sábado, 9 de fevereiro de 2013

O LIVRE PENSAMENTO E A LIVRE CONSCIÊNCIA





 
Revista Espírita – Fevereiro de 1867
 
Num artigo de nosso último número (página 6), intitulado: Golpe de vista retrospectivo sobre o movimento do Espiritismo fizemos duas classes distintas dos livres pensadores: os incrédulos e os crentes, e dissemos que, para os primeiros, ser livre pensador não é somente crer naquilo que se quer, mas não crer em nada: é se libertar de todo freio, mesmo do medo de Deus e do futuro; para os segundos, é subordinar a crença à razão e se libertar do jugo da fé cega. Estes últimos têm por órgão de publicidade a Livre consciência, título significativo; os outros, o jornal o Livre pensamento, qualificação mais vaga, mas que se especializa pelas opiniões formuladas, e que vêm de todos os pontos, corroborar a distinção que fizemos. Ali lemos no n-2 de 28 de outubro de 1866: “As questões de origem e de fim preocuparam até aqui a Humanidade, a ponto, frequentemente, de perturbar sua razão”.
 
 
Estes problemas que se qualificaram de terríveis, e que cremos de importância secundária, não são do domínio imediato da ciência. Sua solução científica não pode oferecer senão uma meia certeza. Tal qual é, no entanto, ela nos basta, e não tentaremos completá-la por argúcias metafísicas. O nosso objetivo é, aliás, de não nos ocuparmos senão dos assuntos abordáveis pela observação. Entendemos permanecer sobre a Terra. Se, às vezes, dela nos afastamos para responder aos ataques daqueles que não pensam como nós, a excursão fora do real será de curta duração. Teremos sempre presente ao pensamento este sábio conselho de Helvétius: "É preciso ter a coragem de ignorar o que não se pode saber."
 
"Um novo jornal, a Livre consciência, nossa primogênita de alguns dias, como o fez notar, nos deseja a boa vinda em seu número de amostra grátis. Nós lhe agradecemos pelo modo cortês pelo qual usou de seu direito de primogenitura. Nosso confrade pensa que, apesar da analogia dos títulos, não estaremos sempre em "completa afinidade de idéias." Nós, depois da leitura de seu primeiro número, disto estamos certos; não compreendemos mais a livre consciência do que o livre pensamento com um limite dogmático assinalado antecipadamente. Quando sede clara claramente discípulo da ciência e campeão da livre consciência, é irracional, em nossa opinião, colocarem seguida como um dogma uma crença qualquer, impossível de provar cientificamente. A liberdade limitada da sorte não é a liberdade. De nosso turno, desejamos as boas-vindas à Livre consciência, e estamos dispostos a ver nela uma aliada, uma vez que declara querer combater por todas as liberdades... menos uma."
 
É estranho ver considerar a origem e o fim da Humanidade como questões secundárias próprias para perturbar a razão. Que se diria de um homem que, vivendo o dia-a-dia, não se inquietasse de como viverá amanhã? Passaria por um homem sensato? Que se pensaria daquele que, tendo uma mulher, filhos, amigos, dissesse: Que me importa que amanhã estejam mortos ou vivos! Ora, o dia seguinte da morte é longo; não é preciso, pois, se admirar que tanta gente com isto se preocupe. Se se fizesse a estatística de todos aqueles que perdem a razão, ver-se-ia que o maior número está precisamente do lado daqueles que não crêem nesse dia seguinte ou que dele duvidam, e isto, pela razão muito simples de que a grande maioria dos casos de loucura é produzida pelo desespero e a falta de coragem moral que faz suportar as misérias da vida, ao passo que a certeza desse dia seguinte torna menos amargas as vicissitudes do presente, e as faz considerar como incidentes passageiros, cujo moral não se afeta senão mediocremente ou nada se afeta. Sua confiança no futuro lhe dá uma força que jamais terá aquele que não tem por perspectiva senão o nada. Ele está na posição de um homem que, arruinado hoje, tem a certeza de ter amanhã uma fortuna superior àquela que acaba de perder. Neste caso, toma facilmente seu partido, e permanece calmo; se, ao contrário, ele nada espera, se desespera e sua razão pode sofrer com isto. Ninguém contestará este princípio: saber dia por dia de onde se vem e para onde se vai, o que se fez na véspera e o que se fará amanhã, não seja uma coisa necessária para regular os negócios diários da vida, e que ela não influi sobre a conduta pessoal.
 
