sábado, 12 de novembro de 2011

A FASCINAÇÃO SEGUNDO O ESPIRITISMO

Por Maria das Graças Cabral




Para fazer uma abordagem sobre o tema “Fascinação” segundo os preceitos Espíritas, precisa-se primeiramente considerar que os Espíritos influem sobre os nossos pensamentos e ações, pois segundo preceituam os Espíritos Superiores “a influência é maior do que supomos, porque muito freqüentemente são eles que nos dirigem“. (questão 459, LE) Inferindo-se que é pela afinidade de pensamentos que se dá a influência efetiva dos Espíritos na vida dos encarnados, pois os mesmos são portadores dos mesmos vícios e virtudes que tinham quando portavam a veste carnal.


Isto posto, no que concerne à comunicabilidade entre estes e aqueles, me aproprio dos ensinamentos do Codificador, quando estabelece que: “Toda pessoa que sente a influência dos Espíritos, em qualquer grau de intensidade é médium. Essa faculdade é inerente ao homem. Por isso mesmo não constitui privilégio e são raras as pessoas que não a possuem pelo menos em estado rudimentar. (...) Usualmente, porém, essa qualificação se aplica somente aos que possuem uma faculdade mediúnica bem caracterizada, que se traduz por efeitos patentes de certa intensidade, o que depende de uma organização mais ou menos sensitiva.” (LM., Cap. XIV, 159)


Ao tratar da mediunidade, é fato que a Doutrina Espírita lança um olhar diferenciado e de elevada importância sobre a mesma, por entendê-la como instrumento de educação, esclarecimento, auxílio e progresso, para os Espíritos encarnados e desencarnados.


Daí, exigir-se dos médiuns Espíritas, o estudo profundo e efetivo de O Livro dos Médiuns, em razão das orientações, métodos e esclarecimentos trazidos pela voz dos Espíritos Superiores, sob a égide de O Espírito da Verdade.


Entende-se portanto temerário, que o médium espírita descarte o estudo de O Livro dos Médiuns para dedicar-se à obras alienígenas, muito comumente portadoras de informações equivocadas à respeito da mediunidade, por serem oriundas de outras filosofias religiosas que vêm o trabalho mediúnico com objetivo diverso daquele preconizado pela Doutrina Espírita.


No que concerne aos percalços da prática mediúnica, um dos maiores escolhos para aqueles que vivenciam a mediunidade é a obsessão. Segundo O Livro dos Médiuns “a palavra obsessão é um termo genérico pelo qual se designa um conjunto desses fenômenos, cujas principais variedades são a obsessão simples, a fascinação e a subjugação.” (LM., Cap. XXIII, 238)


Na realidade, como preceitua a obra em comento, o processo obsessivo simples pode se dar sempre que houver a interferência de um Espírito voltado ao mal a se intrometer contra a vontade do médium nas comunicações recebidas. Podendo inclusive, o médium ser enganado sem estar obsedado, pois o que caracteriza a obsessão simples é a tenacidade do Espírito do qual não se consegue desembaraçar.


Já a fascinação, objeto deste estudo, segundo O Livro dos Médiuns, tem conseqüências mais graves por se tratar de uma ilusão criada diretamente pelo Espírito no pensamento do médium, chegando a “paralisar” a sua capacidade de discernir e julgar as comunicações.


Importante observar que o médium fascinado não se considera enganado, pois o Espírito consegue inspirar-lhe uma confiança cega, impedindo-lhe de ver e compreender que a mensagem muitas vezes se contrapõe aos ensinamentos da Codificação, que é o paradigma para a avaliação de qualquer mensagem mediúnica.


Muito comumente os mistificadores fascinam os médiuns, utilizando-se de vocabulário prolixo, para trazerem falsas “revelações”, acobertadas pelo manto de mensagens evangélicas, assinadas por nomes respeitáveis, objetivando não levantar suspeitas quanto à sua moralidade e elevação.


Asseveram os Espíritos Superiores que na fascinação “para chegar a tais fins o Espírito deve ser esperto, ardiloso e profundamente hipócrita. Porque ele só pode enganar e se impor usando máscara e uma falsa aparência de virtude. As grandes palavras de caridade, humildade e amor a Deus servem-lhe de carta de fiança.” (LM., Cap. XXIII, 239)


À título de exemplo transcrevo a seguinte mensagem publicada por Kardec, em O Livro dos Médiuns, objetivando apreciar a avaliação do Codificador:

