sábado, 19 de maio de 2012

A Mais Dura Batalha de Herculano Pires

Por Jorge Murta


 

Este é o capítulo mais dramático da vida de José Herculano Pires e um dos mais importantes da história do Movimento espírita mundial. O texto é longo, porém pedimos que não o deixem de ler pois verão as armações do Movimento Espírita Brasileiro contra os quais Herculano se levantou e também um dos raros elogios que se pode fazer a Chico Xavier.


A crucificação do Evangelho

Em 1973 o jornalista Paulo Alves Godoy mantinha cargos diretivos na Federação Espírita do Estado de São Paulo e na União das Sociedades Espíritas de São Paulo. Ele e o confrade Jamil Nagib Salomão (o qual nessa época dirigia a importante Área de divulgação da FEESP) foram a Uberaba visitar o médium Chico Xavier. No decorrer da conversa em meio ao povo o famoso médium dissera, inadvertidamente, que certas expressões de Allan Kardec contidas no Evangelho deveriam ser abrandadas, sem que, no entanto, o pensamento do Codificador sofresse alteração... Na viagem de regresso Jamil Salomão incumbiu Paulo Alves de Godoy de traduzir O Evangelho Segundo o Espiritismo, porém substituindo e até mesmo suprimindo expressões que lhe parecessem agressivas ou inadequadas. Paulo Alves Godoy, por ingenuidade ou vaidade (note-se que já era autor de livros sobre Jesus e os evangelhos...) aceitou a tarefa. Quanto a Jamil Salomão, comerciante experiente, acreditava que a tradução "moderninha" (conforme ele dizia), por ser novidade e trazer o selo da Federação Espírita do Estado de São Paulo, retiraria do mercado em curto prazo a tradução de Guillon Ribeiro e a de Herculano Pires, enchendo, assim os cofres da FEESP...



O trabalho de lesa-doutrina fora realizado sigilosamente, como que na calada da noite, por Paulo Alves Godoy, sob o olhar vigilante de espíritos trevosos. Há de admirar-se o leitor que a diretoria da FEESP aprovasse o plano umbralino, mas o ambiente estava propício para o delito, porque o ensino e a prática mediúnica espíritas nessa instituição mesclavam-se ainda ao orientalismo e esoterismo. A Doutrina Espírita não era estudada diretamente nas obras de Allan Kardec.



A tradução sinistra de Paulo Alves Godoy (na verdade, uma montagem baseada em traduções alheias) foi impressa em julho de 1974 na cidade de Araras. Edição de trinta mil exemplares! Lançada em outubro juntamente com o Instituto de Difusão Espírita de Araras, sob a direção de Salvador Gentile, boa parte da edição fora vendida antecipadamente aos centros espíritas. O confrade Stig Roland Ibsen, proprietário da Livraria Boa-Nova, em São Paulo, também colaborou, distribuindo o resto da obra às livrarias. Quando, pois, Jamil Nagib Salomão e Josian Courté enviaram um exemplar a Herculano Pires, já o evangelho adulterado estava no mercado.



Herculano vai à luta

Grande foi o impacto sofrido pelo mestre ao examinar a tradução. Jorge Rizzini visitou-o no dia seguinte. Herculano Pires apresentava palidez acentuada. Foi com amargura que disse:

– Já viu o que fizeram n’O Evangelho Segundo o Espiritismo? É inacreditável. Paulo Alves Godoy adulterou-o. Edição FEESP.

– E Carlos Jordão da Silva e Luiz Monteiro de Barros? O presidente da federação e o vice concordaram?

– Concordaram. E pareciam espíritas convictos!


E Herculano Pires contou que Luiz Monteiro de Barros o visitava com assiduidade e que, certa vez, ao conversar sobre Jesus e os textos evangélicos, fora tomado por intensa emoção e confessou, quase em lágrimas, ter certeza de que em uma de suas vidas anteriores adulterara o evangelho.

– O passado agora falou mais alto e eles, juntamente com Paulo Alves Godoy, não resistiram às vozes da treva – concluiu Herculano.


– E o que você pretende fazer?

Herculano Pires recordou-se das palavras de Allan Kardec contidas em O Evangelho Segundo o Espiritismo (capítulo X, item 21): "Conforme as circunstâncias, desmascarar a hipocrisia e a mentira pode ser um dever, pois é melhor que um homem caia do que muitos sejam enganados e se tornem suas vítimas."

E respondeu: – Alertar o movimento espírita de norte a sul! Infelizmente o nome da federação será citado, embora a instituição não tenha culpa da irresponsabilidade de seus atuais diretores. O mestre estava indignado, pois adulterar as obras de Kardec e dá-las ao povo é pior do que queimá-las, como fez o bispo de Barcelona. A luta em defesa do Evangelho seria mais difícil de ser vencida que a das "materializações de Uberaba", porque os inimigos estavam integrados no movimento espírita. Na verdade, Carlos Jordão da Silva, Luiz Monteiro de Barros, Jamil Salomão, Paulo Alves Godoy e Josian Courté sentiam-se acobertados pelo prestígio da então maior instituição espírita do mundo (considerada "reduto dos kardecistas") e não acreditavam que Herculano Pires ousasse vir a público denunciar o crime de lesa-doutrina por eles praticado.



