica para termos uma ótica senão perfeita, pelo menos razoável, do Espiritismo, consiste em abandonarmos a presunção de sabedoria infusa e estudarmos com inteligente humildade a obra de Kardec, onde são limpidamente expostos os princípios inquestionáveis de nossa Doutrina e os pontos sobre o quais ela própria recomenda reflexão, pesquisa e debate para amadurecimento das idéias.


O mal é que, ao invés de examinarmos sem premeditação os livros do mestre lionês, recorremos a eles com o deliberado ânimo de catar argumentos esparsos alimentadores de nossas tendências ideológicas, sem admitir que, como as demais pessoas, estamos sujeitos a limitações perceptivas. Ora, como todos nos situamos em graus de evolução diferenciados, cada um vê o Espiritismo de uma forma distinta, resultando daí as insanáveis divergências opiniáticas Se sabemos administrá-las, cultivando-as com equilíbrio e moderação, ainda dá para convivermos em regime de trabalho solidariedade e tolerância, consoante a divisa, ou lema, da Codificação. Se caímos no radicalismo, terminamos sendo nocivos e não úteis ao ideal comum. É o que parece, salvo melhor juízo...

Fonte: In: http://oblogdosespiritas.blogspot.com/2012/03/visao-correta-do-espiritismo.htmlReformador nº 2000 de Novembro de 1995.
 

 

segunda-feira, 12 de março de 2012

DOUTRINA ESPÍRITA E RACISMO

Por Sérgio Aleixo


 
Uma causa com certos tipos de amigos não precisaria de inimigos. Reduzir o nível de oportunidade do Espiritismo ao seu aspecto moral é mal conhecê-lo. A isso já bem respondera Kardec em seu artigo O Que Ensina o Espiritismo, no qual prova que, fora do ensinamento puramente moral, os resultados do Espiritismo não são tão estéreis quanto pretendem alguns. (1)

O mestre lhes é, por isso, um incômodo permanente, razão pela qual sempre buscam levantar-lhe fraquezas, a fim de tentarem minar o poder que sua obra, e só ela, tem de conferir ao Espiritismo unidade consistente, afastando-o das propostas em que vale quase tudo se em nome do “amor”. O pretenso erro mais levianamente explorado é o suposto racismo de Kardec. Mas como poderia ser propriamente um racista alguém que escreveu, por exemplo, isto: [...] o Espiritismo, restituindo ao espírito o seu verdadeiro papel na criação, constatando a superioridade da inteligência sobre a matéria, faz que desapareçam, naturalmente, todas as distinções estabelecidas entre os homens, conforme as vantagens corporais e mundanas, sobre as quais só o orgulho fundou as castas e os estúpidos preconceitos de cor. (2)

[...] do estudo dos seres espirituais ressalta a prova de que esses seres são de natureza e de origem idênticas, que seu destino é o mesmo, que todos partem do mesmo ponto e tendem para o mesmo objetivo; que a vida corporal não passa de um incidente, uma das fases da vida do espírito, necessária ao seu adiantamento intelectual e moral; que em vista desse avanço o espírito pode sucessivamente revestir envoltórios diversos, nascer em posições diferentes, chega-se à consequência capital da igualdade de natureza e, a partir daí, à igualdade dos direitos sociais de todas as criaturas humanas e à abolição dos privilégios de raças. Eis o que ensina o Espiritismo. (3)

Porém, deve-se considerar que, no século 19, o conceito de raça tinha status de ciência, sendo a chamada branca, ou caucásia, tida e havida por superior. Naturalistas e até abolicionistas pensavam assim. O mais polêmico de todos os escritos pinçados por detratores de Kardec sequer foi por ele publicado, em que dizia a certa altura: O negro pode ser belo para o negro, como um gato é belo para um gato; mas, não é belo em sentido absoluto, porque seus traços grosseiros, seus lábios espessos acusam a materialidade dos instintos; podem exprimir as paixões violentas, mas não podem prestar-se a evidenciar os delicados matizes do sentimento, nem as modulações de um espírito fino. (4)

No entanto, omite-se o parágrafo seguinte, em que a pretensa condição superior daquela geração foi duramente relativizada pelo mestre espírita, dando prova de que se tratava, nele, não de preconceito ou discriminação, mas de uma inferência impregnada da opinião científica daquele momento, tipicamente eurocêntrico: Daí o podermos, sem fatuidade, creio, dizer-nos mais belos do que os negros e os hotentotes. Mas, também pode ser que, para as gerações futuras, melhoradas, sejamos o que são os hotentotes com relação a nós. E quem sabe se, quando encontrarem os nossos fósseis, elas não os tomarão pelos de alguma espécie de animais. (5)

Argumenta um irmão em Espiritismo que o erro foi Kardec ter usado um exemplo contemporâneo. Se escrevesse “homens de neanderthal” em vez de “negros e hotentotes”, nada se diria. Concordo. Ou será que o trabalho dos espíritos não aprimora os instrumentos de que se servem ao longo de milênios? Isso, claro, não tem valor pontual. Uma pessoa “feia” não é dona, a priori, de um espírito involuído, nem uma pessoa “bonita” é a encarnação de um espírito necessariamente avançado. Kardec defendia, antes de tudo, que a evolução dos espíritos opera a evolução dos corpos; ou serão mesmo casuais as mutações adaptativas? Parte alguma têm os espíritos nisso?