Seguramente o soldado que sabe para onde se o conduz, que vê seu objetivo, marcha com mais firmeza, com mais vivacidade, mais entusiasmo do que se o conduzisse às cegas. Ocorre assim do pequeno ao grande, da individualidade ao conjunto; saber de onde se vem e para onde se vai não é menos necessário para regular os negócios da vida coletiva da Humanidade. No dia em que a Humanidade inteira tiver a certeza de que a morte é sem saída, ver-se-á uma confusão geral, e os homens se lançarem uns sobre os outros, dizendo: Se não deveremos viver senão um dia, vivamos o melhor possível, não importa às expensas de quem!
 
O jornal o Livre pensamento declara que entende permanecer sobre a Terra, e que, se disto sai às vezes, é para refutar aqueles que não pensam como ele, mas que suas excursões fora do real serão de curta duração. Compreenderíamos que assim o fosse com o jornal exclusivamente científico, tratando de matérias especiais; é evidente que seria intempestivo falar de espiritualidade, de psicologia ou de teogonia a propósito de mecânica, de química, de física, de cálculos matemáticos, de comércio ou de indústria; mas desde que faz entrar em seu programa a filosofia, não poderia enchê-la sem abordar as questões metafísicas. Se bem que a palavra filosofia seja muito elástica, e que haja sido singularmente desviada de sua acepção etimológica, implica, por sua própria essência, pesquisas e estudos que não são exclusivamente materiais.
 
O conselho de Helvetius: "É preciso ter a coragem de ignorar o que não se pode saber," é muito sábio, e se dirige sobretudo aos sábios presunçosos que pensam que nada pode ser ocultado ao homem, e o que não sabem ou não compreendem não deve existir. Seria mais justo, no entanto, dizer: "É preciso ter a coragem de confessar a sua ignorância sobre o que não se sabe." Tal como está formulado, se poderia traduzi-lo assim: "É preciso ter a coragem de conservara sua ignorância," de onde esta consequência: "É inútil procurar saber o que não se sabe." Sem dúvida, há coisas que o homem não saberá jamais enquanto estiver sobre a Terra, porque, qualquer que seja a sua presunção, a Humanidade está ainda no estado de adolescência; mas quem ousaria pôr limites absolutos àquilo que pode saber? Uma vez que se sabe disto infinitamente mais hoje do que os homens dos tempos primitivos, porque, mais tarde, não se saberia mais disto do que se sabe agora? É o que não podem compreender aqueles que não admitem a perpetuidade e a perfectibilidade do ser espiritual. Muitos dizem a si mesmos: Estou no cume da escala intelectual; o que não vejo e não compreendo, ninguém pode vê-lo e compreendê-lo.
 
No parágrafo reportado acima e relativo ao jornal a Livre consciência, está dito: "Não compreendemos mais a livre consciência que o livre pensamento com um limite dogmático assinalado antecipadamente. Quando se declara discípulo da ciência, é irracional colocar como um dogma uma crença qualquer impossível de se provar cientificamente. A liberdade limitada da sorte não é a liberdade." Toda doutrina está nestas palavras; a profissão de fé é limpa e categórica. Assim, porque Deus não pode ser demonstrado por uma equação algébrica, que a alma não é apreensível com a ajuda de um reativo, é absurdo crer em Deus e na alma. Todo discípulo da ciência deve, consequentemente, ser ateu e materialista. Mas, por não sair da materialidade, a ciência é sempre infalível em suas demonstrações? Não se a tem, muitas vezes, visto dar por verdades o que mais tarde foi reconhecido ser erros, e vice-versa? Não foi em nome da ciência que o sistema de Fulton foi declarado uma quimera?
 
Antes de conhecer a lei da gravitação, não demonstrou ela cientificamente que não podia haver antípodas? Antes de conhecer a da eletricidade, não demonstrou ela por a mais b que não existia velocidade capaz de transmitir um despacho a quinhentas léguas em alguns minutos?
 