Fatal engano o desses confrades. "Nenhum espírita consciente do valor e do significado real da Doutrina Espírita pode cruzar os braços e calar a boca diante dessa calamidade. – disse o mestre – Trata-se de um gravíssimo problema de cultura. Estamos reduzidos, perante os homens de cultura, à condição de uma súcia de ignorantes, de místicos retrógrados, incapazes de compreender a própria doutrina que esposam."


E redigiu imediatamente um artigo-denúncia intitulado "Adulteração das Obras de Kardec", que o "Diário de São Paulo" estampou em sua edição dominical e que teve o efeito de uma bomba no movimento doutrinário. Dias depois, surpreendentemente, o confrade Alfredo Cruso, que fizera parte da diretoria do Clube dos Jornalistas Espíritas de São Paulo e que dirigia uma gráfica, presenteou Herculano Pires com sessenta e quatro mil folhetos reproduzindo o artigo-denúncia. O Grupo Espírita Cairbar Schutel, que funcionava na residência de Herculano Pires e por ele presidido, incumbiu-se da distribuição em todos os Estados brasileiros.



"É inacreditável – escreveu o mestre – que a adulteração tenha partido de onde partiu. Mas a edição aí está, na própria livraria da Federação, num lançamento de trinta mil volumes para venda a preços populares. Com ela, a Federação quebra o clima de respeito pelos textos das obras básicas do Espiritismo. De agora em diante, os reformadores de Kardec terão as mãos livres para fazer as alterações com que vêm sonhando há muitos anos, de forma a adaptar, cada grupo, essas obras à sua maneira particular de encarar os problemas espíritas. Mais grave se torna o caso diante da ameaça de lançamento de toda a Codificação em novas traduções por esse mesmo processo."



E após mostrar exemplos da adulteração espalhados por todo o livro, escreve o mestre com o necessário vigor: "Ninguém, sob nenhum pretexto, tem o direito de fazer adulterações nos textos de Kardec ou de qualquer autor de obras doutrinárias ou não. Quando se trata de obras básicas de qualquer doutrina, essa prática é considerada criminosa. E o crime é tanto mais grave quando praticado em obras de autor já falecido e cujos direitos autorais caíram no domínio público. Porque a figura jurídica do domínio público resguarda a integridade da obra, permitindo apenas que ela seja publicada por qualquer editor sem pagamento de direitos autorais.



No caso das obras de Kardec, que constituem o fundamento doutrinário do Espiritismo, cabe às instituições espíritas zelar pela sua integridade, impedir a sua desfiguração por qualquer editor irresponsável. Mas se as próprias instituições doutrinárias se puserem a desfigurar essas obras, quem as defenderá, quem resguardará a sua integridade? E que respeito mostramos pela Doutrina, quando somos os primeiros a deturpar os seus fundamentos?



Não se diga que as alterações são poucas e superficiais. Damos aqui alguns exemplos, mas esses casos citados se estendem por todo o volume, constituindo uma adulteração geral da obra. Não são superficiais, porque afetam a estrutura da obra e o seu próprio sentido, tiram-lhe a seriedade e a precisão terminológica, envolvendo-a no ridículo e amesquinhando a posição intelectual de Kardec. Só resta à Federação uma medida urgente: retirar a edição de circulação e sofrer o prejuízo decorrente da falta de critério desse lançamento."



E mais fez o apóstolo de Kardec. Em seu programa de grande audiência "No Limiar do Amanhã", na Rádio Mulher, denunciou a adulteração enquanto seu amigo Jorge Rizzini, que desde a primeira hora esteve ao seu lado e que produzia e apresentava o programa "Um Passo no Além", na Rádio Boa-Nova e Rádio Clube de Sorocaba, irradiava, semanalmente, uma entrevista de Herculano Pires sobre o doloroso assunto. Os adulteradores, então, pressionados, viram-se obrigados a vir a público.


Reagem os adulteradores
O presidente da FEESP, Carlos Jordão da Silva, remetera à direção daquelas emissoras de Rádio esclarecimentos sobre a "nova tradução" do Evangelho, solicitando fossem divulgados nos programas que a denunciavam. O documento traz a data de 30 de outubro de 1974 e dele destacamos o primeiro item, cuja mentira causa pasmo. Ei-la: "A iniciativa (da FEESP) de editar tradução de sua responsabilidade deve-se ao fato não de julgar insatisfatórias as traduções existentes, mas sim à contingência de não poder delas se utilizar sem pagar direitos. (...)"



Ora, a verdade cristalina é que a FEESP já havia publicado em julho de 1970 (quatro anos antes da adulteração) uma edição de O Evangelho traduzida por Herculano Pires, cujos direitos ele cedera, gratuitamente, à instituição, que imprimira doze mil exemplares. Quatro meses depois foi lançada a segunda edição (mais doze mil exemplares). A terceira edição a FEESP pôs à venda em setembro de 1971 (quinze mil exemplares), totalizando em tão curto período trinta e nove mil exemplares!



