Por Nazareno Tourinho
No artigo precedente fizemos alusão ao recurso empregado por J. B. Roustaing para tornar digerível, em nosso meio doutrinário, sua obra indigesta: plagiar Kardec, copiando-lhe algumas idéias e as oferecendo ao público como se fossem suas. Demos como exemplo dessa deplorável conduta apenas um trecho de O Livro dos Espíritos, mas poderíamos ter acrescentado outros, pois Roustaing surrupiou ideias de Kardec retirando-as até de O Evangelho Segundo o Espiritismo – neste livro o Codificador explica, uma por uma, as frases da prece conhecida como Pai Nosso, ensinada por Jesus; o antigo bastonário da Corte Imperial de Bordeaux não deixou de imitá-lo também quanto a isso, e quem duvidar consulte as páginas 447/449 do Volume 1 de Os Quatro Evangelhos, de sua autoria (6ª edição da FEB).
Contudo desprezemos essas “superfluidades” porque no Volume 2 da referida obra há coisas muito piores. Não somente heresias científicas (“A paralisia é um resfriamento dos fluidos animalizados que circulam no organismo humano.” – página 76), mas principalmente religiosas.
O que Roustaing e seus “guias” pretendem, já salientamos nos escritos anteriores, é nos intoxicar filosoficamente, temperando o Espiritismo com Catolicismo. Na página 143 do mencionado Volume 2, lemos:
“A igreja que os homens fizeram tem que ser transformada, vós o sabeis. Preparai, pois, espíritas, os materiais que hão de servir para a reedificação, a fim de que os obreiros do Senhor encontrem talhadas as pedras, quando for tempo de levantar o edifício.”
Neste tópico Roustaing e seus “guias” ainda estão preparando o terreno para plantar suas venenosas sementes. Na página 169 eles avançam um pouco mais, garantindo:
“A igreja, porém, despertará; o sonho em que ainda se compraz, dissipar-se-á ao clarão da nova aurora.” (Os grifos são dos autores, não nossos).
Na página seguinte, 170, começam a tirar a máscara:
“Coragem, filhos da nossa igreja, da Igreja do Senhor, aproximam-se os tempos em que os discípulos e o Mestre aparecerão de novo entre vós, em que vossos olhos desvendados verão o Justo nas nuvens do céu, em que os anjos, isto é, os Espíritos purificados, descerão à Terra para mais eficazmente vos estenderem seus braços fraternais.” (Todos os grifos até aqui, e daqui para a frente, destacando em negrito algumas palavras, são dos autores.)
Na página 254 vão além, assumindo a linguagem que lhes é própria:
“De contínuo incentivando em vós, igualmente, as aspirações pela perfeição, não levantamos também uma ponta do véu que ocultava o futuro, para vos mostrarmos o vosso Deus no seu trono imutável, esperando que, arrependidos, seus filhos venham acabar junto desse trono a obra que ele lhes confiou?”.
Depois de colocarem DEUS em um trono, soltam mais a língua à página 277:
“Inclinai-vos com respeito, reconhecimento e amor diante desse Salvador cheio de devotamento que, desde o instante em que o vosso globo saiu dos fluidos espalhados na imensidade, em que esses fluidos, para formarem um mundo, se reuniram pela ação de sua vontade divina, divina no sentido de ser ele órgão de Deus, velou sempre por vós...”
Na página 297 Jesus é denominado Redentor. Na 308 temos este primor de argumento católico:
“Referindo-nos a Jesus, acabamos de usar das expressões – filho único do pai. Ele o era e é, no sentido de ser, pela sua elevação espiritual, única relativamente à de todos os Espíritos que se acham ligados ao vosso planeta, quem lhe preside os destinos.”
Finalmente, na página 440, somos presenteados com a grande “Revelação” da obra de Roustaing, que a atual diretoria da FEB, a esta altura talvez mais por capricho, teima em aceitar e divulgar. Ei-la, sem qualquer comentário, em respeito à inteligência dos verdadeiros espíritas, os fiéis seguidores da doutrina codificada por Allan Kardec.
“Quando o cetro do “príncipe da igreja” houver cedido lugar ao cajado do viajor, quando a púrpura houver caído e o burel cobrir os ombros daquele a quem os homens chamam de “O Santo Padre” e os dos “príncipes da igreja”, o que sucederá, depois que todos hão de voltar à humildade de que jamais se deveriam ter apartado, então a fé, evolando-se dos vossos corações, se elevará grande e forte, para dominar ainda na igreja do Cristo, e o “sucessor de São Pedro” estenderá sua santa mão para abençoar o universo.”
Fonte: TOURINHO, Nazareno. As Tolices e Pieguices da Obra de Roustaing – Nazareno Tourinho; ensaio crítico-doutrinário; 1ª edição, Edições Correio Fraterno, São Bernardo do Campo, SP, 1999.
Muito obrigada por você existir... Suas postagens são maravilhosas!
ResponderExcluirGraça, coincidentemente ou não, eu também conheci a Doutrina 'Maravilhosa' Espírita em 1992.
Abraços.
Roberto Vieira
Roberto, fico feliz de saber que o Blog Um Olhar Espírita está cumprindo o seu papel de divulgar com fidelidade os preceitos Espíritas, buscando resgatar a Codificação kardeciana dos escombros das divulgações equivocadas. Abraço fraterno.
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