10. [...] o corpo é simultaneamente o envoltório e o instrumento do espírito e, à medida que este adquire novas aptidões, reveste um envoltório adequado ao novo gênero de trabalho que deve realizar, assim como se dá a um operário ferramentas menos grosseiras, à medida que ele é capaz de fazer uma obra mais delicada.


11. Para ser mais exato, é preciso dizer que é o próprio espírito que modela o seu envoltório, adequando-o às suas novas necessidades. Ele o aperfeiçoa, desenvolve e completa o seu organismo à medida que experimenta a necessidade de manifestar novas faculdades; em uma palavra, ele o talha de acordo com a sua inteligência. Deus lhe fornece os materiais, cabendo a ele empregá-los. É assim que as raças mais adiantadas têm um organismo, ou, se preferirem, uma ferramenta mais aperfeiçoada do que as raças mais primitivas. Assim também se explica o cunho especial que o caráter do espírito imprime aos traços fisionômicos e às linhas do corpo [...]


15. [...] Corpos de macacos podem muito bem ter servido de vestimenta aos primeiros espíritos humanos, necessariamente pouco adiantados, que tenham vindo encarnar na Terra, essas vestimentas foram as mais apropriadas às suas necessidades e mais adequadas ao exercício das suas faculdades que o corpo de qualquer outro animal. Ao invés de ser feita uma vestimenta especial para o espírito, ele teria achado uma pronta. Vestiu-se então da pele do macaco, sem deixar de ser espírito humano, assim como o homem, não raro, se veste com a pele de certos animais sem por isso deixar de ser homem.


16. [...] pode-se dizer que, sob a influência e por efeito da atividade intelectual do seu novo habitante, o envoltório se modificou, embelezou-se nos detalhes, conservando sempre a forma geral do conjunto. Os corpos aperfeiçoados, ao se procriarem, reproduziram-se nas mesmas condições [...] (6)

Outra objurgatória é a que costuma atingir o presidente espiritual da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas: São Luís. Antes de tudo, saiba-se que, na S.P.E.E., era frequente os guias se comunicarem por médiuns distintos e em épocas diferentes. A resposta de São Luís pode ter sido vazada na forma infracitada por imperfeição do trabalho de um só desses médiuns. Seria precipitado malsinar o espírito com base nessa única situação, sem evidência de isso corresponder, nele, a um padrão inferior qualquer.


Na evocação do “negro Pai César”, (7) além do mais, o médium atua como intermediário de dois espíritos: São Luís, que auxilia nas respostas, e Pai César, submetido a essa ajuda. Existe a possibilidade de o médium não ser filtrado bem os recados, ou os ter entrecruzado. A opinião, ao demais, de que a brancura conferia superioridade é, ali, não de São Luís, mas do Pai César, e ainda assim, não por conta da cor branca em si, mas das relações de poder naquela sociedade.  

O espírito chega a dizer que estava mais feliz que na Terra porque seu espírito não era mais negro; isto é, por não estar mais sujeito às humilhações aqui sofridas, não sendo o espírito rico ou pobre, homem ou mulher, velho ou criança, negro ou branco. Todavia, numa inesperada inferência, dada sua condição, afirmou o Pai César que os brancos eram orgulhosos de uma “alvura” de que não eram a causa. Parece mais São Luís, aí, do que Pai César.


De qualquer forma, causa estranhamento a resposta ao n. 9: [A São Luís]. – A raça negra é de fato uma raça inferior? Resp. – A raça negra desaparecerá da Terra. Foi feita para uma latitude diversa da vossa”. (8) Agora já pareceu mais Pai César algo frustrado com sua encarnação anterior do que São Luís, o qual responde assim à última pergunta de Kardec: 12. (A São Luís) - Algumas vezes os brancos reencarnam em corpos negros? Resp. - Sim. Quando, por exemplo, um senhor maltratou um escravo, pode acontecer que peça, como expiação, para viver num corpo negro, a fim de sofrer, por sua vez, o que fez padecer os outros, progredindo por esse meio e obtendo o perdão de Deus. (9) 

Não há muito, apareceu “Nota Explicativa” da Federação Espírita Brasileira repelindo qualquer possibilidade de inferência discriminatória ou preconceituosa na doutrina espírita bem entendida; motivada foi, contudo, por atuação do Ministério Público Federal. A F.E.B., data venia, sempre foi mais dedicada a consignar notas que contestem Kardec, como a que corresponde à Gênese, XV, 66, na qual defende o rustenismo no momento mesmo em que Kardec o sepultava. Eis, pois, a nota da F.E.B. ao título da “Nota Explicativa”, esclarecendo a situação da feitura da peça: Nota da Editora: Esta “Nota Explicativa”, publicada em face de acordo com o Ministério Público Federal, tem por objetivo demonstrar a ausência de qualquer discriminação ou preconceito em alguns trechos das obras de Allan Kardec, caracterizadas, todas, pela sustentação dos princípios de fraternidade e solidariedade cristãs, contidos na Doutrina Espírita. (10)