Posteriormente, em 1973 (note o leitor: um ano antes da adulteração) Herculano Pires entregara à Federação Espírita do Estado de São Paulo outro documento sobre os direitos de edição de suas traduções das obras de Allan Kardec. Tem por título "Concessão de Direitos Autorais". Nele o mestre escreveu o que passamos a transcrever: "Pelo presente documento concedo à Federação Espírita do Estado de São Paulo o direito de publicar todas as obras de Allan Kardec de minha tradução, sem qualquer pagamento de direitos autorais. Essas obras são, até o momento: O Livro dos Espíritos, O Livro dos Médiuns, O Evangelho Segundo o Espiritismo, O Céu e o Inferno e Obras Póstumas. Não se tratando de simples tradução, mas de cuidadosa reelaboração dessas obras em nossa língua, antecedidas de prefácios explicativos e notas e comentários esclarecedores, constituem-se esses volumes em obras de reelaboração literária, com texto específico, não podendo ser editada com exclusão de nenhum dos seus elementos constitutivos.


Tendo concedido a publicação inicial das mesmas, através dos documentos necessários, às seguintes livrarias: Editora Cultural Espírita Ltda – EDICEL, e Livraria Allan Kardec Editora – LAKE, bem como à Editora Calvário (a esta com aprovação das duas anteriores), vai este documento também assinado pelas referidas concessionárias. (...)"



A atitude correta a ser tomada por Carlos Jordão da Silva seria, pois, reconhecer com humildade o delito doutrinário gravíssimo, mas o orgulho ferido prevalecera e ele preferiu defender-se com a mentira, embora o Evangelho fosse o tema da polêmica.



Herculano Pires, ao ler os "esclarecimentos" de Carlos Jordão da Silva, enviou-lhe uma longa carta datada de 7 de novembro, da qual extraímos os seguintes tópicos: "Li, com surpresa e amargor, o pronunciamento dessa Federação, tentando justificar a adulteração de O Evangelho Segundo o Espiritismo, na infeliz tradução de Paulo Alves Godoy. Considero estranha e desoladora essa atitude da FEESP, que lança definitivamente o nosso movimento doutrinário no despenhadeiro das deturpações da obra de Kardec. Alimentei durante anos a esperança de que a presença de velhos militantes como Carlos Jordão da Silva e Luiz Monteiro de Barros, na direção dessa casa, conseguisse arredá-la dos caminhos tortuosos que há muito vinha seguindo em suas práticas internas. Vejo agora que minha esperança não passava de um sonho, de uma ingênua ilusão. Esse pronunciamento único e, portanto, decisivo selou a sorte da FEESP: coube-lhe o papel de iniciadora, no Brasil e no mundo, de um processo imprevisível de desfiguração dos textos fundamentais da Doutrina Espírita.


Os itens esclarecedores da justificativa revelam o clima de tensão emocional, de paixão grupal que envolve essa casa, tirando aos seus dirigentes mais lúcidos a possibilidade de ver os descaminhos a que se lançam. Consuma-se, assim, a falência das instituições de cúpula da direção do movimento espírita brasileiro. De um lado temos a FEB dominada pela fascinação roustainguista e de outro lado a FEESP, que parecia o baluarte sulino da resistência kardecista, voltada para a triste tarefa de uma suposta atualização dos textos doutrinários, eufemismo que mal encobre o crime evidente da adulteração. Ou os diretores da FEESP não conhecem o sentido dessa palavra?



Lamento não ter podido usar uma linguagem untada de fraternismo adocicado, nem sempre usado na FEESP, mas exigida para os que a ela se dirigem. Meu temperamento se afina com a linguagem usada nos Evangelhos, nas epístolas e nos trabalhos sinceros e francos de Kardec. Não vejo outra maneira de sermos fiéis à verdade. Entre a rudeza agressiva e a voz clara da verdade há grande distância, que nem todos percebem. Nunca pretendi agredir, mas apenas dizer o que sinto e penso com as palavras certas, exatas, sem simulações, segundo aprendi no Espiritismo.



Se a FEESP deseja críticas construtivas, penso que as ofereci com toda a sinceridade, mostrando alguns dos pontos essenciais da adulteração cometida na tradução em causa. Não me foi possível fazê-las em particular, na forma de confissão auricular, por dois motivos: 1º) porque sou avesso a esse tipo de conversação de comadres; 2º) porque tive de enfrentar o fato consumado de uma edição adulterada já lançada à venda, oferecida ao público. Nessa condição, não me cabia apenas falar aos dirigentes ou pedir-lhes explicações, mas também e sobretudo advertir o público, submetido a um processo evidente de mistificação doutrinária. Cumpri o meu dever de espírita e de jornalista e escritor espírita.



Não guardo ressentimento contra ninguém. Não sou contra ninguém. Sou contra a adulteração, contra a linguagem fingida, contra o espírito conventual, contra a pretensão ingênua dos que se julgam capazes de corrigir as obras de um mestre da língua, da lógica e do espírito, como Allan Kardec. Os que puderem me suportar assim, continuarão certamente meus amigos. Aos que não puderem, e aos que fazem insinuações caluniosas contra mim, dirigirei pensamentos de amor e compreensão, pois devemos amar a todos e compreender os que erram."



