Por Maria das Graças Cabral
O presente trabalho é a primeira parte da análise crítica do artigo intitulado “Alimentação dos Espíritos“, de autoria de Ricardo Di Bernardi. O objetivo do mesmo é fazer uma análise da procedência ou não da tese apresentada pelo autor, tendo como paradigma a Doutrina Espírita, através das Obras Básicas, codificadas por Allan Kardec.
O autor inicia seu artigo, apresentando como fundamentos para a veracidade e confiabilidade das informações recebidas pelos Espíritos, segundo suas próprias palavras, o “consenso nas informações dos amigos espirituais no que tange a este assunto”, acrescentando que “nos planos espirituais temos notícia por inúmeros médiuns confiáveis, como Chico Xavier, Divaldo Franco etc., da organização de comunidades sociais que os espíritos constituem, às vezes assemelhadas às terrestres.” (grifei)
Em seguida, certifica apoiar-se no “critério kardecista de valorizar um conceito apenas quando houver multiplicidade de fontes sérias, confirmando-o, no que concerne ao corpo espiritual e sua alimentação“.
No que pertine à aplicabilidade do “critério kardecista” sugerido pelo autor, faz-se por oportuno considerar que, para que uma mensagem espiritual se adéqüe ao critério avaliativo das comunicações estabelecido por Allan Kardec, deverá obrigatoriamente estar em consonância com os princípios preceituados nas Obras Básicas da Doutrina Espírita, que passaram pelo crivo do Codificador e do Espírito da Verdade, através do Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos (CUEE).
Vale lembrar, que todas as comunicações que vieram a compor as Obras Básicas, passaram pelo CUEE, asseverando Kardec que “a garantia única, séria do ensinamento dos Espíritos está na concordância que existe entre as revelações feitas espontaneamente, por intermédio de um grande número de médiuns, estranhos uns aos outros, e em diversos lugares.” (...) O princípio da concordância é, ainda, uma garantia contra as alterações que poderiam infligir ao Espiritismo as seitas que gostariam de se apoderar dele em seu proveito, acomodá-lo à sua maneira.” (ESE, Introdução, II, Autoridade da Doutrina Espírita, Controle Universal dos Ensinamentos dos Espíritos) (grifei) Atentemos para o cuidado do Codificador, em impedir que o Espiritismo viesse a sofrer “alterações” impingidas pelas conveniências daqueles que objetivassem acomodá-lo às suas crenças (o que vem acontecendo no Brasil).
Oportuno ressaltar, que Kardec quando codificou a Doutrina Espírita, usou de todo seu conhecimento da língua francesa, (o Mestre era autor de livros de gramática francesa), para que as palavras não fossem empregadas indevidamente, causando entendimentos ambíguos e/ou equivocados. À esse respeito, reportamo-nos ao primeiro parágrafo da Introdução de O Livro dos Espíritos, quando o Codificador preceitua que “para as coisas novas necessitamos de palavras novas, pois assim o exige a clareza de linguagem, para evitarmos a confusão inerente aos múltiplos sentidos dos próprios vocábulos.” Diante do trecho apresentado, comprovamos sua preocupação em evitar interpretações confusas da Doutrina.
Além do cuidado com as palavras, Kardec se esmerou na elaboração dos questionamentos feitos aos Espíritos Superiores, os quais com suas respectivas respostas, viriam a compor o corpo doutrinário. Constata-se em várias oportunidades, o desdobramento de uma pergunta em várias outras, que dependendo do assunto, o próprio codificador faz uma explanação, objetivando clarificar e fixar os ensinamentos dos Espíritos.
É fato, que as Obras Básicas foram escritas e organizadas de tal forma, que qualquer pessoa tivesse condições de entendê-la. Quanto as questões mais complexas, e/ou de difícil compreensão, são os próprios Espíritos Superiores que certificam da nossa incapacidade para julgar certas verdades, pela falta de um vocabulário adequado, sentidos, ou mesmo, evolução para tanto.
À título de exemplo, vejamos quando Kardec sugere definir Deus como sendo o “infinito,” e os Espíritos Superiores respondem: “Definição incompleta. Pobreza da linguagem dos homens, insuficiência para definir as coisas que estão além da sua inteligência.” Ou quando o codificador indaga se o homem pode compreender a natureza íntima de Deus, e os Mestres Espirituais respondem: “Não. Falta-lhe, para tanto, um sentido”. Ou ainda, quando Kardec questiona se o homem penetrará um dia o mistério das coisas que lhe são ocultas, e a resposta dada, é que “o véu se ergue na medida em que ele se depura; mas, para a compreensão de certas coisas, necessita de faculdades que ainda não possui.” (LE., questões 3, 10 e 18) (grifei)
Isto posto, podemos asseverar que os ensinamentos espíritas prezam pela clareza. Portanto, qualquer mensagem espiritual para que se adéqüe ao “método kardeciano”, deverá se submeter a uma análise crítica, tendo como padrão, os ensinamentos contidos nas Obras Básicas, ministrados pela plêiade
de Espíritos de alta evolução que participaram da codificação, tais como São João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, Sócrates, Platão, Fénelon, Erasto, o Espírito da Verdade, dentre outros. Ensinamentos estes, codificados pelo mestre lionês, Allan Kardec, e passados todos, pelo crivo de O Espírito da Verdade!
