Por Maria das Graças Cabral
Vivemos em um mundo material, onde as afinidades se fazem presentes das mais diversas formas face à globalização. Buscamos estar inseridos em algum contexto, onde possamos compartilhar algum tipo de sentimento, interesse, gosto, ideologia, religião, lazer. Esse compartilhar faz com que nos sintamos aceitos, compreendidos e partícipes, pois o ser humano é gregário. Não obstante, de acordo com os ensinamentos espíritas, quando do retorno ao plano espiritual, levaremos conosco os mesmos gostos, qualidades e defeitos. Ou seja, seremos as mesmas pessoas na busca de interação com os nossos afins.
Por conseguinte, nos dizem os Mestres da Codificação, que no mundo espírita seus habitantes também se sentirão atraídos por afinidades de sentimentos, gostos, e objetivos, esclarecendo que essas afinidades permitem a reunião dos mesmos, formando grupos ou famílias.
Tentando esclarecer o assunto, Kardec indaga se diante da grande diversidade de níveis evolutivos, os Espíritos, estariam “misturados” no plano espiritual, em razão da inexistência de regiões delimitadas para os gozos e sofrimentos, de acordo com os ensinamentos ministrados pela espiritualidade superior. E respondem os Mestres, que “Sim e Não”, acrescentando que os Espíritos se vêem uns aos outros, mas se distinguem.
No que concerne à questão de se verem uns aos outros, é fato que os Espíritos se percebem e se diferenciam mutuamente através do perispírito, como os encarnados o fazem através dos corpos físicos.
Não obstante, afirmam os Mestres Espirituais, que a distinção se dará de forma mais efetiva pela atração oriunda das afinidades, que envolve a moralidade, os interesses, a intelectualidade; os sentimentos de amor e amizade, de ódio, vingança, ciúme, inveja; como também a ignorância e os vícios.
Para uma melhor compreensão de como se dá essa relação, Kardec faz analogia com uma grande cidade terrena, habitada por homens e mulheres das mais diversas classes e condições. E nessa cidade, as pessoas se cruzam nas ruas ou nos mais diversos ambientes, se vêem, se encontram, sem entretanto se confundirem. Posto que, as amizades, associações, famílias, vão se formando pela semelhança de sentimentos, gostos, interesses, projetos em comum, crenças, etc. Oportuno observar, que tais atrações e similitudes, se darão tanto em relação aos bons como aos maus.
No que concerne ao mundo espírita, com toda a sua ‘infinitude‘, nos é dito que os bons Espíritos transitam por onde desejarem, objetivando influenciar os que se encontram submersos na ignorância e na dor. A natureza das relações entre bons e maus, consiste na missão dos bons em ajudar os maus a combater suas más tendências, para que possam alçar vôos mais altos na espiritualidade.
Esclarecem os Mentores, que os Espíritos maus, ao contrário dos bons, não terão acesso às regiões elevadas, pois em razão de seus vícios e más paixões não têm como se afastar do planeta de provas e expiações ao qual se encontram ligados, e são por ele atraídos.
Adiante, indaga o Codificador, como os Espíritos se comunicam entre si. A Espiritualidade Maior esclarece dizendo que “eles se vêem e se compreendem; a palavra é material; é reflexo da faculdade espiritual. O fluido universal estabelece entre eles uma comunicação constante; é o veículo da transmissão do pensamento, como o ar é para vós o veículo do som. Uma espécie de telégrafo universal que liga todos os mundos, permitindo aos Espíritos corresponderem-se de um mundo a outro.” (LE., p. 282) (grifei) Infere-se que a comunicação no mundo espiritual se faz através do pensamento.
Diante do exposto, entende-se portanto, que os encontros e agrupamentos de Espíritos afins, dar-se-á por todas as regiões do infinito mundo espiritual.
Á titulo de esclarecimento, podemos nos reportar por exemplo, à época da codificação, quando a plêiade de Espíritos Superiores que trabalharam com Allan Kardec na sistematização da Doutrina Espírita, se reuniam na Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas, como também nos mais variados grupos mediúnicos espalhados pelo mundo, objetivando a elaboração da grande obra Espírita.
Quando fazemos o evangelho, ou organizamos um grupo de estudos em nosso lar, quantos Espíritos se sentirão atraídos pelo interesse de participar, auxiliando na orientação dos trabalhos, estudando, ou sendo beneficiados pelo evangelho e pelas preces? E os Espíritos familiares que se reúnem no ambiente familiar, algumas vezes com o propósito de protegê-los, ou por estarem ainda em estado de perturbação?
Podemos também mencionar os Espíritos amantes da ciência, das artes, da literatura, da política, que se reúnem nos mais diversos centros de pesquisas espalhados pelo mundo, nas academias, nos parlamentos. Há os que se agregam aos grupos espíritas, igrejas, casas de caridade.
Não obstante, de acordo com a Espiritualidade maior, podem os Espíritos por afinidade de sentimentos e/ou objetivos, reunirem-se nos mundos transitórios, como nos mais diversos orbes espalhados pelo universo infinito, dependendo obviamente do seu grau evolutivo.
Em contrapartida, os Espíritos enredados no mal, se arrastam nos guetos, e nos antros do vício juntamente com seus afins. Muitos permanecem nos presídios, favelas, castelos ou mansões.
E para finalizar, muito comumente, ouvimos de médiuns portadores de visão psíquica, o relato de Espíritos, em teatros assistindo espetáculos, em igrejas rezando, perambulando pelas ruas das cidades, nos ônibus, metrôs, etc.. Pois como nos dizem os Mestres Espirituais, “os Espíritos estão por toda parte; povoam ao infinito os espaços infinitos. Há os que estão sem cessar ao vosso lado, observando-os e atuando sobre vós.” Ou seja, o mundo espiritual interpenetra o mundo corporal e se estende ao infinito, acolhendo toda uma população de Espíritos, que se agrupam por toda parte, de acordo com seus graus evolutivos, afinidades e interesses.
REFERÊNCIA
KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Ed. LAKE. SP/SP. 62ª edição. 2001, Livro II, VI.
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