Como era de prever-se, Carlos Jordão da Silva e Luiz Monteiro de Barros (Herculano Pires até então os considerava "grandes e velhos amigos, companheiros de longos anos de militância espírita") silenciaram e continuaram a apoiar a divulgação e a venda de O Evangelho adulterado. Os "esclarecimentos" remetidos a Roberto Montoro, diretor da Rádio Mulher, foram, no entanto, lidos no programa "No Limiar do Amanhã" com a aquiescência de Herculano Pires. Mãos de gato, porém, agiam nos estúdios da Rádio Mulher. O programa mais completo sobre a adulteração havia sido misteriosamente desgravado. E o segundo, que abordava também com detalhes o crime de lesa-doutrina, não fora irradiado, dando a impressão aos ouvintes que Herculano Pires desistira de defender o Evangelho de Jesus. O mestre, então, não mais pôs os pés naquela Emissora.



"No dia 23 o programa "No Limiar da Manhã" voltou ao ar de maneira aparentemente normal. Mas todos os ouvintes puderam sentir que não era mais o mesmo. A voz de Herculano não estava presente. Copiavam-lhe o sistema, a estrutura, mas logo de início faltava aquela frase viril que sempre o caracterizou: Um Desafio no Espaço! Não havia mais desafio. A verdade fora esmagada em favor das conveniências. E nem um aviso, nem uma nota sobre a ausência do seu criador, do homem que o lançara e mantivera no ar durante quatro anos seguidos."



Dias depois Herculano Pires teria a confirmação de que fora o Grupo Espírita Emmanuel, da cidade de São Bernardo do Campo, o qual patrocinava simbolicamente as transmissões, o responsável pelos atos de vandalismo que resultaram no desfecho dramático do programa "No Limiar do Amanhã". Note o leitor que o fundador (e líder do referido grupo) era o editor Rolando Ramaciotti, que Herculano Pires acreditava ser um grande amigo..


Resposta aos detratores

Alguns atos de Herculano Pires em defesa da obra de Allan Kardec foram quase simultâneos, porque a batalha estendera-se a outros Estados brasileiros. O mestre desdobrava-se apoiado pela Espiritualidade Superior. Escrevera outro artigo-denúncia e enviara ao jornal "Mundo Espírita" (órgão da Federação Espírita do Paraná), que o publicou na edição de 31 de dezembro de 1974, além de cartas a confrades que o denegriam instruídos pelos adulteradores. Antes de transcrevermos algumas dessas cartas, narremos já seu plano olímpico, epopeico, que pôs fim ao escândalo da adulteração.



São de Herculano Pires estas palavras: "Estamos diante desta realidade estarrecedora: o movimento espírita se dividiu em duas partes, uma que sustenta a verdade e outra que defende a mentira, a deturpação dos textos. É dura esta realidade, bem o sabemos, mas é real, concreta, palpável, inegável. Chegamos a um momento decisivo, a um divisor de águas. Não há mais lugar para acomodações, para indecisões, para o "jeitinho" dos que preferem as conveniências. Ficamos com a verdade ou ficamos com a mentira. Uma frase evangélica define esta situação: Seja o teu falar sim, sim; não, não; pois o passar disto vem do maligno.



Não podemos recuar, nem calar. O que está em jogo não é a nossa opinião pessoal ou grupal, a nossa verdade particular. O que está em jogo é o Espiritismo, a Verdade Universal pregada por Jesus, destruída nas fogueiras da mentira e ressuscitada pelo Espírito da Verdade."



E Herculano Pires, o apóstolo de Kardec, expôs a ideia de publicar um jornal em forma de tabloide, cujo número inicial seria inteiramente dedicado ao problema da adulteração. A edição de quarenta mil exemplares seria distribuída gratuitamente pelo Grupo Espírita Cairbar Schutel, que ele presidia e que funcionava na garagem de seu lar. O jornal, porém, não tinha nome e seu amigo Jorge Rizzini sugeriu "Mensagem Espírita", mas Herculano Pires desejava que circulasse também fora do movimento doutrinário, e o título ficou sendo "Mensagem".



Os quarenta mil exemplares lançados em dezembro de 1974 circularam na maioria dos centros espíritas do país e repercutiram intensamente. Assemelhavam-se a quarenta mil bombas de efeito moral. Na primeira página (impressa em duas cores) lia-se a seguinte manchete: Adulteradores da obra de Kardec impedem a divulgação da verdade.



O jornal em seguida reproduzia o "script" do programa "No Limiar do Amanhã" escamoteado pelos adulteradores; programa em que o mestre analisara o pronunciamento da FEESP sobre a maligna "tradução" de Paulo Alves Godoy. A vitória do Evangelho sobre a mentira parecia desenhar-se no horizonte, pois pequeno grupo de confrades ilustres passara a apoiar publicamente a campanha liderada por Herculano Pires: Messias Antônio da Silva, Jorge Borges de Souza, Aureliano Alves Neto, Alfredo Miguel, Deolindo Amorim, Guido Del Picchia, Agnelo Morato; e mais um ou dois confrades. Entre os jornais reticentes, silenciosos, mas coniventes com o crime de lesa-doutrina, temos de citar, lamentavelmente, o de Freitas Nobre, diretor de "Folha Espírita". "Esse jornal – escreveu Herculano Pires em "Vigilância", suplemento de "Mensagem") – segue uma linha de omissão comprometedora, a ponto de nem sequer ter noticiado que houve uma adulteração de O Evangelho Segundo o Espiritismo, em São Paulo."