Dada a relevância do assunto, todavia, é de se lamentar que as referências das citações da Revista Espírita nessa Nota Explicativa febiana hajam sido registradas algo descuidadamente. Das cinco citações diretas da Revista, nenhuma é vinculada ao tópico a que corresponde e só duas indicam o mês, o que dificulta sobremodo encontrá-las, e às demais, nos volumes de outras editoras. Por sinal, um dos textos foi reproduzido sem menção ao número de sua página nas edições da própria F.E.B. e, ainda, reportando-se ao mês errado. Onde se lê: “janeiro de 1863”, leia-se: “p. 87, fevereiro de 1863”: Nós trabalhamos para dar a fé aos que em nada crêem; para espalhar uma crença que os torna melhores uns para os outros, que lhes ensina a perdoar aos inimigos, a se olharem como irmãos, sem distinção de raça, casta, seita, cor, opinião política ou religiosa; numa palavra, uma crença que faz nascer o verdadeiro sentimento de caridade, de fraternidade e deveres sociais. (11)

Outro escrito significativo de Kardec a respeito é o que passo a transcrever na sua íntegra, sem negligenciar o parágrafo final, inexistente nas edições febianas e congêneres e, por conseguinte, na sua citação constante da Nota Explicativa da F.E.B.: Com a reencarnação desaparecem os preconceitos de raças e de classes, pois que o mesmo espírito pode renascer rico ou pobre, grande senhor ou proletário, chefe ou subordinado, livre ou escravo, homem ou mulher. De todos os argumentos invocados contra a injustiça da servidão e da escravidão, contra a sujeição da mulher à lei do mais forte, nenhum há que supere em lógica o fato material da reencarnação. Se, pois, a reencarnação fundamenta sobre uma lei da natureza, o princípio da fraternidade universal, ela fundamenta sobre a mesma lei o princípio da igualdade dos direitos sociais e, por consequência, o da liberdade.
Os homens só nascem inferiores e subordinados pelo corpo; pelo espírito eles são iguais e livres. Daí o dever de tratar os inferiores com bondade, benevolência e humanidade, porque aquele que hoje é nosso subordinado pode ter sido nosso igual ou nosso superior, pode ser um parente ou um amigo, e nós, por nossa vez, podemos vir a ser o subordinado daquele que hoje comandamos. (12)

Portanto, a acusação de racismo a Kardec e ao Espiritismo nunca poderá superar o vício do anacronismo. Sob esse ponto de vista, Kardec não seria mais racista do que qualquer europeu de seu tempo, porém, com esta vantagem soberba: se os erros da ciência de época o autorizaram a crer em raças primitivas e que podemos nascer inferiores e subordinados pelo corpo, a isso nunca deixou de contrapor a medida libertária do pensamento espírita, isto é, pelo espírito somos iguais e livres, não somos homens ou mulheres, crianças ou velhos, ricos ou pobres, brancos ou negros, o que o acabou levando à defesa contundente, como se viu, da igualdade dos direitos sociais de todas as criaturas humanas e da abolição dos privilégios de raças.


Com os avanços da biogenética, demonstrado está não existirem genes raciais na espécie humana. Somos, claro, mais evoluídos biologicamente que nossos ancestrais antropoides. Esta, a única evolução, aliás, admitida pela ciência. Caso se fale numa evolução espiritual, moral, ou mesmo cultural, é-se ignorado ou repreendido, porque o espírito, ou a reencarnação, ainda são irrelevantes para a ciência, assim como Deus. Entretanto, espíritas por definição, não podemos falar e pensar como agnósticos, ateus, materialistas, niilistas. Se, por um lado, o Espiritismo nos impõe acompanhar a ciência naquilo que particularmente a esta diz respeito, é-nos interdito negligenciar o próprio Espiritismo no que a este compete exclusivamente.


Por isso, dizemos hoje, os espíritas, que não há raças humanas, menos ainda inferiores ou superiores, de comum acordo nisto com a ciência, mas igualmente afiançamos que, sim, os espíritos, mediante a reencarnação, constituem os artífices da evolução biológica. As mutações que findam por selecionar os mais aptos não são casualmente adaptativas. Como dizia o mestre espírita por excelência: “Um acaso inteligente já não seria acaso”. (13)



(1)  Revista Espírita. Ago/1865.

(2) Revista Espírita. Out/1861. Discurso do Sr. Allan Kardec. F.E.B., 2007, 3ª ed., p. 432
 
(3) Revista Espírita. Jun/1867. Emancipação das Mulheres nos Estados Unidos. F.E.B., 2007, 2.ª ed, p. 231.  
(4) Obras Póstumas. Teoria da Beleza. F.E.B., 2002, 32.ª ed., p. 168.