Tinha-se muito experimentado a luz, e, no entanto, há poucos anos ainda, quem teria suspeitado os prodígios da fotografia? No entanto, não foram os sábios oficiais que fizeram esta prodigiosa descoberta, não mais do que as do telégrafo elétrico e das máquinas a vapor. A ciência conhece ainda hoje todas as leis da Natureza? Sabe ela somente todos os recursos que se podem tirar das leis conhecidas? Quem ousaria dize-lo?
 
Não se pode que um dia o conhecimento de novas leis torne a vida extra corpórea tão evidente, tão racional, tão inteligente quanto a dos antípodas? Um tal resultado interrompendo todas as incertezas, seria, pois, a desdenhar? Seria menos importante, para a Humanidade, do que a descoberta de um novo continente, de um novo planeta, de um novo engenho de destruição? Pois bem! esta hipótese se tornou realidade; é ao Espiritismo que se o deve, e é graças a ele que tantas pessoas que acreditavam morrer uma vez por todas, estão agora certas de viverem sempre.
 
Falamos da força da gravitação, essa força que rege o Universo, desde o grão de areia até os mundos; mas quem a viu, quem a pode segui-la, analisá-la? Em que consiste ela? Qual é a sua natureza, a sua causa primeira? Ninguém o sabe, e, no entanto, ninguém dela duvida hoje. Como se a reconheceu? Por seus efeitos; dos efeitos se concluiu a causa; fez-se mais: calculando a força dos efeitos, calculou-se a força da causa que jamais se viu. Ocorre o mesmo com Deus e com a vida espiritual que se julga também por seus efeitos, segundo este axioma: "Todo efeito tem uma causa. Todo efeito inteligente tem uma causa inteligente. A força da causa inteligente está em razão da grandeza do efeito." Crerem Deus e na vida espiritual não é, pois, uma crença puramente gratuita, mas um resultado da observação tão positiva quanto aquela que faz crer na força da gravitação.
 
Depois, na falta de provas materiais, concorrentemente a estas, a filosofia não admite as provas morais que, às vezes, têm tanto e mais valor do que as outras? Vós, que não tendes por verdadeiro senão o que é provado materialmente, que diríeis se, estando injustamente acusado de um crime do qual todas as aparências seriam contra vós, assim como se vê frequentemente a injustiça, os juízes não tivessem em nenhuma conta as provas morais que seriam em vosso favor? Não serieis o primeiro a invocá-las? a fazer valer sua preponderância sobre os efeitos puramente materiais que podem iludir? a provar que os sentidos podem enganar os mais clarividentes? Se, pois, admitis que as provas morais devam pesar na balança de um julgamento, não serieis consequente convosco mesmo negando-lhes o valor quando se trata de fazer uma opinião sobre as coisas que, pela sua natureza, escapam à materialidade.
 
O que de mais livre, de mais independente, de menos apreensível por sua própria essência, do que o pensamento? E, no entanto, eis uma escola que pretende emancipá-lo acorrentando-o à matéria; que avanço, em nome da razão, que o pensamento circunscrito sobre as coisas terrestres é mais livre do que aquele que se lança no infinito, e quer ver além do horizonte material! Tanto valeria dizer que o prisioneiro que não pode dar senão alguns passos em seu cárcere é mais livre do que aquele que corta os campos. Se, crer nas coisas do mundo espiritual que é infinito, é não ser livre, vós o sois cem vezes menos, vós que vos circunscreveis no limite estreito do tangível, que dizeis ao pensamento: Tu não sairás do círculo que te traçamos, e se t u dele sais não és mais o pensamento sadio, mas a loucura, a tolice, o disparate, porque só a nós pertence discernir o falso do verdadeiro.
 
A isto o espiritualismo responde: Nós formamos a imensa maioria dos homens da qual sois apenas a milionésima parte; com que direito vos atribuís o monopólio da razão? Quereis, dizeis, emancipar nossas ideias em nos impondo as vossas? Mas não nos ensinais nada; sabemos o que sabeis; cremos sem restrição em tudo o que credes: na matéria e no valor das provas tangíveis, e mais do que vós: em alguma coisa fora da matéria; numa força inteligente superior à Humanidade; em causas inapreciáveis pelos sentidos, mas perceptíveis pelo pensamento; na perpetuidade da vida espiritual que limitais à duração da vida do corpo. Nossas ideias são, pois, infinitamente mais amplas do que as vossas; ao passo que circunscreveis vosso ponto de vista, o nosso abarca os horizontes sem limites. Como aquele que concentra seu pensamento sobre uma ordem determinada de fatos, que coloca assim um ponto de parada aos seus movimentos intelectuais, às suas investigações, talvez pretender emancipar aquele que se move sem entraves, e cujo pensamento sonda as profundezas do infinito?
 