Outro órgão que envergonhou a imprensa espírita foi o "Jornal Espírita", do novo proprietário da Livraria Allan Kardec Editora (LAKE), o argentino naturalizado brasileiro Roberto Ferrero. "O "Jornal Espírita", que havia quebrado a tradição kardecista do movimento espírita paulista divulgando, inclusive, o roustainguismo, em seu segundo número – registra Herculano Pires em "Mensagem", edição de agosto de 1975 –, atreveu-se a reproduzir o artigo de fundo de nosso número anterior (artigo estampado em "Mensagem") adulterando-o e apresentando-o como escrito especialmente para as suas páginas. Trata-se do estudo "Chico Xavier, o homem, o médium e o mito", do qual foi simplesmente cortada a parte final que se referia ao pronunciamento decisivo do famoso médium contra a adulteração das obras de Kardec."



Os quarenta mil exemplares de "Mensagem", expondo, corajosamente, diante do movimento espírita brasileiro a nudez da verdade, irritaram os que se confraternizavam secretamente, inclusive por carta, com os adulteradores. Leia-se a resposta de Herculano Pires enviada em 15 de abril de 1975 ao livreiro e editor Stig Roland Ibsen (um dos distribuidores do Evangelho apócrifo às livrarias), da qual extraímos estes trechos reveladores: "O que você entende, Stig, por caridade? Cumplicidade com o erro, com o atrevimento, com a profanação? Onde há caridade: em preservar para o povo a verdade dos textos ou aprovar a desfiguração da verdade para satisfazer nossas preferências pessoais? Jesus foi descaridoso quando disse pesadas palavras aos fariseus para despertar-lhes a consciência vaidosa? Devia elogiá-los por recusarem a verdade límpida que ele ensinava?


Há coisas, Stig, que se chamam convicção, amor pela doutrina que se professa, respeito pela III Revelação, reconhecimento de nossa pequenez diante da grandeza espiritual do Evangelho, de Jesus e do Espírito da Verdade. Minha consciência não me permite faltar a essas coisas.



(...) É realmente triste, para mim, ter de reconhecer e precisar dizer de público que Chico revelou desconhecer a extensão de sua responsabilidade no campo doutrinário. Mas a verdade é essa, pois se o reconhecesse não teria formado com Paulo e Jamil o trio interessado em "abrandar" o Evangelho. Chico entrou numa canoa furada por invigilância, como ele mesmo confessa, e ainda agora, reconhecendo o erro, quer sustentá-lo para não faltar com a solidariedade aos dois patetas, sem se lembrar das consequências que o seu endosso a essa miserável trapaça, filha da ignorância e da vaidade, poderá acarretar para o movimento espírita. É duro dizer isto, mas é verdade. O que está em causa, Stig, não é a opinião deste ou daquele, é a Doutrina, é o Espiritismo!



O precedente da FEESP a coloca abaixo da própria FEB, abrindo oficialmente as comportas da deturpação de toda a obra de Kardec. Só posso admitir que isso tenha acontecido, e que vocês persistam na defesa dessa barbaridade sem limites por motivo de uma fascinação coletiva. Se qualquer borrabotas se põe a corrigir Kardec, Jesus e o Espírito da Verdade, com ares de sabichão e santarrão, sob a custódia de uma instituição doutrinária de renome, onde vamos parar?



(...) Tudo eu podia esperar do nosso pobre movimento espírita, menos essa burrice desmedida, essa besteira colossal, essa prova esmagadora de que dirigentes espíritas brasileiros não têm o mínimo senso de suas responsabilidades espirituais nesta hora do mundo. É uma vergonha o que aconteceu. Só podemos lembrar a advertência de Jesus: "Não atireis pérolas aos porcos..." Sim, porque os porcos não querem pérolas, querem milho. Estamos moralmente falidos. E é só, pois abaixo disso nada mais existe."



Não há como contestar as palavras do apóstolo de Kardec. Além de receber críticas às vezes ferinas, o mestre foi caluniado por defender publicamente a pureza ideológica. A propósito, vamos destacar, para a meditação do leitor, trechos de uma carta de Herculano Pires endereçada em 10 de abril de 1975 a Antônio de Souza Lucena (autor de livros contendo resumos biográficos em parceria com Paulo Alves Godoy): "Surpreendeu-me dolorosamente e chegou mesmo a causar-me indignação a maneira leviana e caluniosa com que o senhor se referiu a mim e a Rizzini, em longa e tenebrosa carta que dirigiu a Alfredo Miguel, dando-lhe ainda a licença de nos transmitir o texto da mesma.



Peço-lhe informar-me, pela volta do correio, quem foi que lhe deu as informações que tão levianamente transmitiu a outrem, sobre as minhas atividades espíritas e particularmente a minha posição no caso vergonhoso da adulteração de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Quem lhe pregou a mentira caluniosa, e como o fez, de que eu recebia 40 por cento de direitos autorais da minha tradução (GRATUITAMENTE concedida à LAKE, à Editora Calvário, à EDICEL e... à Federação Espírita do Estado de são Paulo). Cedi ainda gratuitamente a minha tradução à Editora 3 (leiga) da revista "Planeta", para uma edição de 70 mil exemplares que foi vendida em bancas de todo o Brasil. Divulguei isso amplamente e ninguém me contestou, porque não há contestação possível. Peço ao senhor que me indique o caluniador, a fim de tomar minhas providências a respeito.



