Por Maria das Graças Cabral
A Revista Espírita era o instrumento através do qual, Kardec orientava de forma segura o Espiritismo para todo o mundo, indicando-a como fonte de consulta (Livro dos Médiuns, capítulo III), alem de dirimir dúvidas, orientar e responder aos ataques dos adversários e opositores da Doutrina.
Allan Kardec nos diz na Revista Espírita, de Junho de 1865, que “jamais uma doutrina filosófica dos tempos modernos causou tanta emoção quanto o Espiritismo e nenhuma foi atacada com tamanha obstinação”. Isto porque segundo o Codificador, os adversários empregavam armas desleais, como a mentira a calúnia e a traição.
No que concerne aos inimigos do Espiritismo na França, nada melhor que transpormos trechos da obra "CONSCIENTIZAÇÃO ESPÍRITA", da autoria de Gélio Lacerda da Silva quando assim se expressa: "Com relação às anti doutrinárias teorias roustainguistas, Kardec refutou-as na Revista Espirita, primeiramente no seu artigo "Do princípio da não retrogradação do Espírito", em junho de 1863 (págs. 163/166); depois, na sua apreciação de ‘Os Quatro Evangelhos’ de Roustaing, em junho/1866 (págs. 188/190, Edicel). E, por fim, em ‘A Gênese’, cap. XV“.
"Colocamos em destaque o papel da Revista Espírita na propaganda do Espiritismo, quando ela estava sob a direção de Kardec, porque com o desencarne deste, a Revista, nas mãos do seu gerente Pierre Gaëtan Leymarie, por seu excessivo espírito de tolerância, desvirtuou a finalidade da Revista, abrindo suas páginas à propaganda de filosofias espiritualistas, inclusive à de Roustaing, que diverge do Espiritismo“.
"Além disso, lamentavelmente, o Sr. Leymarie se deixou enganar por um fotógrafo fraudulento, que lhe custou um ano de prisão, com danosas conseqüências para o Espiritismo, na França, tanto que, com esse triste episódio, espírita, na França, passou a ser sinônimo de "escroque" (trapaceiro, vigarista, velhaco, caloteiro...)" E Gélio cita como fonte de consulta o livro "Allan Kardec" de autoria de Zeus Wantuil e Francisco Thiesen, 1ª edição da FEB, vol. III, pág. 225.
Prossegue Gélio em sua narrativa: "Sobre o episódio da fraude com as fotos de Buguet, escreveu Gabriel Delanne: ‘Se tivemos que experimentar uma condenação contra nós, foi porque nos desviamos da rota traçada por Allan Kardec (grifo de Gélio). Este inovador era contrário à retribuição dos médiuns e tinha para isso boas razões. Em sua época, os irmãos Davenport muito fizeram falar de si, mas, como ganhavam dinheiro com suas habilidades, Allan Kardec afastou-se deles, prudentemente" (O Espiritismo perante a ciência de Gabriel Delanne, ed. FEB, 1952, pág. 208)
Adiante ressalta o autor: "Sobre o desvirtuamento das finalidades da Revista Espírita por Pierre Gaëtan Leymarie, lê-se que ele ofereceu na Révue terreno livre aos lutadores de todas as correntes com a condição de que defendessem causas espiritualistas ou de ordem essencialmente humanitária e moral, expondo-se assim às críticas acirradas de uns, às acusações ou descontentamento de outros..." (Processo dos Espíritas, ed. FEB, 1977, págs. 22/23 da 2ª edição). Nesses ‘lutadores de todas as correntes’ se incluem os roustainguistas, como disseram Zêus Wantuil e Francisco Thiesen: ‘Pierre Gaëtan Laymarie, distinto divulgador, também, da obra Os Quatro Evangelhos de J. B. Roustaing" ("Allan Kardec", vol. III, pág. 376).