(5) Id., ibid. Grifo meu
(6) KARDEC. A Gênese, XI. Léon Denis Gráfica e Editora, 2008, 2.ª ed., pp. 235/36 e 237.

(7) No francês: “le nègre Pa César”.
(8) Revista Espírita. Jun/1859. O negro Pai César. F.E.B., 2007, 3.ª ed., p. 245.
(9) Id., ibid.

(10) Revista Espírita. ANO I. F.E.B., 2009, 4ª. ed., p. 537.

(11) KARDEC. Revista Espírita. Fev/1863. A Loucura Espírita. F.E.B., 2007, 3.ª ed., p. 87.  

(12) KARDEC. A Gênese, I, 36. Léon Denis Gráfica e Editora, 2.ª ed., 2008. Com base na 4.ª ed. francesa.
(13) O Livros dos Espíritos. Comentário ao n. 8.

 
Fonte: In: http://ensaiosdahoraextrema.blogspot.com/

sábado, 10 de março de 2012

FRATERNIDADE NO ESPIRITISMO SIM, SINCRETISMO NUNCA!

Por Artur Felipe Azevedo


 

Vez por outra surge alguém ou algum grupo atacando a coerência espírita e defendendo certas idéias de fundo ecumenista dentro e fora do movimento espírita. Alegam-nos que o Espiritismo - e consequentemente os espíritas - devam estar "abertos" a outras concepções e ensinos, sem o qual correm o risco de tornarem-se intolerantes e antifraternos, e, portanto, em dissonância com o que prega a Doutrina.



Nada mais falacioso.



Não devemos confundir fraternidade e tolerância com ecumenismo, ao quais os ramatisistas, aliás, deu erroneamente outro nome, o de "universalismo". O que chamam eles de "universalismo" não passa de sincretismo, fenômeno bastante presente e comum na cultura brasileira. A definição de sincretismo é de "uma fusão de doutrinas de diversas origens, seja na esfera das crenças religiosas, seja nas filosóficas", exatamente aquilo estimulado por Ramatis e seus simpatizantes.



No caso da Doutrina Espírita, obviamente reconhecemos alguns pontos em comum com outras correntes filosóficas e até mesmo com algumas crenças religiosas, porém analisando com mais profundidade tais similitudes, veremos que a visão espírita possui nuances próprias que as ligam a outros princípios não abraçados por essas outras filosofias e religiões. Evocar semelhanças sem considerar a Doutrina Espírita como um todo, mas em partes, certamente conduz a essas frustradas tentativas de comparação e adaptação.



Verifica-se daí que a confusão geralmente ocorre entre aqueles que ainda não compreenderam a Doutrina Espírita em profundidade, assim como não abarcaram em detalhes todos os seus princípios, confundindo-os com suas próprias concepções pessoais advindas de suas vivências em movimentos religiosos, geralmente no Catolicismo e na Umbanda.



A falta de leitura e estudo sistemático dos livros da Codificação Espírita, somado ao fato de que boa parte da população brasileira é constituída de analfabetos funcionais com grande dificuldade de interpretação de textos simples, só agrava a situação e dão armas àqueles que insistem que deva o Espiritismo assimilar idéias, práticas e conceitos estranhos ao seu corpo doutrinário.



Conscientes dessa realidade, espíritos pseudossábios e muitas das vezes mal intencionados, interessados na disseminação da confusão e do divisionismo, insistem nessa absurda proposta de desfiguração do Espiritismo, através de ditados repletos de sentimentalismo piegas e sem conteúdo, induzindo o leitor à idéia de que o espírita deva aceitar enxertias, à prática espírita, de ritualismos e cultos exteriores sem nenhuma fundamentação doutrinária e lógica, sob a alegação de que devamos estar "abertos" e dispostos a contribuir com o progresso e com uma suposta evolução do ideário espiritista. Mas, que evolução é essa que acaba por incentivar o retorno e/ou permanência das mentalidades em torno do pensamento mágico? "Pensamento mágico" significa interpretar dois eventos que ocorrem próximos como se um tivesse causado o outro, sem qualquer preocupação com o nexo causal. Por exemplo, se a pessoa acredita que cruzar os dedos trouxe boa sorte, ela associou o ato do cruzamento de dedos com o evento favorável subsequente e imputou um nexo causal entre os dois. Psicólogos já observaram que grande parte das pessoas é propensa ao pensamento mágico e, assim, o pensamento crítico fica frequentemente em desvantagem. O que se vê, mais comumente nas religiões cristãs dogmáticas tradicionais, são lideranças religiosas explorando essa tendência a fim de auferir vantagens, na medida em que estimulam os seus fiéis a procurarem resolver seus problemas por meio de promessas, ofertas em dinheiro, sacrifícios, etc. Já no espiritualismo esotérico e nas práticas feiticistas dos cultos afro-brasileiros, a solução da maioria dos problemas hodiernos estaria nas oferendas, no uso de talismãs, amuletos, realização de rituais, consagrações, etc. Embora, pois, se diferenciem quanto à forma, todas essas práticas são oriundas do pensamento mágico, ou, como diriam alguns, do misticismo.