Aquilo que o senhor chamou em sua carta de "sujeira" realmente o era, mas não praticada por mim e sim pelos seus informantes, aos quais o senhor se juntou na divulgação da calúnia. Felizmente Alfredo Miguel me conhece e escreveu a Rizzini contando que não pôde responder a sua carta até aquele momento por ter ficado chocado com as suas "novidades".



O senhor condenou a nossa defesa pública da obra de Kardec. Informo-lhe que não sou e nunca fui homem de sacristia e confessionário, não gosto de conversas de comadre em assuntos de interesse público e estou sempre disposto a levar nossos problemas ao conhecimento do público. O Espiritismo não é igreja nem ordem oculta, é doutrina aberta, porque só lhe interessa a verdade. Não temos o direito de esconder do público a nossa doutrina e muito menos as deturpações que dela fazem. Não queremos enganar o público e nem deixar que o enganem. Lutamos pela verdade e por isso lutamos às claras. Não entendo Espiritismo de portas e janelas fechadas.



Se não fosse a nossa reação pública e enérgica, a adulteração já teria atingido as demais obras de Kardec. Paulo Godoy já se vangloriava de estar adulterando O Livro dos Espíritos para lançamento urgente. Nossa reação despertou o Brasil e fez recuar os adulteradores. O Espiritismo precisa de espíritos livres e corajosos para difundi-lo e defendê-lo de cabeça erguida. Posso fazê-lo, graças a Deus, porque em meus quarenta anos de atividade doutrinária nada pratiquei que me envergonhe. A prova disso está em suas mãos. A FEESP e sua equipe de adulteradores não acharam nada de que me acusar. Tiveram de mentir e caluniar. É pena que o senhor se tenha deixado levar nessa onda de sujeira moral. Aceito o seu envolvimento como o produto de invigilância e não o quero mal por isso. Mas não posso deixar que os caluniadores continuem a sua semeadura oculta, através de cartas e outros expedientes dessa espécie. Por isso lhe peço que me diga quem e como lhe forneceu esses dados mentirosos. Quero ver se esse alguém sustenta o meu olhar quando eu o interpelar a respeito.



O medo do público é típico dos que pretendem iludir e trapacear. Nós, espíritas, não devemos temer o público. Nosso dever é esclarecer e orientar, mesmo que os adversários nos chamem de cachorros. Eles temem o debate público porque sabem que sairiam prejudicados de uma luta aberta e sincera. Nós não temos o que temer. Nossa batalha está chegando ao fim e nem eu nem Rizzini, nem os demais que nos acompanharam por todo o país, nenhum de nós saiu envergonhado da luta. Pelo contrário, saímos vitoriosos e engrandecidos em nossa pequenez de lutadores da verdade. E o que é mais importante: a Doutrina saiu ilesa e Kardec foi desafrontado.


Não estamos no Céu, meu caro Sr. Lucena, e não somos anjos. Estamos na Terra, mundo de provas e expiações, e precisamos seguir o exemplo de Jesus, usando chicote contra os vendilhões do Templo e debatendo em público os problemas espirituais com os fariseus. O Espiritismo não é caixa de segredos nem vive de conciliábulos. Nossos problemas devem ser tratados à luz do dia, porque nada temos a esconder de ninguém.



Acho que chega o que já escrevi. Mas envio-lhe ainda alguns documentos a respeito, para que o digno companheiro Lucena veja a extensão e a profundidade dessa coisa que, sem conhecimento exato, pensou que devia ficar em segredo. Verá o companheiro que é preferível lavar a roupa suja em público do que pactuar com tanta sujeira. Não somos cardeais nem sacerdotes dos antigos Mistérios para considerar o público como um rebanho de beócios e ignorantes. O caso da adulteração provou que o debate público favorece a Doutrina, enquanto a sujeira escondida infecciona os porões. Estamos na era da Verdade e não podemos enganar o povo. É bom que o povo saiba que não queremos bancar santinhos do pau-oco, mas exigimos sempre a verdade. Um abraço. E não me queira mal por dizer a verdade sem rebuços."



A sentença final

Registremos agora outro acontecimento insólito. Não obstante os programas de Rádio, quarenta mil exemplares de "Mensagem", sessenta e quatro mil folhetos, artigos redigidos pelos confrades mais lúcidos e o clamor dos dirigentes de centros espíritas rejeitando a adulteração do Evangelho, a USE – União das Sociedades Espíritas do Estado de São Paulo aguardou cinco meses para definir sua posição sobre o escandaloso caso. Tempo mais que suficiente para que a FEESP vendesse a edição maligna.