Restringir o campo de exploração do pensamento é restringir a sua liberdade, e é o que fazeis. Quereis, dissestes ainda, arrancar o mundo do jugo das crenças dogmáticas; fazei pelo menos uma distinção entre estas crenças? Não, porque confundis na mesma reprovação tudo o que não é do domínio exclusivo da ciência, tudo o que não se vê pelos olhos do corpo, em uma palavra, tudo o que é de essência espiritual, por consequência Deus, a alma e a vida futura. Mas se toda crença espiritual é um entrave à liberdade de pensar, ocorre o mesmo com toda crença material; aquele que crê que uma coisa é vermelha, porque a vê vermelha, não é livre para crê-la verde. Desde que o pensamento é detido por uma convicção qualquer, ele não é mais livre; para ser consequente com a vossa teoria, a liberdade absoluta consistiria em nada crer do todo, mesmo na sua própria existência, porque isto seria ainda uma restrição; mas então em que se tornaria o pensamento?
 
Considerado deste ponto de vista, o livre pensamento seria um contrassenso. Ele deve se entender num sentido mais amplo e mais verdadeiro; quer dizer, do uso livre que se faz da faculdade de pensar, e não na sua aplicação em uma ordem qualquer de ideias. Ele consiste, não em crer numa coisa antes do que numa outra, nem em excluir tal ou tal crença, mas na liberdade absoluta de escolha das crenças. É, pois, abusivamente que alguns dele fazem a aplicação exclusiva às ideias ante-espiritualistas. Toda ideia racional, que não é nem imposta, nem encadeada cegamente à de outrem, mas que é voluntariamente adotada em virtude do julgamento pessoal, é um pensamento livre, quer seja religioso, político ou filosófico.
 
O livre pensamento, na sua acepção mais ampla, significa: livre exame, liberdade de consciência, fé raciocinada; ele simboliza a emancipação intelectual, a independência moral, complemento da independência física; ele não quer mais escravos do pensamento do que escravos do corpo, porque o que caracteriza o livre pensador é que ele pensa por si mesmo e não pelos outros, em outras palavras, que sua opinião lhe pertence particularmente. Pode, pois, haver livres pensadores em todas as opiniões e em todas as crenças. Neste sentido, o livre pensamento eleva a dignidade do homem; dele faz um ser ativo, inteligente, em lugar de uma máquina de crer.
 
No sentido exclusivo que alguns lhe dão, em lugar de emancipar o espírito, ele restringe a sua atividade, faz dele escravo da matéria, os fanáticos da incredulidade fazem, num sentido, o que os fanáticos da fé cega fazem num outro; quando estes dizem: Para ser segundo Deus é preciso crer em tudo o que nós cremos; fora de nossa fé não há salvação, os outros dizem: Para ser segundo a razão, é preciso pensar como nós, não crer senão no que cremos; fora dos limites que traçamos à crença, não há nem liberdade nem bom senso, doutrina que se formula por este paradoxo: Vosso espírito não é livre senão com a condição de não crer naquilo que quer, o que vem a dizer a um indivíduo: Tu és o mais livre de todos os homens, com a condição de não ir mais longe do que o fim da corda à qual vos prendemos.
 
Seguramente não contestamos aos incrédulos o direito de não crer em nada senão na matéria, mas convir-se-á que há singulares contradições em sua pretensão de se atribuir o monopólio da liberdade de pensar. Dissemos que pela qualidade de livre pensador certas pessoas procuram atenuar o que a incredulidade absoluta tem de repulsivo para a opinião das massas; suponhamos, com efeito, que um jornal se intitule abertamente: o Athée, o Incrédulo ou o Matérialiste, pode-se julgar da impressão que esse título faria sobre o público; mas que abrigue estas mesmas doutrinas sob a capa do livre pensador, a esta bandeira se diz: É a bandeira da emancipação moral; deve ser o da liberdade de consciência e, sobretudo da tolerância; vejamos. Vê-se que não é preciso sempre reportá-lo à etiqueta.
 