Já asseverava Ary Lex que “no movimento espírita costuma haver certa condescendência para com as pequenas deturpações, condescendência essa rotulada como ‘tolerância cristã’. Estão errados. Tolerância deve haver para as falhas das pessoas, que devem ser esclarecidas e apoiadas, ajudando-as a saírem do ciclo erro-sofrimento. Tolerância com as pessoas, sim, com as deturpações, jamais”. E conclui: “É urgente e fundamental que todos aqueles que tiveram a ventura de entender o Espiritismo lutem, dia a dia, pela manutenção da pureza doutrinária.”



O alerta de Ary Lex nada mais representa do que uma tentativa de convidar os espiritistas a manterem o pensamento mágico distante das práticas espíritas dentro e fora dos Centros.



A questão 554 de “O Livro dos Espíritos” corrobora essa posição. Confiramos:


P.: “Que efeito pode produzir fórmulas e práticas mediante as quais pessoas há que pretendam dispor do concurso dos Espíritos?”


R.: “(...) Todas as fórmulas são mera charlatanaria. Não há palavra sacramental nenhuma, nenhum sinal cabalístico, nem talismã, que tenha qualquer ação sobre os Espíritos, porquanto estes são só atraídos pelo pensamento e não pelas coisas materiais”. E continua mais adiante: “Ora, muito raramente aquele que seja bastante simplório para acreditar na virtude de um talismã deixará de colimar um fim mais material do que moral. Qualquer, porém, que seja o caso, essa crença denuncia uma inferioridade e uma fraqueza de ideias que favorecem a ação dos espíritos imperfeitos e escarninhos”.



Em “O Livro dos Médiuns”, é perguntado aos Espíritos Superiores:


“Certos objetos, como medalhas e talismãs, têm a propriedade de atrair ou repelir os Espíritos conforme pretendem alguns”?


R.: “Esta pergunta era escusada, porquanto bem sabes que a matéria nenhuma ação exerce sobre os Espíritos. Fica bem certo de que nunca um bom espírito aconselhará semelhantes absurdidades. A virtude dos talismãs, de qualquer natureza que sejam, jamais existiu, senão, na imaginação das pessoas crédulas”.



O Codificador Allan Kardec comentou, concluindo e reiterando a total desvinculação do Espiritismo com o pensamento mágico propalado pelas religiões e crenças fetichistas:


“Os Espíritos são atraídos ou repelidos pelo pensamento e não por objetos materiais (...). Em todos os tempos os Espíritos superiores condenaram o emprego de signos e de formas cabalísticas; e todo Espírito que lhes atribui uma virtude qualquer ou que pretende dar talismãs que denotam magia, por aí revela a própria inferioridade, quer quando age de boa-fé e por ignorância, (...) quer quando conscientemente (...). Os sinais cabalísticos, quando não são mera fantasia, são símbolos que lembram crenças supersticiosas na virtude de certas coisas, como os números, os planetas e sua correspondência com os metais, crenças nascidas no tempo da ignorância e que repousam sobre erros manifestos, aos quais a ciência fez justiça, mostrando o que há sobre os pretensos sete planetas, os sete metais, etc. A forma mística e ininteligível de tais emblemas tem o objetivo de os impor ao vulgo (...), aquilo que não compreende.”



A seu turno, verificamos nas obras de Ramatis uma proposta inversamente contrária, constantemente presentes em seus ditados como podem notar abaixo e em inúmeras passagens dos livros psicografados pelo médium Hercílio Maes:


“Rituais, mantras, sincronizações entre adeptos ou despertamento da vontade; o comando nas quais podereis alcançar o Cristo Planetário!”



"Os amuletos e talismãs, quando realmente dinamizados por magos experientes, obedecem aos mesmos princípios dos minerais radioativos, mas a sua ação é mais vigorosa e específica no campo etéreo-astral invisível aos sentidos humanos."



"Há fundamento lógico e científico no preparo de amuletos e talismãs, quando isso é feito por meio de magos autênticos (...)"



"Há certos tipos de ervas cuja reação etérica é tão agressiva e incômoda, que torna o ambiente indesejável para certos espíritos, assim como os encarnados afastam-se dos lugares saturados de enxofre ou gás metano dos charcos."



"Só as pessoas rudes ou confusas podem considerar a defumação benfeitora uma superstição ou dogma."



"Os espíritos subversivos ou obsessores fogem espavoridos do ambiente onde atuam, quando a queima de pólvora é feita por médiuns ou magos experientes, pois alguns deles são bastante escarmentados em tais acontecimentos."



Em outras passagens, Ramatis procura rebaixar o Espiritismo frente às crenças orientalistas:


“Da mesma forma, reconhecemos que há, entre o neófito espírita, exclusivamente submerso na sua doutrina, e o espiritualista afeito ao conhecimento iniciático, um extenso abismo de compreensão.”