O Conselho Deliberativo Estadual da USE reunira-se na sede da FEESP às nove horas da manhã do dia 9 de março de 1975 e só então a adulteração foi condenada "oficialmente", por unanimidade. Paulo Alves Godoy não compareceu, mas afirmara em uma carta (lida pelo Dr. Luiz Monteiro de Barros na reunião) que o médium Chico Xavier era o autor intelectual da adulteração. Carlos Jordão da Silva, presidente da FEESP, sem constrangimento vangloriou-se em suas explicações de haver sido esgotada a edição do Evangelho apócrifo. A vaidade humana (dizia Herculano Pires, com seu infalível bom-senso) é a casca de banana na calçada da nossa invigilância...


Quanto a Chico Xavier, "envolvido indebitamente no caso da adulteração por haver sugerido uma modificação em tradução que lhe parecia embaraçosa, sentiu-se responsável pelo crime e assumiu de pronto a sua responsabilidade total. Logo mais, passado o estado emocional que o confundira, ao tomar consciência da distância que havia entre a sua sugestão e a intenção dos adulteradores, voltou a público para condenar a desfiguração dos textos kardecianos e retificar a sua posição".


Herculano Pires, então, remeteu ao famoso médium de Uberaba uma carta, cujos trechos a seguir merecem a meditação dos leitores: "Meu caro Chico Xavier: Recebi hoje sua carta e agora mesmo passo a respondê-la, agradecendo suas expressões de amizade e sua tocante preocupação por meus sofrimentos e angústias. De todas as minhas lutas, primeiro comigo mesmo, depois com os outros e por fim com a Doutrina, foi esta a mais dura que tive de enfrentar, sofrendo traições e calúnias de companheiros que há mais de trinta anos considerava como amigos sinceros e espíritas convictos.


No caso da obra de Kardec, a deturpação excede os limites do crime para invadir a área da profanação. Essa obra não é apenas o trabalho de um homem, mas a Revelação do Espírito da Verdade, no cumprimento de uma promessa do Cristo que se refere ao restabelecimento e desenvolvimento da obra de redenção do mundo.


(...) Imagine, meu caro Chico, um pintor de paredes corrigindo um quadro de Michelangelo ou um poetastro qualquer a corrigir Os Lusíadas, de Camões. E tudo isso ainda seria uma profanação secundária em face à planejada adulteração de toda a Codificação, segundo o esquema revelado por Paulo Godoy e pela FEESP em suas lamentáveis "explicações" no volume de O Evangelho adulterado.



Restam-nos os frutos de uma dolorosa experiência em que tivemos de verificar e sentir a falta de convicção espírita dos líderes do movimento doutrinário, a falta de caráter de companheiros que considerávamos positivos e leais, a falta quase total de compreensão do que é o Espiritismo e do que representa para o mundo a obra de Kardec, a falta de respeito pelos textos fundamentais da Doutrina, o desprezo pela dignidade humana e o serviço dos colaboradores desinteressados de várias instituições, a falta de consideração no plano das amizades pessoais, o baixíssimo nível cultural do movimento espírita, e o que é pior, a falta de amor pela doutrina.



Nenhuma reunião de cúpula, no Brasil e no mundo, tem autoridade para modificar palavras e expressões dos Evangelhos de Jesus e das obras de Kardec. (...) As supostas autoridades de cúpulas revelaram-se incapazes de enfrentar com dignidade a hora de prova e testemunho. Na hora da agonia Kardec ficou só, como o Cristo no Calvário. E as trinta moedas do Sinédrio converteram-se em trinta mil volumes de ridícula adulteração de O Evangelho Segundo o Espiritismo. Se esses volumes tilintassem, como as moedas de Judas, o barulho da traição ensurdeceria o Brasil.



A última arma que sobrou aos adulteradores foi a calúnia, o que bastaria para mostrar o mau combate em que se empenharam. (...) Não é com criaturas ainda tão imaturas que o Espiritismo poderá avançar. Temos de suportá-los ao nosso lado, tolerá-los com paciência e amor, ajudá-los o quanto possível, mas não podemos sacrificar o movimento doutrinário às suas vaidosas e estúpidas pretensões.


Meu caro Chico, não temos o direito de vacilar nesta hora. Ou lutamos para elevar a precária moral do movimento espírita, agora posta a nu, ou nos atrelamos ao carro da desmoralização e fazemos como o cego do Evangelho, conduzindo os outros cegos ao barranco. Não fosse a moral ilibada de Kardec e a sua firmeza doutrinária e o Espiritismo teria desaparecido do mundo após o seu desencarne. E é a obra desse homem (que não é dele, como sabemos, senão em parte) que hoje queremos "atualizar", na base da ignorância generalizada do nosso meio espírita? Digo-lhe com absoluta convicção que ainda estamos longe de haver compreendido essa obra, que não pertence à nossa triste atualidade, mas a um futuro radioso."


Os louros da vitória

E Chico Xavier, então, propôs ao apóstolo de Kardec que escrevesse um livro (ambos o assinariam) em cujas páginas seriam incluídas as mensagens e as cartas que lhe remetera sobre a adulteração. Pois (confessou o famoso psicógrafo) "... a verdade é que a sua veemência necessária na defesa da obra de Allan Kardec me fez pensar muito no cuidado que todos nós, os espíritas, devemos ter na preservação dos textos referidos, sob pena de criarmos dificuldades irreparáveis para nós mesmos, agora e no futuro" (a carta traz a data de 07-09-1975).



