Por Maria das
Graças Cabral
Muito comumente causa espanto
aos neófitos da Doutrina dos Espíritos, encontrar nomes de veneráveis santos
católicos, na condição de grandes Mestres da Espiritualidade, que trouxeram os
fundamentos do Espiritismo.
Nos Prolegômenos de O
Livro dos Espíritos, além de grandes pensadores da humanidade do quilate de Sócrates
e Platão, mencionam-se os nomes de santos da Igreja Católica tais como: São
João Evangelista, Santo Agostinho, São Vicente de Paulo, São Luís, dentre outros
religiosos que se manifestaram nas obras fundamentais espíritas.
Podemos citar Fénelon, destinado
pela família para a carreira eclesiástica. Começou seus estudos no colégio dos Jesuítas
em Cahors. Continuou os Estudos junto aos Jesuítas em Paris e manteve contatos
com o seminário de Saint-Sulpice. (Fonte: http://www.geae.inf.br/pt/biografias/
- Acessado em 04/11/2012)
Outro religioso
católico presente na codificação foi Lamennais, que nasceu em uma família
burguesa. Foi um escritor brilhante, tornando-se uma figura influente e
controversa na história da Igreja católica francesa. Com 34 anos de idade,
Lamennais foi ordenado padre. Na condição de escritor fluente, político e
filósofo, esforçou-se para combinar a política liberal com o Catolicismo
Romano, após a Revolução Francesa. (Fonte: http://www.geae.inf.br/pt/biografias/
- Acessado em 04/11/2012)
Também sacerdote das hostes católicas foi Lacordaire, nascido
em 12 de maio de 1802, numa cidade francesa perto de Dijon, tornou-se vigário
da famosa Catedral de Notre-Dame, em Paris. A força da sua oratória atraía
milhares de leigos para o culto. Em 1839 entrou para a Ordem Dominicana na
França, trabalhando pela sua restauração, desde que a Revolução Francesa a tinha
largamente subvertido. (Fonte: http://www.espiritismogi.com.br/biografias/-
Acessado em 04/11/2012)
Constata-se nas mensagens de tais espíritos, esparsas nas
obras fundamentais, um discurso bem próprio dos clérigos católicos. Veja-se a
título de exemplo, um pequeno trecho de Santo Agostinho falando do “mal como
remédio” da alma:
“Vossa terra é por
acaso um lugar de alegrias, um paraíso de delícias? A voz do profeta
não soa ainda aos vossos ouvidos? Não clamou ele que haveria choro e
ranger de dentes para os que nascessem neste vale de dores? Vós que
nele viestes viver, esperai, portanto lágrimas ardentes e penas amargas,
e quanto mais agudas e profundas forem as vossas dores, voltai os olhos ao
céu e bendizei ao Senhor, por vos ter querido provar”!
E adiante acrescenta: “Se,
no auge de vossos mais cruéis sofrimentos, cantardes em louvor ao Senhor,
o anjo da vossa guarda vos mostrará o símbolo da vossa salvação e
o lugar que devereis ocupar um dia”. (O Evangelho Segundo
Espiritismo. Capítulo V. item 19) (grifo nosso).
Identifica-se claramente um sacerdote a falar aos fiéis das “penas”
acerbas impingidas pelo “Senhor”, aos “pecadores” que vivem nesse “vale de
dores”, utilizando-se de um vocabulário próprio do catolicismo, e que ainda se
faz presente muito fortemente em seu discurso.
Não obstante, viajando no tempo e aportando no século XX, nos
deparamos com os médiuns brasileiros, Francisco Cândido Xavier e Divaldo
Pereira Franco, considerados os ícones do Espiritismo no Brasil e no mundo. E
aí, mais uma vez observa-se a presença ostensiva de religiosos católicos à
frente da divulgação da Doutrina Espírita.
No caso do conhecido médium Francisco Cândido Xavier, seu
famoso mentor asseverava ter sido em sua última encarnação, o padre jesuíta
Manoel da Nóbrega, que aos
27 anos, foi ordenado pela Companhia de Jesus (1544), fazendo-se
pregador. Viajou por Portugal, Galiza e o resto da Espanha na pregação do
Evangelho. Surpreendido com o convite do rei D. João III, embarcou na armada de Tomé de Sousa
(1549). Chegaram
à Bahia
em 29 de março de 1549
e, celebrada a primeira missa, ter-se-ia voltado para seus auxiliares e dito: “Esta
terra é nossa empresa.” (http://pt.wikipedia.org/-
Acessado em 04/11/2012).