Abaixo, vemos claramente a intenção de incentivar o sincretismo:


“Sem dúvida, apesar de o Espiritismo ser doutrina corporificada para libertar os homens das superstições e dos tabus infantis, ele pode estacionar no tempo e no espaço, tal qual acontece com a Igreja Católica. É acontecimento fatal, caso seus adeptos ignorem deliberadamente o progresso e a experiência de outras seitas e doutrinas vinculadas à fonte original e inesgotável do Espiritualismo Oriental.”



Herculano Pires, à época, reagiu corajosamente a esse tipo de proposta:


"Só um setor do conhecimento, nesta hora de transição, não necessita renovações, e esse setor é precisamente o Espiritismo. O que ele exige de nós não é renovação doutrinária, mas apenas expurgo de infiltrações espúrias nos Centros, produzidas pela leviandade de praticantes que se desvairam da orientação doutrinária, adotando atitudes, fórmulas e práticas antiquadas. (...) O terror místico proveniente de um longo passado religioso de mistérios e ameaças não tem mais razão de ser. Não obstante, encontramos no meio espírita um pesado lastro desse terror em forma de traumatismos inconscientes que geram comportamentos antiespíritas".



Já dizia Bossuet: "O maior desregramento do espírito é crer nas coisas porque se quer que elas existam".



Por nossa vez, diríamos que a superstição e as crendices são exemplos desse desregramento, doenças da alma, autênticas amarras que prendem o espírito às trevas da ignorância, conduzindo-o aos descaminhos advindos da fuga da realidade. Se há uma maneira dos falsos profetas da erraticidade e espíritos pseudossábios atacarem o Espiritismo é justamente desfigurando-o através do estímulo ao culto exterior, do pensamento simplista, da crendice, todos representantes do caminho mais fácil, porém inócuo, que tanto atrai aqueles indivíduos desinteressados em promover em si aquilo que realmente interessa que é a transformação moral, que advém justamente do esforço e do avanço da inteligência, conforme puderam claramente ensinar os Espíritos Superiores nas questões 192, 365, 780 e 780a de "O Livro dos Espíritos".




 

Fonte: In: http://kardeconline.ning.com/profiles/blog/

quinta-feira, 1 de março de 2012

Movimento Espírita: "Alvo das investidas das sombras organizadas"




Por Artur Felipe de Azevedo


O espírito Camilo, através da psicografia de José Raul Teixeira, fez um alerta muitíssmo pertinente intitulado "Uma Reflexão sobre o Movimento Espírita", constante da obra "Desafios da Educação". (Editora Fráter)


Como o prezado e atento leitor poderá notar, a citada entidade espiritual analisa detalhadamente a quantas anda o Movimento Espírita em vista da falta de estudo e conhecimento do Espiritismo, resultando na tentativa de enxertias e desvios de todo tipo, incentivadas pela espiritualidade inferior, interessada em promover o sincretismo e a confusão em nossa fileiras.


Leiamos com atenção e vejamos a estreita conexão com aquilo que analisamos aqui neste blog. Inicialmente a nobre entidade fala sobre a excelência da mensagem espírita e da grandiosa figura do Codificador Allan Kardec e sua preocupação com a UNIDADE doutrinária. 


"A excelente Mensagem Espírita chega ao mundo como refrescante e iluminada aurora, anunciando um dia novo de bençãos para o planeta, atendendo as imensas carências da alma terrestre, que vivia a braços com as trevas ocasionadas pelo absolutismo materialista, que tem seus fundamentos balançados, em razão das Vozes altíssimas e claras que rasgaram o silêncio dos túmulos, para invadir os ouvidos da Humanidade inteira.


Como chuva bondosa, a Doutrina Espírita penetra o solo ressequido das almas, onde, a partir de então, as sementes nobres dos ensinamentos do Mundo Superior teriam toda a chance de germinar e medrar, estabelecendo ventura e progresso.

Eram novos tempos para a cultura e para a fé, que, agora, irisadas por luzes espirituais que se mostravam diante de todos, formulando convite ao espírito humano para um pensamento mais alto.

No centro das ocorrências, destaca-se a figura augusta do professor Rivail, universalmente conhecido como Allan Kardec, e na sua visão de espírito de escol, sabia e afirmava que seria ponto de honra para o desenvolvimento da Mensagem na Terra a manutenção da unidade


Seria indispensável que em toda parte, onde surgisse um núcleo de estudos do Espiritismo, se pudesse falar a mesma linguagem, sem que houvesse riscos de ser ele desfigurado, sem riscos de que viesse a sofrer enxertias, o que seria descabida ocorrência no bojo de uma doutrina de tamanha lucidez. A preocupação do Codificador, porém, dizia que tais dificuldades eram passiveis de ocorrer."