“A criação perpétua e incessante dos mundos é para Deus como uma espécie de gozo perpétuo, porque ele vê continuamente seus raios se tornarem cada dia mais luminosos em felicidade. Eis porque centenas ou milhões não são mais nem menos para ele. É um pai, cuja felicidade se forma da felicidade coletiva de seus filhos. A cada segundo da criação ele vê uma nova felicidade vir se fundir na felicidade geral. Não há parada nem suspensão (?) nesse movimento perpétuo, nessa grande felicidade incessante que fecunda a terra e o céu. Não conhecemos no mundo mais do que uma pequena fração, e tendes irmãos que vivem em latitudes que o homem ainda não conseguiu atingir. Que significam esses calores terríveis e esses frios mortais que paralisam os esforços dos mais audaciosos? Acreditais simplesmente haver chegado aos limites do vosso mundo, quando não mais podeis avançar com os vossos precários recursos? Podeis então medir com precisão o vosso planeta? Não acrediteis nisso. Há no vosso planeta mais regiões desconhecidas do que conhecidas. Mas como é inútil propagar ainda mais as vossas más instituições, todas as vossas leis imperfeitas, ações e modos de vida, há um limite que vos detém aqui ou ali e que vos deterá até que possais transportar as boas sementes que o vosso livre-arbítrio produzir. Oh, não, vós não conheceis o mundo que chamais Terra. Vereis na vossa existência um grande começo de provas desta comunicação. Eis que a hora vai soar, em que haverá uma outra descoberta além da última que foi feita; vereis que vai se alargar o círculo da vossa Terra conhecida, e quando toda a imprensa cantar essa Hosana em todas as línguas, vós pobres crianças que amais a Deus e procurais o seu caminho, o sabereis antes mesmo que aqueles que darão o seu nome á nova terra.” VICENTE DE PAULO. (LM., Comunicações Apócrifas, XXIX) (grifei)

Oportuno que aprendamos com o comportamento de Kardec, quando com muita propriedade se posiciona afirmando que a mensagem apresenta incorreções, pleonasmos e vícios de linguagem, (até porque Kardec era um grande gramático) embora argumente que tais imperfeições poderiam advir da insuficiência do médium.


Entretanto, no que concerne às “revelações” à respeito do planeta, assevera Kardec que “isso é para um Espírito que se diz superior, dar prova de profunda ignorância, posto que não há dúvida que se podem descobrir regiões desconhecidas além das regiões geladas, mas dizer que Deus as ocultou aos homens a fim de que eles não levassem as suas más instituições, é ter demasiada confiança na cegueira daqueles que recebem semelhantes absurdos.” (LM., Comunicações Apócrifas, XXIX)


Observa-se que o Codificador não se deixava impressionar por nomes famosos nem por palavras rebuscadas, pois buscava o “cerne” da mensagem, e aí identificava a fraude, e prontamente a rechaçava.


Voltando á questão do médium objeto da fascinação, nos dizem os Espíritos Superiores que “graças à essa ilusão o Espirito dirige a sua vítima como se faz a um cego, podendo levá-lo a aceitar as doutrinas mais absurdas e as teorias mais falsas, como sendo as únicas expressões da verdade“. (LM., cap. XXIII, 239) (grifei)


No que concerne às doutrinas absurdas e teorias falsas, faz-se por oportuno analisarmos a seguinte mensagem mediúnica, obedecendo o critério kardeciano, e tendo como paradigma as Obras da Codificação, por trazerem os ensinamentos dos grandes Mestres da Espiritualidade. A mensagem narra a chegada de Espíritos oriundos de um lugar denominado “umbral” (criação do Espírito comunicante) à “colônia espiritual” (também criação do Espírito comunicante), senão vejamos:

“(...) Identifiquei a caravana que avançava em nossa direção, sob a claridade branda do céu. De repente, ouvi o ladrar de cães, a grande distância. - Que é isso? - interroguei assombrado. - Os cães - disse Narcisa - são auxiliares preciosos nas regiões obscuras do Umbral, onde não estacionam somente os homens desencarnados mas também verdadeiros monstros, que não cabe agora descrever. (...) Fixei atentamente o grupo estranho que se aproximava devagarzinho. Seis grandes carros, formato diligência, precedidos de matilhas de cães alegres e barulhentos, eram tirados por animais que, mesmo de longe, me pareceram iguais aos muares terrestres. Mas a nota mais interessante era os grandes bandos de aves, de corpo volumoso, que voavam a curta distância, acima dos carros, produzindo ruídos singulares. (...)” ANDRÉ LUIZ (Nosso Lar, 2003 p. 217) (grifei)


Para a devida análise buscar-se-á confrontá-la com os ensinamentos propostos em O Livros dos Espíritos, Capítulo XI, item II, quando asseveram os Mestres Espirituais nas questões de número 598 e 600 que: I - A alma dos animais conserva sua individualidade depois da morte, mas não a consciência de si mesma. A vida inteligente permanece em estado latente; II - A alma do animal sobrevivendo ao corpo fica numa espécie de erraticidade, pois não está unida a um corpo. Mas não é um Espírito errante. O Espírito errante é um ser que pensa e age por sua livre vontade; o dos animais não tem a mesma faculdade. É a consciência de si mesmo que constitui o atributo principal do Espírito. O Espírito do animal é classificado, após a morte, pelos Espíritos incumbidos disso e utilizados quase que imediatamente; não dispõe de tempo para se pôr em relação com outras criaturas. (grifei)