Quanto ao não menos famoso médium e divulgador mundial do
Espiritismo, Divaldo Pereira Franco, assevera este, ter como mentora, a freira
católica Joanna de Ângelis. Segundo o médium, Joanna “no século I, vivera como Joana de Cusa,
uma das maiores colaboradoras da obra de Jesus, inclusive citada no evangelho
como uma das mulheres piedosas, tendo sida queimada viva ao lado de seu único
filho, juntamente com outros cristãos no Coliseu de Roma”. Em 12/11/1651 nascia
no México Sór Juana Inés de La Cruz, tendo sida a maior poetisa da língua
hispânica; muito competente em teologia, medicina, direito canônico e
astronomia. Foi teatróloga, musicista, pintora e poliglota. Falava e escrevia,
fluentemente, seis idiomas.
Em 11/12/1761 nascia em Salvador-Bahia
Sóror Joana Angélica de Jesus que posteriormente tornou-se freira. Em 1822, em
defesa da honra das jovens do seu Convento, foi assassinada por um soldado
português, tornando-se mártir da independência do Brasil. Joanna de Ângelis
também vivera no século XIII, de 16/07/1194 à 11/08/1253. Segundo a mentora, ficou
conhecida como irmã Clara de Assis, fundadora da ordem feminina Franciscana.
Mais tarde, em 15 de agosto de 1255 foi canonizada pelo papa Alexandre IV como
Santa Clara de Assis. (Clara de Assis)”. (Fonte: http://pt.wikipedia.org/
- Acessado em 04/11/2012).
Diante do exposto, no que concerne aos
Espíritos que participaram efetivamente na Codificação da Doutrina Espírita,
observa-se em suas biografias, que não viviam a experiência religiosa numa
condição de reclusos em monastérios. Pelo contrário, todos foram grandes filósofos,
e/ou cientistas, que já pensavam e estudavam as questões cruciais da
humanidade, envolvendo a moralidade humana, a educação, e os grandes conflitos
sociais.
Desenvolviam teorias filosóficas que se
adequassem ao catolicismo, formando entendimento religioso a ser acatado e
adotado pela Igreja (instituição). Na realidade, objetivavam encontrar um “elo”
que justificasse a vida com todas as suas complexas consequencias ao Deus e supremo
criador, coadunando-se tais pensamentos com as “verdades” dogmáticas e bíblicas,
adotadas pela Igreja Católica Apostólica Romana.
Não obstante, tais personalidades quando
do retorno ao mundo espiritual, foram expandindo seus conhecimentos, mudando
seus entendimentos, obviamente que orientados pelos grandes “Mestres da
Espiritualidade”, e assim se prepararam para a grande empreitada de trazer à humanidade,
nos albores do século XIX, as grandes revelações que estavam gravadas em nossos
“arquétipos”, apropriando-me do termo junguiano, e que considerávamos sobrenatural
ou fantástico.
Vieram provar a existência e
imortalidade do Espírito e todas as suas consequências, respondendo ao clássico
questionamento humano: - “Quem sou? De onde vim? Prá onde vou?” E dentro de
suas respectivas áreas de conhecimento, foram desenvolvendo todo um grandioso
trabalho que suplantou muitas das convicções que defendiam em encarnações
transatas, na condição de encarnados.
Oportuno ressaltar, que a Doutrina dos
Espíritos baseia-se no principio evolutivo para todos os seres da criação. Fica
claro que este processo envolve tanto o aspecto intelectual como moral, e não
está adstrito às experiências no corpo físico. A Doutrina é farta em exemplos trazidos pelos
testemunhos de Espíritos que se reportam aos seus estudos e observações feitos
no mundo espiritual.