Prosseguindo, o espírito Camilo comenta sobre o crescimento do Movimento Espírita e faz um alerta: "O tempo passa, as atividades em torno da Doutrina Espírita são desenvolvidas com rapidez. Da Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas em 1858 aos dias atuais, podem-se contar por milhares as instituições levantadas no mundo em nome da Veneranda Doutrina. Do pequeno grupo de almas dispostas, que ladearam o Codificador, suportando toda agrestia e fereza dos primeiros preconceitos até hoje, quando se torna status importante dizer-se espírita, há quase um século e meio de modificações na mentalidade geral. 


À semelhança do que ocorreu com a primitiva comunidade dos Apóstolos de Jesus, que foi perdendo em qualidade à medida que se foi expandindo, se popularizando e ganhando notoriedade através do prestígio político de Roma, as atividades ao redor do Espiritismo - o Movimento Espírita - foi tomando contornos preocupantes em todo lugar, na proporção do seu agigantamento acompanhado pelo desconhecimento declarado dos seus fundamentos."


Como pudemos perceber, Camilo aponta o desconhecimento decorrente da falta de estudo do Espiritismo como razão principal para a perda de qualidade que se nota em todo lugar no que tange à prática doutrinária, tal qual ocorreu com o Cristianismo, que em praticamente nada se assemelha àquilo que foi legado por Jesus.


"Allan Kardec, valendo-se do seu inesgotável bom senso, estabeleceu que o Espiritismo é uma doutrina de livre exame, significando que, não sendo impositiva, oferece ao indivíduo que vai ao seu encontro todas as possibilidades de discussão e de análises, até que tenha podido compreender suas bases, de modo a vivê-las com claridade mental e segurança. Tristemente, muitos pensaram que tal condição de Mensagem lhes permita adaptar os seus preceitos doutrinários aos próprios gostos e tendências, sem causarem problemáticas adulterações no trabalho de profunda coerência dos Numes Tutelares da Terra."

Realmente perfeita a colocação do espírito Camilo. Muitos acham que podem adaptar seus atavismos ao corpo doutrinário espírita, demonstrando, com isso, total incoerência. Se não encontram-se satisfeitos com o Espiritismo, e não sendo esta uma Doutrina exclusivista e impositiva, nada mais sensato que dedicarem-se aos seus movimentos religiosos, deixando a prática espírita livre de adulterações e enxertias descabidas.

"Referiu-se o Codificador à compreensão do Espiritismo dizendo que quem deseje tornar-se versado numa ciência tem que a estudar metodicamente, começando pelo princípio e acompanhando o encadeamento e o desenvolvimento das suas idéias (Kardec, A. O Livro dos Espíritos, introdução, parte VIII). Lamentavelmente, porém, muitos admitiram que poderiam falar e agir em seu nome, sem o mínimo de estudo de sua doutrina, na pressa inconsequente por obter fenômenos que bem podiam ser buscados fora dos arraiais espíritas, o que não vincularia a possível má qualidade ou a sua impostura ao respeitável estatuto espiritista.


Os abnegados Prepostos do Cristo ensinam na Codificação que o ensino dos espíritos tem que ser claro e sem equívocos, para que ninguém possa pretextar ignorância e para que todos o possam julgar e apreciar com a razão (O Livro dos Espíritos, questão 627). Desafortunadamente, indivíduos oriundos dos mais diversos territórios intelectuais, das mais variadas regiões morais, com as mais estranhas idiossincrasias, atiraram-se a propor alterações doutrinárias, a fazerem adaptações inconsistentes quão perigosas, introduzindo idéias e práticas francamente estranhas aos textos e contexto da Doutrina. São muitos os que, ignorantes, vão mantendo outras criaturas no seu mesmo nível, abominando estudos, detestando análises, impossibilitando a aeração dos movimentos do raciocínio. Um grande número não crê no que o Espiritismo expõe, mas se vale da atenção dos crédulos e ingênuos, sempre abundantes, para impor as suas próprias fantasias que trata de envolver com as cores da Veneranda Doutrina, porque sabe do desvalor do produto que oferece querendo adesões que lhe incense a vaidade.

Nenhum problema provocaria o indivíduo que criasse uma ordem de idéias, uma doutrina pessoal e que a defendesse com insistência, em seu nome mesmo, e a partir disso cobrasse atendimento, forjasse distintivos, premiações, imagens de "santos" encarnados, liturgias sacramentais e ordenações. Toda a sua prática seria buscada e seguida pelas almas que sintonizassem com isso, como deparamos no mundo dos intocáveis ismos , personalizados e personalistas, arrebanhando grupos imensos de fanatizados, quepagam bem caro para comprar um lugar no céu..., conforme a promessa dos seus líderes."

Camilo cita aquilo que também defendemos: sigam a quem quiserem e aquilo que bem entenderem, têm todos esse direito, mas aqueles que se dizem espíritas devam cuidar para que o Espiritismo mantenha-se livre de misturas, atavios e enxertias, permanecendo claro e límpido conforme nos foi legado pela Espiritualidade Superior.

