sábado, 24 de setembro de 2011

OS INIMIGOS DO ESPIRITISMO (PARTE I)

 
Maria das Graças Cabral

Para a abordagem do tema que tratará dos inimigos do Espiritismo (Parte I) nos reportaremos ao tempo em que Allan Kardec codificou a Doutrina dos Espíritos e enfrentou a intolerância de ferozes e obstinados opositores.


Buscando uma melhor compreensão dos embates travados contra o Espiritismo, vamos nos situar no tempo e no espaço, visualizando o cenário religioso e político da Europa no século XIX, onde eclodiram os fenômenos das mesas girantes, e posteriormente foram lançadas as Obras Básicas.


Narram historiadores e filósofos que no século XIX as descobertas científicas destacavam-se no continente europeu, trazendo novas terminologias utilizadas por uma nova classe de intelectuais científicos que surgia.
 
 
“As palavras- chave da filosofia e ciência em meados do século XIX eram “natureza”, “meio ambiente”, “história”, “evolução” e “crescimento”. Marx havia dito que a consciência humana era um produto da base material de uma sociedade. Darwin mostrou que o homem era produto de uma longa duração biológica e o estudo de Freud sobre o inconsciente deixou claro que as ações dos homens freqüentemente são devidas a certos impulsos ou instintos “animais”, próprios de sua natureza.” (Hatzenberge, Dionísio. Cristianismo nos séculos XIX e XX. In: www.espirito.org.br. História do Cristianismo)
 
 
No que concerne ao âmbito religioso, a Igreja Católica perdia o monopólio do seu rebanho para o protestantismo, que arrastava um grande número de Católicos Ortodoxos. Em contrapartida havia o protesto veemente da cúpula católica contra a ciência, principalmente quando Darwin contestava a Teoria da Criação do Mundo por ato divino, como também o tempo desta criação, já que era contado pela Igreja à partir de Adão e Eva, conforme preceito bíblico.
 
 
“Com Kant (1724-1804), inicia-se um novo modo de pensar o homem. Kant o via como cidadão dos dois mundos: o mundo material e o mundo espiritual. Segundo ele o Homem só pode adquirir um conhecimento prático ou moral do mundo, de si mesmo e de Deus; jamais um conhecimento absoluto. A partir dessa forma de pensar, na qual o pensamento metafísico e o da razão pura são questionados, o Homem começa a ser visto sob diversas formas e por diferentes pensadores, tais como: Darwin ( 1809-1882), o Homem biológico-evolucionista; Kierkegaard (1813-1855), o Homem existencial; Marx (1818-1883), o Homem econômico; Freud ( 1856-1939), O Homem instintivo e outros.” (Hatzenberge, Dionísio. Cristianismo nos séculos XIX e XX. In: w.w.w.espirito.org.br. História do Cristianismo) 


Concomitantemente, o Estado libertava-se da religião, posto que “o anticlericalismo era militantemente laico, na medida que pretendia tomar da religião qualquer status oficial na sociedade (“desestabelecimento da igreja”, separação da igreja do Estado”), deixando-a como uma questão puramente privada“. (Hatzenberge, Dionísio. Cristianismo nos séculos XIX e XX. In: w.w.w.espirito.org.br. História do Cristianismo)
 
 
“A Igreja, obviamente reagiu, atacando de todas as formas a raiz deste mal: o pensamento científico e a produção de conhecimento. O resultado foi uma Igreja Católica mais fechada ainda“. (...) “O catolicismo, agora totalmente intransigente, recusando qualquer acomodação com as forças do progresso, industrialização e liberalismo, tornou-se uma força muito mais poderosa depois do Concílio Vaticano de 1870 do que antes.” (Hatzenberge, Dionísio. Cristianismo nos séculos XIX e XX. In: w.w.w.espirito.org.br. História do Cristianismo) 
 
 
Diante deste cenário de efervescência política, intelectual e científica; de rupturas entre o poder religioso e o poder estatal; do desprestígio das autoridades eclesiásticas perante os fiéis e o Estado; eis que surge a Doutrina Espírita, claramente evolucionista, racionalista, anti-dogmática, anti-ritualística, anti-clerical, e reencarnacionista. 
 
 
Há de se identificar que o ódio alimentado contra o Espiritismo por parte do clero católico e pastores protestantes, advinha principalmente do receio de que o conhecimento e aceitação dos Princípios Espíritas por parte dos fiéis, atingiria mortalmente as bases estruturais dogmáticas que sustentavam toda a coerência filosófica da Igreja Católica e Protestante que se pauta nos preceitos bíblicos - considerado o livro sagrado das religiões cristãs ortodoxas ou não.
 
 
Vale ressaltar, que no caso específico do catolicismo, os postulados Espíritas traziam maior gravidade, pois derrogavam definitivamente os chamados “dogmas de fé“.
 