Quando Na Hora do Testemunho veio à luz, Chico Xavier exultou, conforme se lê em sua carta datada de 27-09-1978: "Caro amigo Professor Herculano: Deus nos abençoe. Perdoe-me se ainda não lhe escrevi agradecendo a remessa do nosso belo livro Na Hora do Testemunho. E digo "belo livro" porque esse volume é o nosso coração unido à obra de Allan Kardec, com os nossos melhores testemunhos de respeito e fidelidade ao grande missionário da Doutrina Espírita. Agradeço-lhe a remessa, com todo o meu coração. O livro ficou nobre e digno e me regozijo com esse notável lançamento em que tenho a honra de estar ao seu lado, trabalhando, modestamente, embora na demonstração de nosso apreço ao Codificador. Muito grato. Desde já, agradeço a atenção que, como sempre, receberei de sua bondade. Com muitas lembranças para D. Virgínia e todos os seus queridos familiares, num grande abraço, sou o seu servidor reconhecido de sempre, Chico Xavier."



Vencida por Herculano Pires a grande batalha contra os adulteradores do Evangelho (e, pois, em defesa da integridade das demais obras de Allan Kardec), a publicação do livro Na Hora do Testemunho em 1978, que analisa essa batalha, foi, a nosso ver, como que uma coroa de louros sobre sua cabeça. No ano seguinte o mestre desencarnaria.


"O Espiritismo – proclamou ele, advertindo os leitores do futuro –, é uma questão de bom-senso, como escreveu Kardec, mas as criaturas insensatas estão por toda parte. Precisamos manter constante vigilância em nossos estudos para não cairmos nas mistificações que nos levam a deturpar e aviltar a doutrina. Bastaria um pouco de humildade para vermos, como ensina Kardec, a ponta da orelha do mistificador, que sempre aparece nos textos mentirosos ou ilusórios. A mistificação se alimenta da vaidade e pretensão, desse orgulho infantil a que não escapam nem mesmo pessoas ilustradas. Muitas vezes, pelo contrário, as pessoas ilustradas não passam de analfabetas ilustres, mais sujeitas, por sua vaidade pueril, à mistificação, do que as pessoas humildes mas dotadas de bom-senso. Kardec tem razão ao afirmar que o bom-senso e a humildade são preservativos da mistificação. Nenhum espírito nos mistifica se nós mesmos já não estivermos nos mistificando por vontade própria."



E ainda mais: "Não façamos do Espiritismo uma ciência de gigantes em mãos de pigmeus. Ele nos oferece uma concepção realista do mundo e uma visão viril do homem. Arquivemos para sempre as pregações de sacristão, os cursinhos de miniaturas de anjos, à semelhança das miniaturas japonesas de árvores. Enfrentemos os problemas doutrinários na perspectiva exata da liberdade e da responsabilidade de seres imortais. Reconheçamos a fragilidade humana, mas não nos esqueçamos da força e do poder do espírito encerrado no corpo. Não encaremos a vida cobertos de cinzas medievais. Não façamos da existência um muro de lamentações. Somos artesãos, artistas, operários, construtores do mundo e temos de construí-lo segundo o modelo dos mundos superiores que esplendem nas constelações. Estudemos a doutrina aprofundando-lhe os princípios. Remontemos o nosso pensamento às lições viris do Cristo, restabelecendo na Terra as dimensões perdidas do seu Evangelho. Esta é a nossa tarefa."



Finalizemos este capítulo cumprindo o dever moral de acrescentar que o companheiro Paulo Alves Godoy, que em 1973 se deixara fascinar pelos sicofantas do Além, recuperara o prestígio que gozara no movimento espírita nacional ao publicar – rigorosamente de acordo com a verdade espírita – uma série de livros sobre o Evangelho


 

Fonte: http://espiritismocomprofundidade.blogspot.com.br/2012/05/mais-dura-batalha-de-herculano-pires.html

Um comentário:

  1. Que história bonita e bela da vida de Herculano
    Pires em defesa do kardecismo.Não li seus livros ainda, mas em breve vou adquiri-los.
    E hoje me pergunto o que estamos fazendo do movimento espírita.Será que estamos dando a importância merecida e devida ao codificador? Estamos sendo fiéis aos principios básicos da doutrina consoladora?
    Sejamos vigilantes,e creio que maior vigilância deve ter os dirigentes de federações e centros espíritas...Me pergunto porque a Federação Espirita Brasileira , que tem o dever de zelar e divulgar Kardec mostra em seu site através da WEB TV,programas divulgando Ramatis,teologia da prosperidade, etc... , coisas que não são assuntos do espiritismo, é bem verdade que a FEB aluga seu espaço para um canal (TV MUNDO MAIOR)que não é comprometida com a pureza doutrinaria.Acho muito estranho isso, pois espiritimso é uma coisa, e espiritualismo outra, divulgar kardec com certeza não o é. Me preocupo, pois as novas gerações de espíritas podem achar que coisas do espiritualismo, que mereçe todo meu respeito mas,que tem contradições gritantes com o kardecismo , são coisas da doutrina espírita.
    Que Jesus nos abençõe
    Arlindo.

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