Por Maria das Graças Cabral
Diante
de tantos conflitos de entendimento que permeiam o Espiritismo, lancei o
seguinte questionamento aos companheiros que frequentam um Grupo que criei numa
rede social: - Você se considera
Espírita? Por quê?
O grupo
é intitulado “Doutrina Espírita – Allan Kardec”, e quando o criei meu objetivo era
abrir espaço para a divulgação e o estudo da Doutrina Espírita nas bases
kardecianas. Só que ele foi caminhando como tudo na vida, escolhendo seus
próprios caminhos e agregando pessoas. E foi através desses caminhos e das
pessoas que vieram se “achegando” que tive e tenho o prazer de conhecer “virtualmente”
muitos companheiros (as) de jornada, (alguns mesmo sem conhecê-los pessoalmente,
já nutro um sentimento de afeição e admiração próprio dos amigos) e com eles, passei
a constatar as mais acerbas divergências em relação à Doutrina dos Espíritos.
Leio
seus comentários, me encanto com TODOS os posicionamentos, pois vejo a
inteligência, os sentimentos e as percepções próprias da individualidade humana.
Discordo radicalmente de alguns, concordo em parte com outros, e por incrível que
pareça não concordo plenamente com ninguém. Por conseguinte constatei que a complexidade
e o desencontro envolvendo a Doutrina dos Espíritos é muito maior do que a
minha “santa” ignorância imaginava.
Daí,
hoje, dia 18 de outubro de 2.012, às vésperas de completar 60 anos de idade, acordei
me perguntado: Você se considera Espírita? Por quê? E minha resposta veio
pronta, sem titubear. Sim, sou Espírita. Sinto-me Espírita.
Por quê?
Bem, para responder por que, fui um pouco na busca da minha história, pois tem
tudo a ver. Primeiramente, minha mãe era filha de pais espíritas, mas ela não
era espírita. Hoje entendo que ela era uma devota de São Jorge. Lembro-me que
sempre tinha diante da imagem daquele guerreiro sobre um cavalo, matando um
dragão com sua enorme lança, uma vela acesa. Era a devoção de minha mãe.
Meu pai vinha
de uma família profundamente católica. Não obstante, sempre foi categórico em
afirmar que não tinha religião. Acreditava em Deus e procurava viver de forma
harmoniosa com sua família, e respeitando as pessoas. Portanto, meus pais
sempre me deixaram à vontade desde menina para escolher meu caminho de fé. E eu
escolhi ser católica. Vale ressaltar que à época que escolhi ser católica (10
anos) não tinha nenhum contato com a família paterna, pois morávamos em outro
estado, e eu mal os conhecia. Portanto, minhas escolhas não tiveram a
interferência familiar.
Até que
já no adiantado da vida, diante de muitos conflitos e atritos com os padres das
paróquias que eu frequentava, ganhei de presente O Livro dos Espíritos. E aí eu
me encantei! Encontrei as respostas que já trazia dentro de mim. Compreendi
certos fenômenos espíritas que vivenciei. Pude acompanhar de forma criteriosa a
mediunidade de grande potencialidade de meu filho. Aliás, ele sempre afirma que
se não fosse filho de uma mãe espírita, talvez o considerassem louco...
Mas até
aí, eu vivenciava o Espiritismo dentro de uma Casa Espírita, sendo conduzida e
me deixando conduzir por todo esse misticismo que se conecta com a bagagem trazida
pelo catolicismo. E na Casa Espírita me tornei monitora de ESDE, doutrinadora
nas reuniões mediúnicas de desobsessão, palestrante, ajudei a criar uma ONG, e
até aí eu achava que tudo estava perfeito!
Entretanto,
quanto mais eu estudava as Obras Fundamentais espíritas mais eu identificava as
incongruências doutrinárias que eram repassadas na Casa Espírita por monitores,
dirigentes, palestrantes. E como não gosto de me omitir, passei a incomodar, a
me sentir incomodada, e resolvi ser espírita fora do Centro Espírita.
E aí fui
buscar aplicar o Espiritismo na vida. Como professora, com meus alunos e
alunas, com meus colegas de profissão, com amigos, filhos, e com aquele “pessoal”
que como dizem os mais jovens “eu não curto muito”. Foi só então que a minha “ficha
caiu”, e passei a entender porque Kardec dizia que o Espiritismo não era
religião. Sim, não é mesmo!
A
Doutrina Espírita ao contrário de tudo o que até hoje nos foi apresentado, é
libertadora, porque educa! Ela nos consola e fortalece para as batalhas da vida,
sem precisarmos virar “santinhos” de um momento para outro. Dizem-nos os
Mestres Espirituais que “a virtude não consiste numa aparência severa e
lúgubre, ou em repelir os prazeres que a condição humana permite”, mas que
busquemos em todos os nossos atos elevar o pensamento ao Criador. (O Homem no
Mundo – ESE, cap. XVII, 10) Ou seja, a DE nos emancipa, nos liberta das “muletas”
onde nos escorávamos através das religiões, dos líderes religiosos, dos gurus,
etc. Somos os autores do nosso destino, mas não estamos no desamparo, pois ela
nos fala dos nossos anjos guardiões e amigos espirituais.
E por
que me considero atualmente mais Espírita do que nunca? Porque acredito na
seriedade e competência de Allan Kardec e no seu trabalho como Codificador da
Doutrina dos Espíritos. Porque entendo e aceito plenamente os princípios
doutrinários espíritas. Porque busco aplicar os ensinamentos dos Espíritos na
minha vida, e isso me faz desenvolver uma maior responsabilidade comigo mesma,
pois não posso atribuir a ninguém esse legado.