"Quanto ao Espiritismo, porém, as coisas devem ser diferentes. Não havendo obrigação da pessoa ser espírita; inexistindo qualquer ameaça infernal para quem não aceite sua orientação; não se prometendo premiações celestiais a quem quer que seja e sendo uma escolha livre da criatura, em meio de tão diversificadas opções, torna-se imprescindível que quem queira ser espírita se despoje dessa terrível vaidade de que querer que as coisas sejam a seu gosto, ao invés de ajustar-se aos espirituais ensinamentos da Grande Luz. Imprescindível que o sincero espírita assuma, de fato, a disposição de melhorar-se com o conteúdo assimilado das lições do Infinito, pelejando para domar as suas inclinações inferiores."


No trecho a seguir, Camilo fala da estratégia da espiritualidade inferior para aniquilar o Movimento Espírita: "Com tristeza, percebe-se hoje que o Movimento Espírita, que dispõe de tudo o que a Doutrina Espírita lhe brinda para ser amadurecido, pujante e avançado, tem sido alvo das investidas das Sombras organizadas e se encharcado com seus conteúdos peçonhentos e danosos. Daí, são núcleos criados para reverenciar personalidades vaidosas, que não abrem mão da relação de vassalagem; são instituições montadas somente para atender os corpos, sem qualquer compromisso com o espírito imortal que permanece vagueando nas trevas de si mesmo; são casas erguidas para desfigurar o pensamento espírita, em razão das mesclas implantadas com doutrinas, filosofias e práticas orientalistas ou africanistas que, mesmo merecendo respeito, têm propostas bem distintas das do Consolador."


Tais observações de Camilo não poderiam ser mais claras: a ênfase em trabalhos de cura de corpos em detrimento do estudo da Doutrina; a inserção de práticas orientalistas e africanistas; a idolatria a personalidades vaidosas e centralizadoras, encarnadas e desencarnadas, tidas como detentoras exclusivas da Verdade... Tudo isso com o velado objetivo de desfigurar o Espiritismo.


"Ainda em nosso Movimento Espírita, se há confundido o caráter universalista do Espiritismo com uma infausta tendência agregacionista, pois, ao invés de o pensamento espírita ajudar a ver o mundo dentro da óptica da Vida Superior, para que o indivíduo saia do nível das considerações meramente materiais, vê-se que tudo que é encontrado de "interessante" mundo afora, deseja-se agregar ao Espiritismo. Cânticos, terapias, experimentações psíquicas diversas, mantras, vestuário, jargões, festividades de gosto execrável e coisas outras ocupando variado espectro, têm despontado aqui e ali, em nome da Doutrina Espírita. E o que é mais contristador, é que tudo isto se dá diante da postura inerme dos que aceitaram responsabilidades diretivas das quais não dão conta. Tudo isto tem sido acompanhado com o consentimento dos que dirigem, coordenam, "orientam"..."

Exatamente como pensa a seita ramatisista: tudo crêem devam incorporar ao Espiritismo, em nome de um suposto "universalismo", que, na verdade, não passa de confusão sincrética oriunda de atavismos e falta de aprofundamento e entendimento da proposta doutrinária espírita. Disseminam aos quatro cantos que Kardec (entenda-se a Codificação) estaria ultrapassado, como se as verdades universais fossem mutáveis, ao mesmo tempo que desejam inserir no Espiritismo as crendices e superstições cujam origens remontam milhares de anos, quando a civilização achava-se em sua infância. E quando chamados a atenção, colocam-se na posição de vítimas, de perseguidos, raivosamente alegando "falta de caridade" daqueles que lutam pacificamente pela manutenção da unidade doutrinária. No entanto, como bem disse o espírito Camilo, falta de caridade é justamente nada fazer e tão-somente observar o crescimento dessas estranhas idéias em nosso meio.

Conclui Camilo, magistralmente: "Afirmou o Celeste Guia que ninguém pode servir a dois senhores... Estabeleceu o Excelso Mestre: Seja o vosso falar sim, sim, não, não... Informa o Espírito da Verdade: Deus procede ao censo dos seus servidores fiéis e já marcou com o dedo aqueles cujo devotamento é apenas aparente.

Vale a pena refletir em todos esses brilhantes dizeres e nessas imagens tão expressivas dos mentores da Humanidade. A hora é, incontestavelmente, de testemunhos difíceis, e quem ainda não se sinta em condições de tomar do conteúdo da luminosa Revelação e dar-lhe impulso positivo, fazendo-a útil a si e aos irmãos do caminho, comece ou recomece o esforço íntimo para o fortalecimento da vontade de crescer, de despojamento do comodismo do homem velho, uma vez que Jesus Cristo confia nos empenhos das suas ovelhas, e conta que esses empenhos sejam verdadeiros, para que o seu devotamento não seja tão somente aparência, a fim de que se possa, então, construir um Movimento Espírita vívido e forte, capaz de representar as excelências do Espiritismo vivenciado e sofrido, se necessário, através das ações e convicções dos seus seguidores fiéis."



Fonte: In: http://espiritismoxramatisismo.blogspot.com/2009/06/movimento-espirita-alvo-das-investidas.html