E prossegue o autor de forma esclarecedora: "Pierre Gaëtan Laymarie envolveu o Espiritismo num amálgama de ideologias espiritualistas, que acabou por descaracterizá-lo nos seus princípios básicos. Eis mais uma prova disso: Em 1878, ao lado da Sociedade para Continuação das Obras Espíritas de Alan Kardec, Leymarie organiza a Sociedade Científica de Estudos Psicológicos. Congrega, em torno desta obra, os homens mais eminentes (vários nomes são citados),em seus trabalhos. Esta Sociedade se dedicava igualmente ao estudo das teorias e das experiências do magnetismo animal e da mediunidade, estudando-se ainda as obras originais de Cahagnet e de Roustaing (grifo do Gélio), a doutrina de Swedenborg, o grande precursor do Espiritismo (?), bem como o Atomismo, a teosofia, o budismo, o transformismo, e, por fim, o ocultismo" (Zeus Wantuil/Francisco Thiesen em "Allan Kardec", vol. III. Pág. 219)
E conclui Gélio: "Aí está a verdadeira causa por que o Espiritismo desapareceu na França.(...) O que Leymarie fez com o Espiritismo na França, a Federação Espírita Brasileira vem tentando fazê-lo no Brasil: um sincretismo religioso de ideologias conflitantes, um misto, ou melhor, uma miscelânea de espiritismo, roustainguismo, ubaldismo, umbandismo. Sim, até umbandismo, porque, para a Diretoria da FEB, onde há mediunismo, há também espiritismo (Reformador, 16/10/26), enfim, um saco de gatos..." (Gélio Lacerda da Silva, "Conscientização Espírita", págs. 108 a 114).
No que concerne à Federação Espírita Brasileira, sou testemunha quando da minha primeira e única visita à intitulada ‘Casa Mater’ do Espiritismo, ao adentrar um de seus salões de palestras e conferências, encontrei organizados sobre a mesa onde se acomodam palestrantes e dirigentes, "O Evangelho Segundo o Espiritismo", e "Os Quatro Evangelhos" de Roustaing, lado a lado, como se o livro de Roustaing também fosse uma obra Espírita objeto de estudo juntamente com o quarto livro da Codificação Kardeciana!
Diante do exposto voltemos a Kardec que nos adverte afirmando: - “A luta está longe de terminar; ao contrário, é de esperar que tome maiores proporções e um outro caráter”. (...) Nossos adversários, não renunciaram; enquanto esperam, recorrem a outra tática: a das manobras surdas”. (...) “Já tentaram muitas vezes, e o farão ainda, comprometer a doutrina, impelindo-a por uma via perigosa ou ridícula, para desacreditar”. (...) Mas não são adversários confessos que assim agiriam. O Espiritismo, cujos princípios têm tantos pontos de semelhança com os do Cristianismo, também deve ter os seus Judas” (...). (Revista Espírita, de Junho de 1865)
O Codificador, já vislumbrava claramente que a estratégia utilizada pelos inimigos da Doutrina Espírita seria levá-la ao descrédito, desvirtuando seus preceitos.
Então nós que nos dizemos e nos sentimos 'espiritualmente' Espíritas, temos o dever moral de com todo o afinco estudarmos as obras da Codificação, para que possamos defendê-la através do conhecimento que nos permitirá identificar e acusar as fraudes e mistificações, que são as armas utlizadas pelos inimigos da Doutrina para desvirtuá-la.
E para finalizar ninguém melhor do que Kardec quando assim se expressa: - “O Espiritismo, repetimos, ainda tem de passar por rudes provas e é aí que Deus reconhecerá seus verdadeiros servidores, por sua coragem, firmeza e perseverança. Os que se deixarem abalar pelo medo ou por uma decepção são como esses soldados, que só têm coragem nos tempos de paz e recuam ao primeiro tiro. Entretanto, a maior prova não será a perseguição, mas o conflito de idéias que será suscitado, com cujo auxílio esperam romper a falange dos adeptos e a imponente unidade que se faz na doutrina”. (Allan Kardec. Revista Espírita, junho de 1865, p. 257) (grifei)
Nada me dá mais prazer do que no intervalo dos noticiosos da rádio FM Assembleia, tomar um café (venho cedinho pra emissora) lendo um texto informativo e lúcido. Isso, porque a Doutrina Espírita é um espelho, no qual muitos colocam a toalha para impedir o reflexo.
ResponderExcluirNo entanto, há seguidores estudiosos que a levam muito a sério e nos liberta das "novidades" e sedes de intelectuais, que ao ouvirem o primeiro sinal de um barulho, relatam a confusão que imprimem na mente.
Um grande abraço e muita luz!