Para
finalizar, me aproprio de um trecho de O Evangelho Segundo o Espiritismo,
intitulado “Os Bons Espíritas”, quando nos é dito que: - “Reconhece-se o verdadeiro espírita pela transformação moral, e pelos
esforços que faz para dominar suas más inclinações. Enquanto um se compraz
no seu horizonte limitado, o outro, que compreende a existência de alguma coisa
melhor, esforça-se para se libertar, e sempre o consegue, quando dispõe de uma
vontade firme”. Portanto, me considero Espírita numa condição de espírito
imperfeito, que está na luta, de uma forma consciente, na busca de equilíbrio e
paz.
Amiga, Graça, que relato interessante e verdadeiro! Aliás, o que mais me aproxima da Doutrina é essa coragem de sermos leais com os nossos sentimentos. Eu sempre fui muito franca, mas nem sempre verdadeira. A partir do momento que conheci o primeiro livro de Kardec, passei a ver o mundo de forma bem diferente da que me impunham.
ResponderExcluirEu cresci num lar católico, ou pelo menos, era assim que a família indicava. Fui obrigada a frequentar a igreja, todos os dias, assistindo missas nas horas em que eu mais desejava viver a minha infância. Confesso que nunca tive vocação religiosa. Muito pelo contrário: tudo o que ouvia na igreja contestava em silêncio.
Assim, fui crescendo em busca de algo que me explicasse porque ouvia o que não ouviam e falava sempre "sozinha". Tinha avisos que se tornavam realidade; visões loucas, estranhas... Era medium e não sabia. Não tinha coragem para falar aos outros porque, com certeza, me tachariam de maluca - como até hoje isso ocorre.
Aprendi a rezar missas de tanto ir à igreja, mas não tinha dentro de mim a aceitação necessária. Sempre acreditei que continuaria seguindo a vida, mesmo após a morte. Não sabia explicar as razões, mas dentro de mim, a certeza tomava conta.
Como você, frequentei centro espírita, que a princípio foi muito reconfortante. Fui estudando, questionando e provocando discussões. No entanto, muito tímida para a necessidade daquele momento.
Incomodei-me e incomodei muita gente também, até que em certo momento, preferi ficar seguindo o que compreendia da Doutrina, fora dos muros. Pois bem! que bom que o estudo me trouxe a luz de tantos mistérios.
Hoje, fora de centros espíritas, reconheço que não sou tão dedicada quanto você na divulgação e no estudo sobre as obras de Kardec. No entanto, o que absorvi está sendo espalhado por mim. Não apostando em novos adeptos, mas para caminhar com mais firmeza de propósito, na valorização nossa e, sobretudo, na fé de que prosseguimos sempre.
MARIA DAS GRAÇAS,
ResponderExcluirTrabalho como palestrante da divulgação da DOUTRINA DOS ESPÍRITOS, e desde o ano de 2008 eu escolho e construo um tema para apresentar durante o ano quando sou convidado e o tema é LIVRE.
Para 2013, começou a clarear na mente o tema: QUANDO A FICHA CAI.
Daí, começaram também a surgir as situações, intuitivas ou não, relacionadas à construção do tema. Recebi hoje por e-mail o texto escrito por você VOCÊ SE CONSIDERA ESPÍRITA? PORQUE? e ficou claro (caiu a ficha rsrsrsrs) qual o viés da palestra.
MUITO OBRIGADO!
Olá Maria das Graças,
ResponderExcluirMe identifiquei muito com seu texto, hoje também estou fora dos muros, mas atento às publicações dos blogs e fóruns.
Sobre este trecho do artigo: "e passei a entender porque Kardec dizia que o Espiritismo não era religião. Sim, não é mesmo!"
Onde na Doutrina Espírita Kardec afirma que o Espiritismo não é religião? Meu interesse é apenas para fins de aprendizado ok, não tenho a intenção de afronta ou desmerecimento do artigo.
Tenho um projeto bem adiantado onde eu tenho quase TODA a Doutrina Espírita em um banco de dados para facilitar a pesquisa, e nas minhas buscas não encontrei nada sobre isso.
(link para o projeto: www.edesp.eu)
Abraços
Alexandre seria interessante que você lesse na Revista Espírita de novembro de 1868 a "Sessão Anual Comemorativa do dia dos Mortos" o
ExcluirDiscurso de Abertura de Allan Kardec. Aliás nesse blog escrevi um artigo fazendo uma análise desse discurso quando Kardec aborda a questão. Abraço e seja bem vindo ao Blog.
Parabéns pelo belo texto, sou seu fã.
ResponderExcluirSobre a questão de considerar Espiritismo uma religião, sabe o que eu acho de verdade? Que é uma pena alguém que tenha acesso ao Espiritismo, que é extremamente libertador, ainda se "refugiar" no aspecto religioso.
O Espiritismo é um verdadeiro presente de Deus, porque justamente nos dá a oportunidade de acreditarmos na sobrevivência da alma e na existência de uma inteligência maior, que conduz à justiça e à bondade, isso tudo SEM precisarmos ser religiosos.
Ou seja, temos a chance de ter um entendimento da vida que ultrapassa a barreira do materialismo sem cair no horror que são as religiões - com suas prisões mentais e segregações! E se dispensa essa oportunidade valiosa e raríssima...
Ettiene
Estou começando a conhecer o espiritismo, vendo todo o conteúdo aqui mostrado,como vcs acham que devo dar inicio a uma vida ativa dentro da doutrina dos espiritos ? Devo primeiro procurar um centro, ou apenas tocar o barco por minha propria conta e é que me entendem ? O que será melhor a se fazer ?
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