A esse respeito em O Livro dos
Espíritos, quando trata do Mundo Espírita ou dos Espíritos, Kardec indaga aos
Mestres Espirituais “de que maneira se instruem os Espíritos errantes”, e a
resposta dada é a seguinte: - “Estudam o seu passado e procuram o meio de se
elevarem. Vêem e observam o que se passa nos lugares que percorrem; escutam os
discursos dos homens esclarecidos e os conselhos dos Espíritos mais elevados
que eles, e isso lhes proporciona idéias que não possuíam”. (O Livro dos
Espíritos – pergunta 227)
Daí entende-se porque, os Espíritos
católicos avançaram mais rapidamente rumo ao conhecimento Espírita. Observe-se
que já acreditavam na vida espiritual, embora com uma visão limitada de céu,
purgatório e inferno. Acreditavam nas manifestações dos santos e demônios e nos
milagres realizados pelos santos intercessores. Portanto, estavam mais preparados
para entender à dinâmica que envolve o mundo material e o mundo espiritual.
Por outro lado, não se identifica dentre
os Espíritos religiosos da Codificação, pastores protestantes. A esse respeito,
entende-se que diante de uma maior rigidez interpretativa da bíblia, da não
aceitação radical da comunicabilidade dos mortos, onde só aceitam a
manifestação do demônio, torna-se muito mais complexa a compreensão e aceitação
da Doutrina Espírita.
Na realidade, o protestantismo está mais
voltado ao Deus mosaico, e na busca pelo sucesso na vida material. Isto por
entenderem, que a morte os levará a um estado de sono profundo até a chegada do
Juízo Final. Por conseguinte, não oram pelos mortos nem admitem sua
comunicabilidade. Aliás, só trabalham de forma efetiva com o exorcismo - que é
a expulsão do demônio - pois segundo suas convicções, este procura seduzir a
humanidade tomando a forma de pessoas queridas e veneráveis para conduzí-las ao
inferno. Daí se mostrarem menos refratários à compreensão e aceitação dos
princípios Espíritas.
Para finalizar far-se-á alguns
comentários sobre os mentores religiosos dos médiuns Francisco Cândido Xavier e
Divaldo Pereira Franco, na condição de divulgadores da Doutrina Espírita para o
Brasil e o mundo. Observa-se que ao contrário dos Espíritos da codificação que
vieram trazer os novos paradigmas para o Espírito humano, os referidos
mentores, buscam introduzir aos princípios Espíritas alguns aspectos de suas convicções
religiosas católicas.
Fácil compreender, pois o progresso de
cada ser humano tem seu rítmo próprio. Portanto, não se daria tão rapidamente as
mudanças de “vícios” religiosos arraigados, próprios de espíritos que passaram
por várias encarnações vivenciando a dogmática religiosa católica, defendida e
abraçada com profunda convicção. Observe-se que para estes não havia conflitos entre
seus pensamentos e o que estava posto pela Igreja que serviam e amavam.
É fato que hoje se dizem espíritas e
trabalham como divulgadores do espiritismo. Não obstante, sempre que podem,
buscam distorcer aquilo que os incomoda na Doutrina Espírita, por entenderem em
desacordo com as crenças religiosas que professaram por tantas encarnações e
que ainda trazem gravadas em seus Espíritos, como convicções a serem
respeitadas.
Em contrapartida, é óbvio que tais
Espíritos encontram em seus médiuns um “campo de convicções religiosas” que se
coaduna perfeitamente com seus interesses. Daí, a perfeita sintonia que permite
sem o menor obstáculo, a divulgação espírita eivada dos rituais e credos
iminentemente católicos.
Percebe-se esta forte presença, por
exemplo, no “culto do evangelho no lar” - com a jarra de água para fluidificar,
o caderno com os nomes dos que deverão receber a ajuda espiritual, a leitura do
evangelho e de livros de mensagens de textos bíblicos – nada mais ritualístico
e católico.
Portanto, diante das considerações acima
expostas, pode-se entender porque o catolicismo ainda se faz tão presente no
meio espírita. Porque ainda precisamos casar nas igrejas católicas, batizar
nossas crianças, mandar rezar missa de sétimo dia para nossos mortos, levar
flores para depositar aos pés das imagens de Nossa Senhora, Bezerra de Menezes,
São Francisco de Assis, etc..
Porque ainda fazemos promessas e
romarias para os santos. Porque procuramos usar a cor branca e cobrir com
toalhas brancas as mesas de reunião mediúnica, como se cobrem os altares das
igrejas católicas. Por isso fazemos as filas para receber passes e beber a água
fluidificada, como fazíamos as filas para receber a comunhão nos templos
católicos.
