segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Os Sofistas e os Relativistas dentro do Espiritismo



Por: Sésio Santiago Freire Filho


Na antiguidade Grega os sofistas eram professores viajantes que, por determinado preço, vendiam ensinamentos práticos de Filosofia. O momento histórico vivido pela civilização grega favoreceu o desenvolvimento desse tipo de atividade praticada pelos sofistas. Era uma época de lutas políticas e intenso conflito de opiniões nas assembléias democráticas. Por isso, os cidadãos mais ambiciosos sentiam a necessidade de aprender a arte de argumentar em público para, manipulando as assembléias, fazerem prevalecer seus interesses individuais e de classe.


As lições sofísticas tinham como objetivo o desenvolvimento do poder de argumentação, da habilidade retórica, do conhecimento de doutrinas divergentes. Eles transmitiam todo um jogo de palavras, raciocínios e concepções que seria utilizado na arte de convencer as pessoas, driblando as teses dos adversários. Segundo essas concepções, não haveria uma verdade única, absoluta. Tudo seria relativo ao homem, ao momento, a um conjunto de fatores e circunstâncias.


Já os relativistas Gregos que foram retratados por Plantão, não gostavam de reconhecer fatos. Afirmavam que, pelo simples fato do homem não ter certeza absoluta de nada, qualquer debate lógico é improfícuo e desnecessário.


Esses por sua vez fugiam, quando confrontados por uma verdade que os incomodava, e afirmavam que cada um detinha uma opinião, sendo o veredicto em torno do assunto abordado algo desconhecido. Repetiam que aquele que nada sabe é o mais sábio, enalteciam de certa forma a ignorância, sem perceber a contradição de que precisavam contar com uma suposta sabedoria para validar tal conclusão. “



Colocavam o sentir” acima do pensar, ignorando a contradição de que é preciso pensar para defender isso. Pregavam que o desejo era superior à razão, sem se darem conta que os desejos são reflexos dos valores que podem e devem ser questionados pela razão. Defendiam-se da ignorância na alegação de que não existem absolutos, ignorando a contradição de que este seria um absoluto. Em resumo, partiam para o relativismo quando não mais possuíam argumentos concretos e lógicos para defender algo irracional.



No Espiritismo vez ou outra encontramos determinados adeptos que adotam em seus posicionamentos com relação ao conhecimento espírita, uma postura ou eminentemente sofista ou eminentemente relativista, ou as duas posturas ao mesmo tempo. Todo e qualquer conceito Doutrinário para esses é tomado como relativo e está submetido à forma de interpretação.



Esses Sofistas e Relativistas que se consideram espíritas, geralmente se apóiam nos conceitos transmitidos por espíritos que na sua grande maioria ainda se encontram apegados a determinados conceitos terrestres e também se encontram profundamente condicionados em torno de diversos parâmetros tais como tempo, espaço, forma, convenções sociais e etc.


Esses espíritos ainda não estão completamente desmaterializados, por isso conservam mais ou menos, segundo sua ordem, os traços da existência corpórea, seja na linguagem, seja nos hábitos nos quais se encontram, inclusive algumas de suas manias.

Conforme nos elucida o Livro dos Espíritos, esses espíritos na sua grande maioria estão inseridos entre a terceira e a segunda ordem da classificação dada na escala Espírita, classificação essa que se encontra expressa desde o item 100 até o item 113, e se funda no grau de desenvolvimento e nas qualidades por eles adquiridas, assim como também as imperfeições de que ainda não se livraram.


De acordo com esses adeptos, os conceitos contidos nas obras organizadas por Kardec estariam ultrapassados, e muitos deles inclusive deveriam ser reformulados e até substituídos por ensinamentos baseados em opiniões pessoais de determinados espíritos desencarnados.


Infelizmente esses adeptos se esquecem ou até desconhecem o aspecto de que o caráter da revelação Espírita se fundamenta no trabalho de uma plêiade de Espíritos que se comunicaram em várias partes do planeta, falando das mesmas coisas. (Ver Capítulo I da Gênese).