Infere-se do exposto, que o “consenso nas informações dos amigos espirituais no que tange a este assunto”, para que fossem consideradas comunicações verdadeiras, confiáveis, procedentes, deveriam estar em consonância com os “princípios doutrinários” constantes nas Obras Básicas, e não avaliados pelo “consenso” de vários Espíritos comunicantes entre si, como preleciona Ricardo Di Bernardi no texto sob análise. É fato que, se tais mensagens não encontram esteio nas obras da codificação, não poderão ser consideradas ensinamentos “Espíritas“, mas apenas uma linha de pensamento espiritualista.
O outro juízo de validade citado pelo autor do texto, é a sua confiança, nos médiuns famosos como Chico Xavier e Divaldo Franco, através dos quais, os Espíritos trouxeram as novidades do plano espiritual. À esse respeito, somos todos sabedores da moral ilibada de tais médiuns. Entretanto, nos dizem os Mestre Espirituais em O Livro dos Médiuns, que não existem médiuns perfeitos encarnados no planeta Terra. Asseveram que até mesmo os “bons médiuns” são muito raros! “O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, simpatizando somente com os bons Espíritos, tem sido enganado menos vezes.” E acrescentam, preceituando que “os Espíritos bons permitem que os melhores médiuns sejam às vezes enganados, para que exercitem o seu julgamento e aprendam a discernir o verdadeiro do falso. (LM., Cap. XX, itens, 9 e 10) (grifei)
Atentemos para a importância do que foi dito pelos Espíritos Superiores. O médium tem que estar capacitado para julgar e discernir todas as mensagens recebidas, - ou seja, além de moralizado, deverá ser um profundo estudioso da Doutrina Espírita, para que tenha “conhecimento” suficiente para julgar e discernir a procedência ou improcedência das comunicações. Hodiernamente, isso é muito difícil de acontecer, pois tudo que vem do plano espiritual é publicado como verdadeiro e autêntico! “Além disso, prosseguem os Mestres Espirituais asseverando que, por melhor que seja o médium, jamais é tão perfeito que não tenha um lado fraco, pelo qual possa ser atacado. Isso deve servir-lhe de lição. As comunicações falsas que recebe de quando em quando são advertências para evitar que se julgue infalível e se torne orgulhoso.” (LM., Cap. XX, itens, 9 e 10) (grifei)
Portanto, não é o nome do médium, nem a sua notoriedade, ou moralidade, que avalizam a veracidade e/ou autenticidade das mensagens advindas do plano espiritual. TODOS os médiuns são passíveis de mistificação. TODOS os médiuns recebem comunicações falsas, pois como preceituam os Espíritos Superiores, ainda são portadores de vícios morais, como orgulho, vaidade, egoísmo, em pequena ou grande escala!
Em seguida, Ricardo Di Bernardi no texto sob análise, assevera que “a energia cósmica que permeia o universo, ("fluido cósmico") é a matéria prima que sob o comando mental dos espíritos é utilizada para a constituição dos objetos por eles manuseados” - indicando como fonte de consulta, "O Livro dos Médiuns", capítulo intitulado, "Laboratório do Mundo Invisível".