Estar-se-ia em erro, de resto, assustando-se além da medida das consequências de certas doutrinas; elas podem momentaneamente seduzir alguns indivíduos, mas jamais seduzirão as massas que lhe são opostas pelo instinto e pela necessidade. É útil que todos os sistemas se mostrem à luz, para que cada um possa deles julgar o forte e o fraco, e, em virtude do direito de livre exame, possa adotá-los ou rejeitá-los com conhecimento de causa. Quando as utopias forem vistas em ação, e que terão provado sua impotência, elas cairão para não mais se levantar. Por seu próprio exagero, elas movimentam a sociedade e preparam a renovação. Está ainda aí um sinal dos tempos.
 
O Espiritismo é, como alguns o pensam, uma nova fé cega substituindo a uma outra fé cega; de outro modo dito, uma nova escravidão do pensamento sob uma nova forma? Para crê-lo é preciso ignorar-lhe os primeiros elementos. Com efeito, coloca como princípio que antes de crer é preciso compreender; ora, para compreender é preciso fazer uso de seu julgamento; eis porque ele procura se dar conta de tudo antes de nada admitir, em saber o porquê e o como de cada coisa; também os Espíritas são mais suscetíveis do que os outros com relação aos fenômenos que saem do círculo das observações habituais. Ele não repousa sobre nenhuma teoria preconcebida e hipotética, mas sobre a experiência e a observação dos fatos; em lugar de dizer: "Crede primeiro, e compreendais em seguida, se o puderdes," ele diz: Compreendei primeiro e crereis em seguida se o quiserdes." Ele não se impõe a ninguém; diz a todos: "Vede, observai, comparai e vinde a nós livremente se isto vos convém." Assim falando, ele se candidata e corta as chances da concorrência. Se muitos vão a ele, é que os satisfaz muito, mas ninguém o aceita de olhos fechados. Àqueles que não o aceitam, ele diz: "Sois livres, e não vos quero; tudo o que vos peço, é de deixar-me a minha liberdade, como vos deixo a vossa. Se procurais me afastar, pelo medo de que vos suplante, é que não estais muito seguros de vós."
 
O Espiritismo não procurando afastar nenhum dos concorrentes na liça aberta às ideias que devem prevalecer no mundo regenerado, e nas condições do verdadeiro livre pensamento; não admitindo nenhuma teoria que não esteja fundada sobre a observação, ele está, ao mesmo tempo nas do mais rigoroso positivismo; tem, enfim, sobre seus adversários de duas opiniões contrárias extremas, a vantagem da tolerância.
 
Nota. Algumas pessoas nos censuraram pelas explicações teóricas que, desde o princípio, procuramos dar dos fenômenos espíritas. Essas explicações, baseadas sobre uma observação atenta, remontando dos efeitos à causa, provavam, de uma parte, que queríamos nos dar conta e não crer nelas cegamente; de outra, que queríamos fazer do Espiritismo uma ciência de raciocínio e não de credulidade. Por essas explicações que o tempo desenvolveu, mas que consagrou em princípio, porque nenhuma foi contraditada pela experiência, os Espíritas acreditaram porque compreenderam, e não é duvidoso que é a isto que se deve atribuir o crescimento rápido do número dos adeptos sérios. É a essas explicações que o Espiritismo deve por ter saído do domínio do maravilhoso e de estar ligado às ciências positivas; por elas demonstrou aos incrédulos que isto não é uma obra de imaginação; sem elas estaríamos ainda para compreender os fenômenos que surgem a cada dia. Era urgente colocar, desde o princípio, o Espiritismo sobre o seu verdadeiro terreno. A teoria fundada sobre a experiência foi o freio que impediu a credulidade supersticiosa, tanto quanto a malevolência, de fazê-lo desviar de seu caminho. Porque aqueles que nos censuram por termos tomado a iniciativa, não a tomaram eles mesmos?
 
Revista Espírita – fevereiro de 1867





Um comentário:

  1. Conteúdo altamente relevante. Foi muitíssimo útil à pesquisa que estou realizando. Obrigada!

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