Efetivamente, são muitos os
comportamentos atávicos que ainda estamos longe de nos libertar, por estarem
incrustados em nossos Espíritos, em razão das inúmeráveis encarnações abraçando
a Igreja Católica como a portadora da verdade inquestionável, a representante
de Deus na Terra, e único laço de ligação entre o homem e o Criador.
COMO VC FOI FELIZ NESSE ARTIGO EXTRAORDINÁRIO QUE DEMONSTRA SER VC PESSOA DE MUITO CONHECIMENTO! ESPIRITISMO É ISSO MESMO, ESTUDO E TRABALHO. PARABÉNS E QUE OS AMIGOS ESPIRITUAIS CONTINUEM ILUMINANDO TODOS OS SEUS PASSOS! DAVID VELOSO FURTADO - RIO POMBA MG.
ResponderExcluirNa verdade, a igreja catolica e seus padres e santos, acreditavam em reencarnação no incio do cristianismo. O conceito da reencarnação é abandonado pelo catolicismo somente em 553 d. C., pelo Segundo Concílio de Constantinopla.
ResponderExcluirMas se um Pai Joaquim tivesse assinado alguma psicografia no livro dos espíritos... você teria a maior crença nele, correto?
ResponderExcluirO ortodoxismo espírita à Raul Teixeira é o que mata a doutrina.
Caro (a) anônimo (a), segundo o Codificador o que importa é o teor da mensagem, sua coerência e moralidade. Se o Pai Joaquim só disser besteiras, mentiras, mistificações, suas mensagens devem ser rechaçadas, como Kardec rechaçou de Espíritos que se auto denominavam como Jesus, Maria, Santo Antônio. Estude sobre fascinação e comunicações apócrifas em O Livro dos Médiuns que você entenderá melhor.
ExcluirA mim muito me estranha essa larga presença "católica" entre esses espíritos. Se fosse o espiritismo de cunho universalista, onde estão os espíritos realmente livres, sem religião? A velha ideia de superioridade cristã, ainda persistia em Kardek, herdada da formação católica. O que importa é o teor da mensagem, né? Pois bem, não vejo coerência em pregar uma filosofia de universalismo, e ao mesmo tempo querer impingir o cristianismo a todos os povos. O argumento para tal? A prova pela "autoridade" dos espíritos, falácia sofista. Mas Kardek ainda admitia a dúvida sobre seus próprios escritos, verdade seja dita, coisa que a "igreja" espírita brasileira não mais admite.
ResponderExcluirAchei um contrassenso a afirmação "Observa-se que ao contrário dos Espíritos da codificação que vieram trazer os novos paradigmas para o Espírito humano, os referidos mentores, buscam introduzir aos princípios Espíritas alguns aspectos de suas convicções religiosas católicas" (comentando sobre os espíritos católicos do espiritismo atual) quando, a alguns parágrafos atrás, você diz "(...) Identifica-se claramente um sacerdote a falar aos fiéis das “penas” acerbas impingidas pelo “Senhor”, aos “pecadores” que vivem nesse “vale de dores”, utilizando-se de um vocabulário próprio do catolicismo, e que ainda se faz presente muito fortemente em seu discurso" (comentando uma passagem do ESE, referente ao espiritismo primitivo). Ora, não há qualquer diferença entre o linguajar religioso e dogmático desses espíritos da época de Kardec e daqueles que hoje orientam o Movimento Espírita. De certa foram, o Espiritismo (de ontem e de hoje) se nos afigura tão somente um catolicismo reformado.
ResponderExcluirReinaldo
Parabéns ao Anônimo que afirmou ser o kardecismo (ou como queiram o espiritismo) ser apenas um upgrade do catolicismo. Kardec tentou algo que hoje foi conseguido pelos pastores das ramificações pentecostais, em relação ao protestantismo ortodoxo.
ResponderExcluirAlém desta premissa ser corroborada no texto kardecista, a prática do movimento social religioso não deixa qualquer dúvida.
É exatamente o que penso. PARABÉNS PELA CORAGEM. Os católicos reformados não percebem, vc. vai assistir uma palestra e comentam os evangelhos canônicos (manipulados) parece que vc. está em uma igreja católica, que pena.
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