Reportando-nos à obra e capítulo indicados pelo autor, observa-se que o objeto de estudo centra-se na questão do vestuário dos Espíritos, da formação espontânea de objetos tangíveis e da modificação das propriedades da matéria. À esse respeito o Espírito de São Luis esclarece que “o Espírito dispõe, sobre os elementos materiais dispersos por todo o espaço da vossa atmosfera, de um poder que estais longe de suspeitar. Ele pode concentrar esses elementos pela sua vontade e dar-lhe a forma aparente que convenha ás suas intenções.” (LM., Cap. VIII, item 4.) (grifei)
Não obstante, Kardec se expressa à respeito da teoria apresentada por São Luis expondo que: “A Teoria acima pode ser resumida assim: o Espírito age sobre a matéria; tira da matéria cósmica universal os elementos necessários para formar, como quiser, objetos com a aparência dos diversos corpos da Terra. Pode também operar, pela vontade, sobre a matéria elementar, uma transformação íntima que lhe dê certas propriedades. (...) Os objetos formados pelo Espírito são de existência passageira, que depende da sua vontade ou da necessidade: ele pode fazê-los e desfazê-los a seu bel-prazer. Esses objetos podem, em certos casos, parecer para os vivos perfeitamente reais, tornando-se momentaneamente visíveis e mesmo tangíveis. Trata-se de formação e não de criação, pois o Espírito não pode tirar nada do nada.” (LM., Cap. VIII, item 129) (grifei)
Diante do esclarecimentos de São Luís e Kardec, constata-se que o “Laboratório do mundo invisível”, trata da capacidade de manipulação da matéria cósmica universal por parte dos Espíritos para a formação de objetos e vestuários cuja “aparência“ corresponde aos objetos e/ou roupas, ainda existentes ou não mais, no plano material. No que concerne aos objetos, como anteriormente transcrito, são de existência passageira, podendo parecer reais, momentaneamente visíveis e mesmo tangíveis, não deixando de ser, meras manipulações fluídicas - ou seja, são formas de comunicação do mundo espiritual com o mundo material, como a psicofonia, a psicografia, a escrita direta, etc..
Quanto à vestimenta dos Espíritos, em A Gênese, nos dizem os Mestres Espirituais, que o Espírito se apresenta para o médium com as roupas e sinais exteriores, que tinha à época em que os conheceram, ou da última encarnação, buscando de alguma forma identificar-se. É o aspecto como ele se vê, e/ou como quer ser visto e/ou reconhecido. (GE., Cap. XIV, item 14)
Infere-se do exposto, que o “consenso nas informações dos amigos espirituais no que tange a este assunto”, para que fossem consideradas comunicações verdadeiras, confiáveis, procedentes, deveriam estar em consonância com os “princípios doutrinários” constantes nas Obras Básicas, e não avaliados pelo “consenso” de vários Espíritos comunicantes entre si, como preleciona Ricardo Di Bernardi no texto sob análise. É fato que, se tais mensagens não encontram esteio nas obras da codificação, não poderão ser consideradas ensinamentos “Espíritas“, mas apenas uma linha de pensamento espiritualista.
O outro juízo de validade citado pelo autor do texto, é a sua confiança, nos médiuns famosos como Chico Xavier e Divaldo Franco, através dos quais, os Espíritos trouxeram as novidades do plano espiritual. À esse respeito, somos todos sabedores da moral ilibada de tais médiuns. Entretanto, nos dizem os Mestre Espirituais em O Livro dos Médiuns, que não existem médiuns perfeitos encarnados no planeta Terra. Asseveram que até mesmo os “bons médiuns” são muito raros! “O médium perfeito seria aquele que os maus Espíritos jamais ousassem fazer uma tentativa de enganar. O melhor é o que, simpatizando somente com os bons Espíritos, tem sido enganado menos vezes.” E acrescentam, preceituando que “os Espíritos bons permitem que os melhores médiuns sejam às vezes enganados, para que exercitem o seu julgamento e aprendam a discernir o verdadeiro do falso. (LM., Cap. XX, itens, 9 e 10) (grifei)
Atentemos para a importância do que foi dito pelos Espíritos Superiores. O médium tem que estar capacitado para julgar e discernir todas as mensagens recebidas, - ou seja, além de moralizado, deverá ser um profundo estudioso da Doutrina Espírita, para que tenha “conhecimento” suficiente para julgar e discernir a procedência ou improcedência das comunicações. Hodiernamente, isso é muito difícil de acontecer, pois tudo que vem do plano espiritual é publicado como verdadeiro e autêntico! “Além disso, prosseguem os Mestres Espirituais asseverando que, por melhor que seja o médium, jamais é tão perfeito que não tenha um lado fraco, pelo qual possa ser atacado. Isso deve servir-lhe de lição. As comunicações falsas que recebe de quando em quando são advertências para evitar que se julgue infalível e se torne orgulhoso.” (LM., Cap. XX, itens, 9 e 10) (grifei)
Portanto, não é o nome do médium, nem a sua notoriedade, ou moralidade, que avalizam a veracidade e/ou autenticidade das mensagens advindas do plano espiritual. TODOS os médiuns são passíveis de mistificação. TODOS os médiuns recebem comunicações falsas, pois como preceituam os Espíritos Superiores, ainda são portadores de vícios morais, como orgulho, vaidade, egoísmo, em pequena ou grande escala!