Allan Kardec fundamentou a autoridade da Doutrina sobre esse aspecto. Com o estabelecimento das bases do Espiritismo, definiu-se que o trabalho doutrinário futuro não ficaria restrito a um médium, um grupo ou instituição. Tudo o que no futuro fosse feito, deveria ser submetido a um sistema de controle que ele denominou Controle Universal dos Espíritos.



No seu tempo, o Codificador era o coordenador do Controle Universal. Depois de sua morte, não houve quem desse seguimento ao seu trabalho. Quando o Espiritismo se transferiu para o Brasil, os primeiros agrupamentos nascentes não se preocuparam em dar seguimento às instruções preciosas deixadas pelo codificador e que estão contidas no artigo Constituição do Espiritismo localizado na segunda parte do Livro Obras Póstumas. Não se sabe o motivo pelo qual isso aconteceu.



Os grupos de encarnados que deram origem à Federação Espírita Brasileira – FEB desenvolveram um sistema espírita muito diferente daquele idealizado por Allan Kardec e infelizmente nele nunca esteve presente o Controle Universal dos Espíritos, o que se constituiu numa grave falha dessa instituição.



O Controle Universal dos Espíritos é o mecanismo que deveria garantir a unidade doutrinária e evitar cismas dentro do movimento espírita. Infelizmente sem ele, o sistema tornou-se vulnerável e várias teorias estranhas pertinentes às mais variadas expressões de crenças espiritualistas foram introduzidas nas práticas Espíritas, sem que houvesse tido a sua chancela universal dos próprios espíritos responsáveis pela difusão do espiritismo na Terra



Houvesse existido um órgão centralizador como nos orienta o codificador no Livro Obras Póstumas, que pudesse avaliar as mensagens que lhe fossem enviadas regularmente pelos centros espíritas adesos do Controle, ele poderia saber sobre as novas revelações e auxiliar a fazer as correções doutrinárias necessárias às teorias que são defendidas por esses vários adeptos sofistas e relativistas que circulam dentro do movimento espírita, e que inclusive como autênticos mecenas, ganham dinheiro a custa da própria doutrina, vendendo “aos olhos da cara” umas literaturas repletas de joio doutrinário.



Infelizmente como temos observado no atual momento que vivemos dentro do movimento espírita, nem tudo é perfeito, ao lado de grandes acertos que são realizados através da aplicabilidade dos ensinamentos morais do Cristo, ainda assim existem grandes erros humanos, dentre esses graves erros encontramos o suposto evolucionismo do conhecimento doutrinário, que é defendido ferozmente por esses sofistas e relativistas.



Conforme nos alertou o saudoso Herculano Pires, o desenvolvimento dos princípios espíritas não pode ser feito de maneira atrabiliária, pois no campo do Conhecimento há leis de lógica e de logística que regem o processo cultural. Diante desse alerta, urge a necessidade da execução de alguns critérios perante o progresso doutrinário, critérios esses que nos foram legados pela espiritualidade superior e que estão inseridos na codificação (Ver: Item II da Introdução do Evangelho segundo Espiritismo e Cap. I da Gênese), critérios esses que deveriam ser empregados de forma plena perante as diversas formas de divulgação do conhecimento doutrinário; critérios esses que infelizmente estão ausentes no afã evolucionista desses supostos adeptos.
 
 
 
 
 
Bibliografia:
KARDEC, Allan. A Gênese. 25ª ed. Rio de Janeiro: Feb, 1982
KARDEC, Allan. Obras Póstumas. 5ª ed. São Paulo: Ed. Feesp,1991
KARDEC, Allan.O Livro dos Espíritos. 19ª ed. São Paulo: Ed. Feesp,1991
PIRES, Herculano. A pedra e o joio. 1ª ed. São Paulo: Ed. Cairbar, 1975

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