Reforçando o entendimento proposto pelos Espíritos Superiores em O Livro dos Espíritos, buscar-se-á subsídios em O Livro dos Médiuns,  Cap. XXV, item 283, subitem 36, quando trata da questão da "Evocação dos Animais", e Kardec indaga da possibilidade de evocar-se o Espírito de um animal, a resposta dada é a seguinte: - “O princípio inteligente que animava o animal fica em estado latente após a morte. Os Espíritos encarregados desse trabalho imediatamente o utilizam para animar outros seres, através dos quais continuará o processo de sua elaboração. Assim, no mundo dos Espíritos, não há Espíritos errantes de animais, mas somente Espíritos humanos“. (grifei)





Portanto, a narrativa do Espírito autor da mensagem em comento, é falsa e seria obviamente rechaçada por Kardec por desvirtuar preceitos Espíritas, gerando por conseguinte conflitos no entendimento da Doutrina.


Aliás, ao tratar do exame feito às milhares de comunicações mediúnicas que lhe eram enviadas com pedidos de publicação na Revista Espírita, comenta o Codificador que “em grande número encontramo-las notoriamente más, no fundo e na forma, evidente produto de Espíritos ignorantes, obsessores ou mistificadores e que juram pelos nomes mais ou menos pomposos com que se revestem. Publicá-las teria sido dar armas à crítica. (...) Só a fascinação poderia levá-los a ser tomados a sério e impedir se visse o lado ridículo. (...)” (RE, maio de 1863, p. 217) (grifei)





No que concerne à publicação de mensagens de Espíritos, Allan Kardec assevera que (...) Quanto mais alto o nome, maior o cuidado. Ora, é mais fácil tomar um nome que justificá-lo; eis por que, ao lado de alguns bons pensamentos, encontram-se muitas vezes, idéias excêntricas e traços inequívocos da mais profunda ignorância. É nessas modalidades de trabalhos mediúnicos que temos notado mais sinais de obsessão, dos quais um dos mais freqüentes é a injunção do Espírito de os mandar imprimir; e alguns pensam erradamente que tal recomendação é suficiente para encontrar um editor atencioso que se encarregue da tarefa. (...) Toda precaução é pouca para evitar as publicações lamentáveis. Em tais casos, mais vale pecar por excesso de prudência, no interesse da causa.” (RE, maio de 1863, p. 220) (grifei)


Não obstante, transcrevo as palavras de J. Herculano Pires, em Nota do Tradutor, de O Livro dos Médiuns, quando nos alerta dizendo que “a fascinação é mais comum do que se pensa. No meio espírita ela se manifesta de maneira ardilosa através de uma avalanche de livros comprometedores, tanto psicografados como sugeridos a escritores vaidosos, ou por envolvimento de pregadores e dirigentes de instituições que se consideram devidamente assistidos para criticarem a Doutrina e reformularem seus princípios”. (LM. Cap. XXIII, p. 217)


Para finalizar o estudo, oportuno ressaltar os ensinamentos dos Espíritos Superiores quando nos alertam para o fato de não existir médium perfeito, por não haver perfeição sobre a Terra. Asseveram os Mestres, que até mesmo os bons médiuns, que são raros, jamais seriam tão perfeitos, para estarem imunes às mistificações por terem todos um lado fraco, pelo qual podem ser atacados. (LM., Cap. XX, 9)


Portanto, estejamos atentos ao analisarmos as mensagens provindas do plano espiritual catalogadas como ‘espíritas“. Precisamos nos ater ao estudo da Codificação Espírita para que identificando as fraudes possamos rechaçá-las.






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2 comentários:

  1. A fascinação precisa ser mais estudada nos centros espíritas. O texto nos conclama a deitar olhos e ouvidos para o ensinamento claro- mas nem por isso, merecedor de estudo em grupo - do Livro dos Mediuns.

    Quando incitada ao trabalho mediunico, só consegui dar vazão, ser intermediária entre o mundo em que vivo e o de onde vim, estudando o LM. Não se consegue confiança sem conhecimento.

    O Medium não é um privilegiado. É um necessitado de conhecimentos e deve aprender sobre o "fenômeno" para poder compreender a sua realidade.

    Obrigada por sua contribuição amiga.

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  2. Olá Maria, se entendi bem seu artigo, pego-me pensando que animais terrenos são diferentes de animais do plano espiritual e acredito que o "pecado" em rotular a narrativa de André Luiz como falsa, provém da falta desse conhecimento mais específico de como a Espiritualidade atua em amparo da humanidade. O conhecimento requer estudos contínuos e à medida que sabemos mais sobre determinado assunto, mais perguntas surgirão de seus arredores.

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