Em seguida, Ricardo Di Bernardi no texto sob análise, assevera que “a energia cósmica que permeia o universo, ("fluido cósmico") é a matéria prima que sob o comando mental dos espíritos é utilizada para a constituição dos objetos por eles manuseados” - indicando como fonte de consulta, "O Livro dos Médiuns", capítulo intitulado, "Laboratório do Mundo Invisível".
Reportando-nos à obra e capítulo indicados pelo autor, observa-se que o objeto de estudo centra-se na questão do vestuário dos Espíritos, da formação espontânea de objetos tangíveis e da modificação das propriedades da matéria. À esse respeito o Espírito de São Luis esclarece que “o Espírito dispõe, sobre os elementos materiais dispersos por todo o espaço da vossa atmosfera, de um poder que estais longe de suspeitar. Ele pode concentrar esses elementos pela sua vontade e dar-lhe a forma aparente que convenha ás suas intenções.” (LM., Cap. VIII, item 4.) (grifei)
Não obstante, Kardec se expressa à respeito da teoria apresentada por São Luis expondo que: “A Teoria acima pode ser resumida assim: o Espírito age sobre a matéria; tira da matéria cósmica universal os elementos necessários para formar, como quiser, objetos com a aparência dos diversos corpos da Terra. Pode também operar, pela vontade, sobre a matéria elementar, uma transformação íntima que lhe dê certas propriedades. (...) Os objetos formados pelo Espírito são de existência passageira, que depende da sua vontade ou da necessidade: ele pode fazê-los e desfazê-los a seu bel-prazer. Esses objetos podem, em certos casos, parecer para os vivos perfeitamente reais, tornando-se momentaneamente visíveis e mesmo tangíveis. Trata-se de formação e não de criação, pois o Espírito não pode tirar nada do nada.” (LM., Cap. VIII, item 129) (grifei)
Diante do esclarecimentos de São Luís e Kardec, constata-se que o “Laboratório do mundo invisível”, trata da capacidade de manipulação da matéria cósmica universal por parte dos Espíritos para a formação de objetos e vestuários cuja “aparência“ corresponde aos objetos e/ou roupas, ainda existentes ou não mais, no plano material. No que concerne aos objetos, como anteriormente transcrito, são de existência passageira, podendo parecer reais, momentaneamente visíveis e mesmo tangíveis, não deixando de ser, meras manipulações fluídicas - ou seja, são formas de comunicação do mundo espiritual com o mundo material, como a psicofonia, a psicografia, a escrita direta, etc..
Quanto à vestimenta dos Espíritos, em A Gênese, nos dizem os Mestres Espirituais, que o Espírito se apresenta para o médium com as roupas e sinais exteriores, que tinha à época em que os conheceram, ou da última encarnação, buscando de alguma forma identificar-se. É o aspecto como ele se vê, e/ou como quer ser visto e/ou reconhecido. (GE., Cap. XIV, item 14)
Face ao exposto na primeira parte do artigo sob análise, constata-se não haver fundamentação espírita que corrobore para validação dos argumentos apresentados pelo autor, como critérios de confiabilidade das mensagens espirituais, que tratarão oportunamente da alimentação dos Espíritos.
CONCLUSÃO DA 1ª PARTE:
1 - Só podemos validar uma idéia como Espírita, estando esta em conformidade com os preceitos propostos pela Doutrina dos Espíritos. Não obstante, se formos utilizar obras de outros autores Espirituais, como fonte de consulta para assuntos considerados espíritas, estas deverão estar obrigatoriamente como um todo, em consonância com as Obras Básicas, e não apenas em alguns aspectos.
2 - A clareza de Kardec, objetiva evitar interpretações pessoais equivocadas, que gerem distorções dos princípios doutrinários. O autor do artigo sob análise, através de sua confiança incondicional em determinados médiuns, e de uma junção de informações alienígenas, criou uma teoria pessoal que atribuiu à Doutrina Espírita.
3 - O autor não idealizou que no processo da codificação, os Espíritos serviram-se de muitos meios de comunicação, dentre os quais, o mais costumeiro à época de Kardec, foram as materializações, e manifestações ostensivas. Portanto, o “Laboratório do mundo invisível“, esclarece sobre uma das formas utilizadas pelos Espíritos para se comunicarem com os encarnados, nada tendo a ver com necessidades alimentares dos Espíritos, e/ou colônias no mundo espiritual.
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
BERNARDI, Ricardo Di. http://medicinaespiritual.blogspot.com/2007/02/alimentao-dos-espritos-ricardo-di.html
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Editora LAKE, 62ª edição, SP, 2001.
KARDEC, Allan. O Livro dos Médius. Editora LAKE, 22ª edição, SP, 2002.
KARDEC, Allan. A Gênese. Editora LAKE, 20ª edição, SP, 2001.