 
Daí as perseguições acerbas, que culminaram com o evento intitulado o “Auto de Fé de Barcelona”, comentado por Allan Kardec, na Revista Espírita de novembro de 1861, num artigo intitulado - OS RESTOS DA IDADE MÉDIA - AUTO DE FÉ DAS OBRAS ESPÍRITAS EM BARCELONA, quando assim se expressa o Codificador: “Nada informamos aos leitores sobre esse fato, que já não o saibam através da imprensa. O que é de admirar é que jornais na aparência bem informados, o tenham posto em dúvida. A dúvida não nos surpreende, pois o fato em si parece tão estranho nos dias que vivemos; está de tal modo longe de nossos costumes que, por maior cegueira que reconheçamos no fanatismo, a gente pensa sonhar ao ouvir dizer que as fogueiras da Inquisição ainda se acendem em 1861, às portas da França. (...) O golpe com que julgaram feri-lo não é um indício de sua importância? Ninguém se atira assim contra uma infantilidade sem consequências, e D. Quixote não voltou à Espanha para se bater contra moinhos de vento. O que não é menos exorbitante, e nos admiramos de não se ver nenhum protesto enérgico contra isso, é a estranha pretensão que se arroga o Bispo de Barcelona, de policiar a França. O pedido de devolução das obras foi respondido com a recusa assim justificada: “A Igreja católica é universal, e sendo estes livros contra a fé católica, o governo não pode consentir que eles vão perverter a moral e a religião de outros países”. Assim, eis um bispo estrangeiro que se institui juiz do que convém ou não convém à França! Então a sentença foi mantida e executada, sem pelo menos isentar o destinatário das taxas alfandegárias, de que lhe exigiram o pagamento“. (Revista Espírita, novembro de 1.861)
 
 
Diante de tais eventos que mexeram tão intensamente com crenças e interesses, podemos avaliar a dimensão do ódio implantado nos corações de todos aqueles Espíritos (encarnados ou não) que de uma forma ou de outra acharam-se ameaçados ou feridos em suas susceptibilidades, convicções ou interesses, por essa Doutrina revolucionária.
 
 
É fato que a intolerância manifesta nas formas mais agressivas ou mais sutis sempre tiveram o propósito inexorável de fazer os Princípios Espíritas desaparecerem através do descrédito e/ou do desvirtuamento dos mesmos.
 
 
Os inimigos da Doutrina Espírita formam uma imensa falange, que se reveza parte no plano físico atuando diretamente por palavras e ações, e parte mantendo-se em retaguarda de apoio no plano espiritual, atuando através das obsessões, mistificações e fascinações.
 
 
Kardec em várias oportunidades nas Obras Básicas e na Revista Espírita, se coloca de forma firme e racional defendendo e esclarecendo os preceitos Espíritas, e alertando aos espiritistas de todos os tempos, para que estejam atentos às ciladas armadas pelos que odeiam os princípios libertadores da Doutrina dos Espíritos.
 
 
À esse respeito se posicionou na Revista Espírita de junho de 1865 afirmando que - “Jamais uma doutrina filosófica dos tempos modernos causou tanta emoção quanto o Espiritismo e nenhuma foi tão atacada com tamanha obstinação”.
 
 
Portanto, cabe a nós os verdadeiros espíritas, prosseguirmos na luta incansável e obstinada em defesa da Doutrina Espírita, como nos exortou Kardec e os Espíritos Superiores. Para isso, precisamos nos fortalecer pelo conhecimento que se dará através do estudo constante das Obras Básicas. Nossa luta será pautada na moral evangélica e no conhecimento doutrinário, pois como muito bem nos disse Jesus: “Conhecereis a verdade e ela vos libertará”!

2 comentários:

  1. Amiga Graça, você não me surpreende com o texto e, sobretudo, com a forma de apresentar os seus conhecimentos sobre a Doutrina Espírita. Porque eu a conheço e quando me informou sobre o seu blog, não tive a menor dúvida de que seria algo muito sério e por isso mesmo deve ser levado a sério. Um grande abraço!

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  2. O quanto mais demoraria para que o Espiritismo fosse levado para mais longe,se não fosse esse ato insano,desse bispo, que pretendendo afastar os seus fiéis dessa Doutrina demoníaca, como muitos se referem...acabou por ajudar na propagação desta, que mesmo com seus detratores, ou digo até, graças a eles, o Espiritismo ganhou a autoridade no que diz respeito ao mundo espiritual!
    Muitos continuam falando mal do Espiritismo, ainda hoje, a mais de cento e cinqüenta anos de sua codificação, mas depois de tanto sofrer, de tanto chorar, desesperado por não achar a causa do seu mal, o Ser acaba indo beber na fonte! Pois nao há outro caminho mais esclarecedor, para tudo que lhe acontece de " estranho" na vida, como o Espiritismo!
    E ele é forçado, digamos assim, a admitir, que seus líderes religiosos estão errados, pq foi afinal, no Espiritismo, que ele encontrou respostas para todas as suas dúvidas e apreensões!
    O Espiritismo é a única Doutrina que realmente explica, o ser humano sabe disso, mas muitos por orgulho não admitem! O dever do Espírita é divulgar, e ajudar a quem assim quiser, a entender essa Doutrina linda, esclarecedora e verdadeira!

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